quinta-feira, 31 de outubro de 2013

18º Festival Internacional de Dança do Recife



XVIII Festival Internacional de Dança do
                                 Recife

Por José Calvino


Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito tempo
Em sua vida
Eu vou viver

Detalhes tão pequenos
De nós dois
São coisas muito grandes
Prá esquecer
E a toda hora vão
Estar presentes
Você vai ver

(...)

Eu sei que esses detalhes
Vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma
Todo amor em quase nada
Mas, “quase”
Também é mais um detalhe
Um grande amor
Não vai morrer assim
Por isso
De vez em quando você vai
Vai lembrar de mim...




Recife recebeu diversamente, de 21 a 31 de outubro desse ano, espetáculos locais, nacionais e internacionais durante uma programação artística do 18º Festival Internacional de Dança do Recife. A comunidade do Morro da Conceição, em Casa Amarela está de parabéns, pois foi palco da abertura do evento, com diversas apresentações ao ar livre.

O que chamou mais atenção do público, principalmente na música jovem  da época, o rock  (primeiro movimento musical brasileiro),  foi o romantismo do cantor Roberto Carlos, que na década de 1970, reformulou seu repertório rock’n roll e se tornou um cantor e compositor basicamente romântico, que mudou seu público jovem e passou para o adulto, com seus poemas em forma de música.

A composição (em resumo) acima “Detalhes”, de Roberto e Erasmo Carlos,  iniciou a peça: “As Canções Que Você Dançou Pra Mim”, com quatro casais de bailarinos, da Focus Cia. de Dança (RJ),  embalados por um pot-pourri com composições interpretadas por Roberto. Todas elas  consagradas como clássicos da MPB.

Foi bem embolada a representação dos bailarinos. Casais da velha-guarda recordaram as músicas da então jovem-guarda, acompanhados dos aplausos de pé pela platéia. 





terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sambão - Morro da Conceição


                                                O autor e Janayna Barbosa, no Sambão - 
                                           Morro da Conceição - domingo, 27/10/2013  

                                                                (Foto Eglantine Mendes)

sábado, 12 de outubro de 2013

Jesus




 Jesus 

Por José Calvino 



Não pretendo escrever uma obra teológica ou tomar partido em conflitos religiosos. Como exemplo de vida, já fui perseguido por ter o nome do reformador de espírito universal. Professores carolas diziam, principalmente um de história: “Foi o movimento que, dividindo os cristãos do Ocidente no século XVI, originou diversas novas igrejas chamadas protestantes, as quais não mais seguiriam o comando e a orientação do papa de Roma...”. Mas, jamais poderei ser privado de minha liberdade, pois estou escrevendo universalmente e com ousadia “Jesus”. Sem medo, sempre denunciei as injustiças sociais (Vide Liberdade de Expressão, pp.). Além disso, sempre respeitei a fé cristã , até porque sempre convivi com pessoas simples e religiosas (pobres do nosso Brasil).

Com mais de 2000 anos da vinda de Jesus Cristo (Vide Hipocrisias, pp.), iniciei este trabalho literário com trechos salteados do livreto (distribuídos gratuitamente),“Jesus”(Vide Fisionomia de Jesus – p.) , que Veio ao mundo sem ter Caído do céu, nem Vindo de outro planeta. Jesus teve como pai adotivo José...(Vide O nascimento de Jesus Cristo, Mt 1:18-25 e Lc 2:1-7).

Ele era judeu, de nome Yeshu (em grego), que representava uma sigla I= Iésus (Jesus), Kh= Kristhós (Cristo), era uma abreviatura do nome hebreu Yoehoshua andava pelas terras do Oriente Médio pregando a paz num ambiente totalmente hostil: a Palestina era território dominado pelos romanos e os próprios judeus estavam divididos em facções religiosas. Algumas, extremistas como os zelotes, que pregavam a luta armada contra os invasores. Outras, como os fariseus citados na Bíblia, conviviam com o poder romano contanto que a vida religiosa não sofresse intervenção. Nestes dois milênios que se seguiram, o Oriente Médio não deixou de ser sempre um barril de pólvora.


