sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Observação Necessária


Observação Necessária


Por José Calvino


Concordo com o trecho da crônica publicada no Diário de Pernambuco, sob o título: “O mais brasileiro dos gêneros literários”, do médico Meraldo Zisman, onde se lê: “(...) A crônica não representa mais aqueles ouvintes, de narrativas contadas à beira do fogo, à beira da água, ao luar, nas bagaceiras dos engenhos, nas calçadas, nos alpendres das casas, nos balcões das vendas, ou em velórios.”

Quando publiquei o meu terceiro livro “O Cristo Mulato”, em 1982, acrescentei algumas crônicas da minha filha Maria do Carmo (19 anos). Agora, acreditando que as referidas reflitam os personagens do romance e do teatro homônimo, pelos quais todo brasileiro injustiçado passa, transcrevo-as para vocês leitores, a fim de que possam ter uma caricatura das situações que são criadas, e que dificilmente conseguimos superar.

I – Abrasileirando o negócio

O ar estava úmido! Mas, de uma umidez que cortava as narinas desprevenidas. As paredes estavam de óculos, o teto parecia no chão e o piso queimava naquela geleira.

Ele voltara cansado: nada!

Mas, não se trata de um nada que contenha algo, falo de um nada completamente vazio. O ar fedia, e a merda que antes incomodara, devido à sua constância, agora cheirava.

Em seu jardim só nascia capim: e seco!

Expunha os “dentes” podres e amarelos com orgulho: em breve teria uma chapa!
- E das melhores! – Aconselhou o dentista.

Agora erguia o pescoço, e vejam só que ousadia: havia tomado banho com sabonete: não que fosse falta de higiene, era falta: mas, de dinheiro.

Já não se “misturava”, pois aprendera a assinar seu próprio nome, e temia mau olhado.

Chegou na geleira e sentiu que não sentia. Mas, como? Que fedentina é esta?

É que haviam endireitado a fossa, e agora só o ar se fazia presente.

Voltou-se ao fogão e chorou: tentando ver se neste ato, por milagre divino, lágrimas de gordura lhe escorressem pela face, matando-lhe a fome que já não corria , mas acelerava.

Panela...só panela...para sempre panela vazia.

Rápido: enche-a de barro e num brinca: engole e diz que tá gostoso!

II – A morte do morto

Andava pelas ruas, perseguido por uma nuvem negra, sobre sua cabeça, que só vivia atordoada.
Sobe isso...

Desce aquilo...

Já nem conseguia encarar um poste, que se punha mais ereto e firme que sua carcaça velha.

Chegou em casa com a mesma cara de sempre. Cara de nada! Esquecera que havia água, pois afundara-se em seus próprios pensamentos.
Sentiu uma dor!
... Dor? ...

Que era aquilo?, já não sabia distinguir seus sentimentos. Seu estômago vivia em constantes gritos de socorro. Já nem sabia mais o que fazer (e mesmo que soubesse, não podia: como?), deixou-se cair “daquilo”,indecifrável. Sua voz já era um gemido, e quando agonizou ninguém percebeu a diferença.

Lá estavas: “entregue às moscas”.

Sorriu seu último sorriso, quando satisfeito, pensou que iria ser útil às formigas, que se deliciariam com sua carne. Soltou seu último suspiro e sentiu-se criança. Um bebê que acaba de nascer!


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Revolucionários II



Revolucionários II

Por José Calvino




Em 21 de agosto do corrente ano, aconteceu o sétimo ato da manifestação pelo passe livre em Recife. O ato, que começou
de maneira pacífica, terminou  com cenas de vandalismo protagonizadas por um grupo de encapuzados e mascarados. Por que a manifestação mudou de rumo? Por volta das 14h30, eles, os manifestantes não foram recebidos pelos vereadores e encontraram o prédio fechado com PMs que dispararam balas de borracha e bombas de efeito moral, ferindo alguns estudantes, causando confronto e pânico no centro da cidade. Às 18hs, mais ou menos, os ânimos se acirraram. Então, os manifestantes resolveram voltar à Câmara  dos Vereadores e começaram a pichar muros e atirar pedras, garrafas e coquetéis molotov contra os PMs. Um ônibus foi queimado (sic) na Rua do Príncipe.

