quinta-feira, 11 de julho de 2013

Um Van Gogh pernambucano



Um Van Gogh pernambucano


Por José Calvino



O meu amigo Azambujanra, esse vangoghiano modesto, é um artista com as mãos (sobretudo os dedos), de um artesão solitário e que, com muito amor, paciência e dedicação produz caranguejos, amoré, aratu, siri, chié e muitas espécies de aves que são habitantes temporárias dos manguezais. Os guarás, as garças, maçaricos... tudo, enfim, é feito de garrafas plásticas, tampas de garrafa, palitos de picolé (arte & reciclagem) e esculpidos à mão. Na minha adolescência Azambujanra foi o meu confidente. Quase sempre conversa comigo e domingo (final da Copa das Confederações) à tardinha, ele chegou em minha residência dizendo que o craque Neymar iria fazer “Caldeirão” (referindo-se ao ex-jogador Calderon), por ter sido contratado pelo Barcelona. Concordando com a decisão da presidenta Dilma de não viajar ao Rio de Janeiro para a final no Maracanã entre Brasil x Espanha. Relembrou que o então presidente Médici, na época dos anos de chumbo e do “Pra frente Brasil”, freqüentava o Maracanã e que, enquanto os torcedores o aplaudiam muitos estavam sendo torturados nos porões da ditadura militar. Sinceramente, eu quero ver o Brasil campeão em educação, saúde e emprego digno. Resolvemos então ir ao bar do espanhol assistir ao jogo, antes porém, ele como é muito animado começou cantando uma marchinha carnavalesca (o espanhol gostou) composta por João de Barro (Braguinha):
“... Eu conheci uma espanhola/Natural da Catalunha/Queria que eu tocasse castanhola/E pegasse touro à unha...”

O resultado todos nós sabemos, não houve o “Caldeirão”suposto pelo meu amigo e o Brasil ganhou de 3x0... Mas, aí já é outra história.

Espero que não aconteça com Azambujanra o que houve com o pintor impressionista do século, o holandês William Van Gogh, que só depois de morto teve seus quadros alcançado a glória e a fama e hoje são vendidos em leilões por uma fortuna. Azambujanra não me vende as suas esculturas, me presenteia. Mais das vezes eu o vejo perambulando pelas ruas do bairro de Casa Amarela, embriagado, revoltado com a vida. Isso me preocupa, já foi internado na ex-Casa de Saúde para doentes mentais em Casa Forte, zona Norte do Recife. Acredito que há inúmeros Van Gogh’s por aí.


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