De acordo com as Escrituras, tanto judias quanto cristãs, Jesus teria que ter nascido em outubro na Succah (Cabana), durante as festividades da Festa dos Tabernáculos (Sucott), quando os pastores ainda podiam estar apascentando nos campos com as ovelhas. Argumentam com fundamento, que em dezembro é época de inverno no Oriente Médio e que nem mesmo o pastor mais lunático estaria fora à noite gélida, em campos cobertos de neve (Vide Carta de uma judia a um pastor, de Dalva Agne Lynch. Idem, editorial Literário, 24/dez/2012). Acredito que é preciso conhecer bem a terra onde ele nasceu, e o povo com quem ele viveu.


Dizendo-se filho de Deus (Vide Quem é Deus? – p.), não ficou alheio à vida da humanidade do seu tempo. Jesus era um homem inteligente, aplicava muito bem as palavras de amor e bondade (Vide Menino Jesus - p.), era um ser humano igual aos outros, nascido de relação entre um homem e uma mulher. Sobre a sexualidade de Jesus, tem crescido o número de pessoas que acham ter havido um relacionamento amoroso entre Jesus e Maria Madalena. Todos estudiosos que estudam (sic) a figura humana de Jesus sendo homem, alguma sexualidade, se não exerceu com mulheres, a exerceu com quem? Seria um anormal? Muitos o consideravam um louco, inclusive os próprios parentes. 


Ele nasceu pobre, viveu no meio do povo,  propôs aos homens se amarem como irmãos e paz para todas as pessoas (No Brasil, enquanto o governo não investir em saúde e educação, não haverá paz.). Como assim? Para entenderem melhor, Ele disse: “Por serem todos filhos do mesmo pai.” Alguns seguiram-no, muitos se colocaram contra e foram a favor do império romano. A polícia era assumida diretamente pelo Comandante do Templo, sob as ordens do Grande Sacerdote. Essa mesma polícia o levou a ser crucificado (Mc 14:43-50 – Mt 26:47). Mas, a igreja convenceu milhões de pessoas a acreditarem que ele ressuscitou. Pra mim isso é conversa pra boi dormir (Vide Mt 10:8).

Até hoje muitos religiosos acreditam que Jesus está vivo (Vide Será o Fim do Mundo? – p.). Tenho certeza que alguns leitores estão perguntando: “Como vivia o povo?”; “Quem se relacionava com ele?”; “Quem estava no poder?”; “Havia religião?”,et cétera, (Vide Sobre cristologia, pp.).


A Palestina era um país essencialmente agrícola e sua economia, sobretudo era mais voltada à agricultura (Vide Mc 2: 23 – 4: 1-19 – 4: 30-32). Ah, e Jesus Cristo, que fez a água virar vinho (Vide João 2: 9) , na pecuária (Vide Mt 9:35-38 – 25:31-32), na pesca (O peixe era alimentação popular), no artesanato (Vide João 12:3), barcas e redes. Não havia indústrias como hoje, mas sim muitos artesãos autônomos (Vide Mc 1: 16-20 – Mt 13:47 – Lc 5:1-7 – Lc 9:62) e tanques para espremer uvas ou azeite (Vide Mt 9:37). Certas obras públicas, como a nova construção do templo de Jerusalém no tempo de Jesus reuniam vários operários (Vide João 2:20).


Os produtos circulavam com muitas dificuldades para o comércio. A Palestina não era uma região diretamente marítima e as demais eram montanhosas. Apesar disso, nas aldeias  trocava-se um produto por outro. Existiam feiras livres nas cidades, principalmente nas maiores  como a Galiléia, onde se desenvolvia um certo comércio internacional; para isso se usavam várias moedas de diversos países (Vide Lc 15: 8 – 20: 24).