Com um megafone, os manifestantes gritavam palavras de ordem, pedindo um transporte público mais eficiente e transparência no faturamento das empresas de ônibus: “Governador, não queremos 10 centavos de esmola, queremos passe livre”, dizia um revoltado! Durante entrevista coletiva sobre os protestos o secretário de Defesa Social (SDS) Wilson Damásio, disse: “Isso não é movimento social, é bandidagem, vandalismo, tem que ser reprimido”. Segundo ele serão intensificadas as vistorias, priorizando os grupos  mascarados  
e encapuzados. Aqueles que se recusarem serão presos por desobediência e desacato. Agora, eu pergunto, será que isso resolve a situação? Eu mesmo já fui abordado na Rua Gonçalves Dias que dá acesso à favela do “Bururu” no bairro de Campo Grande, por grupos fardados e encapuzados
(de preto).

É bom que o referido secretário saiba que os princípios democráticos em qualquer nação livre baseiam-se no senso de justiça de todas as instituições de governo, entre as quais deve existir o respeito mútuo. Tudo indica que haverá uma manifestação (data a marcar), sem vínculos com as Associações e Sindicatos de Polícia, até porque o secretário é da polícia federal, e eles temem ser punidos e passam a mentir descaradamente com conivência. Sobre a pauta de reivindicações dos inativos e pensionistas da Polícia Militar de Pernambuco, uma delas é o subsídio. Isso porque ao se aposentar (reserva remunerada ou reforma) estes perdem até 40% do salário. Os PMs reivindicam um reajuste desde 2008, quando o governo do Estado aumentou o salário dos policiais civis. O governo não vem cumprindo as decisões judiciais, que em 2001 ordenavam o pagamento de gratificação a 136 PMs inativos, sob pena de uma multa diária em caso de descumprimento e que, até hoje ainda não foi paga.

Outrossim, destaco a relevância de se acelerar a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de número 300-A de 2008, que trata da unificação dos salários dos militares em todos estados do Brasil. Mais uma vez relembro que, se feito isso, ao meu ver, as PMs do Brasil deixarão de se submeter à hierarquia militar.

Finalizo esta crônica com a inesquecível “ Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré:

 “ Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razão”






terça-feira, 27 de agosto de 2013

Sambão Bom



                                                        Fotos: Eglantine Mendes


Sambão Bom


Por José Calvino



SAMBA, BATEU AQUI NA PORTA
PRA NOS PEDIR SOCORRO
ELE QUER SUBIR AO MORRO DE NOVO
QUER PEGAR PELO PÉ ESSA NEGRA QUE RODA
SEGURAR PELA MÃO A CRIANÇA QUE CHORA
POR ISSO MINHA MÃE, NOSSA CONCEIÇÃO
PARE E VENHA OUVIR, O MORRO INSPIRAÇÃO
CONCEIÇÃO RAINHA OLHE BEM PRA CÁ
PORQUE OS SURDOS DÃO SINAL QUE VÃO FALAR
QUEREMOS VER PREVALECER
A RAIZ DO SAMBA NO AR
CICATRIZ QUE NÃO QUER SARAR
BELEZA É MISTURA DE COR
VER O SAMBA IR ECOAR
NAS LADEIRAS DO MORRO

( Karynna Spinelli)


A composição acima “Morro de Samba”, foi cantada na edição especial de domingo (25/08), no Morro da Conceição. A Zona Norte do Recife, esteve em festa. No Espetinho do Gilson, os sambistas Eduardo e Xico do Morro cantaram diversos sambas de roda. O líder comunitário do Morro, Regis PM, está contentíssimo com os eventos que acontecem sempre, trazendo benefícios para a comunidade, gerando emprego indireto e atraindo turistas até do exterior. No Bar da Curva, houve um show relâmpago com Zé Brown, cantador de Rap Repente  a liderança mais carismática do grupo Faces do Subúrbio, do Alto José do Pinho, reconhecida nacionalmente. Comentamos que em 1997, quando o grupo participava de um evento no bairro do Cordeiro, os rapper’s viveram momentos muito delicados. Durante a apresentação, o palco foi invadido por policiais e os músicos foram espancados. A música que eles cantavam tinha o título de “Homens Fardados” e expunha de forma crítica a violência policial indiscriminada contra a população indefesa. Depois de alguns meses, o Governo do Estado fez um pedido público de desculpas... Mas, aí já é outra história.

