terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Bundas de Fora


Bundas de Fora

Por José Calvino


Ano Novo, problemas antigos. O Rio de Janeiro, por exemplo, vive atualmente num intenso calor, e o que não falta é a lembrança de Leila Diniz “A Mulher de Ipanema”, defensora do amor livre e do prazer sexual, eterno símbolo da revolução feminina, que rompeu conceitos e tabus por meio de suas ideias e atitudes. Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia, e chocou o país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite.  
O humorista Jaguar, pseudônimo de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, um dos fundadores do velho “Pasquim”, no seu livro “Confesso que bebi”, que estou relendo, conta  que: “Foi Leila Diniz, eterna rainha da Banda de Ipanema, quem imortalizou, nos anos 60, o obscuro Bar Capelinha da Gávea, um pé-sujo (...). Sempre que ela ia pra TV Globo, dava uma meia trava lá pra tomar uma batidinha de maracujá. É possivelmente o menor boteco da cidade; só cabem cinco fregueses em pé. Leila, que não tinha papas na língua, desfechou: ‘Porra, quando a gente bebe aqui, fica com a bunda de fora!’ A frase pegou, tanto que Brandão, o dono, mandou botar no letreiro. Acontece que os milicos – estávamos em plena ditadura militar – não gostaram. No dia seguinte, em nome da tradição, família e propriedade, mandaram mudar o nome.
O português botou ‘B. de Fora’. Os milicos acharam pouco e finalmente ficou ‘...de Fora’. (...) Depois do Bunda de Fora original, outros proliferaram pela cidade...”

Os leitores mais velhos devem se lembrar de que qualquer ditadura é perversa, seja a militar, seja a do caudilho gaúcho Getúlio Vargas.  Na época da repressão as autoridades se preocupavam muito mais com coisas banais e quase nada  com a educação, saúde e emprego dignos. E o pior é que tem gente que faz apologia ao regime ditatorial e ainda quer a volta dos militares. Só mesmo quem não lê e não conhece a história!



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