quinta-feira, 29 de março de 2012

A Família

                                     



A Família



(...) Chove. O escritor lembra de uma colega de infância que corria embaixo da chuva, o vestido molhado colado no seu corpo lindo, os seios aparecendo, a água penetrava por entre suas nádegas e coxas robustas, que lhe revelavam a forma das calcinhas. O escritor tinha seus treze anos, ela também, e ficavam brincando tomando banho embaixo das biqueiras das casas. Era um tempo bom, tempo de infância. Convivendo com a natureza, o cheiro da terra molhada exalando a fragrância das rosas e dos jasmins, bebiam a água  da chuva. Abraçados, rolavam e com seus corpos juntos, riam e ela sentindo e vendo o seu membro duro tocando-o no seu corpo. Reclamava, brincando. Faziam bochecha d’água e jogavam um no outro, como também juntava água da chuva com as palmas da mão e jogavam . Os pais empombando, diziam:

- Sai da chuva. Que menina danada!
- Eu não quero você brincando com menino! Você já está uma moça!

O escritor sabia que a sua idade já estava causando ciúmes aos pais de suas colegas, os pelos de seu corpo já estavam crescendo, ficando um homem! O cuidado que os pais têm com os filhos é normal, só que eles esquecem que já foram crianças. Mas, se alguns não tiveram oportunidades de brincar, não poderia fazer nada por eles! Iam ficar sem deixar os seus filhos brincarem? A natureza tem seus mistérios e o ser humano os seus caprichos. Agora, já com quarenta e seis anos e perto dos cinquenta, não sabendo do paradeiro de algumas de suas colegas, pensava: “será que elas lembram de mim?” Ora, talvez até onde elas estivessem não chovesse naquele momento, mas a lembrança faz parte da vida. O importante é que se casou com uma delas, a filha do sargento.
No outro dia, era dia de sol. O céu azul com poucas nuvens. Azul e branco também era o vestido de suas colegas colegiais. Estudavam na mesma classe, o escritor de farda cáqui com duas listras azuis nos lados das pernas da calça. Ele e a filha do sargento iam conversando sobre os deveres que fizeram à noite, com os pais brigando, parecendo que eram irmãos: um casal de irmãos! Na classe, ela jogava bilhetes de amor, cruzava as pernas a propósito e o escritor observava as suas coxas pelo espelhinho redondo de bolso. A classe era dividida: meninas à esquerda e meninos à direita. Os alunos se levantavam ao entrar o professor de inglês (respeito aos mestres),  que dizia:

- Sit down the boys, sir down the girls...

Toda a aula era em inglês. No tempo do escritor ensinava-se Latim, Francês e Inglês. Hoje, está tudo mudado, diferente. Não se ensinam mais Latim e Francês: só Inglês!
Nos campos, meninos a disputarem o “pega-tanajura” com tiras de panos e galhos de mato, para que as tanajuras – nos seus vôos rasantes – caíssem no chão mais depressa. Arrancavam as asas e jogavam-nas numa vasilha, meia de água. Os mais espertos, homens e mulheres, iam para o meio do mato onde se encontravam os grandes formigueiros. Levavam bacias com água e ficavam com os pés dentro para evitar as picadas das saúbas, que ficavam ao redor dos buracos. As tanajuras ao saírem eram agarradas. Era esta uma das causas da demora do aparecimento das tanajuras. Então, os meninos entravam logo nos estribilhos:

Cai, cai tanajura
Tua bunda tem gordura.

Cai, cai tanajura
Que teu pai já morreu
E tua mãe ta no Ibura.

- Esse menino vai findar se casando com a filha do Sargento!
- Nada, meu filho, eles são crianças ainda...

O Sargento lia no jornal sobre o extermínio de crianças de rua, aspirando a fumaça do seu cigarro. Ficava satisfeito em saber que os seus filhos deram pra gente. A esposa lia um livro instrutivo e sugeria ao marido dá-lo de presente ao colega de sua filha (o escritor) um bom livro. Concordando, diziam:

- Livro ainda é o melhor presente.

No aniversário do escritor lhe fora dado o prometido livro. O escritor é também telegrafista e ainda hoje guarda com carinho este maravilhoso presente. A sua esposa fica emocionada. Sempre o escritor lê em voz alta: “... Outras vezes o viajante lobriga ao longe, rente ao caminho, uma ave branca pousada no topo dum aspeque. Aproxima-se devagar ao chouto rítmico do cavalo; a ave esquisita não dá sinais de vida; permanente imóvel (...) Não é ave, é um objeto de louça... O progresso cigano, quando um dia levantou acampamento dali, rumo Oeste esqueceu de levar consigo aquele isolador de fios telegráficos... E lá ficará ele, atestando mudamente uma grandeza morta (...)” (Monteiro Lobato, Cidades mortas, São Paulo, 1957 – op. cit., p. 7)
Sempre quando vão para as festas de aniversário levam um livro para presentear ao aniversariante. Foram assim educados e este hábito conservarão até o fim da vida. Que virtude daquele casal! Dizem os que gostam de ler, como vocês.
O escritor é casado com a filha do sargento e tem cinco filhos. Todos, de maior. Três formados e dois estudantes do segundo grau. Todos os personagens... O que poderá acontecer, iremos ver nos capítulos que se seguem...

( Capítulo 1 do livro “Aonde iremos nós?”, ed. do autor – 1983).


terça-feira, 27 de março de 2012

Prefácio do livro: Ir...




Prefácio do livro: Ir...

* Por José Calvino 


Existem aquelas noites em que você sai, talvez para se distrair, mas na realidade é em busca de algo que te faça sentir melhor que o rotineiro. Foi quando fui a Olinda, em busca deste “algo” e, quem sabe, uma mesa de bar não foi o que me deixou um pouco melhor? Estava curtindo a noite com uns amigos, coisa que geralmente faço quando vou a Olinda: subo à Sé e passo a noite entre viradas de copos e de conversas.
Foi lá pelas tantas que me chegou às  mãos o livro “IR...”, cujo nome do autor não me soava estranho. Na tentativa de analisar o livro comecei, como quase todos o fazem, por ver sua forma verificando o conteúdo de sua capa. Revirando-o, percebi que este possuía uma “sugestão turística”. Imediatamente retornei à lembrança de que, numa noite chuvosa de maio, na Galeria Lautreamont (no largo da misericórdia – Alto da Sé – Olinda) alguém havia distribuído naquele local o seu recado, através de uma sugestão turística, e que este alguém era consequentemente o autor daquele livro que agora se encontrava em minhas mãos. Foi espontânea a sensação de carinho que passou a me acompanhar enquanto eu folheava o livro. Dificilmente alguém se empenha a valorizar coisas tão nossas, quanto a cidade em que habitamos, ou mesmo freqüentamos. E “IR...” não fugiu ao que eu supus, e percebi que esta preocupação constante, esta necessidade de projetar em letras toda uma problemática social que nos é imposta, enfim toda uma sensibilidade exposta das letras ao público, era uma grande marca do autor de forma notável. Agora converso com gente que expõe críticas, mas que, na realidade, não busca entender o valor que possui alguém que luta por um ideal próprio e, mais que isto, que não se limita aos quatro cantos de uma sala, com a cabeça cheia de teorias ultrapassadas e caducas. Não! Trata-se de uma punhalada nos pés de quem se encontra sentado; e é isto o que a verdadeira leitura deve proporcionar: Impacto. Dizer simplesmente que “gostaram” não é o suficiente, tem-se é que viver o drama da realidade exposta naquelas páginas. Senti que isto tinha que ser escrito agora, nesta mesma mesa, e que haveria de ser enviado a este autor como demonstração do que achei que deveria ser dito a todos quantos se prestassem a ler o livro “IR...”. Espero que, se ele comporta em sua capa duas letras tão significativas: IR, ao menos que todos tentem sentir aonde o autor quis “ir” com suas palavras.

Boletim da Banca Nacional de Literatura Independente,
ano II, nº 04, Rio de Janeiro/dez/84.

1ª edição, Recife/Olinda, 1983
2ª edição, Recife, 1993
3ª edição, Recife, com novo título: Aonde iremos nós?”, 2001.

Obs.: Muitos confundiam o verbo IR com declaração de Imposto de Renda!!!

* Escritor, poeta e teatrólogo. Blog Fiteiro Cultural:      http://josecalvino.blogspot.com/

   


quarta-feira, 21 de março de 2012

A inteligência baiana

                                                       (Foto 01)
                                                        (Foto 02)
                          
                       Lembrança da Bienal do Livro da Bahia - abril/2009
                     (Foto 01 - Martha Galrão, de Salvador e José Calvino)
                     (Foto 02 - Beto Quelhas, Lilian, Martha e José Calvino)
                                              Fotos: Haroldo Abrantes


A inteligência baiana 
 


Aos 18/04/2011,  no Literário, foi publicado uma crônica sob o título “Lobato, o algoz dos negros”. Fiz um pequeno comentário lembrando que no ano de 2008, no caderno Opinião do Jornal do Commercio, foi publicado um artigo do baiano, advogado e jornalista  Arthur Carvalho sob o título “Baiano burro nasce morto?”. No seu texto, em certo momento ele  se refere ao então coordenador da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Antônio Dantas, quando este discriminou os baianos dizendo que o QI (quociente de inteligência) deles é baixo.  “O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais, não conseguiria”, disse o coordenador.

Estas frases causaram a maior revolta entre os baianos. Dantas insinuou  que a política de cota para negros pode ter “contaminado” o resultado da faculdade no Enade e citou o grupo Olodum como um exemplo de primazia musical da Bahia. Diz o  advogado Arthur Carvalho, no seu artigo do JC, que sempre achou a frase: “baiano burro nasce morto” uma besteira! “Inteligência e burrice nunca foram características ou privilégios de raça ou povo...”.

Concordo plenamente com  doutor Arthur Carvalho: “Se ele tivesse um mínimo de    sensibilidade, não se referia com tanto menosprezo ao berimbau, instrumento tocado por figuras lendárias...” O berimbau teve seu além-mar bem divulgado por um pernambucano, conhecido internacionalmente, Naná Vasconcelos. O berimbau é conhecido universalmente.  Esse pessoal muitas vezes quer aparecer mesmo, mas o  Dantas foi infeliz na sua declaração!


