segunda-feira, 30 de abril de 2012

Antropologia




Antropologia*

 Por José Calvino


Eita, mas que confusão!
Tem gente que confunde
Antes que o Barco Virado se afunde
Antropologia
Com antropofagia, sabia?
Faça uma comparação
Com o que tem e o que não tem
Assim aprendem essa lição.
Em algum momento da vida
Você se sente triste...
Inicie o hábito de ler
Pelo menos três vezes por semana
Quem adota esse hábito
Tem uma expectativa de vida
Maior do que aqueles que não lêem.
A leitura aumenta a felicidade,
Aprende a lidar com os problemas.
As pessoas estudiosas tendem
A ter melhores comportamentos
(exercitam o autocontrole)
Regulando com mais eficiência
As suas emoções.
Assim seja, bem informado
Dando valor ao poeta marginal
Ele é um bicho de imaginação fértil
Tem bom coração
Carrega com alegria
Quase todo santo dia
Essa carga cultural
Sem precisar dos puxa-sacos
Tudo que faz é dizer com arte
Norte, sul, leste, oeste
Gente de toda parte
É preciso coragem, determinação...
E assim com o tempo,
Com todo esse contratempo
O poeta continua fazendo
Os seus versos em casa
E cantando na rua...
Parece que estou vendo miragem?!
Com toda essa paisagem
No final se perdeu
O que foi que aconteceu?
Otimismo para obter êxito.


(DEDICO ESTE TRABALHO AOS POETAS MARGINAIS)

* Do livro "Fiteiro Cultural", pp.30-1. Ed. do autor (2011). 

sábado, 28 de abril de 2012

Felicidade


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Felicidade*


Poeta,
de inesquecível felicidade;
Poeta,
de predominância razão;
Poeta,
companheira de ideologia e de sofrimento.
Você hoje sonha,
amanhã conta o seu sonho...
Você que ficou enamorada,
será minha namorada de sempre.
Poeta...
Ficamos felizes para sempre.
* Extraído do livro: "Fiteiro Cultural", pp. 54-5 - ed. 2011.

Auto recado





Auto recado*

Sou o perfil
Sou o total
Sou completo sexualmente
E o sexo da necessidade.

Sou presente
Sou futuro
Sou alegria
Popular realmente.

Sou pernambucano do Canavial
Sou maracatudo
Me liberto
Sou Carnaval.

Sou a vida
Sou a morte
Sou o bem-importante
Sou o mal-necessário.

Sou a força
Num impulso de generosidade
Sacrifico interesses pessoais
Sou a caneta (minha arma)
Com ela denuncio as injustiças sociais.

Sou o solilóquio
Com determinação poética
Nesse palco da vida
Fico puto da vida!



* Do livro "Fiteiro Cultural", pp.55-6 - Ed. do Autor.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O futuro do marginal

                                                   
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O futuro do marginal

Nasci na favela do V-SÓ
Hoje tenho quinze anos
Vejam só:
Não estudo
Não trabalho
“tenho tudo”!

O Pastor me ensinou
Que devo amar a Deus
Ele é o nosso Senhor
Fez os céus e a terra.

Vejam bem:
Para melhor dizer
Graças a Deus
Também assisto televisão
Lá na FEBEM!!! 

Catraia do Capibaribe


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Catraia do Capibaribe 

Ouço aquele rio,
estou cantando,
está na memória,
estou vendo,
está poluído.

O rio corria,
estou olhando,
nem olhas,
(corria)
Paisagem triste,
queres ver?
Capibaribe.

São turistas?
Capaz, quem sabe?
(da catraia)
Sentia-se um mau odor.
Cá, pra nós,
que dor! 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Praça do Jacaré

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Praça do Jacaré
Que o deserto da solidão,
perceba o cheiro de mar.
Numa praia livre,
de um céu azul-mar.

A sua brisa suave,
vento leve e gostoso,
pelos gritos na praça...
Crianças: cadê o jacaré?

No seu ir e vir,
quando caminhares,
veja as crianças a gritarem,
naquela praça próxima à praia.

