domingo, 19 de maio de 2013

Morro musical




Morro musical


 Por José Calvino 



No último domingo (29 de maio), subi o Morro da Conceição e conversei com o cantor e compositor, João do Morro, que foi acusado de homofobia por haver composto a música “Papa frango”, considerada ofensiva à comunidade gay. Na verdade, está se tornando abrangente esse tipo de produção musical de uma cultura de baixo nível, que causa uma perturbação na sociedade brasileira pela forma violenta e ofensiva como é apresentada, demonstrando claramente seu apelo comercial.
O São João se aproxima e, em vez do autêntico forró nordestino, ouvimos músicas de péssima qualidade num possante carro de som na praça do Morro, desqualificando a mulher e embrutecendo o homem. Mas, o pior é que elas (as mulheres) também cantam e dançam ao som de letras que estimula à violência sexual: “ Vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço de puta pra todo lado...”, “dinheiro na mão e calcinha no chão...”. Isso tudo reproduzido pelos meios de comunicação e patrocinado pelo empresariado, num clímax em que se atinge multidões de braços levantados (mulheres rebolam de maneira orgástica).
O Morro pertencia ao bairro de Casa Amarela e alguns leitores que não aceitam a música “Papa frango” e outras, sugeriram para o próprio João do Morro não mudar assim tão de repente o seu estilo. Segundo eles, o ideal seria melodiar e cantar o “Morro”, “Balas perdidas” e “Casa Amarela”. Como algo assim:



Viver morro

Moro no Morro
Não tem quem me faça
Não morar no Morro

Nasci no Morro
Gosto do Morro
Morrerei no Morro...



Balas perdidas

(anos 50)

Cada um desce o Morro
indo trabalhar de manhã

Nada somos que seja considerado
uma pessoa digna de respeito.

Não se pode andar à vontade,
a lei se deve obedecer.


(1970)

Bala perdida,
Polícia ou Favela?

A maioria das vítimas
é gente humilde e trabalhadora.

Só posso dizer que isso
me revolta também.

Devemos no máximo
encontrar um novo caminho

O destino do país depende
da inteligência das autoridades.

Tenho certeza disso, afinal,
lá vamos nós resolver...

Tudo o que for humanamente possível!
Casa AmarelaI
Recife cidade linda
De uma natureza infinda
Do nordeste do meu Brasil
Tens um subúrbio afastado
Por Deus belo abençoado
Com tantas belezas mil:


II
Casa Amarela, ô,
Casa Amarela
Terra das morenas belas
Onde nasceu a minha ilusão

Casa Amarela
Não é por ser onde moro
É o lugar que eu adoro
Com todo o meu coração.


III
Tem na subida da ladeira
Uma santa padroeira
A virgem Santa Isabel
Onde o sambista apaixonado
Faz seu samba ritmado
A saudação a Noel.

Onde o sambista ritmado,/ com seu pinho acompanhado,/ faz sua oração fiel.
(de minha autoria anos 60).

Obs. Morro - homenagem aos moradores dos morros do Brasil.
Extraído do livro: “Trem Fantasma”, p. 59 – Edição 2005.
Balas perdidas – Rio de Janeiro, 2007/2009. Idem publicado no Literário em, 30/01/2010.
Casa Amarela - I estrofe de minha autoria, acrescentado anos 60. Outras estrofes eram de domínio público (anos 50), em Casa Amarela p. 112 do livro: “Miscelânea Recife”, ed. 2001.

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