Nos povoados os impostos eram de diversos tipos. Para os romanos se cobrava ¼ das colheitas, logo vendidas e trocadas em moeda. O pedágio era sobre transporte de mercadorias, taxas de alfândega... Grandes somas partiam de Jerusalém para Roma. Em Roma, uma categoria se beneficiava às custas das províncias coloniais com a Palestina. O povo tinha apenas o suficiente para sobreviver e com tantos impostos a pagar, a miséria se tornava ainda mais pesada para muitos sem condições de satisfazer suas necessidades mais vitais. A cobrança se fazia através de funcionários chamados Publicanos que atuavam em todos os níveis (Vide Mt 9: 9-13 – Lc 18: 11).

Os responsáveis pelas cobranças ficavam com suas comissões e os furtos eram freqüentes, principalmente em altos escalões, e praticamente sem controle. A corrupção era grande e isso tudo levou o povo a desprezar e marginalizar toda a categoria dos publicanos (Vide Lc 16: 6-7).

O Templo era o centro do poder econômico e onde todos os impostos eram centralizados. Uma verdadeira fonte de empregos: vendedores de bois, ovelhas e pombas, com diversos cambistas explorando o público ( Vide João 2: 13-20).Então, quando Jesus falava do templo a ser destruído, ameaçava a estrutura econômica na sua base, tendo sido esse um dos motivos de sua condenação ( Vide Mt 26:61).


A situação econômica de Jesus era semelhante à do povo da Galiléia, por fazer parte da vida econômica dos camponeses, pescadores e das donas de casa. Os pescadores, sobretudo, eram seus discípulos, o Peixe também era o desenho usado pelos primeiros cristãos como forma de se identificarem numa época em que se declarar seguidor de Jesus significava ser devorado por leões. O desenho do peixe tinha uma mensagem mais cifrada em grego, escreve-se ikhtys. A realidade dos desempregados mostra como  se relacionam os ricos proprietários. Assim Jesus mostra que conhece perfeitamente a situação econômica da classe trabalhadora explorada (Vide Mt 18: 23-34 – 13: 54-55).

O povo ia ao encontro de Jesus, à beira mar ou em qualquer lugar onde ele estivesse (Vide Mc 3:8 – Lc 6:6-11). O Novo Testamento usa diversas vezes as palavras Povo e Multidão. Isso mostra o quanto Jesus se identificava com o povo. Jesus foi criticado por sua intimidade no contato com os marginalizados. Os Fariseus diziam: “Por que ele come com os pecadores?” E quando faziam esta pergunta Jesus respondia: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes.” (Vide Mc 2:15-17 – Mt 9: 11-12).

Jesus sempre manifestou seu afeto para com as crianças (Vide Mt 11: 16-17 – Mc 10: 14).

Mulheres e crianças eram excluídas da vida social, igualmente aos deficientes visual, auditivo, mentais e escravos (Vide Lc 17: 14).Ele ficava aborrecido de ver o povo disperso, perdido, explorado e desorganizado ( Mt 17: 24-27).


Jesus quebra os tabus: Fala a sós com uma mulher Samaritana (Vide João 4: 27).

Jesus se faz acompanhar por um grupo de mulheres junto com os discípulos (Vide Lc 8:1-3). Elas, sozinhas, estão presentes em Seu Calvário (Vide Mc 15: 40-41) e serão as primeiras testemunhas da ressurreição. Naquele tempo o testemunho de uma mulher não valia nada, pesa na boa fé a veracidade do acontecimento (Vide Lc 24: 1-11).

(...)

Peço licença agora aos leitores para esse lembrete: História do dinheiro da então República dos Estados Unidos do Brasil. Em 1942 foi lançada no Brasil a nota de Cr$ 10,00 (dez cruzeiros), que trazia em destaque a imagem do caudilho gaúcho Getúlio Vargas.

-> Dinheiro do Brasil: várias mudanças de nomes e valores no decorrer da história. .