E os homens da lei,
com pressas para julgar,
como que por engano,
naquele fórum de Olinda.

José Calvino
Com os pés em Recife,
o coração em Olinda.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ariano Suassuna

                 
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Ariano Suassuna*


Ultimamente, tenho lido alguns comentários sobre o dramaturgo Ariano Suassuna, ex-secretário de Cultura, neste segundo governo de Eduardo Campos à frente do Governo de Pernambuco, assumindo o cargo de secretário-chefe da Secretaria Especial de Assessoria do Governador. Mais uma secretaria que serve como cabide de emprego. Que Ariano Suassuna é uma personalidade importante no país no campo da literatura, isso não podemos negar, mas como se diz socialista, que sonha com o socialismo na América do Sul, já chegou a dizer que não aceitaria exercer cargo político porque estava precisando escrever um romance. Entretanto, aceitou esse cargo, onde não faz nada e que só lhe serve mesmo para satisfazer interesses políticos ou de amigos, dando emprego a seus apadrinhados, entrando assim no rol dos que não dispensam o dinheiro da viúva!

Todos nós sabemos que Ariano foi muito criticado por ter assumido uma secretaria no auge da ditadura militar. Em 1968, Caetano Veloso, espelhando-se no movimento que ocorria em Paris e nos slogans grafitados pelos muros que diziam : “É proibido proibir”. No mesmo ano, o então presidente militar Costa e Silva decretou o Ato Institucional número 5 (AI-5), que deu plenos poderes ao governo. Sinceramente, sempre achei válido, importante, o governo federal, através do Ministério da Educação (MEC) investir na autodisciplina a fim de possibilitar a educação da vontade, do desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do povo. Os educadores deveriam fazer com que os jovens estudantes soubessem o que é proibido e o permitido. O então professor Ariano Suassuna dizia: “Que havia uma condenação moral para determinados atos... Crime é crime. É proibido”. Porque então proibir, em vez de educar? Concordo plenamente com o “É proibido proibir”.

Ariano quando secretário de Cultura criticou também o autor da música Pra te conquistar. É de conhecimento público que Ariano não gosta de rock e de outras coisas. O saudoso Chico Ciência, por exemplo, como Ariano o tratava ironicamente, fora vítima do secretário de Cultura. Suassuna, nunca se manifestou em prol das realizações locais, baseadas nos livros dos autores nordestinos. Ele preocupa-se apenas com ações assistencialistas como fez, por exemplo, na Ilha de Deus (antigamente conhecida como Ilha sem Deus, no livro de minha autoria O grande comandante, é chamada Ilha dos pescadores de Deus), entregando R$ 10 a um ilhéu nas encenações de suas peças teatrais (Armorial/Aula-espetáculo). Já foi vaiado em 1998 em plena apresentação de sua peça A Pedra do Reino e fortemente criticado pelos especialistas locais e do Sul do País, durante abertura do 1º Festival Recife do Teatro Nacional. O senhor Ariano deveria respeitar os nossos artistas seja de onde for. Será que ele só respeita os artistas da TV Globo?

O Sport Club do Recife foi homenageado em 16/06/08, pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, no Salão Nobre do Palácio do Campo das Princesas.
Sob o título Parcialidade do secretário de Cultura (Publicado no Meu JC em, 17/06/2008), o então secretário de Cultura, Ariano Suassuna, torcedor símbolo do Sport, discursou arrancando aplausos, e depois todos presentes cantaram os parabéns, pois foi o dia do seu aniversário (81 anos).

O governador Eduardo Campos, que mesmo sendo alvirrubro (Náutico), se comportou apenas como chefe de Estado, ao conceder ao presidente do Sport a medalha da Ordem do Mérito dos Guararapes, a mais alta comenda do governo do Estado, falou: “O Sport deu uma demonstração do espírito guerreiro do pernambucano”. Ariano, emocionado e querendo ser engraçado perante o governador, mais uma vez pisa na bola ao dizer com gozação: “Se eu fosse juiz, todas as vezes que o Corinthians pegasse na bola eu apitava impedimento!”