Já eram quase doze horas, quando fomos prestigiar o aniversário de quatro anos do Clube do Samba do Recife, evento artístico-social organizado pela cantora pernambucana Karynna Spinelli, que reúne  todos últimos domingos de cada mês, fãs do samba de raiz para uma tarde dedicada ao ritmo. Spinelli recebeu convidados da terra: André Rio, Conxitas, Mônica Feijó, Xico de Assis, Grupo Graúna e Mesa de Samba Autoral de Pernambuco. Ela aproveitou a data e estreou novo show dedicado a Vinicius de Moraes. São cinco horas de festa, sempre a partir do meio-dia às dezessete horas, na quadra da Praça D. Odete Gomes de Almeida do Morro da Conceição. Karynna Spinelli, que ganhou o Brasil com o samba de raiz, agradeceu os aplausos merecidos do público em sua performance magnífica, na estréia do show: “A moça e o poeta”, em homenagem ao centenário do poeta Vinicius. Foram recitados diversos poemas do Vinicius de Moraes e estes foram lidos sobre o poeta homenageado -  A VIDA SEGUNDO O SIGNO DA PAIXÃO, JORNAL DO BRASIL de 10/07/1980. Rio:  

“... Foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a se interessar, íntima e honestamente, pela cultura popular, pelas coisas que vinham do povo, fosse dos subúrbios, fosse dos morros.”

Finalizamos com um parabéns pra sambistamiga pelo seu sucesso, sempre no ritmo do samba.




As fotografias



As fotografias

Por José Calvino

A Eglantine Mendes


A fotógrafamiga do Morro,
Que se utiliza de suas imagens,
Sem preconceito racial
Com ângulos que atraem o olhar,
Que se projeta o filme sobre a tela,
Com o mesmo amor,
E refletindo o Recife e seus Morros.
O uso poético
Entre as fotografias
Contribui para a exposição
Que retrata a vida
Na cidade e sua gente.


Foto – O autor, comemorando o dia dos pais no Morro da Conceição –2013-





quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Historietas



Historietas*


 Por José Calvino 


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Joca de Casa Amarela - Rir ainda é o melhor remédio

Vamos rir? Esta aconteceu lá pelos anos 50, os cinéfilos de Casa Amarela, foram assistir na soirée, no cinema Rivoli “Uma Noite no Cairo”, que o então candidato a vereador, Joca, com seu Ray-Bam, à noite, havia anunciado no seu comício em pronunciar: “Cairó”! Foi alvo de gozação por muito tempo... Mais outra do candidato Joca de Casa Amarela, anos 50, Joca fazia os seus comícios por toda Casa Amarela, pouco fazia nos bairros adjacentes. Nos seus discursos iniciava sempre com o slogan: “Povo de Casa Amarela”... Resolvendo fazer também a sua campanha política no bairro do Arruda, o Joca como era muito engraçado e era festa naquele tempo iniciou: “Povo de Casa Amarela”, o seu cabo eleitoral cochichou: “Aqui é Arruda, seu Joca!” Joca meio surdo afobou-se, sem largar o microfone: “Fale alto, não gosto de cochicho”. Então o cabo repetiu, saindo as vozes pelo alto-falante: Tanto faz Casa Amarela como Arruda tudo é uma merda só”, para a risadagem do público.


Trem de brinquedo


“(...) A mãe trabalhando na cozinha, ouvia o filho brincar com o novo trem à pilha na sala de estar. Ela escutou o trem parar:
- Todos os filhos-das-putas, que querem desembarcar, saiam desta porra de trem agora, porque essa é a última parada! – dizia o filho fazendo papel de locutor – E todos os filhos-das-putas, que estão embarcando nesta porra de trem, sentam suas bundas no assento, porque essa merda partirá daqui a dez minutos!
- Nós não usamos esse tipo de linguagem aqui em casa! – disse a mãe, aborrecida.
– Vá, já para o seu quarto e fique lá de castigo por duas horas.
Duas horas depois, o garoto sai do castigo e volta a brincar com seu trem. Logo o trem pára e a mãe ouve:
- Todos os passageiros que estão desembarcando do trem, por obséquio, lembrem-se de levar os seus pertences. Nós agradecemos, a todos, por viajarem conosco e esperamos que tenham feito uma ótima viagem, muito obrigado.
A mãe estava contentíssima. Valeu a pena o castigo. Aí o garoto acrescenta:
- E para os que estão putos da vida com o atraso de duas horas, reclamem com a minha mãe que ta lá na cozinha.