Jesus reconhece que os impostos exigidos por estrangeiros são demonstração de abuso e injustiça (Vide Mt 17: 24-27)!

Devemos pagar imposto a César ou não? Os Fariseus fizeram essa pergunta a Jesus, com intenção de provocá-lo. Claro, as vozes da administração estrangeira seguiam pressionando por todos os meios. Para isso, Jesus muito perspicazmente pediu aos Fariseus uma moeda e perguntou: “De quem é a imagem e a inscrição da moeda?”- “de César”, responderam-lhe. Era uma imagem proibida aos judeus. Um deles, retirando do seu bolso uma tal moeda, estava em contradição com a Lei que pretendia defender.

Jesus então, com certa ironia disse: “Pois bem, devolvam a César o que é de César.” (Vide Lc 20: 20-26). Será que não poderia Jesus dizer também: “Devolvam ao povo o que é dele?”

Jesus adotou uma atitude crítica em relação aos abusos do poder pela classe dominante (Mc 12: 1-12). A critica de Jesus se dirige então aos responsáveis pela nação judia: “O dono da plantação destruirá os vinhateiros e dará a vinha a outros.”

A autoridade de Jesus como um ser social era baseada na confiança que o povo lhe tinha, e por isso a classe dominante tinha medo de mexer com ele. Jesus fez com que esse povo, com seus líderes, se organizassem e resolvessem seus problemas (Vide Mc 15: 6-15 – Mc 6: 33-44).

Jesus morreu por dois motivos:

1 – Religioso: Foi acusado de blasfêmia porque, sendo homem, se fez igual a Deus, e assim tirava dos Sacerdotes a última palavra sobre a Religião;

2 – Político: Jesus caiu numa armadilha. O sinédrio queria acabar com ele, porque se sentia ameaçado em sua autoridade. Por outro lado, os zelotes queriam uma mudança política imediata. Apesar de não concordar com os zelotes, o sinédrio conseguiu jogar o povo contra Jesus na hora da Paixão. Pode ser que por isso Barrabás, o zelote, preso por sua ação terrorista, apareceu ao povo como tendo mais condições que Jesus para encabeçar uma libertação nacionalista (Vide Mc 15: 6-15. Idem, Sobre cristologia, p.).

Cito agora algumas parábolas contadas por Jesus: As Casas (Vide Mt 7: 24-29) “ Quem ouve estas minhas palavras e as obedece é comparado a um homem inteligente que construiu a sua casa sobre a rocha. Choveu, houve enchentes com ventania e ela não caiu porque foi construída sobre a rocha. Quem não obedece é como um homem ignorante que construiu a sua casa sobre a areia. Choveu, houve enchentes com ventania e ela caiu, sendo grande a sua destruição.”
Quando Jesus acabou de falar, as multidões estavam admiradas com os seus ensinamentos. Porque ele ensinava com autoridade e não como os professores da Lei.  

Termino este trabalho com a primeira Epístola de João 4: 20-21:

“Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

Ora, temos da parte dele este mandamento, que aquele que ama a Deus, ame também a seu irmão.”




  


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Lei Maria da Penha


Lei Maria da Penha


Por José Calvino


Art. 129 – Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.
Art. 121 – Matar alguém.
Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
Art. 157 – Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência...


Há tempos que gostaria de escrever sobre a lei Maria da Penha, que muitos homens e mulheres, principalmente os homossexuais ignorantes, têm feito confusão. Comprovadamente, já constatei mulheres agirem ferindo os artigos acima mencionados, todos do Código Penal. Geralmente advogados apresentam a tese de que “agiu sob forte emoção” e de que foi agredida para justificar o crime cometido invocando a lei Maria da Penha. Para os leitores terem uma idéia, esta aconteceu num boteco em Casa Amarela: Solitário, um rapaz começou a observar o comportamento dos seus vizinhos de mesa. Numa delas, duas mulheres estavam bebendo e, em dado momento, começaram nos abraços e beijos... De repente, uma disse em voz alta:
- O que é que há? É minha esposa.
- O que foi? – respondeu o rapaz admirado.

