terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Ensaio com "Caboclo de Lança"






O autor na ladeira do Morro da Conceição, prestigiando o "Caboclo de Lança".
Domingo, 25/01/2015 - Foto: Janayna Barbosa.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

João preguiça


João preguiça

Por José Calvino


João Belarmino Brasileiro da Silva, mais conhecido por “João Preguiça”, era o tipo de pessoa que não tinha nada de preguiçoso. Não raro para os que se acordam às cinco da matina era encontrá-lo tirando areia com uma pá de um riachinho próximo à Rua da Harmonia, bairro de Casa Amarela-Recife. Quando terminava aquela tarefa ia para casa tomar banho e tomar o seu café da manhã.

Um ser humano que não deveria ter esse apelido, porque ao contrário do que parecia,sempre foi um exemplo de um homem trabalhador. A areia ele tirava para a construção de sua pequena casa. Tirava logo cedo para evitar proibições e, mesmo assim, ele organizava os livros para em seguida orientar os divulgadores, que na realidade eram vendedores de livros. Não deveriam era catalogá-lo no rol dos malandros. Seu corpo forte e atraente para as mulheres, era um modelo de beleza. Os invejosos diziam:
- Esse João Preguiça é um negro pernóstico.

Só tem a pose, mas antes de conhecê-lo pessoalmente todos ficavam admirados com seu modo de vida. Era “João Preguiça” que liderava uma turma de rapazes para a venda de livros. Diziam os semianalfabetos:
- Esse João Preguiça  só faz comandar a equipe de vender livros de comunistas.
- Na ditadura militar ele já foi preso vendendo livros marxistas. Levou um pau danado na delegacia de polícia.
- Ele tá brincando com a polícia, só vai no pau mesmo. É por isso que esse Brasil não vai pra frente!
- No Brasil devia ter pena de morte! – disse um militar da reserva do Exército. Esse militar nunca leu do filósofo Albert Camus: “A execução da pena de morte é o mais premeditado dos assassinatos.”
- E não é que ele já tentou entrar na polícia? Um vagabundo daquele querendo entrar como falso solteiro. Mas, a gente disse logo ao capitão sindicante que ele era casado e subversivo. O capitão, conversando com os vizinhos dele, ouviu: “João Preguiça entrar na polícia?”

Bem, o que vocês acham do João Brasileiro (era como eu lhe tratava), ele era preguiçoso? Acho que não. A meu ver, a culpa é dos governos Federal,  Estadual e Municipal. Estão sem moral. Por que? Nunca investiram na educação, saúde e emprego dignos!!! No tocante ao mesmo querer entrar para a polícia, era justamente pela falta de emprego. E ele achou, por uma parte, até bom e fez ver ao capitão como o nosso povo gosta de ver o próximo prejudicado. Se na Polícia Militar só entrasse casado, esse mesmo povo iria dizer então, com certeza, que ele era amasiado. João tinha experiências em vendas de livros, mas continuando no mesmo ofício, esquecer ? Ficava difícil. Só se fosse um demente. Pessimista? Ele não era, nem nas conversas informais. Apenas era sincero. Foi num bar no bairro do Recife, numa tarde, que ele foi vender o meu livro “O pai do Chupa”, a um casal de magistrados (sic), quando o suposto juiz perguntou: “Chupa o quê?” João explicou  que se tratava de um cais que hoje se chama Cais José Estelita. O dito casal, rindo a valer, repetia: “Mas chupa o quê?”, e João calmamente continuava explicando que era uma draga de sucção para aumentar o calado do cais. Aquilo foi  irritando-o, de tanto explicar. Então, pausadamente:
- Ele chupava laranja, picolé, manga... - entrecortou novamente o dito cujo – E mais o quê?
- Boceta, chupavam o pênis, que hoje vocês chamam de “caralho”!

As duas ficaram histéricas, chamaram a polícia e afirmaram estarem surpresos com a violência que campeia pelo Grande Recife.

- Prendam esse individuo, ele está desrespeitando a sociedade com esse livro imoral!

