Mão Branca
Por
José Calvino
O assassinato nunca mudou a história do mundo.
O assassinato nunca mudou a história do mundo.
(Benjamin Disraeli)
Sábado em
minha residência, eu conversando, como faço sempre, com meu amigo da velha
guarda, Azambujanra, relembramos após 40 anos as manchetes dos jornais (anos
60/70). Recordamos da denominação “Mão Branca”, uma lenda para mim. Os jornais
e rádios da época noticiavam que o codinome era em função da “luva branca”
deixada sobre o corpo das vítimas. Mas Azambujanra contou sua nova versão,
tim-tim por tim-tim.
Tudo começara
no início da década de 60 e caracterizava-se, no Brasil, pelo movimento das
Ligas Camponesas, greves sindicais e subversão hierárquica nas Forças Armadas.
Dentro da ética militar se tornava um ato patriótico prender, ouvir sob coação
e meter no xadrez os “subversivos”, as perseguições e mortes. Vantagem para as
elites e seus companheiros internacionais. A cúpula golpista do Exército, com
alguns elementos da polícia política, se entrosavam nos sindicatos, associações
e outras entidades consideradas subversivas e que incomodavam às elites,
ostensivamente.
Segundo ele,
na época houve uma passeata de protesto liderada pela União Nacional dos
Estudantes (UNE) pela Av. Guararapes, centro do Recife, rumo ao palácio do
Governo do Estado. Por coincidência, um grumete ao passar fardado no meio dos
estudantes foi filmado pelo serviço secreto do Exército que, automaticamente,
enviou o conteúdo para o serviço de inteligência da Marinha. A alegação do
grumete era o de que ia para o bairro do Recife Antigo. A Associação da Marinha
e Fuzileiros Navais, liderada pelo ex-cabo Anselmo, na época aclamado
publicamente como inimigo do regime que viria a ser instalado em 1964.
Quando o
regime militar subiu ao poder, uma das primeiras atitudes dos militares
golpistas foi o expurgo dentro da caserna. Todos aqueles envolvidos em
movimentos considerados próximos à esquerda ou simpáticos ao governo deposto,
foram expulsos das corporações, sendo presos e condenados. Surgiram então
vários assassinatos, assaltos, explosões de bombas e seqüestros de
embaixadores... Mas na verdade não foi somente o Mão Branca, pois no período
existiam também vários grupos de extermínio com esquadrões da morte que
surgiram no cenário da polícia. Eles mesmos telefonavam dizendo que havia um
cadáver (na gíria deles “presunto”) em tal lugar e que o Mão Branca era quem o
tinha matado. Aí, todo mundo dizia que o matador era o Mão Branca. Centenas de
criminosos foram mortos em nome do assassino lendário. O fato é que o Cabo
Anselmo e o conhecido “Mão Branca”, fugiram da prisão inexplicavelmente.
Azambujanra foi sabedor ainda que o ex-marinheiro e militante revolucionário
Anselmo escapara de uma cela e que, ilicitamente, o fugitivo possuía a chave da
mesma. Já o ex-grumete, que fora humilhado e torturado teve o apoio da
Associação da Marinha, por ser associado, complicando desta feita mais ainda a
sua inocência. E como já havia sido afastado da Marinha, fora preso e estava
desenganado, achou por bem fugir como “Marreca”, que nos anos 50 fugira da ex
Casa de Detenção do Recife, num caminhão de mudança dentro de um guarda roupa.
Será mesmo que a polícia não sabia de nada disso? A imprensa logo, logo,
divulgava ter sido a fuga uma reza que o fazia desaparecer. Mão Branca era um
assassino de sangue frio, revoltado. Ele matava os bandidos mais perigosos e
como vingança, seu principal objetivo, marcava os corpos das vítimas com as
letras MB em tinta spray branca, para envolver assim a Marinha do Brasil. O
ex-grumete até hoje ninguém sabe se está vivo ou morto.
Bacana o resgate histórico.
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