A lésbica “esposa” pegou no gargalo da garrafa e fez menção de que iria jogar no rapaz negro (moreno, no tratamento do racismo pernambucano).

O rapaz, por sua vez, reagiu sem violência, limitando-se a se defender. Começam então os defensores das mulheres a o acusarem de agredi-las, indo o caso parar na delegacia de polícia. Lá, foi lavrado um boletim de ocorrência contra o rapaz, sendo enquadrado na lei Maria da Penha. As homossexuais ficaram então como vítimas. Não é o cúmulo?

Lei Maria da Penha não reduz mortes de mulheres, é o que revela estudo divulgado em 25/09/2013 pelo Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea) em relação à proporção de feminicídios, isto é, homicídio de mulheres em decorrência de conflitos de gênero, geralmente cometidos por um homem, parceiro ou ex-parceiro da vítima. Esse tipo de crime costuma implicar situações de abuso, ameaças, intimidação e violência sexual.

Conhecida como Lei Maria da Penha a lei número 11.340, decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006, dentre as várias mudanças promovidas pela lei está o aumento no rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar.

O caso nº 12.051/OEA, de Maria da Penha Maia Fernandes, originou a lei 11.340. Ela foi espancada de forma brutal e violenta diariamente pelo marido durante seis anos de casamento. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la, tamanho o ciúme doentio que sentia. Na primeira vez, com arma de fogo, deixando-a paraplégica, e na segunda, por eletrocussão e afogamento. Após essa tentativa de homicídio ela tomou coragem e o denunciou. O marido de Maria da Penha só foi punido depois de 19 anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado, para revolta de Maria com o poder público.

Em razão desse fato, o Centro pela Justiça pelo Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), juntamente com a vítima, formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que é um órgão internacional responsável pelo arquivamento de comunicações decorrentes da violação dos acordos internacionais.

Essa lei foi criada com o objetivo de impedir que os homens assassinem ou batam nas suas esposas, e proteger os direitos da mulher.


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Carta ao Autor do Cristo Mulato



Carta ao Autor do Cristo Mulato


Por José Calvino


O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons”. (Martin Luther King)


Quando lancei a primeira edição do livro ‘O Cristo Mulato’,recebi uma carta dirigida a mim. Acho por bem mostrar agora aos leitores a correspondência e a resposta à mesma:

a) “Calvino, como não poderia deixar de ser tento uma aproximação com você, e já que pessoalmente me é impossível falar-lhe, busco nesta um diálogo escrito que valha por uma conversa consciente. Quando li ‘O grande comandante’ não deixei de lhe aplaudir por sua visão ampla da realidade, e transferida ao papel com tamanha lealdade. No capítulo em que você se refere ao padre yank, o missionário, não deixei de relacioná-lo com Lourenço Rosembaugh, padre Norte Americano, e tenho certeza de que estou certo. O referido padre, ao dar continuidade à sua missão, foi extremamente criticado e conceituado de subversivo, e sendo tido pelo major da Polícia Militar de Pernambuco, como um agitador e formador de uma ideologia que estivesse o povo a segui-lo. Como vemos, Calvino, constantemente podemos ser vítimas de más interpretações, por pessoas de um senso crítico bastante mesquinho, cuja formação não crê em atos de bondade.

Não posso deixar de comentar sobre ‘O ferroviário’, lhe perguntando sobre as questões que você aborda em seu livro. Como ferroviário você foi vítima de muitas injustiças, como a maioria dos pertencentes à classe trabalhadora, e gostaria vê-las esclarecidas numa carta que me venha a compreender melhor a situação. Como você não apenas serviu à ferrovia, mas também à Polícia Militar (PM) do Exército (PE); tomei conhecimento de outras injustiças que foram provocadas pelo mesmo‘major’, que o fez entrar num Conselho de Disciplina, buscando a sua decadência.
Acredito, Calvino, que pessoas como o major nunca hajam escutado o refrão da música de Vandré, que afirma:

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razão’

E pessoas assim, buscam o extermínio de gente como você, capaz de desmascará-los.