* Gravado em disco – fev/2003.
Extraído dos livros “Miscelânea Recife” e “Trem Fantasma”.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Festa Literária Internacional de Pernambuco (2007/2010)





Festa Literária Internacional de Pernambuco (2007/2010)


Por José Calvino 



A Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto) em 2010 mudou. E eu, como escritor independente, ainda com disposição, não poderia deixar de registrar no Literário e aqui no Fiteiro Cultural um evento como a Flip, pela primeira vez, de paisagem. De Porto de Galinhas para a histórica Olinda, Cidade Patrimônio.
No sábado 13/11/2010, foi grande a alegria de encontrar a minha filha Maria do Carmo, com sua permanente capacidade de se comunicar com o próximo. Falamos sobre o fato da Flip homenagear a escritora Clarice Lispector e ela comentou sobre a palestra que assistiria com Contardo Calligaris, o psicanalista italiano residente no Brasil mais famoso do país, que faz ponte semanal entre São Paulo e Nova York e que atraiu centenas de psicólogos, que lotaram o auditório.
Como os debates eram transmitidos em telões, sem que fosse preciso comprar ingresso, quem não queria acompanhar as discussões teve a opção de passear pela Feira do Livro e assistir a leitura ao ar livre. Como não faço parte de panelinhas, fiz o que gosto: “ouvir a voz do povo”. Um poeta independente e o percussionista Emílio, mais conhecido por “Pinga” foram os que mais me chamou a atenção na Tribuna Livre da Praça do Carmo. Por que? Lembrei-me da Festa Literária Internacional (Fliporto), na então tribuna livre da Praça das Piscinas Naturais, Porto de Galinhas (2007), quando a UBE promoveu recital com a participação de 24 escritores. No domingo (14/11), o poeta e editor Lelces Xavier e Calvino Lima na Tribuna Livre fez a leitura do Folhetim Rimado (A herança que meu pai deixou!), de sua autoria, e que está sendo concretizado para levar aos leitores uma nova roupagem da Literatura de Cordel.

A quem interessar possa, segue a reprodução do show, gratuita:


1 - Maracatu Barco Virado: Olha que batuque, minha gente,/eu quero mostrar,/é o Barco Virado,/pra todo mundo dançar.//Dança preto e dança branco,/no Maracatu da Mata,/já dançavam os escravos,/sob o som dos atabaques.//O Maracatu no Paço,/ao paço pela tarde,/os reis vão assistir,/o rítmico do passo.../a alma negra está em nós,/o espírito da liberdade,/o batuque no terreiro,/este samba é de nós.//Dança, dança, minha gente,/Hoje não há mais escravos,/E vamos sambar,/Eu quero é sambar,/Eu quero é sambar...

( A platéia vibrou, sambando)


2 - Zezinho perde pão com medo das almas penadas


Zezinho trabalhava na padaria de seu Manoel, um português avarento da peste. A padaria ficava na Rua Padre Lemos em Casa Amarela, bem perto do cemitério.
Desde pequeno que ele tinha medo de alma. Além de trabalhar no balcão, fazia papel também de pãozeiro (nos anos 50 assim era chamado quem entregava de madrugada os pães nas casas dos clientes). Certo dia, quando passava pela calçada do cemitério, ouviu uma voz fanhosa:

- Ei, me dá um pão.

O susto foi tão grande que Zezinho derrubou o balaio cheio de pães e voltou às carreiras para a padaria mais branco do que cal. Só não viu o vigia Fom-fom (apelido por ter a voz nasal) morrendo de rir. Na padaria, o portuga carola tranqüilizou Zezinho:

- Fique calmo, Deus é pai. Vou descontar os pães de seu salário. Agora, você deve acender velas toda segunda-feira, à noite, para as almas penadas.

Zezinho pediu demissão na hora, dizendo:

- Alma, eu não quero ver mais nunca, nunca, nunca, nunca...

( Dominamos a platéia, fazendo todo mundo rir)


3 - Recife e Olinda: Do Recife/ De Olinda/ Das pontes/ Das praias/ Dos coqueiros/ Das gaivotas// Dos carnavais/ Dos bares/ das jangadas/ Das cirandas/ Dos amores// Do poema/ Da lua/ Do sol/ Dos arrecifes/ Dos morros/ das cidades...