Realmente, divulgar livros ou vender é muito humilhante. Principalmente sendo do próprio autor. Eu digo isto porque já saí pelo Brasil afora e vendi todos os meus livros. Infelizmente, o nosso povo não tem o hábito de ler e quando você os cumprimenta, a maioria faz sinal negativo com o dedo indicador  ou vem com graça, como se o autor estivesse mendigando.  Foi o caso que aconteceu com o João Brasileiro com o casal de imbecis. Eu não iria mais bancar os meus livros, mas como havia começado a escrever “Jesus”, sem pretensão de ser uma obra teológica ou mesmo tomar partido em conflitos religiosos... mesmo sabendo que praticamente quase ou ninguém prestigia o autor independente. A Prefeitura do Recife decidiu por acabar com o Sistema de Incentivo à Cultura, que para mim era uma piada, incentivo sim para os apadrinhados.         A Fundação de Cultura é um verdadeiro cabide de emprego. Então, este ano resolvi bancar mais uma vez a edição do referido livro. O carnaval da capital pernambucana já começou com a secretária de Cultura  dizendo: “Tenho pena de quem não gosta de carnaval.” Eu por exemplo gosto. Mas, é a violência que o casal de magistrados disse na ocasião que chamaram a polícia para João Brasileiro que revela que mesmo os formados podem ser mal informados pela falta de leitura. O interesse do poder público  agora é com a decoração inspirada nas raízes da folia recifense. Pernambuco ainda é um Estado de “ Sabe com quem está falando?”

Bem, se contar tudo nesta crônica dará um livro. Este ano não pretendo assistir o povão alegre, acompanhando o Galo, registrado no “Guinness Book” há 20 anos como a maior agremiação carnavalesca do planeta. O Galo da Madrugada reúne cerca de 1,5 milhão de pessoas (sic), saindo do Forte das Cinco Pontas pelas ruas do Recife.

Será que neste ano o carnaval será tranqüilo? No ano passado, quase 600 ônibus foram depredados por vândalos durante os festejos de momo. Assisti algumas vítimas da violência sem o chamado “Socorro de Urgência”.        

Uma moça levou uma cotovelada no rosto e pararam uma viatura da Polícia, que não prestou socorro sob alegação de que este é um serviço do SAMU! E a lei que trata da perturbação sonora, que estabelece o limite de não superior a 80 decibéis?, os mal educados acham que sendo Carnaval, pode!!! Cadê as autoridades?

A marcha, em Paris, em defesa dos históricos valores republicanos, e particularmente pela Liberdade...

Acordei com um sonho, era João divulgando o meu livro “Jesus” no Recife e em Paris. Uma jornalista linda, competente, irresistível com aqueles olhos lindos, comunicativa e que, antes de me entrevistar com o celular na mão, eu lhe disse:
- Estou com preguiça, não consigo resistir.




  

domingo, 18 de janeiro de 2015

Cidade de sonhos



Cidade de sonhos

Por José Calvino


Parece troça, mas o saudoso fotógrafo ferroviário Alcindo de Souza, nos anos 80, me contou que um velho amigo correspondia-se mensalmente trocando fotos de locomotivas, principalmente as “Marias Fumaças”e outros assuntos sobre as ferrovias brasileiras, sobretudo as do Nordeste.

Fomos à cidade de Petrolina, no sertão do Estado de Pernambuco, comprar duas miniaturas da “Maria Fumaça” com o artesão Artur Valdevino. Uma, foi presenteada pelo próprio artesão e entregue ao Museu do Trem (que hoje leva o nome de Capiba, que nunca foi ferroviário), e que hoje não se encontra mais lá e nem as fotografias do engenheiro Genaro Campello, do sociólogo Gilberto Freyre, do ex-colaborador do Jornal do Commercio José Alcindo de Souza, doado pelo então jornalista do JC, José do Patrocínio.

Bom, a minha se encontra junto aos livros, DVD’s, CD’s..., na minha estante de mármore e que  ilustra essa crônica. O amigo de Alcindo nunca foi ferroviário, mas se dedicava exclusivamente ao ferroviarismo.O seu nome Sérgio Gomes Pinho, aposentado da Caixa Econômica Federal de Niterói, cidade do Estado do Rio de Janeiro. O mesmo construiu  (sic) uma cidade ferroviária em miniatura dentro de sua própria casa em Fonseca, Niterói. São trinta metros quadrados de cidade construída, com tudo funcionando com ajuda dos conhecimentos de Sérgio Pinho em eletrônica.