A discriminação existe claramente contra os nordestinos. Os cariocas e paulistas chamam, pejorativamente, todos os nordestinos de “paraíba”, “baiano” e de “nortista”. A esse último, eu pergunto: cadê o estudo da geografia? Enfim, todos nós sabemos a inteligência dos baianos; é só observar Ruy Barbosa, Castro Alves, Dorival Caymmi, Jorge Amado, Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Ubaldo, Waly Salomão... Das baianas: Maria Bethânia, Gal Costa, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Nana Caymmi, Liris Letieres, Martha Galrão (Fotos 1-2) e muitos outros baianos e baianas.


Viva a Bahia de Todos os Santos!
 
               

terça-feira, 20 de março de 2012

Os pacientes do doutor Fróide



Os pacientes do doutor Fróide
Prólogo
(...)


I


Leitores vamos ler, em resumo, um romance escrito por um médico escritor e poeta. Antes de ler faça como Ítalo Calvino: “Pára. Concentra-te. Afasta de ti qualquer pensamento. Deixa o mundo que te cerca se esfumar no vago. A porta, será melhor fechá-la; do outro lado, a televisão está sempre ligada. Dize imediatamente aos outros: ‘Não, eu não quero ver televisão!’ Fala mais alto, se eles não te ouvirem: ‘Estou lendo! Não quero ser perturbado!’ Com toda essa barulhada, pode ser que não tenham te escutado: fala mais alto, grita: ‘Estou começando o novo romance de Ítalo Calvino!’ Ou, se preferes, não digas nada; esperemos que eles te deixem em paz”. (“Se um viajante numa noite de inverno”- Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro).

Tudo começou quando José Azambujanra estava conversando com uns amigos médicos. Todos sentados em volta da mesa, menos o doutor Fróide! Sabendo que um dos amigos era proctologista, embora aposentado da ferrovia, confidenciou que sofria para defecar, por causa das hemorróidas. O proctologista fez algumas recomendações dietéticas: 1. Acrescentar à dieta: Mamão, laranja com o bagaço e ameixa; verduras, legumes, hortaliças e aveia; ingerir bastante líquidos ( dois litros de água por dia)
- Habitue-se a beber dois copos de água pela manhã. 2.Evitar pimenta e condimentos; frituras (alimentos gordurosos); carnes em conservas; massas (pão, macarrão); bebidas alcoólicas; banana, caju e goiaba.


Dr. Fróide por ser psiquiatra sempre gostava de diagnosticar precipitadamente qualquer pessoa. Entrevistando Azambujanra, constatou logo ser uma pessoa compulsiva, pelo simples fato de gostar de ler e escrever, podendo chegar a um stress. E cheio com aquelas recomendações do proctologista, pois gostava muito de se entreter em suas horas de folga, bebericando e fazendo palavras cruzadas na Praça do Sebo. Descontando em Azambujanra fez também as suas recomendações preliminares:
- Você precisa descansar e revigorar suas forças. Se distrair, tomar umas e outras, companheiro!
- Doutor Fróide, é melhor cuidar dessas suas hemorróidas, homem. – disse Azambujanra.
- ...


José Azambujanra pertencia a um grupo na Internet de escritores e poetas. Recebia diversos e-mails. Respondia praticamente a todos, com exceção aos insultos... geralmente não respondia porque não levam a nada. Simplesmente, bloqueava de suas caixas postais, sem muita conversa. Mas, como sempre questionava através de um personagem fictício nos seus livros, agora, provocava pela Internet. Envolveu-se de maneira tal, que acabou por também envolver uma amiga no crime do seu amigo Príncipe (O poeta) no Beco da Fome. O crime acabou envolvendo várias pessoas, inclusive todos do grupo de escritores e poetas.
- Pelo que eu estou vendo o tiro era para Azambujanra.
(...)

José Azambujanra tinha uns traços europeus. Dr Fróide se limitava a passar remédios conforme o grau de comportamento de cada paciente. Esses que a agressividade era só nas palavras verbais, na hora das crises, ele despachava mais rapidamente. E como no seu consultório somente atendia dez pacientes por dia, entre os quais eram consultas particulares e empregados de empresas conveniadas ao plano de saúde do qual fazia parte. O atendimento era mais tranqüilo. Entregava sempre alguns casos ao seu amigo escritor proctologista e paciente também. E assim sendo o décimo paciente foi Azambujanra, que sabia através dos amigos antigos do dr. Fróide que ele tem crises convulsivas desde criança. Acreditam que o motivo foi o mesmo ter sido abandonado pelo pai aos cinco anos de idade, o que lhe teria causado um choque emocional muito violento. Traumatizado, dr. Fróide mais das vezes ficava perturbado chegando ao ponto de ter crises convulsivas no próprio consultório. Já estava chegando ao conhecimento do Conselho Regional de Medicina. Ultimamente aconteciam essas crises quando via José Azambujanra, fosse no consultório ou em qualquer outro lugar. Azambujanra sabia que o médico não se sentia bem quando lhe via, e foi o que aconteceu neste dia. Sempre dizia na hora da crise: “Espero que Deus me perdoe”.

Durante o interrogatório na delegacia de polícia, dr. Fróide afirmou sua inocência em relação ao crime do bêbado do Beco.

- Vocês querem dar crédito ao testemunho de um cachorro? Aqueles intelectuais de merda não têm o que fazer, não?, inventam que um vira-lata que vive lá no Beco, fala! Deus do céu, não vi ainda isso no estudo da psicanálise, nem Freud! – disse revoltado dr. Fróide.

Eram quase oito da noite quando dr. Fróide ligou para o detetive Medeirinho.

- Doutor Fróide, que bom, estava mesmo querendo falar com o senhor. Dá pra vim no meu escritório para analisar um dos e-mails sobre o comportamento de um dos seus pacientes, daqui a vinte minutos, tá legal?
- Okay. Vinte a trinta minutos.
- Beleza!

Dr. Fróide desceu a escadaria, que dá acesso ao Beco da Fome. Passou em meio a Tiberius Magnus que discutia com Benito Araújo, autor do livro “Beco da Fome”. Atravessou a Ponte Duarte Coelho, seguiu a Avenida Guararapes e decidiu tomar um drinque no Savoy. Ao beber a dose de conhaque, notou que esquecera da dentadura postiça.

- Ha! ha!, doutor Fróide, está com a boca murcha! Foi xexo de novo?
- Vá pra puta que o pariu. Nego safado!

Dr. Fróide chuta a caixinha de engraxate de Zé Preto, que engraxava os sapatos dos doutores, artistas, jornalistas, intelectuais e boêmios assíduos daquele bar. O português Esteves aconselhou dr Fróide a não ficar tão irritado com aquele assunto do seixo. O sambista “Bonneko” (Sebastião da Silva, mais conhecido como “Boneco de Mola”. Figura tradicional do Recife), então animou o recinto dançando o samba gingado... A polícia chega, revistando logo o engraxate e mandando-o retirar-se do recinto. Dr. Fróide olha para o relógio já passava dos trinta minutos do trato que fizera com o detetive Medeirinho. Getúlio esperou tanto, com o filho, a prometida visita do médico, que resolveu tomar uma cerveja no bar mais próximo do seu escritório na Praça da Independência. Pracinha do Diário, como é mais conhecida. Lá estava o engraxate Zé Preto, soluçando. Perguntado o porquê, ele contou o que acontecera no bar. Getúlio então resolve ir até o Savoy. Lá chegando de terno branco com a camisa fora da calça, sem gravata. Não reconheceu de imediato o psiquiatra.
- Doutor Fróide?
- ...
- Encontrei com Zé Preto na Praça do Diário chorando e dizendo que o senhor chamou a polícia pra ele. Não acreditei, deve ter havido algo de errado em tudo isso. O que foi que houve?
- Nada, nada... – Trêmulo, não conseguiu falar. Somente balbuciou.
- Doutor, vamos no meu carro. Eu lhe deixarei na frente da Livro... – timidamente entrecortou doutor Fróide, chamando o detetive de delegado:
– Não é preciso esse trabalho, delegado.
-- Vamos doutor, não faça cerimônia. Sugiro que o senhor vá para casa.

Getúlio percebeu a fala do psiquiatra, a mesma de uns anos passados, quando deixou a sua dentadura postiça no quarto de uma prostituta da Rio Branco num suposto seixo. Uma semana depois a prostituta foi assassinada. A polícia supõe que foi ele o culpado direto pela morte da meretriz. Na mesma época a polícia também suspeitou do médico no assassinato de um pichador que havia escrito em seu muro em Casa Amarela. Por falta de provas até hoje os crimes não foram desvendados. Os inquéritos continuam como se o assassino ou os assassinos não existissem.

No curto trajeto da Guararapes à Boa Vista, Fróide ficou respirando fundo. Os dois desceram calados a 7 de Setembro. Getúlio olhou para a coberta do Beco como quem verifica os estragos provocados por alguns moradores maléficos que jogam das janelas dos edifícios fezes, urinas, garrafas e outras porcarias. O detetive Getúlio aconselhou doutor Fróide a descansar, pois já eram onze horas e relembrou para que o mesmo comparecesse no outro dia no escritório do filho. Dr. Fróide apresentava um quadro psicótico como no surto anos atrás, que motivou sua internação no hospital da Tamarineira. Se despediram com um aperto de mão. Dr. Fróide, para conseguir dormir, teve que tomar um sonífero. Uma hora da manhã ouvia-se o seu ronco. Parecia que havia um rinoceronte roncando. A boemia do Beco já estava acostumada com aquele incômodo tarde da noite. Tiberius Magnus rosnou.

No outro dia eram quase oito horas da manhã. Dr. Fróide já estava acabando de tomar o seu café da manhã, quando o telefone tocou:

- Alô.
- Doutor Fróide?
- Diga.
- Aqui é Medeirinho. Como é?, está melhor?
- Pô... estou indo praí agora, e quem disse a você que eu estava doente?
- Da ressaca, doutor!
- Tudo bem..., até logo.
- Novo! Estou lhe esperando, desculpa eu ter ligado logo cedo. É porque tenho que dar continuidade aos meus trabalhos corriqueiros nas delegacias.