4 – Festa Literária: Embora ocupado/ Mas pra mim foi bacana/ A Festa Literária/ Da Fliporto// (...) A nossa Bienal do Livro vem aí/ Eu quero ver os leitores/ O nosso livro procurar/ E cobrar também dos livreiros/ Os demais autores independentes// Finalizo com meu nome/ Vocês já me conhecem/ Através da poetada/ Calvino meu sobrenome/ A partir da intimidade/ Pois já sou de idade/ Vininho na intimidade/ Andrade Lima em nome da fidelidade.


Obs: FLIPORTO foi de 12 a 15 de novembro de 2010.

Foto 1 - Calvino Lima - Fliporto Olinda (2010)

Foto 2 - O autor, lendo dois poemas da poetisa mineira Teresa Oliveira.

Foto 3 - Fliporto - Porto de Galinhas (2007)

Fiteiro Cultural V



Fiteiro Cultural V

 Por José Calvino 


“Como uma razão para viver,
um motivo para continuar...
Ao som de uma percussão ritualística.

Como você pode ver:
Recomendaram-me que eu fechasse
O Fiteiro Cultural.”



Embora eu tenha desativado o Fiteiro Cultural em maio de 2010, resolvi  reunir crônicas e poesias que foram lançadas em meu novo livro “Fiteiro Cultural”, durante a VIII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Lamentavelmente, aconteceu um problema (caso de polícia) e por isso só agora decidi que deveria escrever para o blog Fiteiro Cultural (http://josecalvino.blogspot.com/) e leitores de um modo geral.
Durante a bienal eu fora informado de que uma fila estava sendo formada e então achei que se tratava de uma organização para um autógrafo, só não sabia de qual escritor. Mas, tratava-se de uns perturbadores, que a polícia logo tratara de dispersar com a necessária energia. Na verdade o que aconteceu foi mais uma festa carnavalesca, que perturbou até as palestras, intelectualmente mal dirigidas, que não dedicaram a mínima atenção à questão primordial que é o drama do livro e da leitura no Brasil. Promoveram, com isso, os politiqueiros do nosso País. Não lhes interessava, portanto, discutir com sinceridade a questão cultural. Cuidaram apenas da infra-estrutura material do evento, com maracatu, cachaça... e para os que não gostam de ler e nem de prestigiar a literatura, foi mais uma ótima oportunidade de dançar conforme a música. É bom frisar, os únicos que não participaram da fanfarra, como sempre, foram os escritores e poetas independentes.
Diante da farsa, só me restou uma opção: denunciar!
Enfim, queiram apesar de tudo, os que estavam na suposta “fila”, se apresentar comportadamente na Fliporto – Festa Literária Internacional de Pernambuco - A feira reunirá toda a beleza e tradição de Olinda, e o encontro dos que se interessam por literatura. Por isso, ficaria muitíssimo agradecido.




quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Abril Pro Rock e as bandas locais independentes



Abril Pro Rock e as bandas
locais independentes


Por José Calvino 

No ano de 2008, sob o título “Abril Pro Rock anuncia atrações internacionais”, publicou o JC , no Caderno C: “New York Dolls, Helloween e Gamma Ray. Estes foram os trunfos que a produção do Abril Pro Rock teve para a edição 2008.” E para a edição 2011 do Abril Pro Rock, a grande estrela foi a banda americana The Misfits, em seu primeiro e único show no Nordeste brasileiro. O Abril Pro Rock apresentou também outra referência do hardcorde internacional: os americanos da D.R.I (sigla para Dirty Rotten Imbeciles). E mais adiante Paulo André Pires, produtor do APR, disse: “Nosso mercado está esfacelado com tantos shows gratuitos. A gente está apostando nos gringos porque praticamente todo grupo conhecido do país tocou no Recife, de graça...”.
Não sei por que o Abril Pro Rock sempre deixou de lado Axé da Lua e Hai-Kai, as bandas independentes de Olinda e Recife. A primeira é comandada por Malu, grande defensor dos manguezais, que mistura em suas músicas rock, maracatu, coco, reggae, candomblé etc, através da música popular brasileira .
Excluídos na diversidade cultural, sem apoio fica difícil para os nossos artistas. Transcrevo aqui o que o pai do saudoso Chico Science, Francisco Luiz de França, escreveu para o Caderno C (JC 05/04/98). “Chico sempre dizia que era preciso defender e preservar os mangues...Os esforços, talento e ideais servirão de estímulo para aqueles que almejam ser cantores e compositores”. Aqui fica a minha sugestão.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Vagão abandonado nos jardins da UBE



