sábado, 28 de junho de 2014

Trem & Trens II


Trem & Trens 2

 Por José Calvino



ATO II

CENA I

CENÁRIO – O mesmo do primeiro ato.

ANOS 60:

Ao abrir-se a cortina, pela metade, devagar, é noite e se vê a Estação fechada. Flávio, envelhecido, de barba, deitado num banco da plataforma, sendo acordado por um meganha com uma lanterna iluminando o seu rosto. Chuta-o, com o bico do coturno.

MEGANHA (Arbitrário) – Não tem casa não, matuto?

FLÁVIO (Transtornado, passa as mãos na barba, limpa os olhos com as costas da mão, com o rosto encandeado pela ilumiação da lanterna que o meganha lhe dirige)- Ahn?!

MEGANHA (Irritado) – Vamos, seu porra velho... (Chuta-o outra vez e pega Flávio pelo colarinho, erguendo-o e lhe alumiando  novamente o rosto).
FLÁVIO – Ahn? (Abre a boca sem sono) Ah...Ah... diga, seu guarda.
MEGANHA (Fulo da vida, joga-o do banco abaixo) – Guarda uma porra...
FLÁVIO (Admirado, tranquilamente levanta-se) – Perdão, não sei o que dizer...(Pejorativo)... desculpe, seu polícia!
MEGANHA – Têje preso (Empurra Flávio, que cai na Plataforma, dando-lhes outros chutes e Flávio sai rebolando pelo chão. O guarda o pega pelos cós da calça, no cinturão). Vamos, “fila da puta”!
FLÁVIO (Espantado, noutro tom) – Eu sou ferroviário... me solte, pelo amor de Deus, pelo amor que o senhor tem à sua mãe.
MEGANHA (Tira as mãos do cinturão de Flávio, surpreso) – Como?
FLÁVIO (Tranquilamente, limpa a roupa e passa a mão na barba) – Sou telegrafista e quando amanhecer o dia estarei indo a uma reunião, lá no Sindicato...
MEGANHA (Baixo, a Flávio) – Olha, meu velho, vou soltá-lo, veja bem... (Temendo perder o bico) ... sou casado e novato na Companhia e não quero perder esta “boca” (Cria coragem). Se eu perder, ajustará contas comigo, está ouvindo, velho?
FLÁVIO  (Benévolo) – O senhor não se preocupe. Eu sei o que é isso e que a culpa não é do senhor...(Parodiando João Cabral de Melo Neto) “Hoje, o grande doente é o Brasil, com mais fome, mais violência e mais doenças”. Até, amigo!

Saem pela plataforma abaixo. A cortina abre-se totalmente. O meganha gesticulando para Flávio pausadamente, pára e depois ambos seguem seus destinos, desaparecendo. Enquanto isto, na Rotunda, telegrafistas ferroviários vão se reunindo, conversam juntos com estudantes jovens em geral).

2º TELEGRAFISTA – Os ferroviários irão entrar em greve no dia 21 à zero hora.
3º TELEGRAFISTA – Vamos lutar. A gente só é telegrafista na licença do trem, mas no ordenado somos G-5, “golinha”, “rola-voou”, et cetera.
4º TELEGRAFISTA – Nós não somos considerados do quadro. Estão chamando a gente até de “amostra grátis”! É um verdadeiro trem de apelidos...
5º TELEGRAFISTA – A minha carteira do Ministério do Trabalho se encontra na Inspetoria há dois anos!!!
6º TELEGRAFISTA – A reunião tem é pouca gente, né?
7º TELEGRAFISTA – É medo de perder o emprego, e quem mora na casa da Companhia, aí já viu, aceita e concorda com tudo. Eles enganam direitinho.
2º TELEGRAFISTA – Será que vai dar “QRM”, na greve?
2º SINDICALISTA – Vamos reivindicar tudo isto: bom salário, etc...
3º SINDICALISTA – A reunião no Sindicato é contra o pessoal do “Trem do Chaleiras”, que querem furar a greve como na outra vez. A gente se encontra lá (Sai).
Flávio (À platéia, em voz alta) – Vamos ver se o Sindicato desta vez funciona. Vocês devem se unir e votar no nosso candidato...