Dr Fróide colocou o seu capote cinza. Estava chuviscando. Retirou do refrigerador uma ameixa do Rio Grande do Sul. Começou uma forte ventania. Atravessou a ponte da Boa Vista evitando a Duarte Coelho e seguiu pela rua Nova para não passar pelo Savoy, embora que àquela hora o bar deveria estar fechado. Com os passos largos e o olhar fixo para a frente foi direto para o escritório dos Medeiros na Pracinha do Diário. No estado em que se encontrava, nem notou o detetive Getúlio que, ao passar por ele na esquina da loja Sloper, quase se esbarrava no detetive e no Charlito ( É um artista popular das ruas do Recife. Imita uma estátua humana, capaz de passar mais de um minuto sem se mexer) que já passava de um minuto sem se mexer. Medeirinho já aguardava ansioso a chegada do dr. Fróide para a esperada entrevista. Pois o seu pai, um detetive antigo, já prestes a se aposentar, continuava na luta e sabia que naquela hora já estava no batente na “campana” ao doutor Fróide, como geralmente os detetives usam pelos nomes de “rastejo”, “sombreagem” ou como de praxe “campana”. Para diligência com suspeitos, Medeirinho e seu pai conduziam o interrogatório assim: Se o inquirido cooperasse, Medeirinho conduzia a entrevista e Getúlio ouvia quietamente até terminar. O pai fazia algumas perguntas, quando omitidas por Medeirinho. No caso, quando o interrogado que não cooperava, era comum e bem sucedido o método chamado “sistema de amigo e inimigo”. O processo é o seguinte: Um deveria ser rude, ofensivo e cáustico. Geralmente no caso era Medeirinho quem causava à pessoa entrevistada mal-estar e desgosto. O outro era seu pai compreensivo e amável. Depois de algum tempo gasto e Medeirinho tendo criado ressentimento no entrevistado, deixa o aposento e Getúlio assume o encargo, oferecendo ao suspeito (no caso doutor Fróide) um cigarro, água, café... Freqüentemente, esse método levava o interrogado a contar a história toda, sensibilizado pelo bom tratamento depois de uma inquirição rude. Com a Carmem e outras poetas nesse método estava presente uma investigadora de polícia para extrair mais informações, com mais desenvoltura. Sempre não esqueciam as cinco perguntas-chaves: Quem? O que? Quando? Onde? Como? – Autor, delito, hora, onde, como... na seqüência.

Dr. Fróide subiu e tocou a campainha. Medeirinho atendeu:
- Olá, doutor Fróide. Seja bem-vindo.
- Tudo bem?
-Tudo bem, como manda o figurino. Doutor, quem saiu daqui ainda agorinha foi um paciente seu que já jogou no Náutico, nos anos cinqüenta... – entrecortou dr. Fróide – Já sei quem é! Diz ele, mas na verdade ele nunca jogou bola na vida. Tem uma psicose de que já foi um grande jogador de futebol. Vive comentando a torto e a direito as suas fantasias futebolísticas. (Risos) Recita direto: “Declaração de Amor em Vermelho e Branco”. Uma vez dois torcedores do Santa e Sport se revoltaram, foi um problema no meu consultório. Lidar com esse pessoal é peia!
- E o senhor, doutor, já jogou muito?, estou sabendo que era duro na bola.
- Fui beque-direito do Vera Cruz. Eu era respeitado pelos adversários, a bola passava, mas o cabra ficava. Nem Pelé! Era cacete, meu compadre, me comparavam com Guaberão. Naquele tempo quando a torcida dizia: “Arreia o meião“. Era pau! Negócio pra cinema. Não é como hoje, qualquer coisinha o jogador cai. Parecem umas maricas jogando...

Nisso, a campainha toca três vezes seguidas. Medeirinho levanta-se da cadeira-giratória, pois sabia que se tratava de seu pai, devido aos três toques. Um longo e dois breves.

- Bom dia, doutor Fróide.
- Dia Bom (Risos)
- Está com o aspecto melhor do que ontem. Viva! - virou-se para Medeirinho – Tudo bem, meu filho?
- Abênção, meu pai.
- Deus te abençoe.
- Ontem, eu não sei nem o que diga, desculpa tudo o que houve. – disse dr. Fróide com um ar constrangido.
- Não há de que desculpar, é a vida, doutor. – disse Getúlio com um ar simpático de boa índole.
- É uma coisa e outra, ando com a mente muito perturbada... ele teve um novo surto... – disse dr. Fróide.
- Quem? – perguntou Medeirinho.
Dr Fróide passa mal, com crises convulsivas, fica pálido, suando frio. Os Medeiros o socorrem imediatamente.


II
Fazia um certo tempo que Dr. Fróide havia começado a se interessar pelos e-mails do grupo de escritores e poetas, pois alguns eram seus pacientes. Resolveu então imprimir alguns e-mails do grupo, principalmente os de Azambujanra iniciando assim as suas pesquisas psicológicas. Começou a ficar com uma conduta paradoxal quando alguns do grupo começaram a falar no seu nome. Esquizofrenicamente pegou a pilha de papéis impressos e começou a relê-los:

Ø Grande Azambujanra, valeu!

Foi um prazer tê-lo conhecido pessoalmente lá no Centro de Convenções.
Um abraço,

Ø Colegas poetas!
Foi bacana a palestra no Centro de Convenções (Teatro Guararapes). Eu percebi no auditório muita gente jovem, isso é bacana. A Escrevinhadora sabe se comunicar muito bem com a platéia, tudo foi mostrado no telão. Todo mundo se juntou, houve troca de idéias entre o nosso grupo, inclusive foram mostrados os blogs da Poeta e da Carmem. Recitação (todos acompanhando) das poesias de los Xexéu... Estavam lá: Trepidante, Carmem, Desblog , Príncipe, Geraldo Fiofó, Dom Arreda... Los Xexéu com seu traje cômico (preto e amarelo) declamando com o KKKKKKKKKKKKKK da platéia. Infelizmente, vim saber através de Trepidante que, devido a problemas no sistema de som, o balaio de Janis Joplin não foi apresentado. A gente nem ouviu o Trenzinho do Caipira, de Villa-Lobos. Teria sido o máximo, não é, Baianinha? Mas, valeu! A palestra foi um sucesso, logo após o tragicômico, ficamos assistindo o sarau... Quem faltou, não sabe o que perdeu.

Bom domingo para todos,

José Azambujanra

É lido um texto:“Quem é Deus?”, enviado por Azambujanra.

(...)

Ø Olá Azambujanra,

O texto é muito bom. Deixa claro o que os homens fizeram em nome de Deus ao longo dos séculos. O interesse rege todas as religiões conhecidas por nós, e Deus não tem nada com isso.

Carmem.

Ø Belo texto, Azambujanra. Faz indagações precisas e maduras.

Trepidante

Ø Azambujanra!

É exatamente isso! Deus pode ser resumido com esta palavra: amor...

Uma vez, um estudioso do ocultismo me perguntou: o que é, afinal, pecado? Ir à igreja rezar e pedir para que aquela pessoa que é comprometida separe-se e fique com você ou ir a uma encruzilhada e acender umas velas para pedir consolo a um amigo doente?

Por essa e por outras, afastei-me das igrejas, tenho Deus (Luz, Força, Amor...)
Dentro de mim, e converso sempre com Ele...

Ótimo texto! Obrigada!
Beijos!

Poeta.

Ø Azambujanra

Não discordo de você. As religiões foram usadas por grupos poderosos para se apoderar dos recursos disponíveis na face da terra. Todavia ninguém consegue explicar porque existimos. Humildemente acredito num poder superior.

Paulo

Ø Pessoal,

Não sou religiosa – costumo dizer que sou << sem religião>>, acredito em Deus, ou seja lá o nome que tiver esta força que é bem maior e superior a nós.

Beijos!

Poeta.

Ø Carmem!

Teu “vale tudo” ficou bem melhor!!! Vamos incendiar os cânones!

Eu acredito em Deus, claro! Só não acredito no Deus que as igrejas tentam nos impor, prefiro o Deus da Natureza, aquele que encontro quando vejo uma tormenta aproximando-se pelo mar, aquele que vem com o vento, batendo no meu rosto e com a chuva! Este Deus é bem mais íntimo, mais próximo, não achas???
Também acredito em tudo, digo que sou cética quando vejo certos absurdos, certos “milagres” inventados para perpetuar dogmas é isso.
Carmem desculpa...mandei o arquivo comprimido porque era muito grande, um PPS...

É um texto muito bonito, eu já conhecia desde a minha infância, estudei em colégio interno, que era também seminário da igreja luterana. Digo que sou sem religião porque não aprovo os dogmas e os preconceitos que todas as igrejas têm. Fui menina criada indo todos os domingos à igreja e participando da escolinha dominical. Depois, no interno, assistia a estudos bíblicos... até que um dia discuti umas questões com o pastor, enquanto estava na catequese, ele disse que eu não precisava mais freqüentar a igreja se não concordasse com ele... bom, e não fui mais mesmo, e até hoje não fiz a primeira comunhão... revoltada, eu? Imagina...só realista!

“Condição para viver”, de Azambujanra

(...)

Ø Nós, Azambujanra? Vamos continuar, “caminhando e cantando e seguindo a canção...” que nem Vandré.
Beijo,

Carmem

Ø Olá Azambujanra,

Muito bons os seus versos, parabéns!

Carmem.

Ø José Azambujanra,

Esse é um texto politicamente correto, Azambujanra.
Parabéns!

Trepidante

Ø Boa-tarde!!!

Por favor, peço-lhes que retirem meu nome do grupo porque a minha caixa vive cheia de mensagens e não tenho tempo para ler todas.
Desculpe-me qualquer coisa, desde já eu agradeço a todos.

Kakuyumi

Ø Eu pensava que o (a) Kakuyumi Tamakakubo, já havia saído!!!

O e-mail para sair é o que tem no links do yahoo, embaixo...

José Azambujanra

Ø KAKUYUMI, SE VOCÊ NÃO ABRIR OS E-MAILS COM AS ORIENTAÇÕES VAI CONTINUAR ENTUPINDO A CAIXA.

