terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Historietas




Historietas 



Por José Calvino 



Clodoaldo de Freitas era um frequentador assíduo do então famoso Bar Savoy. Aos 80 anos, gosta de contar algumas historietas em torno do poeta Carlos Pena Filho. Seguem algumas delas:

Mentir ou morrer

Carlos Pena Filho chega ao então Bar Savoy e já encontra o professor Samuel McDowell, mestre em Direito Internacional. Mas, no Savoy suas aulas eram sobre Shakespeare ou Baudelaire.

Carlos, preocupado, diz que se saiu mal numa prova oral. Arnóbio Graça, catedrático de Economia Política, não era brincadeira.

“Enrolei na resposta, ele perguntou onde ouvira tal coisa. Eu disse que estava no tratado do famoso scholar de Harvard, o Frederick Zinneman”

Havia estreado no cinema São Luís o western clássico de Fred Zinneman, Matar ou morrer.

Dia seguinte, McDowell diz a Carlos (os dois se encontravam diariamente na calçada do Savoy, raramente na Faculdade de Direito onde teoricamente um estudava, e o outro, ensinava): “Olha, rapaz, o Arnóbio me disse que também vai a cinema. Mas, te deu nota suficiente para passar de ano.”


***

Duas cores

Carlos Pena era afilhado do general Cordeiro de Farias. Eleito governador de Pernambuco, o general fez o poeta ser nomeado para alto cargo, Procurador do Serviço de Obras Contra as Secas. Carlos, na verdade, nunca soube onde ficava a repartição. O garçom Careca, como era chamado por todos, já trazendo o chope caprichado, bem tirado, como os mais velhos contam: “Freqüentador do Savoy que se preza, vai mesmo é de chope.” Quando chega o Alecrim (nome fictício), senta-se e começa a falar mal, dizer horrores do general Cordeiro. Que, governador do Rio Grande do Sul, ficara conhecido como general Lustre. Carlos pergunta: “Ilustre?” O outro repetiu: “Lus-tre! Porque levou para casa os lustres de cristal do Palácio do Governo.”

O dito cujo afinal foi embora. Carlos Pena Filho pediu outro chope e disse:

“Não é por nada, mas de fato acho que costeleta, oposição e sapato de duas cores só ficam bonitos nos outros.”


***

Toda a poesia

Tudo é motivo para poesia. Estavam à mesa do Savoy, Carlos, Clodoaldo, Maviael (meu irmão), Otávio de Freitas e Fernando Jorge de Lima. Carlos Pena faz um comentário rigoroso sobre os oradores do Parque 13 de Maio: “Uns totais ignorantes. Nem sabem que não sabem coisa alguma. Mas, se consideram gênios. Cada um crê que tem o borbulhar do gênio.”

“Deve ser ameba mal tratada”, diagnosticou Otávio, médico e escritor.

Carlos Pena Filho incorpora a boutade ao poema em que ridiculariza aquele grupo:

“Cada qual sente um gênio
dentro de si borbulhar.
E, coitadinhos, nem sabem
que o que borbulha é a ameba
que não puderam tratar.”

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