Vagão abandonado nos jardins da UBE
Por José Calvino 


Em visita à sede da União Brasileira de Escritores (UBE-PE), em Casa Forte, Recife, conhecida também como Casa Rosada, denunciei em 2010 que se encontra completamente abandonado o vagão de trem da antiga Great Western, antes que era usado como Sala de Leitura e Livraria e inaugurado durante a gestão do então presidente da entidade, Flávio Chaves. O referido vagão da Refesa, que fora recuperado e doado pela CBTU/MetroRec (Metrô do Recife), nunca teve a manutenção devida e isso decepcionou-me porque faltam muitos requisitos para sua restauração. Daí a situação atual do belo vagão. A tesoureira da entidade, valendo-se de desculpas esfarrapadas, disse que o dito vagão não pertence à entidade e que sua manutenção é de responsabilidade do MetroRec. Ora, todos os freqüentadores assíduos da UBE sabem que nem a própria Casa Rosada tem manutenção e que, por conta das recentes chuvas, seu telhado desabou. Agora, eu me pergunto: a responsabilidade pela manutenção da UBE é de quem? Pela segunda vez deixo de pertencer aos quadros da União, justamente por causa do desleixo dos dirigentes que nunca ligaram para sua conservação.
Todos sabem de minha paixão pela ferrovia e que sou autor dos livros “O ferroviário”, “Trem Fantasma” e do teatro “Trem & Trens”. Há muito boa literatura, pintura, música e teatro, em torno do tema trem. Quem não se lembra do “Trem Caipira”, de Villa Lobos? “A Moça e o Trem”, de João Cabral de Melo Neto? E do “Trem de Alagoas”, de Ascenso Ferreira?
“(...) Todos nós temos ‘um pouco de trem’ nas nossas vidas (...) O trem é elemento presentemente constitutivo da literatura universal. O mundo de Eça de Queiroz está vivamente impregnado de ‘comboios’ no seu vasto romance, bem como na sua própria vida particular, em suas constantes andanças por terras de França e Inglaterra, quando cônsul de Portugal naquelas terras européias. (Prefácio do teatro “Trem & Trens”) .

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Drogas & Crimes



Drogas & Crimes*


Por José Calvino

(...)


Eram onze horas da noite quando o detetive Getúlio protestou contra a violência da polícia, quando esta efetuava uma blitz no Beco da Fama:
- Como cidadãos normais que somos, protesto. A nossa cidadania é uma instituição intocável. Eles (a polícia) ordenam a paralisação das músicas, revistam os freqüentadores e “aconselham” recolher-se às suas casas, esquecendo nosso direito constitucional de ir e vir! Anormalidade? Estando o país gozando no estado de não-beligerância, por que imitar o estado hitleriano?

(...)

A psicóloga Tarcisa Evangelista, escreve para o detetive Getúlio Medeiros.

Querido Medeirinho

Bom dia


Venho por meio desta com toda confiança depositada em você. Porém, não confio na polícia, infelizmente, pois venho sendo interrogada sob tortura psicológica por elementos da polícia, que não têm qualificação. Estamos sendo, eu e o sargento Dorivaldo, o “Dore”, suspeitos do assassinato de minha irmã Thaís.
Sendo sabedora que o sargento Dore está prestes a ser excluído da meganha, e que você esteve com ele como também esteve na Casa de Saúde onde encontram internados o doutor Marcos Trova e Dorivaldo, e que ambos estão inocentando os agricultores (como realmente são inocentes) venho esclarecer o seguinte: primeiro lugar, estou gostando do sargento Dorivaldo, o Dore, amando-o de verdade, mas acontece que ele é um alcoólatra, então resolvi sobretudo olhar o meu lado profissional no campo da psicanálise... Em segundo lugar, confiante no seu espírito de compreensão supostamente tenho a narrar somente a verdade inocentando Dore, os agricultores, Dudu e os adolescentes.