Xexéu

Ø Kakuyumi, é só você ir no final desta página, onde tem : Para sair deste grupo é clicar no link, só isso meu irmão, será que é tão difícil assim, cara?

Xexéu
Ø Xexéu, não sei se a (o) colega aí entrou no grupo por curiosidade e não acerta a sair pois já ensinei, Trepidão já respondeu, Azambujanra e agora você... E se ela (ele) quer sair sem ler os emails que ensinam, vai passar mais de ano com a caixa lotada...
Beijo,

Desblog.

Ø Desblog, xapralá... essa estória...
Só é não ligar que ele termina descobrindo a porta de saída... tendesse?
Não vale comentar, não...
Beijinhos,

Escrevinhadora

Ø Kakuyumi, de novo?
Não tem jeito! Só sendo parente de “Takuku Nakara”! Danada (o) pra não gostar de ler!!!

José Azambujanra.

Ø Azambujanra,

Você me fazendo morrer de rir a uma hora desta menino! 22:19! Será que este japonês é filho de português?
Ai to morrendo de tanto rir que nem consigo teclar...
Bjo Lima.

Ø Azambujanra!!!

Adorei! Estou rindo muitoooooooo!!!!!

Beijos!

Poeta.


Ø Evento e disparo cósmico 17/10

Por Doriana Tamburini

Um evento de disparo cósmico deverá acontecer no dia 17 de outubro. Um dos muitos que deverão ocorrer até 2013.

Os raios pulsantes de um beam [= feixe de luz ultravioleta (UV)] de uma dimensão mais alta no universo, cruzará a rota da Terra e estaremos sob influência desses raios durante 17 horas do nosso tempo, neste dia.

Este beam ressoa no chacra do coração. É de radiação fluorescente em natura, azul/magenta em cor. Apesar de ressoar nesta freqüência está acima do espectro de cores do nosso universo como, nós da Terra, conhecemos.

Porém, pela natureza de nossas almas ou grupos de almas operando nas bandas de freqüência do universo, terá efeito sobre nós. Esse efeito será a ampliação de nossos pensamentos e emoções na intensidade de um milhão de vezes.

Ø Xexéu,

Vou fazer uma pergunta à moda Carmem: “desculpe a ignorância do macaco”, mesmo sem compreender muito bem por ignorância mesmo, entendi o comunicado, mas fiquei curiosa de uma coisa e gostaria que você me explicasse (se souber, claro). O comunicado diz:

“Este feixe UV estará com total efeito às dezessete horas no dia dezessete de outubro. Não importa em que lugar do planeta você esteja. De aproximadamente dez e dezessete a.m. do dia dezessete de outubro às uma e dezessete a.m. do dia dezoito de outubro. Seu pico será às 17:10 (5:10 p.m.) do dia 17.”
De acordo com a lógica imagino que importa sim o lugar onde esteja pois dezessete horas no Brasil não é a mesma hora no Japão, por exemplo. Tu sabe me dizer algo? Pergunta por aí porque não sei nem onde procurar nem explicar essa desconsideração de fuso horário...

Beijos,

Desblog.

O suposto parente de Kakuyumi, Takuku Nakara, talvez saiba responder!!!

Ø Dia 17 de outubro

nesse disparo cósmico

ficarei como sempre fico

numa boa eu me descubro

Moral da história:

decentemente ou não

o disparo ficará na HESTÓRIA!

José Azambujanra

Ø Amigo Azambujanra:

Kakuyumi já avisou que também vai estar lá!

Trepidante.

Ø ATENÇÃO, POETAS DO BRASIL E DO MUNDO!

Todo cuidado é pouco com esse Takuku Nakara. Ele me telefonou (não sei como descobriu) dizendo ser a favor de um regime militar...defensor intransigente... ignorante até dizer basta! Vocês falando em evento e disparo cósmico que deverá acontecer no dia 17 do corrente!!! Bom, em resumo: “Disparo” para ele é tiro de arma de fogo. Fuso horário é sinônimo de tiro de fuzil na hora certa. Sinceramente, só fiquei mais calmo quando ele disse que estava gostando de ver a caixa de Kakuyumi cheia...- entrecortei – de armas poéticas? Ah, meus poetas! Curto e Grosso finalizou: “Sou militar da ‘Cavalaria Marítima’ E vou votar em...Bah!!! (desligou) Para tranqüilizar a poetada o telefonema veio do Hospício, viu? (Risos).
- Que susto, hein?

Bom feriadão para todos,

José Azambujanra

Ø Azambujanra do Céu! Ta brincando com fogo menino! Não se brinca com parente de Kakuyumi! Esses belicistas entendem logo disparo – se é cósmico por que eles não entenderam como disparo? Eita que essa foi pior que as piadas do Jô!

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Ø Minha Nossa Senhora Madalena dos Kamikases!!!!!

Cuidado se virem um avião voando muito baixo por aí, pode ser o Kakuyumi ou o Takuku Nakara!!!!

Beijos!

Poeta

Ø Proposta (in)decente:

Vamos deixar o/a Kakuyumi pra lá e encarar o balaio do Evento e Dísparo Cósmico?

“TODOS JUNTOS VAMOS VIBRAR
PARA BONS FLUIDOS ANGARIAR”

Carmem

Ø Olá para todos,

Não entendi nada do disparo cósmico. Vem de onde, o que é isso? As coisas legais, positivas...claro to dentro... mas e aumentar forças negativas? Perdoem-me, mas não acredito que raios, feixes de luz, cores irão influenciar aqui.

Beijos

Lima.

Ø Oi Lima,

Não precisa acreditar, no dia 17, às 17 horas, pense positivo, por você e pela humanidade. Leia um pouco de Einstein: O pensamento é energia é matéria, força viva. Isso não é utopia, é ciência. Se não acreditar nos raios UV, acredite na força do seu pensamento. É mesmo que acreditar em você.

Abraços, queremos sentir, você nessa onda, afinal ainda não pagamos para pensar positivo, não é não?

Escrevinhadora.

Ø Tás vendo, Lima? Bem que eu disse: vamos só pensar positivamente! E o cão
leve pra bem longe todo pensamento do mal ou negativo!
Viva o Disparo Cósmico! (Mesmo assim, recomendo que você leia a resposta que Azambujanra mandou para este convite feito por Los Xexéu – no mínimo você vai rir muito!)

Beijinho novamente,

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Ø Poetamigo Trepidante,

Recebi um telefonema ainda agora, sabe de quem? Depois eu conto! Mais tarde então, agora estou é cansado, mas vou adiantar alguma coisa e confirmar a minha presença lá no Acaiaca. É o seguinte: Kakuyumi e Takuku segundo informações “Confidenciais”, são personagens de um conto escrito por um médico escritor e poeta (nome não identificado), já pensou? Ele está recorrendo ao nosso grupo! Eu não sei não... quando começo a escrever é parada... vamos lá... Pois bem, para enriquecer a sua história ele me telefonou novamente confidenciando porque criou essas personagens que são ora reais, ora imaginário à revelia de seus amigos poetas e escritores. O principal personagem é médico especialista em psiquiatria. Interessante, não é?, e tem problema de hemorróides ou hemorróidas (seja lá o que for). Ainda bem que os Poetas estão dando este apoio a esse médico de doido... (não fique rindo, que a coisa é séria) e o que é pior é que está se tratando com um seu paciente amigo de velhas e longas datas que é proctologista e quer ser membro da Academia Pernambucana de Letras... Avalie!!! Com toda esta confusão de idéias... O pretendente acadêmico quer de toda maneira concluir o seu conto “louco”, com o tratamento de alcançar um dado objetivo. Antes, quer todos os dados sobre a pesquisa no computador e também os poemas dos poetas. Pede que atendam os telefonemas dos hospícios e conversem com eles... O Takuku, mesmo, diz ser militar da Cavalaria Marítima e assim... a gente é quem está escrevendo o livro im...Sim, findou eu dizendo quase tudo, vamos para o mais importante: Na hora deu um “apagamento”... Veja só, cheguei a colocar Boa Viagem e entrei no “salvo-engano”! Trepidante, estou em falta com você no Pra Vocês, Pina, eu acho que foi isso. Estarei com certeza na terça com os nossos Poetas contentes, transmitindo o que é de bom... alegrar-se com as peripécias de Kakuyumi. Escrevinhadora pensava que eu estava esquecido? No Acaiaca acertaremos melhor... Abs,

José Azambujanra

Ø Azambujanra, se mal pergunto: o assunto do seu email, nessa linguagem de códigos da KGB ou CIA, é o nome do livro – essa epopéia de autor anônimo sobre Kakuyumi e Takuku? Quando ele lançar, vem com tradução????????

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Ø O título será: “Os pacientes do doutor Fróide”!!!!!

Azambujanra
Ø Azambujanra,

Só tu mesmo!!! Domingo de manhã, crianças gritando na rua e eu aqui, rindo sozinha, pareço uma candidata ao tal hospício. Que esse <> dos trópicos não me encontre!
Beijos!

Poeta

(...)

Ø Por falar em disparo cósmico, Azambujanra, às dezesseis horas lá estava eu, com a minha pontualidade britânica e patológica, na frente do Acaiaca, aguardando todos os que não apareceram. Se não tivesse elaborado um plano “B”, amigo, ainda estaria lá com a minha gata, em frente àquele marzão a ver navios (no sentido estrito e literal). É claro que haviam diversas pessoas aproveitando o momento e fazendo as suas reflexões, mas a grande maioria mesmo estava era biritando e curtindo as profanidades da vida. Nem mesmo o grande poeta Xexéu, o autor intelectual do ato, apareceu por lá. Na realidade, além do disparo cósmico houve também uma disparada cósmica, amigo. Ninguém do grupo apareceu por lá. Nem mesmo Kakuyumi ou Takuku Nakara. O jeito que teve, para amenizar o vexame da solidão no disparo, foi ativar umas cervejinhas bem geladas depois que o fenômeno passou. A única pessoa que vi de relance foi o Doutor Fróid, capengando na areia com as suas hemorróidas inflamada. Eu hein? Não me chamem mais pra essas coisas que eu não vou!

Trepidante o abandonado cósmico

Ø Trepidante, meu amigo de fé, meu irmão camarada!