Aplausos

Platéia

JOVEM CABELUDO (Entra com a bandeira do Brasil, revoltado) – Era bom uma greve geral moralizada, para dar uma lição no “Trem dos Corruptos”.

Vozearia

VOZES – Viva, viva!!!

PLATÉIA (Exalta-se novamente).

Obs: Quanto à provocação e participação da platéia, o critério deverá ser da direção , se julgar conveniente.

Ouve-se o silvo tradicional da “Maria Fumaça”

“O trem”

TREM DE CARGA – Café com não? Bolacha não
                                     Café com não, café com não.
                                     Bolacha não...

Trem de carga ao parar.

Fumaceira

                                     FECHA A CORTINA

                                              Cena II

CENÁRIO -  O mesmo das cenas anteriores.

Ao abrir-se a cortina, Flávio aparece bem vestido e barbeado, com líderes sindicais sentados em uma mesa redonda, na sala do Sindicato. Alguns entram (A quantidade fica a critério da direção).

Pausa

FLÁVIO (Presidindo a mesa, no comando da greve) – Na primeira greve negociamos os 40%. Agora, vamos colocar piquetes em todas as oficinas, principalmente na de “Moscouzinho” (JÁ - Jaboatão) e Werneck ( EW- Edgar Werneck). Vamos reorganizar as nossas bases, companheiros.
LÍDER 2º (Levantando) – A nossa sorte depende do apoio da Igreja, que não tivemos na primeira... (Senta).
LÍDER 3º (Levantando) – É isto aí, na outra vez de igreja brasileira só teve o padre do 14RI, que apoiou a nossa greve (Vide “Moscouzinho), colocando a bandeira do Brasil na linha do trem...(Senta).

Pausa

LÍDERES – “Vamos distribuir panfletos...”
                    “ No jornal deve sair esta matéria...”
LÍDER 4º (Levanta) – Agora nós entendemos de lei trabalhista. Não será como naquele tempo, que as carteiras profissionais eram assinadas quando eles bem queriam (Senta).
LÍDER 5º (Levanta) – Temo que enfrentá a poliça com pau e pedra (Senta).
LÍDER 6º (Levanta) – Até mesmo com o sacrifício da própria vida (Senta).
LÍDER 7º (Levanta) – Eu não tinha direito a Instituto e a minha esposa deu à luz na indigência. Eles me pagam...(Senta).
FLÁVIO (Corta. Levanta acompanhado pelos demais) – Então companheiros, estamos combinados. Faremos tudo para o bem de nossa nação (Levanta o braço direito com o punho cerrado). Atenção: meia noite em ponto!

Retiram-se, conversando um por um, com vozes inaudíveis.
Pausa.
Silêncio.

                                                      FECHA A CORTINA

                                                           CENA III

CENÁRIO – O mesmo das cenas anteriores.

Ao abrir-se a cortina já é dia vinte e um de agosto. Militares (Uniforme: brim verde-oliva, capacetes, mosquetões...) e PMs (Fardamento : brim cáqui ruço, armados cassetetes tamanho família). Encontram-se na Rotunda, junto a patrões e empregados (Os empregados, em maioria, de macacão e alguns com bonés).

Vozearia dos grevistas.

CAPITÃO (Uniforme idem, capacete com três estrelas, idem sobre as platinas. Voz alta) – Silêncio! (Com a mão no revólver) Tenham calma... (Noutro tom) quero falar com o comandante de vocês.
FLÁVIO (Com ar espantado, se apresenta) – Pronto!
DOUTOR CORK (De chapéu, prepara o charuto, tira o selo do meio, lambendo-o bem e morde a ponta, pondo-o na boca, entre os dentes. Acendendo-o, benigno, para os grevistas) – Vamos negociar, minha gente (Coloca a mão em cima de Flávio e do Capitão).