Como secretário de Estado vem agindo muito mal. O senhor Ariano deveria respeitar os torcedores de outros clubes. Não sou torcedor do Corinthians, mas não admito desrespeito aos demais, principalmente vindo de um representante da nossa cultura.



* Extraído do livro "Fiteiro Cultural", pp. 197-99. Ed. do Autor, 2011.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Filme chamado Brasil

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Filme chamado Brasil*


Estamos assistindo esse filme
Chamado Brasil!
Todos nós, sempre temos dito:
“Esse filme já passou”
Já dizia Machado de Assis:
“A hipocrisia é a solda que une a sociedade”.
Quem nos ensinou viver assim?
No despertar de um novo horizonte...
Qual de nós sentirá recordação?
Será difícil reverter esse quadro!!!
Como diz Chico Buarque:
“De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser da outra”.
.(fora a mediocridade)!!!
Viva o Brasil!



* Extraído do livro "Fiteiro Cultural", pp.151-2

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Mais de 50.000 pessoas estiveram no estádio do Arruda para ouvir o ex-beatle...

                                                 
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 Mais de 50.000 pessoas estiveram no estádio do Arruda para ouvir o ex-beatle...



A mudança do roteiro do trânsito antes, durante e depois da apresentação do cantor Paul McCartney, ajudou muita gente que deixou o seu carro estacionado no Shoping Tacaruna. Ônibus especiais levavam as pessoas ao local do show. Foi gente vinda de todos os cantos do país, para conferir de perto mais uma apresentação do cantor. O show começou com “Magical Mystery Tour”. Ele dançou e agradou muito os fãs. O Recife está de parabéns, pois o público foi o primeiro, entre os brasileiros, a ouvir “The Night Before” ao vivo ( segundo disse Paul).

Depois do show em terras mauriceas, Paul seguiu para uma apresentação única no Estádio da Ressaca, em Florianópolis. Os ingressos chegam a R$ 760,00.

Sinceramente, não fui ao show, e nem vou para esse tipo de festividade. Até porque a situação econômica de nosso país não é muito boa. Em conversa com alguns amigos, fiz lembrar que em meados dos anos sessenta, no auge da fama, da bajulação e da idolatria, John Lennon afirmou que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo. E agora,  a performance do Paul, comprova o que Lennon disse. Citei  o nome de um cantor brasileiro que estava se apresentando aqui,  um amigo negro, que segundo disse  foi ao show e que  John Lennon não tem nada a ver com Paul.  Irritado ele disse: “ Quer comparar aquele nego safado, com Paul Cartney?”

Foi encerrada a discussão com o meu amigo Azambujanra, sem nos preocuparmos,   cantando “Strawberry Fields Forever”.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Sucesso no exterior

       
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Sucesso no exterior

Domingo em Olinda, eu conversando com alguns colegas compositores, cantores, sobretudo escritores e poetas pernambucanos. O principal assunto: música e a literatura brasileira. Lembramos de vários brasileiros que são anônimos no Brasil, mas que fazem muito sucesso no exterior, pelo menos os pernambucanos que seguem:

a) Pernambuco cantando para o mundo. A partir da década de 80 a produção musical pernambucana passou a figurar, cada vez mais, no cenário nacional e internacional. As apresentações de nossos músicos estenderam-se, em sua maioria, pela Europa e Estados Unidos. Comadre Florzinha, Chão e Chinelo, Maracatu Nação Pernambuco, Maracatu Estrela Brilhante, Selma do Coco, Lia de Itamaracá, Mestre Ambrósio e Mestre Salustiano, Naná Vasconcelos e Antúlio Madureira foram alguns dos artistas que levaram sua sonoridade a outros povos.
b) Julho de 1994, texto do escritor Gilvan Lemos publicado na França pela “La Serpent a Plumes”, revista de cultura francesa conhecida em toda a Europa, publicou um conto do referido escritor. GL é então o primeiro autor de língua portuguesa a figurar na lista dos editados por “La Serpent...”. Ficaram de publicar muito em breve, o seu romance “O Anjo do Quarto Dia. Mas, até hoje Gilvan Lemos ainda espera!!! Segundo informações do próprio autor.
c) Fevereiro de 1998, Gilvan Lemos novamente é editado na França, desta vez pela revista “Caravanes”, de Paris, que publicou em sua edição de número 6, um conto do referido autor.
d) Junho de 2000, foi a vez do cantor e compositor pernambucano Nenzinho do Violão mostrar a nossa cultura (frevo, baião, forró, samba e chorinho). No roteiro ele esteve em Portugal, Nova Iorque, França, Japão e Índia. Hoje o referido se encontra entregue ao mundo do alcoolismo (Recife e Olinda).
e) Novembro de 2004, o escritor Raimundo Carrero foi eleito para a Academia Pernambucana de Letras, sendo incluído no Programa de Apoio à Tradução, da Biblioteca Nacional, que objetiva publicar escritores brasileiros no exterior (em inglês, francês e espanhol).
f) O escritor paraibano Ariano Suassuna, que é membro da Academia Brasileira de Letras, poderá ser um dos concorrentes ao Prêmio Nobel de Literatura 2012, da Academia Sueca. Ele merece, pois há traduções de algumas obras em francês, italiano, alemão, holandês, polonês e inglês.
g) Finalmente, o escritor Gilvan Lemos, 83 anos, natural de São Bento do Una, que reside em Recife, foi eleito em novembro de 2011 para a Academia Pernambucana de Letras. Mesmo após 110 anos de existência do Prêmio Nobel de Literatura, um escritor brasileiro nunca ganhou. Mas, em 2012, quem sabe?






Vestidos com pontas

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Vestidos com pontas

Num sábado desses, resolvi curtir a noite num dos mais badalados points de Recife em Casa Forte. Solitário em uma mesa de bar, comecei a observar os comportamentos dos meus vizinhos de mesa: um casal de estilistas (Ele barbudo, aparentando ter uns 70 anos de idade. Ela, bem mais nova, de vestido godê azul com pontas nos lados) e duas moças na mesma mesa do lado direito. À esquerda, uma parede grafitada com um grande poster de uma mulher vestida de vermelho com pontas. Em dado momento, chegam uns rapazes de trajes elegantes à moda masculina, acompanhados com quatro garotas, sendo uma delas de vestido com pontas, duas usando saia/bermuda e boinas e, a outra, com botas de cano acima do joelho. A maioria das mulheres estava usando vestidos com pontas. Os jovens ficaram comentando os grafitos e pôsteres na parede. De repente, um dos rapazes disse em voz alta:

- Segundo Freud, somos divididos pelo Ego, Superego e ID.

E, dirigindo-se para uma das moças que depois eu soube ser netas do barbudo, completou:

- Bajule as elites e os poderosos de plantão.

O barbudo, depois eu soube ser colunista social de uma revista de grande porte e, descontrolando-se, exaltou:

- Estou ouvindo vocês conversarem sobre vestido-de-ponta (pôster na parede) e agora você, rapaz, não estuda, não trabalha e vem com essa onda de psicologia? Nos anos 50 era fora de moda, sim!

- A atitude destes jovens é um escândalo! – disse a estilista ( que, segundo dizem, foi recentemente demitida de uma fábrica de confecções).

A discussão esquentou de tal maneira que todos partiram para baixaria. O colunista fez ver à sua esposa que deveriam era ter ido assistir à pré-estréia do longa-metragem “Um Método Perigoso” (A dangerous method, 2011), do cineasta canadense David Cronenberg.

- O embate entre Jung e Freud, deve ser interessante.

A de vestido longuete azul, plissado tendo na saia uma ponta em formato de V bem na frente, puxa o seu suposto namorado e, num impulso repentino, fez um desabafo, pondo para fora toda a sua raiva:


- Manda tua mulher procurar uma trouxa de roupa suja pra lavar.

Naquele descontrole emocional, procurei acalmar os ânimos exaltados. Relembrei ao colunista que realmente na década de 50 vestido de ponta não era moda e que, geralmente quando a costureira errava no corte, as moças ricas não os usavam. E era apenas nesses casos que as pobrezinhas usavam vestidos de ponta. Eram estes, junto com os usados, que o povo logo dizia:

- Foi usado e dado!



segunda-feira, 16 de abril de 2012

(Foto) Rio Acre

O autor quase se afoga no rio Acre, fronteira com Cobija-Pando (lado boliviano) e Brasiléia (lado brasileiro) - 1986.

sábado, 14 de abril de 2012

(Foto) Cobija-Pando-Bolívia

             O autor na pequena queda d'água - Cobija-Pando-Bolívia (1986)

Sobre a morte de Che





Sobre a morte de Che
 Por José Calvino de Andrade Lima



Existe muita controvérsia internacional a respeito da verdadeira morte do líder guerrilheiro Ernesto Che Guevara, assassinado em 1967. Para mim, a versão mais interessante e admissível foi a de Chico Mendes, líder seringueiro, assassinado em dezembro de 1988 em Xapuri, Acre.

Conheci Chico quando estive no Acre como divulgador cultural pela então Pronae (Programa Nacional de Assistência à Educação) em 1986, nos meses de julho, agosto, setembro e outubro. Passei pelas cidades de Rio Branco (capital), Xapuri e Brasiléia – esta última faz fronteira com Cobija-Pando-Bolívia, onde Guevara iniciava um movimento guerrilheiro e também onde foi executado quando saía de uma partida de "sinuca" por tropas do Exército (Chico e um grupo de acrianos não souberam informar qual o exército: brasileiro ou boliviano).

Sendo o mesmo colocado numa catraia (bote) e levado para Cobija, onde lá conheci a pequena queda d'água e os caminhos de Che Guevara na Selva Amazônica. Para alguns acrianos, os restos mortais de Che se encontram em Cobija-Bolívia.


Foto 1 - Che Guevara
Foto 2 - Os caminhos de Che Guevara na selva amazônica - Cobija-Pando-Bolívia (1986)

Foto 3 - O autor na catraia (bote) Brasiléia/Cobija-Pando-Bolívia (1986)

Lembranças de minha juventude




Lembranças de minha juventude






*Recife é uma nova Roma
 Que comanda o nosso carnaval
 Estamos na ‘Torre de Babel’
 Fazendo passo embaixo do ‘Arranha céu’
 Venha de pé de carro ou de trem...

Estava com amigos, escutando um frevo numa radiola de fichas. Havia desavenças entre os jovens dos bairros de Casa Forte e Casa Amarela. Um dia, o pau cantou no boteco de Odete esquina com o Mercado de Casa Amarela. Omitirei os nomes dos colegas, hoje pacatos cidadãos. O motivo: os farristas de Casa Forte colocavam fichas na radiola para ouvir rock’n’ roll e dançavam fazendo munganga imitando as danças dos filmes americanos. Comprei umas 20 fichas e meti “Balanceiro da Usina, Siriri”, na voz de Marinês, a Rainha do Xaxado. Aí a briga começou ao som de: “ Olê Laurindo, eu vou tirar uma laranja/ Olé Laurindo, uma laranja eu vou tirar...”. Para evitar essas brigas, aceitei o convite do meu amigo de infância (Alô, Virgilio), e passei a freqüentar o Grande Hotel que, além do ambiente tranqüilo, tinha a cerveja mais barata do que em qualquer outro botequim. E as batatinhas fritas eram obséquio da casa. Lá, conheci alguns cantores e cantoras, uma delas acompanhada de Manezinho Araújo, o Rei da Embolada e Altemar Dutra, a cantora cuspiu no salão e sentiu-se envergonhada diante da repreensão que recebeu de mim, pedindo desculpas. Na ocasião, minha amiga ficara sorrindo junto com Manezinho e Altemar quando eu mudava as palavras “trovador” para cobrador e “tempos” para bondes da música O trovador, de Altemar Dutra: “Sonhei que eu era um dia um cobrador/ Dos velhos bondes que não voltam mais/ Cantava assim a toda hora...” Recife emanava ares provincianos, existia o salutar hábito de colocar cadeiras nas calçadas, onde os comentários eram sempre os da vida alheia. Em uma época que os ladrões eram de quintal, pulavam o muro para pegar roupas no varal ou algumas galinhas.
Na Era de Ouro do Rádio os programas eram radiofônicos e as novelas, por exemplo, com sua sonoplastia e as vozes dos radiatores e radiatrizes nos transportavam ao mundo do imaginável com seus mocinhos e artistas. Foi assim que algumas novelas marcaram época. Quando do início da televisão preto & branco e sem o vídeotape, os erros eram hilariantes. Lembro bem uma propaganda de refrigerante, quando a atriz, ao vivo dizia: “Tome com sabor sem igual” (acho que era assim). Então, certa feita esqueceram de desligar a câmara e deram-lhe um refrigerante quente. Não teve jeito e ela categoricamente disse: “Essa merda é ruim gelada, imagine quente!”.
As lembranças me fazem transportar no tempo e recordar com saudade dos clubes simples que eu freqüentava: “Os Quinze” , “Amantes das Flores”, “Estou Aí”, “Canto da Vila”, “Ypiranga” e os clubes dançantes que haviam no Morro da Conceição e que eram mantidos por vereadores: “Rui Alves” (Hoje Escola de Samba Cultural Galeria do Ritmo), “Roberval Lins” e “Romildo Gomes”. Pois os clubes Português, Internacional... eram freqüentados pela nata da sociedade e ser sócio era o mesmo que ser considerado burguês. Hoje esses espaços são tão decadentes e fora de uso, abertos para todos e com a bilheteria livre, quando antes eram restritos apenas para sócios. Era um tempo mágico da romântica boemia pernambucana, vivenciado por poucos e sufocado pelo progresso. O tempo passa, deixando reminiscências nos corações de quem o vivenciou.



* Do livro: "Miscelânea Recife", p. 111 

Antigos cinemas do Recife

                               
                                Cinema Rivoli - Casa Amarela (Foto) Eloy,
                                primeiro barbeiro do autor (in memoriam).
                                A foto foi tirada, provavelmente, nos anos 50/60.






Antigos cinemas do Recife

Em conversação com a minha amiga Dilma Carrasqueira, sobre os antigos cinemas, concordamos que foi justamente o teatro o que mais contribuiu para a sétima arte, o cinema. Um grande exemplo de teatro em Pernambuco foi o Santa Isabel (1895). Por lá, passaram as companhias itinerantes, a exemplo do Cinematógrafo Herver de Paris (aparelho inventado pelos irmãos Lumière), que já em 1908 fazia sua terceira apresentação no Recife. Exibia fitas cinematográfica da Paixão de Cristo e os flagrantes da Exposição Nacional do Rio de Janeiro (Fonte: “Clã do Açúcar”, Rio de Janeiro, de Lemos Filho, 1960). Para citar os cinemas, começarei pelos do centro do Recife:
O Polytheama, na rua Barão de São Borja, inaugurado em 25 de outubro de 1911 e dirigido pelo escritor Eustórgio Vanderley. Em 1932, passou a pertencer à Empresa Severiano Ribeiro.
O Cine Moderno, na Praça Joaquim Nabuco, inaugurado em 15 de maio de 1913. Em 1934, foi arrendado à Empresa Luiz Severiano Ribeiro.
O Cine Ideal, no Pátio do Terço, bairro de São José, inaugurado em 15 de novembro de 1915 e dirigido pelo Sr. Manoel Ramos. Em 1930, passou a pertencer ao Sr. Álvaro Ferreira Leite.
O Cinema Parque, inaugurado em 24 de novembro de 1921 (Antigo Teatro do Parque), na rua do Hospício, nº 81. Em 1929 foi reformado pela Empresa Severiano Ribeiro, a quem passou a pertencer. Atualmente abriga a Banda da Cidade do Recife e continua promovendo sessões de cinema a preços populares, iniciativa aliás elogiada nacionalmente.
O Cine Glória, na rua Direita, bairro de São José (o mais popular e famoso, pois o seu público era em maioria os freqüentadores do Mercado de São José e da Praça D. Vital). Inaugurado em 4 de setembro de 1926, teve seu edifício tombado em 28/02/1983, pelo Patrimônio Histórico Estadual.
O Art Palácio, na rua da Palma, foi inaugurado em 16 de maio de 1940. O edifício, atualmente abandonado, encerrou suas atividades em 1993.
O Trianon, na Avenida Guararapes, vizinho do prédio abandonado do Art Palácio, é lá onde à noite flagelados dormem atualmente, embaixo da marquise. Inaugurado em 1945, encerrou suas atividades em 1995. Lá foi cogitada a construção de um Shopping vertical.
O São Luiz, na rua da Aurora, foi inaugurado em 1952 no térreo do edifício Duarte Coelho. Até 1958 aproximadamente, era obrigatório o uso de paletó entre os seus espectadores. Em meados da década de 60, aos sábados pela manhã, exibia filmes de alto nível (Cinema de Arte). Estava fechado há quase dois anos depois que o Grupo Severiano Ribeiro decidiu que o espaço seria administrado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. Este ano houve a abertura da IV Janela Internacional de Cinema do Recife (Vide Recinfeliz).
Veneza, na rua do Hospício, foi inaugurado em 1970.
Por fim, lembro também dos cines Ritz e Astor, na Avenida Visconde de Suassuna, inaugurados em meados de 1971. Com o advento da TV, vídeo-cassete e do DVD os cinemas sofreram prejuízos, principalmente os de bairro, que chegaram a fechar suas portas: Boa Vista e Soledade, no bairro Boa Vista; Casa Amarela (mais conhecido por “Cacau” ou Cinema Velho), Rivoli e os novos Coliseu e Albatroz, em Casa Amarela; Guarani, no Alto José do Pinho (Casa Amarela); Diacuí, no Monteiro (Próximo das subidas do Alto do Mandu e Alto Santa Izabel); Luan, em Casa Forte; Espinheirense, na Encruzilhada; Império e Olímpia, em Água Fria; Beberibe, no bairro do mesmo nome; Vera Cruz (ajudei instalar o letreiro verde em Néon- 1956) e Éden, em Campo Grande; Eldorado e Pathe, no Largo da Paz - Afogados; São José, Ideal e Glória, ambos no bairro São José; Real e Torre, na Madalena; Brasil, na Iputinga; Guararapes, em Areias e Santo Amaro, no bairro de mesmo nome.

Obs.: 
Fui testemunha ocular da maioria dos cinemas citados. Apenas as datas das inaugurações e proprietários foram trabalhos de pesquisa. Atualmente, sobrevivem salas de projeção de filmes nos Shopping Centers das cidades do Grande Recife.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Condição para viver

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Condição para viver*
Na terra que tem bandido
a vida humana não tem valor
no fantasma real da fome
vem o defasado real valor

Sem investir em educação,
emprego digno e saúde,
nunca haverá paz entre nós
assistimos alarmados
os seqüestros, assaltos,
tráfico de drogas... o escambau

Enquanto nada muda
ficamos vendo todos os dias
principalmente nas grandes metrópoles
os trombadinhas e trombadões da vida
agitar nossos caminhos,
aonde iremos nós?
* Publicado: Folha de Pernambuco - Caderno Programa, p.3 em 01/04/2005.
  Do livro: Fiteiro Cultural, p.109 - ed. 2011.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Poema ávido




Poema ávido *

A sensualidade
da mulher,
está na sua naturalidade.
A mulher sensual
rebola os quadris,
provocando o desejo sexual.

Um corpo de mulher
não está no óbvio,
e sim no enigmático
este poema ávido.
* Do livro "Fiteiro Cultural" (Miscelânea do que existe para presente e futuro) - p.53

Surubim



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Surubim*


Pernambuco
“Paranã-puca”
vem da língua tupi:
o mar que se arrebenta,
vamos falar de Surubi?