Estou morrendo de rir aqui com Dom Arreda! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Às 17 horas eu estava no Espaço Pasárgada KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Abraços de,

Los Xexéu e Dom Arreda de la Mancha.


Ø Pessoal,

Estou me desligando do “Grupo dos Poetas” por absoluta falta de tempo de ver tantos e-mail’s, tenho os e-mail’s de Poeta,Trepidante, Lima, Escrevinhadora ,Carmem e Vera.
Gosto muito de receber mensagens que nos elevem espiritualmente, poesias, pensamen-
tos, etc. Quem quiser continuar se comunicando comigo mande um e-mail para mim:
losxexéu@...com. Terei o maior prazer em continuar a manter contato com todos vocês.

Abraços,

Xexéu

Ø Trepidante,

Se tu tava com a gata ficou esperando esse monte de tratante por que??

Geraldo

Ø HIPOCRISIA TOTAL!!!

Azambujanra

Ø Vixe, Azambujanra do Céu! Com quem você ta dizendo isso? Com Maria Escrevinhadora? Não merece, amigo! Se alguém ora por nós devemos agradecer por tanto desprendimento. Suponhamos que você seja ateu, veja então as palavras como bons pensamentos em nosso favor, só faz o bem! Além do que, como Baiana já tão bem explicou, devemos ser tolerantes com a fé de cada um, aceitarmos as diferenças. Se foi comigo, pois estou logo abaixo do seu “disparo”, lamento muito que sequer abriu seu coração para receber tantos bons pensamentos! Continuo dizendo amém para esta e todas orações.
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Ø Vai ver, Trepidante, você abusou das biritas, hein?... Delirius tremens, alucinações, essas coisas acontecem, principalmente depois de um disparo cósmico do eu sozinho no Acaiaca.
Segunda hipótese: o cachorro era o bêbado que perdeu o equilíbrio, lembra de João Bosco cantando essa música? Esfomeado, gritou e danou-se a catar lixo.

Carmem

Ø Mas isso tudo aconteceu antes das cervejadas, Carmem, antes do disparo cósmico, antes do day after. Agora mesmo estou aqui a escutar-lhe a voz de trovão. De nada adiantou surrupiar um pouco da água de laranjeira vinda da Bahia de todos os santos. A voz continua a ecoar impertinente e poderosa. O que você me aconselha a fazer?

Trepidante em plena dúvida

Ø Estás numa encrenca danada, Trepidante. A voz te chama! Poderosa... simpatizou, o que se há de fazer, não é? Acho que água de laranjeira não será suficiente, que tal um três oitão?
Que tal falar de poesia?

Carmem

(...)

Ø Amigos do grupo:

Não sei o que possa ter havido, mas logo no day after do disparo cósmico, pinta aqui no grupo um clima meio esquisito. Embora isso possa nos servir de alavanca para superarmos esse momento, depois de dissipado o mal entendido, penso que algum erro de percurso pode nos ter levado a isso. O que nós precisamos é de amor e tolerância. Que os espíritos superiores nos iluminem e façam com que a boa convivência e o respeito que sempre houve entre a maioria das pessoas volte a reinar entre nós. Que os sentimentos mesquinhos e pessoais se recolham e que ressurja a fraternidade que cultivamos durante esses meses que caminhamos juntos. Isso tudo foi retirado de uma canção dos Beatles (All we need is love!). Que ele nos sensibilize.
Fraternalmente,

Trepidante

Ø Trepidante, amigo, com um grupo tão fraterno, tão amoroso como o nosso, com você, esse clima atual faz parte mesmo é do aprendizado nosso de cada dia. Na verdade um aprendizado porque, como você: “Não sei o que possa ter havido”

Beijinho amoroso,

Desblog

Ø Carmem,

Você quer que eu atire no beco, amiga? Nem pensar! E se eu atinjo algum inocente? Vai ser mais um caso de bala perdida aumentando os índices de violência da cidade.Além do mais,um tiro de revólver não vai apagar as idéias encravadas naquela voz tonitroante. E se essas idéias já se espalharam e outras vozes surgirem gritando em voz alta e em uníssono? Vou precisar de mais balas? Nem pensar! Estou começando a achar que quem grita sou eu mesmo, ou será a minha consciência? Talvez eu queira consultar o Doutor Freud. Será que ele explicaria melhor?

Trepidante em pleno tiroteio mental

Ø Azambujanra,

“QUEM JULGA JÁ MORREU”, diz o nosso Guimarães Rosa. A “hipocrisia” que você me confere você não pode provar. Mas a sua estupidez está muito clara. Mas como você pertence ao Grupo resolvo informá-lo. Fique com sua estupidez e ficarei com minha “hipocrisia” pois ele só me faz bem. Por favor, não me dirija mais a palavra.

Maria Escrevinhadora

Ø Amém!!!

José Azambujanra

Ø Azambujanra, doeu, doeu muito!

Não sei se estava brincando, pois não imagino seriedade na falta de consideração... lamento, lamento muito por todos nós.
Paz no seu coração

Vera

José Azambujanra

Ø Pra ser sincera, eu não estou entendendo nada.
Não estou conseguindo compreender o porquê de tanta agressividade!!
Quem quiser/puder acreditar em Deus, acredite, quem não puder/quiser, não acredite... tão simples... Na minha singela opinião, as orações e preces são sempre bem-vindas, porque palavras de amor e esperança são bonitas e trazem paz e conforto.

Ø Olha aí, gente, apareceu mais um personagem muito louco..., ainda vai dar uma grande história.

Trepidante nas suas trepidações

Ø Tenho a impressão que tudo ocorreu de maneira tranqüila durante o Disparo Cósmico, o Plano B funcionou, as pingas atenderam às solicitações. Parece que o “Dr. Fróide” (esses psiquiatras!) precisa de uma pequena bóia para se assentar mió.
Respiro aliviada.
Ufas!

Suely Lima

(...)


III

José Azambujanra nasceu nas proximidades da estação ferroviária do Arrayal, num vagão de carga da antiga Great Western. Atualmente morando num kitchenette próximo aos cinemas Art Palácio e Trianon, no centro da cidade do Recife. Foi perseguido pela polícia de Agamenon quando descobriram que escrevia textos literários para os jornais da cidade sob o pseudônimo de “Ghost Writer”! Processado, fora afastado do serviço de telegrafia da então Estrada de Ferro Great Western. Referia-se sempre aos trens, ligado que foi, desde a sua infância, à ferrovia. Foi preso no Farol da Mata por criticar a revolução, dizendo ter sido um golpe militar. O povo se revoltou com a sua prisão. As beatas e os carolas se benziam, fazendo o sinal-da-cruz:

No escritório dos Medeiros:

- Quando tivermos concluído as investigações, apresentaremos os fatos resultantes – disse Getúlio de Medeiros a um grupo de investigadores da polícia e jornalistas. Mostrando em seguida uma publicação no Jornal da Cidade, sob o título:


HIPOCRISIA Ghost Writer

(...)

- O que eu vejo em tudo isso é que o grupo de poetas que pareciam pessoas amigas, mas que não tiveram coragem de ser solidários para com Azambujanra. – disse o comissário chefe.
- É, porque talvez acreditassem que o personagem criado por ele era assustador. – disse investigador Fulano.
- São tão religiosos e esquecem o mandamento de Jesus Cristo: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”. – disse investigador Sicrano.
- Como doutor Fróide verificou que alguns pertencentes ao grupo de escritores e poetas, são portadores de uma psicopatia identificada como transtorno de personalidade, o delegado achou por bem baixar os autos do inquérito a fim de que realizassem exames de sanidade mental por um órgão oficial do Estado. – disse o escrivão Beltrano. Continuando com sorriso, irônico:- Azambujanra no dia do crime estava acompanhado de uma amiga Poeta. À polícia, disseram que desconheciam o motivo do crime. A Carmem está sendo interrogada como suspeita do homicídio no Beco. No mínimo ela sabia de algo porque teve a intenção de sugerir uma arma de fogo para o Trepidante...- foi entrecortado por Getúlio:
- Não havia necessidade do delegado mandar fazer esse tipo de exame! Eu e o meu filho estamos checando algumas mensagens do grupo de poetas. Um artigo foi publicado no Jornal da Cidade assinado pelo escritor Gosteruaite, e findou José Azambujanra também sendo também submetido a exame psiquiátrico no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, o que resultou direcionado para sua imputabilidade ao tempo dos fatos. Nenhuma das testemunhas presenciou! Ouvidas nos autos, declinam qualquer conduta de Azambujanra indicado como crime no Código Penal Brasileiro. Não é uma palhaçada? Estão todos doidos, como é que um cachorro é ouvido como testemunha? O absurdo desta situação é que estão agindo irracionalmente! Os escritores e poetas estão gozando com a incompetência da polícia, quando esses inquéritos chegarem no Ministério Público, o promotor de justiça, com certeza, vai pedir que a polícia volte a investigar por conta da palhaçada! Em momento algum, José Azambujanra disse ser ateu! E assim mesmo, se for, não tem nada a ver para o pessoal do grupo o discriminar usando a palavra de Deus como um mero escudo para amenizar qualquer situação. As beatas Carmem e Maria Escrevinhadora, juntas com Tapa Nakara e Geraldo Fiofó, caminham na orla marítima de Olinda, rezando seus terços todos os dias e a Carmem leva logo um rosário como uma alienada: “Deus seja...Deus seja...” isso direto como se Deus fosse conivente com aquelas fuxicadas!
- Sabiam que elas exercem enorme influência sobre a estrutura política do estado? – perguntou cabisbaixo o escrivão Beltrano.
- É difícil... e o presidente ainda diz que o nosso país é laico! Ora, para o laicismo as igrejas não devem ter nenhum poder político e não exercer influência sobre as instituições sociais. E isso acontece aqui no nosso Brasil desde a época do império. – disse o comissário chefe.

Tiberius Magnus, mostra um conto escrito por Azambujanra sobre o Beco da Fome. Neste, aparece acompanhando toda narrativa do novo autor-amigo:
- Azambujanra, amigo, com essas conversas travadas pela internet, está acontecendo tudo isto. Tem que aceitar a hipocrisia dessa gente, é a vida, cara! – disse Tiberius Magnus, e filosofando continuou: “Universalizar, pesquisar fenômenos universais referente a toda a terra, ao mundo todo. Os protestos contra a guerra foram universais.”