Vaias

2º GREVISTA (Em voz alta, irritado) – Agora eles querem negociar. Antes, não quiseram nem ouvir a gente!
3º GREVISTA (Sujo de graxa, com uma bicicleta) – Nós aceitamos somente 35%...

Vozearia. Gritos e tumulto. É formado um cordão de isolamento, por militares.

4º GREVISTA (Agride um dos policiais militares) – Confia ma farda é, seu porra?

VOZES – “Quede a tua combléia?”
                 “Deixei em casa, pra que?, dois tiros e uma carreira.”
                 “Eu prefiro a minha faca.”
                 “Opa!”  
                 “Cabeça de glória, cu de purgatório.”

Risos abafados.

DOUTOR  CORCK (Alarmado, com voz abafada ao capitão) – Vou telefonar para o general...
O chefe do tráfego (CHT) sai correndo, com a mão no chapéu-do-chile, com o seu “Havana” pelo meio, apagado, e desaparece.

Vozearia dos grevistas.

5º GREVISTA  (Com dois braços erguidos, em voz alta) – A Companhia é nossa.
2º GREVISTA (Gesto obsceno para os militares) – Fora os militares! (Em voz alta) Milicos assassinos!!!
3º GREVISTA (Agride o 2º GREVISTA com um soco, desmaiando-o) – Toma, pra saber respeitar...
6º GREVISTA (Enfurecido, quebra a bicicleta do 3º GREVISTA e joga-a em cima dos militares) – Agora, me matem.

Os militares apontam as armas, com as baionetas caladas para os grevistas. Em seguida, o Capitão ordena que atirem para o ar.

2º MILITAR (Uniforme idem, capacete com 3 divisas, idem nas mangas. Com horror, em voz alta) – Eles estão com “coquetéis molotov!”
5º GREVISTA – Eles estão atirando com cartuchos de festim!
CAPITÃO (Agitado, retira do cinto uma bomba de gás lacrimogêneo e joga em cima dos ferroviários-grevistas, produzindo fumaça) – Comunistas de um figa, agitadores, tomem o que merecem (Em voz alta) Vocês não são brabos?

Vozearia

Ouve-se o apito da “Maria Fumaça”. Música “O trem”. Os grevistas ficam atônitos ao ver o trem parar.

Fumaceira

2º GREVISTA – Furaram a greve! Olha um trem cheio de soldados...

VOZES – “Prenderam Flávio com a mauser”.
                 “A Polícia está revistando quem atravessa a linha.”
                 “Não adianta.”
                 “Não façam isso, eu tenho mulher e filhos.”
                 “Não tenho culpa.”
                 “Por que não ficou em casa?”
                 “Para, para.”
                 “Tomaram a peixeira de Zé Pedro”
                 “Eu confio é no meu simituesse  (Smith & Wesson).”

Neste momento, a Rotunda é subitamente invadida por tanques de guerra, carros de choque da Polícia do Exército (PE). Vê-se parado um trem de tropa do Exército, som de corneta, soldados desembarcam com armas na mão pela plataforma da Estação, sob o comando de um Oficial Superior de gabardine verde-oliva, com megafone da mesma cor, idem para os grevistas. O capitão presta sua continência regulamentar ao receber as ordens de seu superior hierárquico. Incontinenti, retira uma pistola do cinto e aponta para os grevistas. Ao acioná-la, sai uma substância química de efeito moral, provocando disenteria. Os soldados, em posição de “cunha”, com as baionetas caladas, atiram fulminantemente em direção aos grevistas. Ouvem-se tiros. Homens, mulheres e crianças saem correndo para todos os lados, sem destino, seguidos por militares atirando a esmo.


Fumaceira.
Toque de corneta.
Silêncio. Ouve-se o hino da Independência.