Os trens, dos mais variados modelos, circulam em oito linhas diferentes, passando por vários túneis e pontes. Dentro da cidade constam: Estação Central, Circo, o Globo da Morte, Roda Gigante, Cinema, Hospital, Banco, Porto, Hotel, Casas, Edifícios, Corpo de Bombeiros, Igreja, Prefeitura, Jardins, Árvores, etc. Pelo que Alcindo contou, ele era um homem aficcionado por ferromodelismo, erguendo a maquete da cidade de seus sonhos. Pelo que entendo, Sérgio era ou é, se vivo for, um batalhador pelo avanço das ferrovias brasileiras, a exemplo dos países europeus, onde os trens transportam muito mais e também são mais econômicos do que os transportes rodoviários.



sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Negro Gato





Negro Gato
Por José Calvino

"Negro Gato"
Roberto Carlos

MIAAAAAAAAAUUUUU!
Eu sou um negro gato de arrepiar
E essa minha vida
É mesmo de amargar
Só mesmo de um telhado
Aos outros desacato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Minha triste história
Vou lhes contar
E depois de ouví-la
Sei que vão chorar
Há tempos eu não sei
O que é um bom prato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Sete vidas tenho para viver
Sete chances tenho para vencer
Mas se não comer
Acabo num buraco
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Um dia lá no morro pobre de mim
Queriam minha pele para tamborim
Apavorado desapareci no mato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Auuuuuuuuuuuuu!
Oh! Oh! Oh!
MIAU! MIAU!...

 Os meus leitores, acostumados às minhas observações de sempre, talvez estranhem em princípio o título e a letra acima da música de Roberto Carlos, tema que por hora abordo. Guduguinho era meu gato de estimação e que  ao que tudo indica, morreu em 31 de dezembro  de 2011, às 20:00 hs. Parece que o vejo,  comendo ração com o seu colega Branco (desaparecido) seu vizinho. Lembro que, como era véspera de ano novo, logo cedo, isto é, 19:00 hs mais ou menos, as pessoas começaram a soltar fogos diversos de artifícios  e bombas de grande porte e zoadas da meninada (agora é assim!). A causa mortis, não procurei saber, mas os bichanos sempre são vítimas de algum veneno colocado pelos que não gostam de gatos ou cachorros, mas que certamente não gostam de si mesmos. Um crime onde é difícil de flagrar os envenenadores, quase sempre comerciantes ou moradores,  que alegam ter tido a intenção de matar os ratos (esse último, uma peste, tudo bem).
A fiscalização pelos órgãos públicos no Brasil  é muito deficiente. Cadê  o Programa de Proteção aos Animais Domésticos? Antes que me perguntem se Gudugo era perturbador eu respondo negativo, eu digo que não, que ele não incomodava ninguém, que não sei como foi isso, e que é revoltante,  num país sem leis!

Me fez sofrer muito. A minha esposa contando o acontecido a uma sua amiga, logo, logo providenciaram outro. No princípio, pensávamos ser um gatinho por ser todinho Gudugo. Com o tempo notamos ser uma gata e que com seis meses teve cria de quatro gatos, dois morreram e ficaram dois, um da cor dela, isto é, mariscado e o outro negro. Mas, é que por se tratar agora de um negro gato de estimação, muito diferente do da canção do Roberto, damos carinho e somos retribuídos por todos e o neguinho é o mais carinhoso, fica olhando eu trabalhar e se acomoda pertinho de mim como se estivesse lendo. Isso para mim é uma felicidade e para terminar esta crônica é bom lembrar que existe um Programa Estadual de Desburocratização do Governo Federal do Estado. Quando se lê: “Vamos agilizar e simplificar o atendimento ao cidadão”, se vê que, na prática, alguns setores não tratam, principalmente os pobres, como pessoas cívicas. É inexistente o tratamento digno aos cidadãos, quiçá aos animais!  



quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Projeto "Museu do Trem", no YOUTUBE

                                                              FOTO DO AUTOR / 2007

O nome do saudoso compositor Capiba seria uma

homenagem do Banco do Brasil, porque ele trabalhou lá. Ele

nunca foi ferroviário, nem tão pouco ligado à ferrovia. Para

mim foi grande decepção! Não houve o bom senso na

escolha do nome para o Museu do Trem. É bom lembrar que


tinha fotografias do engenheiro Genaro Campello, do 

sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, do ex-colaborador 

do JC e ex- repórter fotográfico ferroviário José Alcindo de 

Souza, doado pelo então jornalista do JC,José do Patrocínio.


Constam também licenças de trem, passes livres de serviço



(ida e volta), gabinete do telegrafista com aparelho



telegráfico e o alfabeto com Código Morse, desenhos de




lápis cera/papel de Gilberto Freyre e de Marly Motta, óleos



sobre tela (1970) e de Anneliese Tulliola, óleo/eucatex.