- Azambujanra, você está sendo vítima de um patrulhamento ideológico da intelectualidade. Sabe o motivo? – perguntou Medeirinho.
- Não!
- Essa história do crime no Beco, pilha de papel impresso, o que você diz sobre isso?
- Doutor Fróide imprimiu quase uma resma e me deu para que eu escrevesse um livro sobre o que estava acontecendo com o grupo de poetas do Recife.
- E o livro você usou o seu pseudônimo de Ghost Writer?
- Exatamente. Eu preferi colocar alguns textos literários que haviam sido publicados no Jornal da Cidade e os fiz entrar neste assunto polêmico. Findou acontecendo tudo isso que consta no livro!
- Por que você escolheu esse título: “Os pacientes do doutor Fróide?”
- Justamente, como ele me entregou praticamente pronto, referente aos e-mails, só fiz acrescentar esses misteriosos crimes que vêm acontecendo no Beco da Fome. Já com você e seu pai nas investigações detetivescas...

Na manhã de um certo sábado, Getúlio Filho estava no Beco do Marroquim, tomando um caldo de cana, quando de repente viu dr. Fróide passar apressado pela rua da Praia. Medeirinho não chegou nem a comer o pão-doce todo, deixando o caldo de cana pela metade e os dois reais embaixo do copo. Seguiu os passos do dr. Fróide até a feira de troca-troca do Cais de Santa Rita. Dr. Fróide chama reservadamente um receptador e explica o motivo de estar naquele ambiente suspeito.

- Amanhã eu tenho um filé que comprei de um major da meganha. O senhor conhece a feira de Peixinhos?
- Não.
- O senhor tá de carro?
-Não. – respondeu nervoso dr. Fróide – Vamos, meu filho, deixa de tanto protocolo, porra!
- Não é isso, meu velho. O major é de responsa, e o trintoitão pega lá, me procure no troca-troca, na moral.
- Beleza! Que horas?
- Dez horas.
- O seu nome?
- Fique ligado, me chamam Pernambuco.
- Hã-ram!

Ouvia-se a palavra do Senhor:

“Deus seja louvado! Aleluia!”

Despercebidamente, com trajes simples e com um gravador de som ligado, Medeirinho chama um garoto do troca-troca:
-Estou ouvindo aqui “O futuro do marginal” – disse o garoto aumentando o som do seu rádio portátil... Estou a fim de comprar um ferro...
- Qualé, meu irmão? Qualé a idéia? O causo é o seguinte, a gente só tá fazendo negócio lá em Peixinhos, tá ligado? Aquele dotô da Tamarineira, ali, quer um trintoitão. Vai lá amanhã, tá ligado?
- Ligado, meu irmão. – disse o detetive já na jogada do malandro.

Nisso, dr. Fróide se despede do “Pernambuco”.

- Até amanhã.
- Me adianta cinqüenta conto.
- Quanto vai ser?
- Duzentos, mais ou menos.
- Eu dou cem amanhã, agora toma dez. Já não vou mais de táxi.
- Ta legal, maneiro, maneiro, vai lá.

“Pernambuco” fica resmungando:

“Porra! Karaio! Um otário, porra! Mermo assim descolei com dez conto. Se ele não for vai levá tiro na bunda!”

No domingo pela manhã ,dr. Fróide foi logo cedo a Peixinhos como havia prometido. Mas, nas imediações de Sítio Novo-Olinda, sentiu-se mal como vinha acontecendo em outras vezes, continuando passando mal. O motorista do táxi resolveu socorrê-lo e levá-lo ao Pronto Socorro de Olinda. Enquanto isso, na feira de troca-troca de Peixinhos, o major da meganha foi preso e autuado em flagrante com três revólveres calibre trinta-e-oito.

- Pintou sujeira, meu irmão. – disse o malandro.
- Negócio com polícia, dá nisso. – disse outro malandro.
-...
- Porra, sujou!
-...
-...

O grupo de escritores e poetas pouco se reunia. Era uma tardinha do mês de outubro, dia 19, quando alguns intelectuais resolveram se reunir no Beco da Fome, no botequim do Capela. José Azambujanra pede licença para sair e sobe na escadaria em caracol rumo ao sanitário...

Já eram vinte e duas horas. Um tiro ecoou entre uma abertura na coberta de alumínio e o Beco, atingindo mortalmente o poeta Príncipe. Um vira-lata foi ferido no terceiro tiro. Azambujanra ,ao descer a escada, chegou a ouvir três disparos e os ladridos de Tiberius.
A polícia fez o levantamento interditando o Beco, fez tomada de testemunhas com os procedimentos de praxe. Foi instaurado o inquérito. Durante uma semana, o delegado interrogou os proprietários dos botecos, poetas, escritores, garçonetes, boêmios em geral... No quarto dia, a polícia começou a receber telefonemas anônimos e uma carta assinada com uma letra horrível: Tiberius Magnus !


Do ponto-de-vista da polícia técnica o tiro partiu de uma das janelas do edifício Pirapama. A psicóloga Tarcisa Evangelista, lembrou-se de que quando jovem assistiu uma sua amiga morrer, vítima de um paralelepípedo jogado do oitavo andar do edifício Néon, onde havia orgias à noite.A psicóloga foi baleada de raspão junto com Tiberius Magnus. Tarcisa foi medicada no Pronto Socorro do Recife.

Era costume do dr. Fróide sentar-se à noite em seu gabinete. No lado esquerdo do seu birô havia uma porta secreta atrás do cortinado e só o médico e sua secretária sabiam. A porta dava acesso ao apartamento onde residia a sua secretária. Os seus pacientes e familiares somente se comunicavam com ela pelo telefone. Na noite anterior à que Secretária fora dispensada, dr. Fróide ouviu uns ruídos estranhos que chegou aos seus ouvidos, ficando assustado pois o som não era nada agradável. Esperou um pouco, e o som confuso se repetiu. Abriu a janela e ficou mais tranqüilo quando percebeu que era o sussurro do vento nas folhas de zinco soltas que cobriam uma parte do Beco. Secretária também se assustou com aquele som, deu um pulo da cama e correu à toda para o gabinete do doutor.

- Doutor Fróide!!!
- Deixe-me em paz. Vá dormir, são umas folhas de zinco soltas próximas à sua janela que com o vento forte fazem esses ruídos..., não tenha medo... vá dormir. – disse dr. Fróide pela brecha da porta.

Secretária volta para o quarto. Olha a hora. Era meia noite. As atitudes e a fala do dr. Fróide ultimamente causavam muita desconfiança à Secretária. Deitou-se; todavia, preocupada como estava, não conseguiu dormir. Sabia que o detetive Getúlio Medeiros já estava procurando saber quem era a secretária que fazia ligações por telefone. Pois nem ele e nem os pacientes do médico sabiam quem era a moça do telefone. Secretária mantinha relações sexuais com o médico secretamente, aceitando a sua agressividade. No início, por medo de perder o emprego. Com o tempo, já estava acostumada e considerava junto a ele o sadismo e o masoquismo como dois componentes de uma mesma perversão. O médico considerava que a forma ativa e passiva se encontravam em proporções variáveis em uma mesma pessoa. A atividade e a passividade são constitutivas da vida sexual em geral. O médico dizia que o hipócrita não gosta de ser taxado como tal. Secretária não estava mais se comunicando pela internet, pois o médico achava a comunicação o avesso do silêncio. Como também todo ser histérico tem tendência à hipocrisia, pois a verdade seria desastrosa. A verdade dói, é fatal, como aconteceu com a reação de alguns dos pertencentes ao grupo de poetas escritores. Dr. Fróide havia lido a satírica obra do Marquês de Sade; o sadismo emerge por toda parte: só lhe faltava um Marquês de Sade. Os assassinatos que vinham acontecendo excitaram enorme interesse no público em geral.

- Propositalmente eu digo sempre que estou offline – disse Trepidante.
- Doutor Fróide fica pensando em coisas más que nos aconteceram. Ele está numa situação complicada, numa brincadeira. A polícia está dando crédito a uma carta de Tibérius Magnus, que jura ter visto o médico assassinar o Bêbado do Beco, para incriminar você e Carmem. – disse Poeta.
- O surgimento da denúncia do pescador Zé Preto coincide com a do Tiberius Magnus. Tem lógica, porque Zé Preto entregou uma arma trinta-e-dois na delegacia do segundo distrito alegando terem jogado de cima da ponte Princesa Isabel. Justamente a hora aproximada e o dia do assassinato do Bêbado. Conforme o laudo do Instituto de Medicina Legal a arma do crime foi de calibre trinta-e-dois e não trinta-e-oito como foi divulgado pela imprensa falada, escrita e televisada.

Mais uma noite de autógrafo na badalada Livro Sete. Muita gente na Sete de Setembro. A livraria estava completamente lotada. Tiberius Magnus não perdia nenhum lançamento de livros e chega ao Beco da Fome driblando a multidão:

- Sidney Sheldon (Escritor americano, faleceu com 89 anos em 30 de janeiro de 2007)
está na Livro Sete autografando o seu novo livro. A fila é enorme! Engraçado é que os fãs aguardam pacientemente o autógrafo por ser uma celebridade. Até agora já foram vendidos mais de setecentos exemplares. Tarcísio está é contente. Socopode !

No escritório dos Medeiros, o novo delegado de polícia com os investigadores Sicrano e Beltrano reexaminam o inquérito que fora devolvido pela promotoria de justiça. No inquérito havia muitas falhas: testemunho de um cachorro, que serviu até de gozação pela opinião pública, mensagens pela internet sem provas materiais, etc. Getúlio havia alertado ao então delegado encarregado das investigações. Getúlio, um detetive antigo, foi logo solicitado junto com o seu filho Medeirinho, para orientar o novo delegado nas investigações. Depois que veio o testemunho do Dr. Fróide, que até então estava como suspeito, mudou toda a linha investigativa. A questão agora era o tiro, impossível de ter partido da janela do médico.

