terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O grito da Arara

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O grito da Arara

Por José Calvino

Devido às lutas políticas entre três famílias: Alencar, Sampaio e Saraiva, todas do Alto Sertão de Pernambuco, geralmente muitos deles mandavam para a capital Recife  seus filhos, esses  que vinham estudar para  não se envolverem na guerra com as famílias citadas.

Em meados de novembro, duas cuidadoras de um casal de idosos,  parentes dos Alencar e Sampaio e acostumadas a falar da vida dos outros como é de costume no interior, num final de semana foram convidadas para uma sexta-feira participarem  de uma panelada nordestina no espaço do Carlinhos, no Alto José do Pinho. Combinaram e assim foram, com amigas e amigos.

“A negra Jasmina deu à luz a um menino branco”. Era o assunto no come e bebe no local, que durou da sexta até a segunda, dia da festa de Nossa Senhora da  Conceição, quando então subiram o Morro para homenagear a Santa. Terminaram no “Arara Bar”, no Largo das Cinco Pontas.

- O que há de novo?
- Jasmina teve um menino, e nasceu branco!  
- Já estão dizendo que é filho de um dos Alencar.
- Vocês não se metam com os Alencar, Sampaio e Saraiva de Exu.
- Exu é terra de Luiz Gonzaga.
- Mas, quem é o pai desse menino?
- É por aí, por aí... – respondeu naturalmente a mãe de Jasmina.
- Falar no Rei do Baião isso é pra quem é:  “Alfaiate do primeiro ano pega na tesoura e vai cortando o pano...” – cantarolou o poeta para mudar de assunto. “Cortando o Pano”, de Luiz Gonzaga, Miguel Lima e J. Portela.
Já animado pela bebedeira perguntou aos presentes:
- Qual a diferença de um polícia para uma rapariga?

Todos ficaram sérios no pejorativo de rapariga. Negra Jasmina, já queimada, disse com uma escandalosa risada:
- É tudo igual...- entrecortou o poeta – Não, vocês não sabem? Todo policial quer ser antigo, e toda rapariga quer ser nova.
- Meu nego é parada, sabe de tudo... – disse a negra Jasmina, engasgando-se com a carne.

Finalmente, a turma da panelada foi parar no conhecido ponto de encontro “Arara Bar”, um local arborizado, tão agradável que dava gosto de ir lá. Mas, foi aí que aconteceu a inesperada comédia. Por coincidência o dono do bar, Aderbal, era do sertão do Pajeú e não gostou quando ouviu de dois elementos desconhecidos  que os sertanejos só são brabos lá na terra deles. Aderbal puxou  a faca-peixeira e bateu com força no balcão de madeira junto com o canto de sua arara vermelha de estimação, numa sonoridade altíssima e, ao  bater as asas como um grito de alarme demonstrando perigo, os perturbadores correram com medo, sem  pagarem as despesas... De longe eles ainda ouviam o grito rasgado:

Araraaaaaaaaaaaaaaaaa!!!



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