Além de muitas peças e instrumentos históricos com mais 



de cem anos.



Livros diversos, inclusive alguns de minha autoria, como "O



ferroviário", "Trem Fantasma", "Trem & Trens" (teatro). Há



um prato de ágata de 1872, adquirido em antiquário em



Londres, onde nasceu a idéia da estrada de ferro Great 



Western para transporte do açúcar em Pernambuco.



Vejam a propaganda enganosa sobre o projeto do Banco do 



Brasil!



PROJETO "MUSEU DO TREM"


POSTADO NO YOUTUBE

RECIFE, JAN/2015.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Nem trem nem estação












Foto 1 – Estação Arrayal
Foto 2 – O autor na frente do “Super Bar do Brega” (2015).
Foto 3 – Foto do autor (2015)
Foto 4 -  Anos 30, do trecho da Linha Norte entre as “Matas dos Macacos” e Camaragibe.


Nem trem nem estação

Por José Calvino


O sono me levou para a saudosa estação do Arrayal. Lembranças dos comboios da Great Western, o meu pai ensinando telegrafia na estação. “ A Maria Fumaça arrotando faíscas de sua fornalha. A locomotiva apitava ao passar antes dos cruzamentos, soltando fumaça em desenhos, pela sua chaminé...” (O ferroviário, 1980). 

Logo depois da estação a estrada de ferro seguia pela Macaxeira e, pelas matas dos macacos, para Camaragibe. Vi  como o local mudou daquela época para cá, os trilhos enferrujavam nos dormentes porque por lá não passavam mais trens. A estação havia fechado para construção de uma avenida. Era o progresso. Ficara só na lembrança aquele movimento de trens de carga, tropa do Exército, manobras, manutenção e limpeza de vagões e reabastecimento das locos-escoteiras. Os meninos sentiam saudades das “morcegadas” (pulos que davam para pegar o trem, troles ou nos limpa-trilhos das locomotivas-escoteiras em movimento) e das viagens de trem da antiga Floresta dos Leões (Carpina) para o Recife.

Bom, sábado, 10 do corrente mês, me acordei com a visita do meu amigo Azambujanra pela manhã, como sempre, em minha casa, contando que “não temos que ficar calado”. Apesar do que já sofri, considero –me recompensado porque estou cumprindo um dever profetizado pelo meu querido pai, quando vivo. Fico revoltado com a falta da preservação histórica com o patrimônio público. Já denunciei sobre as antigas estações das estradas de ferro, a antiga Great Western, sobretudo a de Casa Amarela, que tinha o nome de Arrayal. “ É de dar dó. A histórica e esquecida estação do Arrayal (que fora chefiada pelo meu pai, Euclides de Andrade Lima), foi desativada em 1952. Encontra-se descaracterizada e sem tombamento. Retiraram o nome Arrayal gravado na parede e em relevo. O prédio da estação hoje serve de abrigo para uma família, quando deveria ser preservado. É a nossa hitória.” ( Crônica sob o título “Antigas estações esquecidas com o tempo”). 

Mas, agora cabe às autoridades constituídas tomarem as devidas providências, que já deveriam ter sido feitas há anos passados!

- Tem ido ver como está agora o prédio da estação? – perguntou Azambujanra.
- O ano passado passei por lá e notei a parte que era o armazém para bagagens e os sanitários, demolida.
- Estive lá e conferi isto que você está me dizendo. Sabe o que existe agora na parte que era a sala telegráfica? Um “Super Bar do Brega”. E quando falei que tenho um amigo escritor, e que na maioria de seus livros o tema é sempre sobre ferrovia, sabe o que um negão  mecânico me disse sorrindo? - Eu tenho um livro que cita todas  estações ferroviárias, inclusive essa do Arraial... – Foi entrecortado por  Azambujanra: 
- Qual é o título do livro?
-  Dkuproar – respondeu rindo.
-  É francês o autor?- perguntou Azambujanra.
-  Subaimin, é africano – continuando rindo.
Azambujanra, percebeu que ele o  estava levando ao ridículo. Então, resolveu levar na esportiva, até porque a princípio pensou  que o título do suposto livro era em francês. E achou por bem me contar essa conversa, sobre a qual tinha certeza que eu iria escrever mais uma crônica bem humorada. E, para encerrar aquela conversa, disse ao homem:

- Eu tenho também um livro cujo o tema é ferrovia e o autor se chama Takuku Nakara. Ele escreveu sobre o assunto e o título do mesmo é ”Trem Bala”.

Bem, fomos lá tirar algumas fotos que ilustram a referida crônica. No domingo, subimos ao Morro da Conceição e bebemoramos mais uma vez a nossa arte literária.
 Enfim, termino esta crônica com a poesia intitulada “Trem Fantasma”:


Trem fantasma(1)

S
onhei com o trem da Gretueste
Passava na então estrada de
Ferro Norte
Hoje Avenida Norte.

Com o apito saudoso da
“Maria Fumaça” (partiste)
Soltava fumaça em desenho
Deixando pela linha afora
Um cheiro saudoso do
carvão-de-pedra

Desfilavam os postes com
seus fios telegráficos
Placas em vermelho com
letras brancas:
P.N. apite e pare, olhe-escute.

Na passagem de nível
Os maquinistas são
obrigados a apitar
Pois o símbolo antecede um
cruzamento:
Estrada rodoviária com a de
ferro, no mesmo plano (chegaste)

Hoje o trem não passa
O trem que não esqueço
Do Brum ao Arraial,
Nas paisagens verdejantes da
Zona da Mata (passaste)

Quando em 52
Foi desativada a linha férrea
Ficou a estação do Arraial
Esquecida e abandonada

Fantasmagórica
Eu vejo o trem fantasma
A Maria Fumaça arrotando
faíscas de sua fornalha...
É a partida do último trem...


(1)Folha de Pernambuco – 01/09/2004.
Extraído do livro: “Trem Fantasma"- p.49 - Ed. 2005.




terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Bundas de Fora


Bundas de Fora

Por José Calvino


Ano Novo, problemas antigos. O Rio de Janeiro, por exemplo, vive atualmente num intenso calor, e o que não falta é a lembrança de Leila Diniz “A Mulher de Ipanema”, defensora do amor livre e do prazer sexual, eterno símbolo da revolução feminina, que rompeu conceitos e tabus por meio de suas ideias e atitudes. Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia, e chocou o país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite.  
O humorista Jaguar, pseudônimo de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, um dos fundadores do velho “Pasquim”, no seu livro “Confesso que bebi”, que estou relendo, conta  que: “Foi Leila Diniz, eterna rainha da Banda de Ipanema, quem imortalizou, nos anos 60, o obscuro Bar Capelinha da Gávea, um pé-sujo (...). Sempre que ela ia pra TV Globo, dava uma meia trava lá pra tomar uma batidinha de maracujá. É possivelmente o menor boteco da cidade; só cabem cinco fregueses em pé. Leila, que não tinha papas na língua, desfechou: ‘Porra, quando a gente bebe aqui, fica com a bunda de fora!’ A frase pegou, tanto que Brandão, o dono, mandou botar no letreiro. Acontece que os milicos – estávamos em plena ditadura militar – não gostaram. No dia seguinte, em nome da tradição, família e propriedade, mandaram mudar o nome.
O português botou ‘B. de Fora’. Os milicos acharam pouco e finalmente ficou ‘...de Fora’. (...) Depois do Bunda de Fora original, outros proliferaram pela cidade...”

Os leitores mais velhos devem se lembrar de que qualquer ditadura é perversa, seja a militar, seja a do caudilho gaúcho Getúlio Vargas.  Na época da repressão as autoridades se preocupavam muito mais com coisas banais e quase nada  com a educação, saúde e emprego dignos. E o pior é que tem gente que faz apologia ao regime ditatorial e ainda quer a volta dos militares. Só mesmo quem não lê e não conhece a história!



sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Verdade & Mentira


Verdade & Mentira*

Por José Calvino


Sofre, como todo mundo sofre!
Cabe-nos estar organizados para viver bem
Aproveitando a vida como pudermos
Para melhorar a nosssa performance.

Bem ou mal, vamos levando a vida
No entanto, sem prejudicar o próximo
Por isso Jesus, por querer o bem da humanidade,
Agiu com verdades e mentiras.

O tempo passa, os poderosos vivem da mentira
(Descaradamente)
Em nome de Jesus, que dizia ser filho de Deus.

Sem saber nada da Mãe Natureza,
Estaria falando a verdade ou a mentira?
-Ah, pobres de nós, religiosos, irreligiosos e ateus!


Recife, 31 de dezembro/2014.


* Poema extraído do livro inédito: "Jesus".