- Cada qual cita um e-mail, depois analisaremos. Ou melhor, na proporção que nós vermos os mais importantes até mesmo um de nós poderá juntar alguns. Vamos para as palavras chave: “Quem é Deus?”, de José Azambujanra. Carmem elogia aqui o texto e é taxativa em dizer que Deus não tem nada com isso. – disse Getúlio.
- Trepidante, idem: “Belo texto, Azambujanra. Faz indagações precisas e maduras”. – disse Medeirinho.
- Poeta: “ É exatamente isso! Deus pode ser resumido com esta palavra amor...” – disse Delegado.
- Paulo: “Não discordo de você. As religiões foram usadas por grupos poderosos... Humildemente acredito num poder superior” – disse Sicrano.
- Para não ficar muito cansativo, vamos ler em silêncio. Estamos agora na carta de São Paulo...

Getúlio Medeiros reinicia analisando “Quem é Deus?”Em sua opinião não tem nada a ver com o que vem acontecendo, no que todos concordaram. A segunda palavra chave: Kakuyumi. Analisando, Azambujanra só fez animar o grupo com o seu jeito de ser.

- Vamos para outra palavra chave?- disse Getúlio, dando continuidade ao trabalho investigativo.

Disparo Cósmico, 17 de outubro. Antes Azambujanra brincou com o pessoal, mas resolveu ir ao Acaiaca em Boa Viagem e ninguém do grupo foi. Azambujanra revoltado diz: Hipocrisia Total. Que inclui todas as partes ou elementos... O fingimento conseguiu a participação total dos hipócritas... e se despediu com a primeira Epístola de João 4:20e21. Analisando, todos acharam que realmente foi uma total hipocrisia. Mostraram que não queriam mais a permanência de Azambujanra no grupo. Faltaram ao encontro no Acaiaca. A Escrevinhadora tomou a “hipocrisia total” para si, chegando a pedir por favor que este não lhe dirigisse mais a palavra. Mostrou assim ser mais importante para o grupo pelo simples fato de ser uma religiosa, ao contrário de Azambujanra. A poeta Carmem, mesmo, antes havia passado um e-mail no qual dizia que andava muito estressada e acaba soltando muitas besteiras que não justifica de qualquer modo, que considera Azambujanra como ótima pessoa, imprescindível ao grupo e que preza bastante a sua amizade. O detetive Getúlio e o seu filho continuaram com suas averiguações. Os exames balísticos davam conta que a arma do crime do Bêbado do Beco era a mesma que o pescador havia entregue.

- Vejam bem, na minha opinião o pessoal do grupo deve ser inocentado, pois só vi assunto piegas, aquelas besteiras provocadas pelos contos imaginários de Azambujanra. Assim mesmo foram unânimes solidários a Maria Escrevinhadora. Não tiveram a tolerância e o respeito às histórias e idéias de Azambujanra. Será que tolerariam um Saramago? Como prova está aí para o grupo fazer um estudo literário sobre a obra de Ghost Writer. Nós, às vezes, ficamos muito seguros do nosso aprendizado e de tudo que aprendemos quando éramos jovens inexperientes, perdendo o trem da história. Porque o trem jamais deixará de existir, ao contrário, vem acompanhando o progresso: metrôs, et cétera... O trem sempre está em movimento. Não devemos perder esse trem de jeito nenhum. – disse o detetive Getúlio.
- Reiki é uma palavra japonesa que significa “Energia Vital Universal”. Azambujanra está escrevendo um romance policial no dia do “Disparo Cósmico”. Tomou umas cervejas no Pra Vocês acompanhado de uma linda japonesa parente de... – pensou um momento Medeirinho.

Getúlio então rapidamente fez uma reflexão sobre o pensamento do filho: quem será essa japonesinha? Azambujanra deve explicações!
- É esta a palavra chave, com certeza. – disse Getúlio.

Dr. Fróide recitava com fervor aonde iremos nós?

AONDE IREMOS NÓS?

(...)

Secretária providenciou amarrar a corda numa barra de ferro em forma de elo, chumbada à parede do escritório do médico. Ela deseja manter relação sexual com o psiquiatra, com ele sentado na janela de costas e com a corda nos pescoços de ambos. Combinados para o gozo anormal, chega a hora do orgasmo espiritual de ambos Secretária sente uma sensação muito agradável ao retirar do seu pescoço aquela maldita corda e empurra o médico, que cai dependurado, arrebentando os zincos da cobertura do Beco.

No Botijinha próximo ao Fiteiro do Poeta, estavam sentados às duas mesas juntas Xexéu, Trepidante, Dom, Vera e Desblog, todos bebericando de contentes e decepcionados com a falta de segurança no grande Recife.

- Aqui só vai na ditadura! – disse o poeta Xexéu.
- Não concordo, pois nos anos sessenta muitos colegas de ginásio, semi-analfabetos, estudaram nos colégios “Pagou Passou” e muitos se formaram. Quando houve o golpe militar de sessenta e quatro, esses mesmos incompetentes foram beneficiados pela safadeza, acobertados pelos perversos militares. Enquanto isso, fomos torturados pelo regime.É isso que a gente está vendo aí! Advogados entrando com petições “data venha”, em vez de data vênia! (Risos) – disse o poeta Trepidante.
- E os que não aderiram àquela imoralidade foram perseguidos como subversivos. – disse a poetisa Vera.
- Vejam bem, e não é somente no grande Recife. A insegurança está no nosso Brasil como um todo. Rio e São Paulo estão aí como exemplos nacionais. – disse o poeta Dom de la Mancha.
- Mudando de pau pra cacete, dizem que a situação do doutor Fróide não é muito boa, não. Vocês sabem de alguma coisa? – perguntou a poeta Desblog.

Foi manchete nos jornais do mundo todo o enforcamento do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, morto no dia 30 de dezembro. Na mesma data, dr. Fróide pressionado pelo novo delegado de polícia para que contasse o que sabia se suicida com um alfarrábio na mão do seu xará Sigmund Freud. Saddam Hussein foi enforcado com o Alcorão na mão. O enforcamento do dr. Fróide foi suicídio, não foi um disfarce de homicídio. Os peritos constataram que as lesões causadas pela corda apresentavam as mesmas características de reações dos ferimentos nos vivos. A corda tomou a posição diante do osso hióide, que fica entre a laringe e a base da língua. Nos falsos enforcamentos, nem sempre isto se verifica.

Manchete nos jornais:

SUSPENSÃO TOTAL DOS VÔOS NO AEROPORTO INTERNACIONAL DOS GUARARAPES.

Suspensas todas as operações de pouso e decolagem...

Os Medeiros já vinham investigando quem era a secretária do médico. E agora, preocupados, passaram a investigar também quem era a japonesa da família de Takuku Nakara. Com a morte do dr. Fróide a polícia, junto com os Medeiros e com ordem judicial entrou no escritório do médico. Os detetives não estavam acreditando em suicídio. Tinham que descobrir quem era a secretária do médico e a japonesa do dia do Disparo Cósmico! Getúlio, afastando o cortinado, descobriu uma porta que dá acesso ao apartamento vizinho da direita. Imediatamente procuraram saber quem morava naquele apartamento, justamente era o da janela que dava para o Beco, com folhas de zinco soltas, num ângulo indicado pela polícia técnica que via totalmente de onde o tiro partira no assassinato do poeta Príncipe. Chamam pela campainha e ninguém atende. A porta é derrubada e quando os policiais com os detetives entraram viram com surpresa mortos Secretária e o escritor JoséAzambujanra, ambos assassinados. Azambujanra estava com alguns manuscritos na mão esquerda, que continham uma carta na qual confirmava ser a japonesa sua acompanhante até o Pra Vocês no dia dezessete de outubro. Nas paredes repletas de fotos emolduradas estava uma grande moldura com foto do casal de japoneses, provavelmente amantes. Incontinenti, o detetive Getúlio se comunica com a Central de Polícia para a captura do japonês.

Takuku Nakara ao pegar o metrô na Estação Central do Recife, com destino à Rodoviária, pressentiu a polícia militar e a federal no seu encalço. Atrás do capote, munido de uma metralhadora INA, privativo das Forças Armadas, abriu fogo como um louco, causando pânico na Estação Central, muita correria pela plataforma e corredores da estação. A meninada à apanhar as balas de hortelã que caia do casaco preto do japonês. Seis policiais trocaram tiros com Takuku. Nenhum policial ficou ferido.

O povo:

- Socorro...
- Esse japonês é um doido varrido!
- Aí só vai com o Exército, esse japonês está completamente louco.
- Deve ser um neurótico de guerra.
- Deixa essas balas pra lá, menino!

Após tiroteio com a polícia, Takuku se matou.

Enquanto isso, no apartamento do casal Medeirinho observa o livro “Corações Sujos”, de Fernando Morais, na cabeceira da cama, todo manchado de sangue e com duas páginas arrancadas (65 e 251), machucadas e sujas de sangue:

“No começo de 1944 o chefe do serviço secreto do DOPS, delegado Geraldo Cardoso de Mello, soube que um delegado da região de Marília tinha prendido o agricultor Shobei Yassuda, acusado de ameaçar de morte os japoneses que se dedicavam à plantação de hortelã e ao cultivo de bicho-da-seda. Com sua enorme barba branca, que lhe dava a aparência de um pacífico monge, Yassuda prometia matar quem produzisse a matéria-prima que, segundo ele, ‘estava sendo utilizada pelos Aliados no esforço de guerra’. O bicho-da-seda criado no Brasil, diziam, seria exportado para a fabricação dos para-quedas dos soldados aliados. Para dissuadir os plantadores de hortelã, circulava pela colônia um confuso folheto escrito em japonês, intitulado Hakka Kokuzokuron – ou ‘Teoria de traição à pátria pelo cultivo de hortelã’, cuja autoria ora era atribuída a ‘um químico alemão’, ora a um certo ‘dr. Sentaro Takaoka’. Uma das cópias caiu nas mãos da polícia (...) Segundo a polícia, o folheto estava sendo distribuído em todo o estado por uma organização clandestina chamada Sokoku Aikoku Sekiseidan (...) A sucessão de crimes da Shindo Renmei fez com que os japoneses saltassem das páginas policiais para o austero plenário do Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro, onde desde fevereiro estava reunida a Assembléia Nacional Constituinte, eleita para redigir a nova Constituição brasileira (...)”