Realmente eu estava com Dore, minha irmã, Maria Clara, Roberto Carneiro o “Filhinho” e Marcos Trova, numa Rural de aluguel cujo motorista é o velho “Dudu”, que você o conhece muito bem. Aconteceu que o carro de “Filhinho”, se encontrava nas mãos de dois adolescentes, sem carteiras de habilitação. Eles seguiram a Rural de Tracunhanhém até próximo ao Posto da Texaco, ultrapassaram a Rural, trancando-nos. Um deles pediu para que “Filhinho”,Marcos, Thaís e Maria Clara descessem e embarcassem noMaverick sob alegação que tinha uma patrulha rodoviária logo após o posto de gasolina e que agradeceria muito eu e “Dore”voltarmos na Rural com eles (os adolescentes) para o Recife. Pedido este aceito. Marcos foi dirigindo oMaverick junto com “Filhinho” e as meninas.

Nós voltamos seguindo a estrada para a capital. Paramos no restaurante Carrossel e pedimos carne de bode sendo servida guisada. Dore não se cansava de decantar os valores nutritivos da carne de bode. Os adolescentes adoraram o carrossel de cavalinhos, brincaram como duas crianças... Após três dias encontrei com“Filhinho” dizendo que Marcos Trova estava internado e que ele iria a Portugal. Perguntando pelas meninas ele nervosamente disse que as deixaram no Parque do Prata, com Marcos Trova. Como você já está sabendo que D. Almerinda da Paz recebeu de “Filhinho” uma estatueta faltando um pedaço do manto de Nossa Senhora. Cuja estatueta se encontrava na prateleira toda enfeitada com fitas azuis-celeste, que você se interessou em adquirir naturalmente. Com isto me veio à memória que a referida estatueta fora comprada por “Filhinho” em Tracunhanhém, inteira, e que no dia do crime tudo leva a crer que fora partida conforme “Dore” em conversa amigável com “Filhinho”. Este falou que quando abriu o porta-malas do carro, a estatueta caiu das mãos de Maria Clara e que, por sorte, foi quebrado somente um pedaço pequeno que colocou no bolso da calça para colar posteriormente e que procurou tudo e não mais encontrou e não sabe como foi que perdeu aquela parte da santa. Como psicóloga estou arrasada com a morte de minha irmã... Por isso para enfrentar esta situação em que me encontro, recorro a você, que tanto tem me ajudado nas horas difíceis como estas. Não está vindo mais ninguém na minha clínica se consultar pedindo orientação. Tenho pena dos viciados, sempre fiz tratamento para essas pessoas dependentes do álcool e de psicotrópicos: Infelizmente, estou sem saber o que fazer para resolver este problema que vem me perturbando fisicamente e moralmente. Acredito que você já saiba tudo para provar quais foram os criminosos e inocentar os que irão ao banco dos réus. Tenho certeza, meu amigão, que você conseguirá que eles confessem o monstruoso crime e através dos órgãos competentes da imprensa, retratar o que as drogas fazem a um ser humano...
(ass. Tarcisa)
(...)
No Máxime, à tardinha, Dorivaldo, Tarcisa e Medeirinho, no tilintar de copos, degustam o bom vinho com o peixe ensopado, casquinhas de siri e do caviar. A leve brisa soprando do verde atlântico, continuam a conversar...: “Tarcisa, grande psicóloga paradoxal. Trata de alcoólatra sem deixar a caipirinha, fazendo uma apologia ao adágio popular: ‘Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço’, está nessa agora, processada, mas vai sair, temos provas suficientes...”; “... Caipirinha é boa quando é feita com aguardente, limão, mel e gelo”; “Sabe quem inventou a caipirinha? “; “Foi o doutor Watson”: “Falar em doutor Watson, dizem que está pra vir ao Brasil os detetives Hercule Poirot e Sherlock Holmes, literalmente acham que os nossos trabalhos estão sendo corretos, como manda o figurino dos detetives imortais. Não será preciso vir ao Brasil desvendar esses crimes bárbaros que vem acontecendo...”; “... No ‘Xangô de Baker Street’, Sherlock diz que aprendeu a cheirar cocaína com o médico de Viena, Sigmund Freud. Juntou-se com a mulata do corpo maravilhoso, Anna Candelária, e o que vimos foi aquela palhaçada, ensinou até Sherlock a fumar maconha: ‘Tens que tragar fundo e segurar a fumaça nos pulmões o mais que puderes, ‘Sherlock Holmes, usou demasiadamente acannabis sativa... fez eu rir da primeira página à última. O chefe de polícia desembargador Coelho Bastos... No filme o Jô Soares numa ponta é uma graça de escritor...”- disse finalmente a psicóloga Tarcisa Evangelista da Ficção.