POVO DO ARRAIAL

“Já podeis da pátria filhos/Ver contente a mãe gentil. Já raiou a liberdade/No horizonte do Brasil/Brava gente brasileira/Longe vá temor servil/Ou ficar a pátria livre,/ Ou morrer pelo Brasil...”

O Hino à Independência do Brasil (letra de Evaristo da Veiga e a música, do então Imperador D. Pedro I) continua durante toda a cena de violência. Fecha-se lentamente a cortina. Vê-se alguns grevistas mortos, outros moribundos estendidos, na casinha-de-fossa, em torcicolo, feridos, espancados, machucados... Alguns sendo fuzilados na jaqueira, grevistas cambaleando pelo matagal...
A cena, quase às escuras pela fumaça. Abre-se lentamente a cortina, e aparecem alguns líderes, escoltados por soldados, todos cagados e com os olhos lacrimejando, comicamente  tristes olhando para a platéia (Fica a critério da direção a relação ator/espectador). Um dos soldados cai, com ataque epilético (Sugestão: comprimido efervescente na boca provoca espuma junto à saliva).

“O trem”

TREM – Café com não/Bolacha não
               Café com não/Com não, com não,
                Com não...

Fumaceira

                                                                 FECHA A CORTINA
                                                              FIM DO SEGUNDO ATO


Nota – Extraído do teatro “Trem & Trens”, pp. 39-46 – ed. 1990



terça-feira, 10 de junho de 2014

Poemilícia

                                             
                                                       Foto: Andréa Rego Barros


Poemilícia

*Por José Calvino

 


Os princípios democráticos

em qualquer nação livre, 

baseiam-se no senso 

de uma milícia organizada 


na hierarquia e na disciplina, 

quando o cidadão acredita 

que se destina à manutenção 

da ordem pública. 


Na nossa capenga democracia, 

os policiais receberam ordens superiores 

para nas greves e protestos aceitarem flores 

ofertadas pelos manifestantes, 

nessa desinformada opinião pública. 


Mas, assim, ficará uma verdadeira maricagem, 

será que no caso de agressões aos milicos, 

os cidadãos reagirão com flores?






            

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Jesus II


2 - Jesus

Por José Calvino


O meu nome é Jesus Amilov, filho de Onivlakovitch Amilov de Jesus, o meu pai sempre dizia que Jesus era um louco em dizer que era filho de Deus, um Deus criado pelo homem. Eu venho copiando somente as boas ações do meu xará, tais quais suas  palavras de amor e bondade, sem essa de “graças a Deus”! Nunca ficarei como um cordeirinho, apenas para agradar grupos de alienados religiosos ou não. A natureza difere do Deus pregado pelas religiões, e quem pode nos  fazer acreditar na existência de um Deus criado pelo homem? Os próprios religiosos se contradizem. Os dogmas proíbem falar do lado humano de Jesus Cristo, mas eu falo, mesmo sabendo que isso não agrada aos alienantes religiosos, irreligiosos e até mesmo aos ateus. Claro que a manipulação das igrejas primitivas, bem como as igrejas Católica e Evangélicas, têm como base a criação do mito Jesus. Por exemplo: Um caso que aconteceu na ditadura militar de 1964 em Pernambuco-Brasil, quando da deposição de Arraes e o bárbaro espancamento de Gregório Bezerra, este que foi amarrado e, quase em passeata (sou testemunha que o povo caminhava calado atrás do cortejo militar do Exército), levaram-no em direção à Praça de Casa Forte para ser enforcado em plena praça pública, por ordem do então major Villocq. O trucidamento foi impedido graças à madre superiora do colégio Sagrada Família, que telefonou para o Bispo Dom Lamartine e o mesmo se comunicou imediatamente com o QG do IV Exército, pedindo clemência ao General Justino Alves, argumentando que não era possível que a cidade assistisse, passivamente, ao enforcamento. Se o enforcassem, ele também não seria um mito?
Alguns irreligiosos me consideram um deísta, tal como Voltaire que afirmou: “acredito no Deus que criou os homens, não acredito é no deus que os homens criaram”. Bom, como escritor e livre-pensador, leio livros religiosos, etc, para reflexão filosófica espiritualista (arte ou ciências).  

Já fui impedido de exercer meu direito democrático de divulgar meu trabalho por ateus ignorantes e preconceituosos...

Povo:

- Esse porra, é lá Jesus?
- Um lascado desse, Jesus voltou...
- Dizem que ele é sobrinho do grande Kalvinovitch, mais conhecido por “Cristo Mulato”.
- Cristo Mulato escreveu o seu livro com o pseudônimo de  Kalvinovitch Amilov!
– Ele era um homem bom.
– Sofreu muito por nós.
– Ele amava o nosso Brasil.

ALTO FALANTE (Voz de homem) – “Então, se alguém vos disser: Eis aqui o cristo!, ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos”. (MC – 13:21 e 22)

– Vocês ouviram? Ele era um falso profeta!
– Ele nunca disse ser o Cristo Jesus, ele gostava mais que o chamassem de Kalvinovitch.
- Era doido mesmo! Falar mal do governo em praça pública.
– E ele nunca enganou ninguém, e morreu defendendo esta pátria realmente há muito tempo mal governada!

MENINOS (Num só coro) – “Cristo morreu”!

– É o destino de todos nós.
– País de sofrimento  ingrato!
– País dos corruptos, como são grandes os escândalos...
– Continuaremos a luta... Aqueles dois majores da polícia provocaram tudo isto! Digo os nomes deles, sem medo de errar...
– Nem diga, que me causa nojo os nomes desses imbecis. Não merecem sair no livro de grande porte. Saindo, é promoção pra eles. Está no prelo o segundo livro de Kalvinovitch. Sairá lá para outubro ou novembro. Não sai agora por causa destas propagandas políticas. As editoras gráficas estão cheias de serviço.
- E o teatro, vamos terminar?
–  Vamos, sim. Kalvinovitch fez tudo direitinho, e pede para você dar prosseguimento aos seus trabalhos com o resultado do novo governo! ele escreveu pouco sobre os CRISTOS brasileiros.
– Eu já li os manuscritos dele. São ótimos... eu sou suspeito... O seu quociente de inteligência (QI) era muito elevado e...
– Ele escreveu até o mês passado. – dizia o padre.
– O meu dever será cumprido.
– Sim, você está pensando bem. Dê continuidade, mesmo. O nosso povo tem que assistir a esta peça. É de lei.
– Eu estou esperando as eleições para presidente da República e vamos ver quem será eleito, se vai ou não fazer um bom governo.
– Deus ouvirá as nossas súplicas. Aguardaremos. – dizia uma beata.
– Irei, agora mesmo, buscar o teatro de Kalvinovitch e dar uma pressa no romance. Época de campanha política é parada, é fogo esta gente...
– É isto aí. Depois, você me entregue.
– Tchau, gente.
- A Copa do Mundo este ano será em casa, pois este é o País do Futebol. A presidente já disse que torceu pelo Brasil mesmo presa em plena ditadura militar.
- É disso que o povo gosta, quem não se lembra quando o Brasil foi eleito sede da Copa do Mundo 2014?, ninguém protestou. Estarei relendo, após a Copa, o poema de Carlos Drummond de Andrade “E agora, José?”


Nota – Alguns trechos extraídos da peça teatral
 “O Cristo Mulato”, ed. 1994, foram encontrados na mochila de Kalvinovitch apenas são lidos pelos personagens (Onivlakovitch e Berenice). O livro será editado. Está faltando patrocínio. Quem se habilita?





quarta-feira, 4 de junho de 2014

Exército e a Força Nacional


Exército e a Força Nacional

Por José Calvino

 