Isso despertou interesse em Medeirinho, que mandou de imediato o soldado comprar na Livro Sete “Corações Sujos”, para ler com calma a reconstituição da aventura da Shindo Renmei, a mais sangrenta página da história da imigração japonesa.

Quando Getúlio chegou à rua do Hospício, entrou no Beco da Fome e saiu na Sete de Setembro e foi direto ao estabelecimento de Tapa Nakara. Restava verificar se realmente existia uma organização para assassinar os poetas e escritores brasileiros. No relatório dos Medeiros constava:


“(...) A sociedade brasileira livra-se dos perigosos assassinos que estavam infiltrados na internet. Os trabalhos não foram difíceis mas, também, não foram tão fáceis assim. Alguns do Grupo de Poetas e Escritores inocentemente se envolveram por achar Azambujanra um ateu, sendo perigoso e, realmente, como já havia constituído inimigos por não ter religião, seria arriscado estarem juntos com ele. Foram assassinados (...).
Tapa Nakara foi preso e responderá processo em liberdade provisória, pois é comerciante estabelecido na Sete de Setembro, estando considerado também inocente igualmente aos do grupo dos escritores e poetas.

É fevereiro Carnaval do Recife e Olinda. Olha quem está no desfile: os bonecos Doktor Fróide, O Pai do Chupa, José Azambujanra, Poeta Príncipe, Zé Preto, Getúlio Pai et Filho..., acompanhando as troças carnavalescas, e o maracatu Barco Virado, com seus personagens, batuqueiros carregando um barco virado, a darem batidas ritmadas... Porta-estandarte, mestre, rei, rainha, mateus, catirina, baianas, menina da boneca, bandeiristas, burra, caçadores e “cabocolinhos”, com as cabeças adornadas de fitas coloridas, óculos escuros, cravo-flor na boca, lanças enfeitadas com fitas e roupas espelhadas com chocalhos nas costas, que chamavam atenção de todos. Encontrando-se com o Clube Carnavalesco “Toureiros de Santo Antônio”, acompanhavam também o bumba-meu-boi, la-ursa, vaca braba, caçarola, até meio-dia (de Casa Amarela), pé-de-quenga, bagaço em folia, mão de vaca, lá vai ele, os dominados, maracangalha, bode cheiroso(de Jaboatão), cavaleiro do luar com o homem morcego (de Paudalho), urso pé-de-lã...

- O urso quer cagar!
(Risos)
- A laursa é de Portugal
Quer brincar o Carnaval...
- Este urso veio de Portugal
Tem os culhões grandes
Quer brincar o Carnaval...

KKKKKKKKKKKKKKK...


Recife (Campo Grande). Pernambuco-Brasil,
            Outubro, 2006/fevereiro, 2007.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Prólogo do livro: "Os Pacientes do Doutor Fróide"



Prólogo do livro: "Os Pacientes do Doutor Fróide"


Ligado na Internet, José Azambujanra passava praticamente todo o dia em seu escritório. Mais das vezes, tarde da noite, acessava o site do seu grupo na Web. Sempre que possível, freqüentava o sebo da rua da Roda. Desde os tempos de estudante procurava os sebos do Recife. Quanto mais agora, aposentado. Aí, então, tinha tempo de sobra. Mas, o que mais o prendia ao seu escritório era mesmo a Internet, quando se comunicava com o seu grupo. Infelizmente, a sua permanência no grupo começou a dar errado, quando Carmem enviou um e-mail no qual pedia desculpas por ter sido indelicada, achando-se imperdoável, por andar muito estressada, et cétera e tal.Uma semana antes houve um convite de um internauta para um “disparo cósmico”, que iria acontecer no dia 17 de outubro.

O telefone tocou. Foi Azambujanra quem atendeu:

- Alô.
- Doutor Azambujanra?
- É ele.
- Um momentinho, doutor. – disse a secretária do doutor Fróide.
- Olá, Bujanra, aqui é Fróide. Pelo que me consta, Bujanra, a proposta é de nos encontrarmos no dia dezessete, às dezessete horas em frente ao Edifício Acaiaca, na praia de Boa Viagem. Depois, pode até rolar umas louras suadas, que ninguém é de ferro. Vai encarar?
- Como você está sabendo? – perguntou Azambujanra.
- Eu acompanho os meus clientes. Alguns até são seus amigos, Bujanra! Meu mailing, hoje, tem mais de dez mil endereços. Tenho o endereço de todos os meus pacientes, por isso não deixaremos de nos comunicar. Estão pensando que você é ateu. Eu já expliquei que o escritor cria personagens diversos, não tem nada a ver. Esse pessoal deve se cuidar, estão com problemas e sérios. Lendo, estudando e analisando todas as mensagens, cheguei à conclusão de que você está sendo vítima de uma inveja sem procedência.
- Não é o que eu lhe disse?
- Exatamente. Com esse avanço tecnológico da informação, atualmente alguns dos meus clientes são internautas. Estou tratando-os separadamente. Antigamente quando alguns radiotelegrafistas ficavam com problemas psíquicos, misturavam-se com os dependentes químicos. O tratamento era à base de internamentos nos hospitais psiquiátricos. Agora nós temos outros meios: são as fazendas doadas por entidades filantrópicas, que se dedicam ao tratamento e recuperação de drogados.
- Eu lembro. Na Casa de Saúde, mesmo, tinha um colega internado que era radiotelegrafista. Com o uso obrigatório dos fones nos ouvidos, recebendo descargas sonoras, ele ficou com problemas neurológicos. Na época denunciei o Sistema ... – entrecortou dr. Fróide – Se você for omisso em aceitar calado tudo isso, como o nosso Brasil irá reverter esse quadro? Bom, mudando de assunto, como vai o inquérito policial?
- Anda muito confuso, fica difícil... quanto o trintoitão da Carmem, já me comuniquei com os detetives Getúlio e Medeirinho.
- Foram eles que desvendaram o assassinato das estudantes Maria Clara e Thaís Evangelista . – disse doutor Fróide.
- Getúlio e Medeirinho estão checando todas as mensagens do grupo...

O Autor.

sábado, 10 de março de 2012

Recife, 475 anos de história

                                                      imagem google


Recife, 475 anos de história*


Em comemoração aos 475 anos do Recife, amanhã (domingo), véspera do aniversário do Recife, a Av. Rio Branco (Bairro do Recife) vai realizar um minidesfile com a escola campeã do Rio de Janeiro, a Unidos da Tijuca, junto com a campeã do Recife Gigante do Samba e com o Clube Carnavalesco o Galo da Madrugada, que sai nos carnavais, arrebanhando uma multidão incalculável. 
Vale lembrar que aqui existia o “Cais do Chupa”, antigo Areal, próximo ao “Cais do Abacaxi”, atual Cais de Santa Rita (O Pai do Chupa-ed.1995). Também existia a estação ferroviária do Arrayal em Casa Amarela. Isto na época em que ali passavam os trens da antiga Great Western.

Hoje a Av. Norte Miguel Arraes de Alencar, a maior avenida da cidade do Recife, é classificada de acordo com a lei de uso e ocupação do solo da cidade do Recife como um corredor de transporte urbano principal, tendo por função específica ligar áreas ou bairros da cidade. Os caminhos que vieram a formar a atual Av. Norte não remontam de um passado muito distante, uma vez que no século 19, idealizava-se ligar Recife a Limoeiro (cidade da mata norte do Estado).

Assim, em 1879 iniciaram-se os trabalhos da construção da Estrada de Ferro do Limoeiro, a qual foi inaugurada dois anos e meio depois. Este caminho media aproximadamente 83 km; a estrada de ferro parecia ser propriedade particular das famílias inglesas que moravam no Recife e se deslocavam para o interior.

Nos anos 20 a estrada do Limoeiro já era conhecida como Av. Norte, porém ainda sendo uma linha férrea. Em 1952, os trilhos da avenida foram levantados e sua pavimentação teve início cinco anos mais tarde. Quando houve esta transformação, a população dos arredores da avenida já era bem densa, inclusive os morros que a acompanha.


A partir dos anos 30 do século 20, os morros passaram a serem vistos como áreas propícias para a ocupação por pessoas de baixa renda que estavam sendo expulsas do centro da cidade. Entre as décadas de 30 e 40, o governo promoveu a remoção de mocambos que ocupavam os mangues do centro da cidade, conseqüentemente essa população passou a ser transferida para os morros da zona norte que, até então, eram subocupados.

Um fator importante para a ocupação dos arredores da Av. Norte foi a Feira de Casa Amarela. Muitos feirantes vieram do interior do Estado e passaram a morar nos morros, sobretudo no Morro da Conceição . Como também a Fábrica de Tecidos Othon, mais conhecida por Fábrica da Macaxeira. Esta instalou-se no início do século 20 às margens da Estrada de Ferro do Limoeiro devido à facilidade de transportes de mercadorias e matéria-prima. Em função da fábrica foram criadas as vilas operárias, para instalação dos seus trabalhadores, o que contribuiu bastante para a ocupação da parte norte deste eixo.

A padroeira de Casa Amarela, a Virgem Santa Isabel, era uma capela à subida da Rua Santa Isabel, demolida em 1959. A Santa foi removida para o Alto do mesmo nome.
Existia também no Brum uma antiga capela do Corpo Santo. Quando foi retirado o Altar, se instalou a Sala Telegráfica da Gretueste, com o então prefixo de CS (Corpo Santo). Após a derrubada, a sala telegráfica foi transferida para a Estação Central do Recife.

Resgatando a nossa cultura, não confundir com a então Matriz do Corpo Santo, demolida a 06/03/1913, para a ampliação do Cais e modernização do bairro do Recife.
* Obs.: Não se sabe a data certa da fundação do Recife. Foi escolhido como data, o dia 12 de março de 1537).

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulher

                                                 

Mulher*

 
Por José Calvino 


Mulher, mulher
Se não fosse a mulher
O que seria de nós?

Mulher, mulher
Se não fosse o homem
O que seria de vós?

Mulher, mulher
De qualquer idade
Agarra o teu homem
E viva a sociedade!


*Recife/2010 - Extraído do livro: "Fiteiro Cultural", p.39 - Edição do autor.