*Trechos extraídos de alguns capítulos do livro: “Drogas & Crimes”. Edição 2003.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Índio não quer apito




Índio não quer apito

Por José Calvino


Recordar é viver. Nos anos 90, aos sábados, um bando de intelectuais de todos os matizes se reunia no Mercado da Encruzilhada, especificamente, no “Espaço Falcão”. Lá, os mais variados papos rolavam, sempre regados aos indispensáveis e “necessários” uísque, caninha e “louras” geladas.

 As discussões abordavam todos os temas e nem sempre havia unanimidade. Num sábado  à tardinha, o tempo esquentou. Um folclorista não gostou da brincadeira de um dos colegas e partiu para a agressão verbal, com palavras ofensivas.

Um deles disse, referindo-se ao seu horóscopo: “Mesmo quando suas críticas e sugestões estejam prontas às vezes não é fácil transmiti-las, porque não são todos que estão prontos para ouvir. É tempo de ter calma e esperar o momento certo para se expressar evitando os desentendimentos”. 

Dito e feito, mas, no final, o folclorista abrandou: “Não gosto de brincadeira pesada. Só se for sadia”. Um dos companheiros não perdeu a oportunidade e, imitando um índio, falou: “Folclorista não gosta de 'Perdigão' e muito menos da 'Sadia'”. A zorra foi geral e a animosidade esquecida, inclusive, pelo folclorista.





Meninas nas Janelas



Meninas nas Janelas

Por José Calvino

A Liris Letieres


Meninas nas janelas
ler os seus versos
pelo ângulo intensivo
levantando com capacidade
(significativas).
Meninas nas janelas
lançando imagens
que revelam luz e mar.
A inocência e vivacidade
(de uma criança).
Meninas nas janelas
num mundo que forma
idéias à base de absurdos!
A sensatez  poética que eleva
( o nosso espírito).
Meninas nas janelas
sem nenhuma malícia
mãos subindo-as
para o céu de Salvador! 


Salvador, abril/2009.








quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Desmilitarização das polícias





Desmilitarização das polícias

Por José Calvino



Polícia significa segurança  pública e indivíduo pertencente àquela corporação é policial, podendo-se dizer que polícia é como um termômetro que serve para medir o grau da civilização de um povo. No Brasil temos três polícias: a Militar (força auxiliar, reserva do Exército), a Civil e a Federal.

Em 2010, escrevi perguntando ao então presidente Lula o por quê de o governo não propor uma Emenda Constitucional unificando as polícias Civil e Militar? Só assim não haveria disparidade salarial e as PM’s deixariam de submeter-se à hierarquia militar. Ele respondeu com argumentos que não me convenceram, pois os policiais militares de todos os Estados do Brasil estão aguardando agilidade na Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que trata da unificação dos salários. Ora, se não unificar as polícias, como serão unificados os salários? Alegou o mesmo que na maior parte das democracias do mundo existem mais de um tipo de polícia. Em geral, uma delas tem o perfil militar, enquanto outra é responsável pelas investigações. E que vem aprimorando as nossas polícias, com um dos maiores programas de educação em segurança do mundo!!!

Quanto ao “aprimoramento” das polícias, não consigo atestar isso, pois estas vêm piorando a cada dia, com muitos policiais mal-educados e sem nenhum treinamento. E, desse jeito, só quem padece é a sociedade, constantemente insegura. Unificando as polícias não haveria disparidade com os federais e a união seria mais ampla, abrangendo toda a polícia do País, a exemplo da  conversão das polícias militares em guardas civis, com os seguintes postos hierárquicos da PM, para a futura polícia:

Praças – guarda simples à 1ª classe; Oficiais subalternos – fiscais de 3ª/2ª classe; Oficiais intermediários – fiscais de 1ª classe; Oficiais superiores – inspetores, chefes, comandantes, etc; À paisana – delegados, comissários, escrivães, detetives e investigadores.

Mais uma vez relembro que, se feito isso, ao meu ver, as PMs do Brasil deixarão de submeter-se à hierarquia militar. Para mim, deveriam permanecer exclusivamente as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica).