quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Tempo




O Tempo*
 Por José Calvino 


O que deveras fazer?

No que me tange
Você pode fazer como quiser
É mesmo que atingir o cume da montanha
Num perigo nas emoções
Com a sede de aprender
O tempo...
Velhos tempos
Tempo que traz-me lembranças
O canto do amanhecer
Lembro-me agora de um ano
Que nem tenho tempo de pensar
Com tanto amor para dar
Amor de todas as cores
Tudo de novo começar
Em que num só verso:
Com tanta sede de amar.

* Do livro "Fiteiro Cultural", p. 229 - ed. 2011.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Ilha de Itamaracá

   
                                                     imagem  google



Ilha de Itamaracá

Por José Calvino



Brilho da lua,

Lua cheia

e noite linda,

fez tocar

o meu cantar.


Tá com a brisa do mar


Canto alto,

te acorda,

acorda a Ilha...


Tá com a brisa do mar


O clima da Ilha

Causa na gente

Um bem-estar.


Tá com a brisa do mar

Ilha de Itamaracá.


Só com paciência de Jó






Só com paciência de Jô
Por José  Calvino 


Em um país onde as oportunidades são raras, ser escritor é um privilégio para poucos, aliás, fazer aquilo de que se gosta não é fácil. As dificuldades nos obrigam a sair divulgando, como bem disse o nosso querido Pedro: “ A Literatura brasileira – a despeito das dificuldades que nossos escritores encontram para desenvolver suas atividades e que são de desanimar o mais paciente dos pacientes, provavelmente até o patriarca bíblico Jó – (Editorial do Literário, de 22/05/12)”. Realmente, essa é uma paciência só mesmo atribuída a Jó. Mas, existem também os que, por sua posição no universo social  ou algum conhecimento  com figuras do meio literário, conseguem (raramente) um “padrinho forte” e aí é quando  alcançam a edição desejada com “sucesso” na chamada “noite de autógrafos”. Depois, ... são outros quinhentos.

Pergunta-se se há mercado para os autores da terra. Hummmm...
Chegar onde estou chegando é uma luta. Já divulguei (pra não dizer vender) os meus livros a bêbados, freqüentadores do famoso, fétido e querido Beco da Fome. Fico até sem palavras, vibrando com o otimismo e garra do Pedro, fazendo com que, através do Literário vem trazendo à baila textos de diversos escritores, prestigiando o que de melhor o País tem, et cétera, et cétera. Peço agora licença para transcrever o timaço que o Pedro divulgou: “(...) O décimo brasileiro a conquistar o Prêmio Camões, o da edição de 2012, foi o curitibano Dalton Trevisan. Ele vem se juntar a um grupo seletíssimo composto por João Cabral de Melo Neto (1990), Rachel de Queiroz (1993), Jorge Amado (1994), Antônio Cândido de Mello e Souza (1998), Autran Dourado (2000), Rubem Fonseca (2003), Lygia Fagundes Telles (2005), João Ubaldo Ribeiro (2008) e Ferreira Gullar (2010).”

Aproveitando o ensejo, encerro esta crônica lembrando o Editorial publicado em 24 de setembro de 2011, que  enalteceu o Estado de Pernambuco, mencionando  conterrâneos e homens de letras de Pernambuco.  




domingo, 27 de maio de 2012

Trem Fantasma





Trem fantasma*
 Por José Calvino de Andrade Lima

Sonhei com o trem da Gretueste
Passava na então estrada de
Ferro Norte
Hoje Avenida Norte.

Com o apito saudoso da
“Maria Fumaça” (partiste)
Soltava fumaça em desenho
Deixando pela linha afora
Um cheiro saudoso do
carvão-de-pedra

Desfilavam os postes com
seus fios telegráficos
Placas em vermelhos com
letras brancas:
P.N. apite e pare, olhe-escute.

A passagem de Nível
Os maquinistas são
obrigados a apitar
Pois o símbolo antecede um
cruzamento:
Estrada rodoviária com a de
ferro, no mesmo plano (chegaste)

Hoje o trem não passa
O trem que não esqueço
Do Brum ao Arraial,
Nas paisagens verdejantes da
Zona da Mata (passaste)

Quando em 52
Foi desativada a linha férrea
Ficou a estação do Arraial
Esquecida e abandonada

Fantasmagórica
Eu vejo o trem fantasma
A Maria Fumaça arrotando
faíscas de sua fornalha...
É a partida do último trem...

*Folha de Pernambuco – 01/09/2004.
Extraído do livro: “Trem Fantasma"- p.49 - Ed. 2005.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

As letras do Holliday


                                                       imagem  google








As letras do Holliday*



O edifício Holliday, um marco da arquitetura moderna em Recife, foi construído em 1957 com 17 andares de apartamentos e kitinetes. Nos anos 50/60 quem tinha um imóvel em Boa Viagem era sinônimo de luxo. Aos 19/01/97, sob o título “Holliday”, o Jornal do Commercio publicava: “Fui informado nos anos 50, através de uma moça que residia no edifício Holliday...” (transcrevo mais adiante), o que resultou no fato de um cidadão procurar me desmentir em relação ao período citado (anos 50), chegando o mesmo a dizer que o dito edifício fora projetado nos anos 60! Ora, ao mencionar anos 50 (eu não tenho certeza se tinha 16 ou 17 anos de idade, porém, em junho de 1960, com 18 anos, servi na então 7ª Cia de Polícia do Exército, na Cabanga), neste caso, o referido edifício realmente já existia (conforme documentação – certidão solicitada – 1957), cuja documentação não quer dizer nada, porque era de praxe os prédios já construídos e habitados naquele tempo serem projetados depois de alguns anos. Assim mesmo, não foi o caso do Holliday. Por sinal, o Holliday era tido nos anos 60 como um antro de prostituição devido ao fato de muitos homens casados abrigarem as suas jovens amantes naquele edifício, cujo exemplo mais tarde veio a se repetir com o Califórnia. Até hoje ainda são duvidosos! Muitos falsos moralistas deixam de freqüentar os referidos prédios, até porque muitos eram da alta sociedade e deixaram as suas amantes sem condições de se manter. Houve, então, muitas “invasões” de outros canalhas, que continuaram corrompendo as mocinhas ingênuas, sobretudo as do interior e empregadas domésticas.
Em 2008, sem especulação imobiliária, comprei à vista um kitchenette no referido edifício, prédio de moradores de baixa renda bem no coração de Boa Viagem, no qual estou digitando esta crônica. Paro e, com a vista privilegiada, observo à frente, a praia e a imensidão do oceano... Bom, volto ao notebook e transcrevo: “Holliday”...
Fui informado nos anos 50, através de uma moça que residia no edifício Holliday (localizado na rua Salgueiro em Boa Viagem ), que o referido edifício tinha a forma de um ‘C’ porque os supostos proprietários eram dois irmãos estrangeiros cujas iniciais eram ‘C’ e ‘U’, de nomes até então desconhecidos. Na arquitetura, o ‘C’ e o ‘U’ deitados formam uma pornografia em vista aérea. Automaticamente, as autoridades proibiram a construção do ‘U’, ficando o ‘C’ abandonado... A moça que me informou deve saber os nomes dos dois irmãos. O difícil é encontrá-la. Até hoje, as autoridades não resolveram o problema do Holliday, que ainda permanece como ponto de referência, como antes era a Casa Navio (hoje, demolida) e poderia muito bem ser o cartão-postal de Boa Viagem, com a sua forma de ‘C’”.



* Extraído do livro “Miscelânea Recife”, ed. 2001– pp. 73-7 – Meu JC – 04/02/2008.
  Fiteiro Cultural, pp. 56-8 - ed. 2011.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Injustiça

                                                       
                                                      imagem google




Injustiça 


José Calvino de Andrade Lima
                 (escritor)

Esta aconteceu no Palácio da (in)Justiça. Uma senhora aposentada da Prefeitura da Cidade do Recife saiu com os proventos proporcionais a 25 anos. Quando requereu a aposentadoria, o fez por tempo integral, uma vez que apresentou uma declaração dada pela então Associação dos Aposentados da Marinha Mercante, onde trabalhou por um período de cinco anos (ditadura militar). Como a PCR desconsiderou a dita declaração, a justificante provou em juízo que, de fato, trabalhou naquela Associação. Posto isso, o juiz de direito julgou procedente o pedido para pagamento dos proventos dela de forma integral. Decisão essa sujeita à apreciação do Tribunal de Justiça do Estado, que parcialmente negou e fez com que a autora passasse a ser ré! Negação essa que não encontra sustentação no ordenamento jurídico positivo pátrio, uma vez que a dita senhora (autora) comprovou satisfatoriamente, através de prova documental (não impugnada pelo Município), prova esta que teve a colaboração de prova testemunhal, que foi produzida através da ação de Justificação, com sentença transitada em julgado, contando desta forma com tempo de serviço mais que suficiente para sua aposentadoria com proventos integrais.

Não é aceitável ao direito e à própria Constituição Federal, que uma mulher tenha trabalhado por mais de 30 anos, e no momento em que vai se aposentar, seja marginalizada por um Órgão Público, através de exigências que são totalmente incabíveis e injurídicas, pois o referido documento em nenhum momento teve a sua idoneidade contestada, nem tão pouco a justificação judicial ilidida, fazendo cair por terra mais de cinco anos de serviços efetivamente prestados. Infelizmente, a dita senhora não mais confia na Justiça.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Recinfeliz





Recinfeliz
Recife cidade linda,
seu nome deriva dos arrecifes-
ligado ao mar
Sol, céu azul, mar azul,
águas mornas e mansas
e lanchas e jangadas...

Com esse hábito de observar os movimentos e o que acontece, parece que, aos olhos dos que me lêem, tornei-me um poeta-repórter a escrever sobre algumas observações. Na segunda-feira (07/nov/11), chamou-me atenção uma cena inusitada no centro do Recife. Do cinema São Luiz, do outro lado do rio Capibaribe, um projetor digital exibia na parede externa do edifício Trianon, outrora Cine Trianon (mais um prédio abandonado, onde à noite flagelados dormem embaixo da marquise), imagens da capital pernambucana e cinematográfica. Produção denominada Cinema de Rua, reunida pela IV Janela Internacional de Cinema do Recife.
Na terça-feira (08/11), foi exibido “O cinema e o espaço urbano do Recife”: mostra de cinco curtas com abordagens e discursos dos filmes... [Projetotorresgemeas]. Ao final, dois pênis eretos é a metáfora escolhida pelo filme para os detalhes da situação de desordem urbana do Recife. Na saída do cinema, para minha surpresa agradável, encontrei a minha amiga Dilma Carrasqueira (a conheci através do Literário), com sua maneira de se comunicar com o próximo. Conversamos sobre a abertura do Festival, que foi uma decepção, com filas desorganizadas, informações erradas, etc. Sinceramente, não assisti ao filme Febre do Rato, que o diretor Cláudio de Assis disse ser uma declaração de amor ao Recife. Disse Dilma que o filme se resume a drogas e sexo explícito. Acredito que o diretor faz críticas sobre a cidade que se encontra desgovernada. Estou sempre na expectativa e fico revoltado com esse desgoverno que aí está. Há anos que venho denunciando o que acontece nessa cidade. Para os leitores terem uma idéia da situação, transcrevo em resumo, algumas publicações:


A praça Dom Vital, no bairro de São José, estava florida, linda, linda. Meninos brincando, turistas tirando fotografias do Mercado e da Igreja. Eu via, da torre da Igreja da Penha, o Mercado de São José (reconstruído com suas barracas ao redor; chegava a uma delas e pedia um almoço com refrigerante, que gostoso! Mas isto tudo durou pouco, porque foi um delírio provocado talvez pelo efeito da cola-de-sapateiro (atualmente são pedras de crack, que os traficantes abastecem bocas de fumo da Região Metropolitana do Recife), que momento depois o conduzia passeando vagueiro pedindo a um e a outro dinheiro para comer ou até mesmo, quem sabe? Para tomar uma cachaça... Era um dos meninos de Rua, contando o seu sonho espetacular com o contraste da realidade, antes sendo censurado por uma senhora rica, que descera do carro dizendo: “esses moleques, só presta matando”, esquecendo que já foi criança e o amor fraterno é amor entre os que têm a mesma aparência; o amor materno é amor pelos desamparados.


(Jornal do Commercio - 1992)
(Miscelânea Recife – p. 63)



Nos meados de agosto visitei o Mercado de São José do Ribamar com o fotógrafo francês François Poivret e fiquei decepcionado diante da sujeira, da insegurança e do completo abandono. Sanitários imundos... A fedentina trescalava em nossa tradicional referência turística. Lá mendigos e prostitutas misturados pedem esmolas e comida! Espanta a euforia de alguns xeleléus de politiqueiros... Nosso lindérrimo Mercado do estado em que se encontra. Que diria o grande engenheiro francês Vauthier ante esta visão?...


(Jornal do Commercio - 1997)
(Miscelânea Recife – pp. 64-5)

Se o Brasil fosse um país equilibrado, a prefeitura do Recife seria processada por crime de omissão no que diz respeito ao som estridente quando são realizados shows no pátio de São Pedro. Sempre, sempre, ficam testando no perturbador: “Alô, som, som, som...,” e em mais de cem decibéis! Fora os trios elétricos durante os eventos como o Recifolia, por exemplo, e carros de propaganda por todo o grande Recife. E haja som com poluição sonora infernal (atualmente carrocinha de som)!...
(Jornal do Commercio – 1997)
(Miscelânea Recife – p. 70)


Um militar de alta patente aconselhou aos pais de adolescentes a manterem seus filhos em casa à noite. Mas, é justamente à noite que alguns jovens e adultos regressam do trabalho. É durante este espaço de tempo que a maioria dos nossos filhos namoram. É o melhor horário para ir ao cinema, teatro, shows, etc. À noite podemos admirar o céu cheio de estrelas...À noite no Recife é jovem e poética, só faltam zelo e segurança. Enfim, a noite é bela! Mas, cadê a polícia?
(Folha de Pernambuco - 1999)
(Jornal do Commercio - 1999)
(Miscelânea Recife – p. 66)

Na calçada do edifício Trianon, para o lado da Rua do Sol, colocaram uma passarela cimentada (antes adaptada) em cima das pedras portuguesas... A prefeitura deveria exigir a reposição das tradicionais pedras como também consertar as calçadas esburacadas... Até hoje nada!
(Diário de Pernambuco – 2001)
Quem transita pela Rua Matias de Albuquerque, no centro do Recife, está sendo prejudicado pela desordem das coberturas irregulares..., conforme publicado na coluna JC nas Ruas, em 10 de agosto de 2007. Esses estabelecimentos estão ocupando as calçadas... Muito oportuna também a publicação no JC do artigo Pedras portuguesas, que fala da troca do piso de pedras por lajotas de cimento. Reitero ainda que além de o mosaico de pedra portuguesa ser bonito, é um símbolo cultural de nossa cidade que, agora, contrasta com os pisos de cimento...
(Meu JC – 2008)

Na foto, o autor de chapéu com Abdoral de Souza Leite, ex-colaborador dos jornais do Recife. Recife, 05/set/1997. Foto do francês François Poivret

terça-feira, 15 de maio de 2012

O nome de Deus em vão



O nome de Deus em vão! 




Eu vou dizer
Muitos usam o nome de
Deus em vão.
Quem já não leu
Aqueles adesivos nos vidros
Traseiros dos carros?
“Deus me deu de presente”,
“Esse carro é propriedade de Jesus”,
“Esse veículo é guiado por Deus”,
“Deus é fiel...”

Um bem ou mal:
“Deus tá vendo!”
Não paga o que deve:
“Deus lhe pague!”
Pedindo esmola:
“Deus te abençoe!”
Fazer um pedido:
“Se Deus quiser!”
Pedido alcançado:
“Graças a Deus!”

De um perigo eminente:
“Deus me salvou!”
Correndo tudo às mil maravilhas:
“Deus é pai...” 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Mais uma livraria fecha suas portas

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Mais uma livraria fecha suas portas 




O Recife perdeu mais uma livraria: a Potylivros, que funcionava na rua Riachuelo antiga Livraria Síntese. Foi um encerramento frio e mais que breve. Encontra-se colada na porta “Encerramos nossas atividades”. Isso, mais uma vez, me fez lembrar quando a então Livro 7 fechou suas portas nos meados dos anos 90, localizada próxima ao famoso Beco da Fome, precisamente na rua Sete de Setembro. Era registrada pelo Guiness Book como a maior livraria da América Latina. Agora a maioria dos recifenses estão ligados no mercado de shows. Depois de ver Paul McCartney estão considerando a capital pernambucana pronta para receber grandes espetáculos. Para se ter uma idéia, vem aí a Copa 2014, quando shows ocorrerão na Arena Pernambuco, esta com capacidade maior do que o “Colosso do Arruda”. Bom, voltando ao assunto da Poty Livros, em suas proximidades havia uma placa e muita gente rindo: “Tenha juízo, vote em João Doido”. Há que se dizer muita sorte a minha ter retirado meus quatro livros consignados...

Em 1991 o Diário do Pará publicou a seguinte manchete na primeira página: “Calvino, um escritor das estradas”. Chegar onde estou chegando é uma luta, companheiros de ideologia e de sofrimento. A verdade é que os livreiros tem suas razões, o nosso povo não tem o hábito de ler... (vide Fiteiro Cultural IV, pp. 25-7). Até mesmo os livros sendo editados pelos órgãos do Estado ou Município, depois do lançamento, o chamado “noite de autógrafos”, vai a sobra à prateleira das repartições. Geralmente ficam edições inteiras abandonadas nos porões das Fundações. Em 1996 houve uma campanha da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) “Um Livro por Um Real”. Sinceramente, seria melhor que fossem distribuídos gratuitamente. Pois os cupins, traças e morcegos estavam destruindo os exemplares. Em 26 de fevereiro de 1997 foi publicada no Jornal do Commercio uma sátira de minha autoria: “Livros a peso”. Finalizando, transcrevo em resumo:

“– Gilberto Freyre, estamos presos e esquecidos!

- Mauro Mota, nós somos imortais, nunca seremos esquecidos.

- Quem diria, hem? Um livro por um real!

- O nosso povo não tem o hábito de ler Ascenso Ferreira... Eram

os livros pedindo socorro desde 1980 na ‘Casa de Detenção’, atual

Casa da Cultura.”



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Aprendiz de telegrafia




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Aprendiz de telegrafia


Por José Calvino 

Tal qual Euclides, meu pai.
Telegrafista da então Great Western,
fui telegrafista da ferrovia.
Como meu pai,
licenciava os trens de então,
atendia o Movimento do Tráfego,
telegrafava naquela estação.

Queria hoje, como telegrafista,
que jamais esqueci,
manipular como poeta,
com versos, nomes e letras...
Esse teu nome cheio de magia
ainda com reflexo do teu olhar
prenhe de poesia e alegria.

Ainda sou aprendiz de telegrafia!

Nota
Parabenizo Leiko Hama por sua espiritualidade ao criar um logotipo fundamentado no cruzamento ferroviário. Merecidamente tirou em primeiro lugar.

O símbolo (logomarca) da RFFSA, acrônico para Rede Ferroviária Federal S/A, surgiu no ano de 1972, por ocasião de um concurso público realizado especificamente para a escolha de sua futura marca. 

Há, igualmente, evocação de dinamismo, além de um aspecto visual agradável. Acredito que o referido logotipo possua as qualidades que o tornarão eterno símbolo da Rede Ferroviária.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Fiteiro Cultural





Fiteiro Cultural
** Por José Calvino 

Fiteiro: Que ou aquele que faz fita.

No Brasil, fiteiro é um quiosque de comércio popular, desses que podem ser encontrados em praticamente todo o país e que vendem uma infinidade de coisas.

No centro do Recife, fora montado um Fiteiro Cultural, onde tentei em vão ilustrar com literatura os frequentadores dos bares próximos. Numa sexta-feira à noite, por esquecimento, deixei alguns livros dependurados no lado de fora. No sábado pela manhã, preocupado, fui à toda pensando em não mais encontrá-los. E não é que estavam lá todos a salvo! Aos malandros e bêbados não interessara aquela riqueza de livros expostos, alguns até raros. Infelizmente alguns escritores, poetas e leitores, ao mostrar o FC saíam às pressas, parecia até que estava mostrando a porta do inferno... Mas essa é outra história.

No mundo inteiro a literatura é importante, mas devido à indiferença de alguns, escrevi em agosto de 2009 o poema: “Curiosidade”

Eu não sei como fazer/ essa poesia curiosa./ Será que vai dar certo?// Como uma razão para viver,/um motivo para continuar.../ Ao som de uma percussão ritualística.// Como você pode ver:/ Recomendaram-me que eu fechasse// O Fiteiro Cultural.

Resolvi distribuir diversos livros que se encontravam no FC. Menos os que foram presenteados, é claro, estes ficaram para a minha estante de mármore.

Primeiro escolhi o romance “A Cruz de Sangue”, de Geraldo Tenório Aoun (in memoriam). Edição do autor – 1995. O segundo romance ,“Sombras de uma Profecia”, de Lucelena Maia. Edição SCORTECCI Editora – 2005.

01 – A Cruz de Sangue*

“Eita, cabra bom da peste”. Geraldo Tenório Aoun, escritor, sertanejo-brasileiro, escreveu o seu novo livro “A Cruz de Sangue”. Em tela, Geraldo escreve sobre o homem brabo da região sertaneja, homens de grande fé e seus temores a Deus, suas crenças, as lutas entre famílias, muito comum no sertão de Pernambuco. Geraldo Aoun narra um mosaico de uma vida atribulada de Janja Bacamarte, protagonista desse agradável romance. Quanto à maneira como Geraldo escreveu esse livro é de admirar a difícil tarefa na ingrata arte de escrever em nossa discriminada região nordeste, sem apoio de órgãos competentes. Conforme o prefácio, Geraldo é filho de libanês com uma jovem de Pesqueira interior de Pernambuco. É um dos escritores pernambucanos que fazem da sua profissão um verdadeiro sacerdócio. Colaborador do Jornal do Commercio descarrega todas as suas energias de encorajamento na conquista à baila das letras, onde, acredito, não faltam leitores de bons livros. “A Cruz de Sangue”, por exemplo, deveria ser indicado para os trabalhos acadêmicos sobre o homem do Sertão principalmente. Se me permitem uma palavra pessoal: É sem dúvida um trabalho de fôlego, uma grande obra literária do “homem sertanejo”.


*Geraldo Aoun, escritor sertanejo, foi colaborador do JC durante muito tempo. Gostava de enaltecer a nossa cultura, participava de eventos e transmitia para os jovens. Seus livros deveriam ser indicados para trabalhos acadêmicos sobre o Sertão.


02 – “Sombras de uma Profecia”, em que a escritora paulista Lucelena Maia criou uma história de mão cheia, com um título que teve por inspiração o misticismo na enigmática Índia. Constitui-se um romance bem distribuído com a característica de um espírito agudo, penetrante, que capta inteligentemente os mistérios daquele país. Sem contudo nunca a autora ter visitado aquele país, antes e nem depois (até junho de 2009) de “Sombras de uma Profecia”. Numa seqüência agradável, de fácil leitura, sem ser “à la” submissão. A obra desenvolve-se em uma trama saborosa, com a colocação de choques, concepções e decepções abertos ou resguardados como segredos..., a enfrentar gerações e centrados nos relacionamentos amorosos. O romance “Sombras...” poderia ser elevado à categoria de estudo sociológico, para empregar o amor como um todo, com uma riqueza humana que, as poesias de Dante Milano, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Laurindo Rabelo, fizeram parte da história da personagem central, poemas que a conduziu com muita energia para enfrentar tempestades pessoais. E com o final de sua autoria: “Cata-Vento”, que formam enriquecendo a sua real contribuição à Literatura Brasileira.

Permita-me:

Cata- Vento*

Leva-me pro vento,/ Memória, me leva.../ Pra linha do tempo,/ Lá, eu tenho história,/ Reservas da vida/ Que não se traduzem,/ Acervo somado/ A tanta emoção:/ Escrita co’os olhos,/ Firmada co’a alma,/ Vivida a dois,// Leva-me pro vento,/ Memória, me leva.../ ao túnel do tempo,/ Urgência que eu tenho,/ De ver meu enredo,/ Mudar os mistérios,/ Os vícios inglórios,/ Alegre avental,/ Fechado no peito,/ aberto ao despeito,/ Velado no armário,/ Leva-me pro vento,/ Memória, me leva.../ Cruzando o silêncio,/ Gritando meus medos,/ Soprando-os à sorte,/ E pondo-me inteira,/ Segura e fecunda,/ No leito da estrada,/ Ousando pegadas/ Escritas co’os olhos,/ Firmadas co’a alma.
*Primeiro livro de poemas de Lucelena Maia – pp. 26/27 – “Põe-te de pé, poeta!”
Excelente, para o que se propõe, o romance “Sombras de uma Profecia” e “Põe-te de pé, poeta!”, de Lucelena Maia.


** Escritor, poeta e teatrólogo