terça-feira, 13 de agosto de 2013

Drogas & Crimes



Drogas & Crimes*


Por José Calvino

(...)


Eram onze horas da noite quando o detetive Getúlio protestou contra a violência da polícia, quando esta efetuava uma blitz no Beco da Fama:
- Como cidadãos normais que somos, protesto. A nossa cidadania é uma instituição intocável. Eles (a polícia) ordenam a paralisação das músicas, revistam os freqüentadores e “aconselham” recolher-se às suas casas, esquecendo nosso direito constitucional de ir e vir! Anormalidade? Estando o país gozando no estado de não-beligerância, por que imitar o estado hitleriano?

(...)

A psicóloga Tarcisa Evangelista, escreve para o detetive Getúlio Medeiros.

Querido Medeirinho

Bom dia


Venho por meio desta com toda confiança depositada em você. Porém, não confio na polícia, infelizmente, pois venho sendo interrogada sob tortura psicológica por elementos da polícia, que não têm qualificação. Estamos sendo, eu e o sargento Dorivaldo, o “Dore”, suspeitos do assassinato de minha irmã Thaís.
Sendo sabedora que o sargento Dore está prestes a ser excluído da meganha, e que você esteve com ele como também esteve na Casa de Saúde onde encontram internados o doutor Marcos Trova e Dorivaldo, e que ambos estão inocentando os agricultores (como realmente são inocentes) venho esclarecer o seguinte: primeiro lugar, estou gostando do sargento Dorivaldo, o Dore, amando-o de verdade, mas acontece que ele é um alcoólatra, então resolvi sobretudo olhar o meu lado profissional no campo da psicanálise... Em segundo lugar, confiante no seu espírito de compreensão supostamente tenho a narrar somente a verdade inocentando Dore, os agricultores, Dudu e os adolescentes.

Realmente eu estava com Dore, minha irmã, Maria Clara, Roberto Carneiro o “Filhinho” e Marcos Trova, numa Rural de aluguel cujo motorista é o velho “Dudu”, que você o conhece muito bem. Aconteceu que o carro de “Filhinho”, se encontrava nas mãos de dois adolescentes, sem carteiras de habilitação. Eles seguiram a Rural de Tracunhanhém até próximo ao Posto da Texaco, ultrapassaram a Rural, trancando-nos. Um deles pediu para que “Filhinho”,Marcos, Thaís e Maria Clara descessem e embarcassem noMaverick sob alegação que tinha uma patrulha rodoviária logo após o posto de gasolina e que agradeceria muito eu e “Dore”voltarmos na Rural com eles (os adolescentes) para o Recife. Pedido este aceito. Marcos foi dirigindo oMaverick junto com “Filhinho” e as meninas.

Nós voltamos seguindo a estrada para a capital. Paramos no restaurante Carrossel e pedimos carne de bode sendo servida guisada. Dore não se cansava de decantar os valores nutritivos da carne de bode. Os adolescentes adoraram o carrossel de cavalinhos, brincaram como duas crianças... Após três dias encontrei com“Filhinho” dizendo que Marcos Trova estava internado e que ele iria a Portugal. Perguntando pelas meninas ele nervosamente disse que as deixaram no Parque do Prata, com Marcos Trova. Como você já está sabendo que D. Almerinda da Paz recebeu de “Filhinho” uma estatueta faltando um pedaço do manto de Nossa Senhora. Cuja estatueta se encontrava na prateleira toda enfeitada com fitas azuis-celeste, que você se interessou em adquirir naturalmente. Com isto me veio à memória que a referida estatueta fora comprada por “Filhinho” em Tracunhanhém, inteira, e que no dia do crime tudo leva a crer que fora partida conforme “Dore” em conversa amigável com “Filhinho”. Este falou que quando abriu o porta-malas do carro, a estatueta caiu das mãos de Maria Clara e que, por sorte, foi quebrado somente um pedaço pequeno que colocou no bolso da calça para colar posteriormente e que procurou tudo e não mais encontrou e não sabe como foi que perdeu aquela parte da santa. Como psicóloga estou arrasada com a morte de minha irmã... Por isso para enfrentar esta situação em que me encontro, recorro a você, que tanto tem me ajudado nas horas difíceis como estas. Não está vindo mais ninguém na minha clínica se consultar pedindo orientação. Tenho pena dos viciados, sempre fiz tratamento para essas pessoas dependentes do álcool e de psicotrópicos: Infelizmente, estou sem saber o que fazer para resolver este problema que vem me perturbando fisicamente e moralmente. Acredito que você já saiba tudo para provar quais foram os criminosos e inocentar os que irão ao banco dos réus. Tenho certeza, meu amigão, que você conseguirá que eles confessem o monstruoso crime e através dos órgãos competentes da imprensa, retratar o que as drogas fazem a um ser humano...
(ass. Tarcisa)
(...)
No Máxime, à tardinha, Dorivaldo, Tarcisa e Medeirinho, no tilintar de copos, degustam o bom vinho com o peixe ensopado, casquinhas de siri e do caviar. A leve brisa soprando do verde atlântico, continuam a conversar...: “Tarcisa, grande psicóloga paradoxal. Trata de alcoólatra sem deixar a caipirinha, fazendo uma apologia ao adágio popular: ‘Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço’, está nessa agora, processada, mas vai sair, temos provas suficientes...”; “... Caipirinha é boa quando é feita com aguardente, limão, mel e gelo”; “Sabe quem inventou a caipirinha? “; “Foi o doutor Watson”: “Falar em doutor Watson, dizem que está pra vir ao Brasil os detetives Hercule Poirot e Sherlock Holmes, literalmente acham que os nossos trabalhos estão sendo corretos, como manda o figurino dos detetives imortais. Não será preciso vir ao Brasil desvendar esses crimes bárbaros que vem acontecendo...”; “... No ‘Xangô de Baker Street’, Sherlock diz que aprendeu a cheirar cocaína com o médico de Viena, Sigmund Freud. Juntou-se com a mulata do corpo maravilhoso, Anna Candelária, e o que vimos foi aquela palhaçada, ensinou até Sherlock a fumar maconha: ‘Tens que tragar fundo e segurar a fumaça nos pulmões o mais que puderes, ‘Sherlock Holmes, usou demasiadamente acannabis sativa... fez eu rir da primeira página à última. O chefe de polícia desembargador Coelho Bastos... No filme o Jô Soares numa ponta é uma graça de escritor...”- disse finalmente a psicóloga Tarcisa Evangelista da Ficção.



*Trechos extraídos de alguns capítulos do livro: “Drogas & Crimes”. Edição 2003.


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