sábado, 19 de setembro de 2015

Casa Amarela


Casa Amarela

Por José Calvino


No passado,  Casa Amarela era considerada o bairro mais populoso do Recife, mas, lembro-me bem como a minha Casa Amarela era tranquila e animada! Com a reestruturação política, em 1988, o saudoso bairro perdeu toda sua área de morros..., exceto o Alto de Santa Isabel, acredito ser por  sua padroeira (vide (1)* “Casa Amarela”- III estrofe), enquanto os demais foram elevados à categoria de bairros. Sobretudo, destaco o Morro da Conceição e Alto José do Pinho, que sempre eclodiram em efervescência cultural. São movimentos independentes, verdadeiras riquezas culturais, com a participação de alguns de seus habitantes. Sem apoio dos órgãos competentes aos eventos locais, como consta nas crônicas, livros (livretes), CD’s, etc. Este ano (2015), surge agora um projeto da Prefeitura do Recife em parceria com a Fundação Gilberto Freyre, que contempla a Zona Norte no mapa turístico do Recife, previsto para acontecer até dezembro. Mas, até agora isto não saiu do papel. E, sem pessimismo, ao meu ver estão querendo é aparecer, pois a realidade deve ser dita face a qualquer propaganda enganosa. É o meu papel de escritor e de cronista social, defendendo a liberdade de opinião, pois estamos cansados de tantas promessas dos governos municipal, estadual e federal.

Enfim, termino esta crônica com a música Casa Amarela:

Casa Amarela
 I
Recife cidade linda
De uma natureza infinda
Do nordeste do meu Brasil
Tens um subúrbio afastado
Por Deus belo abençoado
Com tantas belezas mil:
II
Casa Amarela, ô,
Casa Amarela
Terra das morenas belas
Onde nasceu a minha ilusão

Casa Amarela
Não é por ser onde moro
É o lugar que eu adoro
Com todo o meu coração.
III
Tem na subida da ladeira
Uma santa padroeira
A virgem Santa Isabel  (1)*
Onde o sambista apaixonado
Faz seu samba ritmado
A saudação a Noel.

Onde o sambista ritmado,/ com seu pinho acompanhado,/ faz sua oração fiel.
(de minha autoria anos 60).

Nota - Casa Amarela - I estrofe de minha autoria, acrescentado anos 60. Outras estrofes eram de domínio público (anos 50), em Casa Amarela p. 112 do livro: “Miscelânea Recife”, ed. 2001.



quinta-feira, 17 de setembro de 2015

X BIENAL DO LIVRO DE PERNAMBUCO


X BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO – PERNAMBUCO -
(de 02 a 12 de outubro de 2015)
Local: Centro de Convenções Olinda-PE
Relançamento do livro “Jesus” e do CD “Miscelânea Recife” (mistura do que existe para presente e futuro).
Apoio: Fiteiro Cultural.

ATENÇÃO:

O CD TERÁ DISTRIBUIÇÃO GRATUITA!

   

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

"Ordem e Progresso"?


“Ordem e Progresso”?

José Calvino

Primeiro é uma consideração
(eu respeito)
as massas precisam aprender.

Vamos pra frente
(eu entendo)
que se alastra, que será resolvido
as ideias claras a respeito.

Será ignorância?
(eu tenho pena)
calma que silencia.

Minha arma é a caneta
minha tranquilidade permanece
impávida...
a uma ação, ou comportamento.

Não é de hoje
não cabia.
Deveria.



A poesia acima, “Civilidade”, não é caso isolado. Não pretendo aqui, jamais, tomar partido político ou religioso, mas que no Brasil sempre houve conluio entre os poderosos, num circulo vicioso  financiado por empresários e banqueiros, ah isso sim! 

O que eu observo em geral  é que há um punhado de pessoas formadas, muitos até se glorificam de terem sido graduados pela Universidade Federal, sobretudo advogados(as), mas que colocam  nas petições: “data venha”, “mês de abriu”, "apois", “treis”..., isso não é uma vergonha? Nos forum, por exemplo, eu tenho ouvido e visto  respostas cínicas de muitos funcionários folgados e preguiçosos, transmitindo mentiras sobre a morosidade da justiça, que age com conivência com o governo e com os grandes empresários. A justiça deve ser exercida com imparcialidade. Pergunto mais uma vez, cadê a lei à qual se deve obedecer?, ou a justiça é só para alguns, mas é conivente com outros, a exemplo das grandes empresas e do próprio governo?, este que deveria dar exemplo.

Quem não se lembra do então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que foi considerado “herói” por condenar os réus do Mensalão? A prisão dos condenados no processo, às vésperas do feriado de 15 de novembro de 2013, proclamação da república? Isso, a meu ver, é querer aparecer e  só um imbecil que não tem consciência do que se mostrava pela imprensa escrita, falada e televisada para não perceber. O STF já vinha sendo visto pelo público televisivo como uma casa de espetáculos no período do julgamento.

É bom lembrar que em 2008, quando o País recebeu o selo de bom pagador, o ex-presidente Lula disse: “O Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias...”, ao contrário do que diz a conhecida  frase criada por Charles De Gaulle: “Le Brésil n’est pás um pays sérieux” (O Brasil não é um país sério).