A classe trabalhadora está sendo bombardeada por constantes injustiças, e tremendamente preocupado fico eu quando penso que milhares de pessoas, como você, ainda passam por tais situações. Por isto é que espero que me explique as causas de tais situações enquanto pertencente às duas classes: ferroviária e militar, onde ninguém melhor que você poderá fazer-me sabedor.

Do Cristo, entre Cristos, Mulato”.

Nota – Em 1975, o Pe Lourenço Rosembaugh veio para o Brasil e passou a viver com moradores de rua no Recife. Foi preso e torturado (ditadura militar).

Na tarde do dia 18 de março de 2009, na Guatemala, o Pe Lourenço e mais quatro padres viajavam para uma reunião. Foram cercados por homens mascarados e armados que , em seguida, abriram fogo, matando o padre Lourenço Rosembaugh..

Resposta à Carta do autor a Cristo Mulato

b) Recebendo sua carta fiquei satisfeito com seu nível de consciência crítica, vez que você analisou o livro como um porta voz dos anseios da classe trabalhadora. Quanto às injustiças, acredito tê-las transcrito em sua maioria neste livro, onde o reflexo de meu sentimento é transportado às frases que o compõem. Mas não só o faço neste livro, como também nos anteriores e nos que possam vir a surgir, pois os problemas sempre existiram e continuarão a existir, enquanto houverem pessoas que o componham.

Não vou falar dos que realmente são causadores dos bombardeamentos das injustiças, sabendo que há muita gente boa com esperanças no futuro do nosso país (Brasil).

Com relação ao Conselho de Disciplina, foi a chance que tive de ser submetido à humilhação. Porque tinha mais de dez anos, se não o “major” tinha pedido a minha exclusão. Mas, a justiça é certa e nunca falha, embora existam “Omes da lei” nela, agindo com parcialidade.

Acredito que esta comunicação esclareça a situação em que me encontrava, embora que muitos dos meus colegas hajam-me advertido: “Cuidado Calvino, os homens são oficiais superiores (Vide o teatro “O Cristo Mulato”)

(...)

I – Comunico-vos que por determinação do Sr. Maj PM... fui submetido a Conselho de Disciplina, através da Portaria adm. nº... de 26 de março de 1979, cujo resultado o Exmo. Sr. Cel Comandante Geral determinou o seu arquivo e, conseqüente absolvição e tendo deixado, no período em que estive “Sub-Júdice” de receber as Gratificações de Serviço Ativo e de Representação...

II – Adianto-vos que durante todo este tempo, ultrapassando, chegando a nove meses, somente agora em janeiro de 1980, é que veio o pagamento das referidas gratificações irregulares, e que no momento veio-me à memória, causando com isto, um certo desestímulo, que poderia acarretar-me atitudes precipitadas e que do ponto de vista psicológico, sérios abalos foram causados, já que me encontrava contrariado e sentindo-me prejudicado, obrigando-me a não aceitar o dinheiro do corrente mês. Resolveu minha esposa, então, a recorrer ao Sr. Tem-Cel PM Ajud/Geral, receber o dinheiro, quando a mesma foi atendida, pois sentia o quanto os nossos filhos necessitavam de uma educação, e limitávamo-nos a “querer sem poder”, não podendo jamais ultrapassar o possível, pois financeiramente tudo estava (e até que vós não resolvas: “estará”) inutilizado, inclusive o meu ânimo e estímulo de seguir em frente.

Espero, nesta, ao menos, resumindo o que jamais em letras, poderei totalmente exprimir, todavia confio, que o Senhor juntamente com nosso digno Comandante darão uma solução aos referidos problemas...

Mãos à obra! Cristo Mulato!