Volto a analisar o comportamento do nosso povo. Perante a lei, ao menos, todos nós somos iguais, mas será? Quem  leu sobre o festival de greves e protestos que ocorreram recentemente de Norte a Sul do nosso Brasil? O Exército e a Força Nacional fizeram a manutenção da ordem pública no estado de Pernambuco, sobretudo no Grande Recife. Tudo por conta da greve da Polícia Militar, que durou dois dias de tensão e insegurança na RMR (Região Metropolitana do Recife). Na cidade de Abreu e Lima, por exemplo, houveram saques, depredações e mortes. Até pequenos comerciantes se protegeram fechando as portas mais cedo, mas foram surpreendidos por arrombamentos e vimos pessoas carregando eletrodomésticos, celulares, etc. Há anos  venho sugerindo a desmilitarização das PMs do Brasil. Por que o governo não aproveita e propõe uma emenda constitucional unificando as polícias Civil e Militar? Só assim não haveria disparidade salarial e as PMs deixariam de submeter-se à hierarquia militar.

Viaturas do Exército nas ruas trafegando na contramão, faixas pedindo a volta da ditadura militar,  coisas que só mesmo quem não lê e não conhece a história.

 A população ficou aterrorizada com os alertas de arrastões. Foi a maior palhaçada da paróquia! E até as clínicas, comércio, instituições e planos de Saúde de Recife que pertencem à Prefeitura e uma Faculdade próxima ao Hospital da Polícia Militar, que se encontra sucateado, permaneceram fechados todo o dia 15 de maio do corrente ano. Finalmente, governo e policiais militares chegaram a um acordo e colocaram fim à paralisação da greve, apesar de muitos da categoria da ativa e reformados ainda se sentirem prejudicados e não se conformarem com o Sistema de Saúde da Polícia Militar (Sismepe). E, o pior, existe uma lei nº 13.264 de 29 de junho de 2007, que integra o presente decreto.

“Art. 3º A adesão ao SISMEPE será obrigatória para os beneficiários titulares e facultativa para os beneficiários dependentes e especiais...”

Ora, ninguém é obrigado a aceitar a pagar ao Sismepe com um sistema de marcação de consulta péssimo, arcaico e desrespeitoso como o que é praticado atualmente. Muitos PMs já estão sendo atendido pelo SUS, disputando assim o mesmo espaço destinado aos que têm menos condições que os militares, ou Planos de Saúde particular.

O esquema de segurança para a Copa do Mundo já foi anunciado e vai mobilizar 1.757 PMs, que atuarão nas estações de metrô, nos terminais integrados, principalmente próximos aos Hotéis (segurança turística) e em outros pontos... Agora, eu pergunto: e o policiamento (que não existe) nas ruas nos dias dos jogos? Fica  claro como o povo e os nossos policiais necessitam de um apoio moral em sociedade. Convivemos em um estado de segurança vergonhoso, esquecendo nosso direito constitucional de ir e vir!

Termino esta crônica com a poesia “Filme chamado Brasil”:

 

Estamos assistindo esse filme
Chamado Brasil!
Todos nós sempre temos dito:
“Esse filme já passou”
Já dizia Machado de Assis:
“A hipocrisia é a solda que une a sociedade”.
Quem nos ensinou viver assim?
No despertar de um novo horizonte...
Qual de nós sentirá recordação?
Será difícil reverter esse quadro!!!
Como diz Chico Buarque:
“De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser da outra”.
Fora à mediocridade
Viva o Brasil!


Nota – “Filme chamado Brasil”, extraído do livro:“Miscelânea Recife II”, p.33- ed. esgotada.



Poemar



Poemar

Por José Calvino

 

Arredio!

Os raios solares, na Ribeira Marinha dos Arrecifes,

se divertia a mirar o Mar.

Tudo exalava  poesia,

momentos de alegria e conforto à matéria

 e ao espírito.

 

Arredio!

Do outro lado, rumores das ondas...

Nadando, sem pressa, havia passado dos Arrecifes,

só veria o Mar que fala a Linguagem do Mundo.

À noite, a lua iluminava a praia e um barco, onde se lia:

“Poemar”.

 

Nota – Baseado no livro “O grande comandante”, p.28 – ed. 1981.