Cidade de Surubim
no Agreste Norte-Oriental
tem Rodeio de Gado
onde os peões
divertem-se muito
na vaquejada fui
convidado
muito bem, obrigado.

Outrora tinha um boi
que se chamava Surubi
era malhado de preto e
ventre branco
Surubim na verdade
é peixe de água doce
que tem corpo fino e
ventre branco
existe nos rios da
Amazônia,
no rio São Francisco
e na bacia do Prata.

Surubim pesquisado
é também conhecido por
“pintado”
passando para o papel
vamos aplaudir o menestrel
muito obrigado.

* Folha de Pernambuco - Caderno Programa p.3 em 07/06/2005.
                                               

terça-feira, 3 de abril de 2012

Viver



Viver
Por José Calvino

Só com poesia
essa caminhada sua
a chuva molhando
as flores, as árvores...
À vida é jovem e poética
é como o espírito que renova.
Viver
esta vida nova.
Cheguei do Caminho.
Estou feliz!
Vale a pena viver!

Recife, 04/01/2009.



Obs.: Site: Versos de Falópio, 04/01/09 
         Livro: "Fiteiro Cultural", p. 105 - ed. 2011.

Argentina




Argentina

Por José Calvino 


Argentina – 1978, ano em que a seleção Argentina foi campeã. Encontrava-se no meio da torcida verde e amarela em ritmo de samba, Andréa, com seu amante Irá, que não deixava de acompanhar a seleção brasileira em todas as Copas.

- Ué, você é o Irá, filho de santo de Mãe Generosa?
- Desde quando cheguei ao Rio. Tudo bem, bicho?
- Conhece Andréa?
- Ah, já a conheço de nome através de jornais no Brasil. Muito prazer, Beto – disse com humor – Betinho na intimidade...

Saíram do estádio Mar del Plata e pegaram um táxi. Quando chegaram no Hotel Cor de Rosa, Irá participou a Beto que iria se casar com a Andréa.

- Eu não sabia que você era noivo da Andréa – disse Beto acendendo um cigarro brasileiro sem filtro. Ofereceu conhaque ao casal, mas somente Irá aceitou, Andréa sacudiu a cabeça negativamente dizendo:
- O médico me proibiu de beber por algum tempo, mas se tivesse bebendo preferia uma dose de cana a la caipirinha bem pernambucana, mesmo.
Beto cruzou as pernas, jogou a cinza de seu cigarro no cinzeiro rosado e disse para o casal que havia trazido dois pacotes de cigarros sem filtro do Rio de Janeiro e seis garrafas de cachaça de Pernambuco, dos quais restavam uma garrafa e meia e alguns maços “estoura peito”, dizendo em contrapartida, com gíria pernambucana:

- Um toro e meio dá pra fazer várias doses.

Os dois filhos de santo estamparam em seus rostos uma tremenda alegria. Irá lembrou-se logo de sua terra natal (Buenos Aires - Pernambuco - Brasil), que a garrafa de aguardente era pedida por “um quilo” e em Olinda, terra do padrinho de Andréa “uma ampola”, “um toro”, etc. Quem diria que o Mosteiro de São Bento iria ensinar a Andréa aquele ofício? Lembrava ainda das pitangas que Andréa apanhava do Mosteiro de Olinda para as “batidas” que tomavam com os amigos no Alto da Sé. As pitangas eram retiradas nos dias de visita e os olhos de Andréa ficavam lustrosos, transmitindo desejo de participar da farra. Os monges faziam o maior protocolo para que não soubessem dos segredos-gay’s do convento. Ao mesmo tempo, lembrara que um dia Andréa contou que a sua mãe, cristã, disse que havia em Olinda um tal de Frei Atanásio que colocava no bolso esquerdo rasgado de sua ruça batina o seu pênis, misturando a alguns confeitos, para que as meninas o pegassem em cada uma de suas mãos, subindo-as para o céu de Olinda.
Foi feita a caipirinha, embriagaram-se e perderam a derrota da seleção “Canarinha”.


(Capítulo 2 do livro “Aonde iremos nós?”, ed. do autor – 1983).