Realmente, não é um país sério, mas a ameaça que  sempre pairou por sobre a América Latina agora também atinge o primeiro mundo, com a informação ultimamente publicada e divulgada, nos meios de comunicação internacionais: “1/4 da população da União Europeia vive em risco de pobreza e exclusão social.” Some-se a tudo isso essa agora de rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de riscos Standard & Poor’s (S&P). E para tentar conter a crise política e econômica do País, a presidenta Dilma Rousseff anuncia que vai “apertar o cinto”, como fez o então ministro da Fazenda Delfim Neto (ditadura militar), no Governo Médici, que não beneficiava as classes trabalhadoras, e sim, mais piorava a vida do povo brasileiro. O que sei é que os ricos ficaram cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. Reafirmo, a ditadura foi perversa. A distribuição de renda, na verdade, era dificultada pelo regime militar, que não permitia nenhuma greve (não havia sindicato), nem o Congresso tinha força e nem se responsabilizava. Era uma ditadura difícil para a vida dos trabalhadores de um modo geral! Então, uma pergunta deve ser feita: afinal, quem está com a verdade? A presidenta da República, o Congresso ou os comandantes das Forças Armadas?   

        

    


quinta-feira, 3 de setembro de 2015

"Independência" II



“Independência”II


Por José Calvino



Não havia quem não reconhecesse que Azambujanra estava sendo muito bom para aquela gente pobre e sofrida da favela. Já estava com suspeitas de prestar esse assistencialismo beneficiando algum político. Não tinha conselho que resolvesse, mas o seu amigo escritor, experiente, o corrigiu. O problema maior de Azambujanra era a bebida alcoólica e cigarros. Quando sentava à mesa de um bar, não se controlava e se embriagava. Gostava muito de contar historietas e ensinar aquela gente, o quê?, que a bebida e o cigarro são as piores drogas?

Enquanto isso, aqui no Brasil, em 2013, quando houve a onda de protestos contra corrupção, o governo (sic) desembolsou R$ 4,7 milhões com produção e publicidade do Sete de Setembro. A meu ver, o povo não deveria comemorar. Comemorar o que? Quem não se lembra quando o padre italiano Vito Miracapillo (1), foi expulso do Brasil, por haver denunciado que os trabalhadores brasileiros não tinham nada a comemorar no dia da “independência”, fazendo assim uma alusão à penúria vivida por milhões de pessoas que não tinham condições de dignidade, respeito e liberdade.

Se é para preservar a imagem da presidenta Dilma Rousseff e das autoridades convidadas para o evento, seria melhor então que o mesmo não fosse realizado. Em vez de desfiles de tropas militares, que tal, mais arte e cultura?


(1)       – Trinta e um anos depois de sua expulsão do Brasil, o padre italiano Vito Miracapillo conquistou finalmente seu visto permanente, que confere ao religioso o direito de voltar a residir no Brasil.



quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O Sonho II


O Sonho II
Por José Calvino

Luiz Carlos ao regressar do trem da tarde, durante o percurso de Recife à sua cidade natal, sentado num dos bancos de encosto-móvel-de-vime, observava pela janela o velho gasômetro, o parque do Exército e a favela do Coque. A “Maria Fumaça” arrotava faíscas de sua fornalha, caindo nos olhos dos que se atrevessem a por a cabeça do lado de fora, geralmente as crianças. A loco apitava sucessivamente ao passar antes dos cruzamentos de automóveis, soltando fumaça em desenhos, através de sua chaminé, deixando pela linha à fora um cheiro saudoso do carvão-de-pedra. Desfilavam os postes com os seus fios telegráficos e as placas em vermelho, com letras brancas, advertindo: P.N. APITE PARE OLHE-ESCUTE.

O trem já passava da estação de Lacerda. Luiz dormia. Inicialmente, sonhou sendo preso como comunista, por ter participado de um comício de Prestes, conhecido como “O Cavaleiro da Esperança”. Este sonho era como um aviso profético, que futuramente haveria de se realizar. O local esquisito era como o “Buque” da Chefatura de Polícia. Ora parecia com um quartel da Meganha, onde fora humilhado, colocado na solitária. Aquele sonho parecia real! No isolamento via elementos, da própria polícia, presos sendo maltratados e marginalizados pelos próprios companheiros. Ouvia dizerem aos policiais-presos:
- Vão ser excluídos e entregues à Polícia Civil, transferidos para a Casa de Detenção junto com esse civil safado!

A promiscuidade com os presos de diferentes classes era ridícula. À proporção em que sonhava já se sentia na Casa de Detenção do Recife com seu companheiro José, taxado como pivô das greves e passeatas dos ferroviários, preso como comunista por contrariar as leis...
- Isto é uma loucura, eles só sabem fazer leis e não dão os nossos direitos. Me matem!
- Luiz Carlos ultimamente chegava em casa sempre embriagado. Já trêmulo, vocês não viram? Não tinha mais forças. Sua morte caminhava lenta. E o futuro carnaval que pensava brincar à sua maneira, foi a do “suicídio lento”, sufocando-se na bebida e no fumo! A meu ver as bebidas alcoólicas deveriam ser com prescrição médica como são com os medicamentos que um paciente ou animal deve tomar  assistido e orientado por psicólogos(as) e psiquiatras, com uma rigorosa fiscalização da prescrição. – disse Jane  advogada dos ferroviários.

Finalizando esta crônica, até porque  como escritor é meu dever transmitir aos leitores (principalmente aos jovens) as minhas experiências, apresento o poema que está sendo bem comentado, sobre esta triste realidade: 

O que eu quero lhe informar



Sai de casa para beber e fumar.
É melhor sempre olhar pro mar,
Também é bom amar,
Fazer o bem e chamar
E à risca do povo aclamar
Que ao de tudo de bom provar
Algumas coisas só fazem é prejudicar.
Eu quero apenas lhes informar:
A bebida faz embebedar,
O fumo faz poluir o ar
E ambos só fazem drogar
Ou morrer mais depressa, continuar...

Nota – Alguns trechos extraídos do teatro “Trem da Vida” e do livro “O ferroviário” – Cap. IV, pp. 39-43. Ed. 1980.