quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Vida Militar



 Vida Militar
                                      
                                      Por José Calvino





“Estamos assistindo esse filme
Chamado Brasil!
Todos nós, sempre temos dito:
‘Esse filme já passou’
Já dizia Machado de Assis:
‘A hipocrisia é a solda que une a sociedade’.
Quem nos ensinou viver assim?”




  


Nossa história estabelece que se diga a verdade sobre a conduta humana. Na vida militar já evitei duas chacinas, uma em 1959, durante a greve dos ferroviários. Eu servia na então 7ª Cia de Polícia do Exército (PE). A outra, em 1972, em plena ditadura militar no Presídio Professor Barreto Campêlo (Ilha de Itamaracá-PE), quando os presos políticos começaram a esculhambar com a polícia (Guarda do Presídio). Prefiro não entrar nos pormenores, até porque os comandantes já faleceram. Mas, como iniciei esta crônica para que se diga a verdade, sugiro que leiam “O caso eu conto como o caso foi”, do saudoso escritor Paulo Cavalcanti, que foi vítima da ditadura militar (1964-85), quando foi preso e conduzido de quartel em quartel, assistindo à troca de prisioneiros até chegar ao então 14º Regimento de Infantaria (14 RI) em Socorro-Jaboatão, sendo trancafiado num xadrez do Corpo da Guarda, a noite toda. No outro dia pela manhã recebeu a visita do comandante coronel Ruy Vidal de Araújo,  elogiado no referido livro como uma pessoa muito educada quando cumprimentou-o pedindo desculpas por ter passado a noite naquele cubículo, pois Paulo Cavalcanti sendo advogado tinha direito à prisão especial, ficando sete meses no cassino dos oficiais com a alimentação sendo a mesma dos oficiais. Realmente, o coronel Ruy era um homem educado, amissíssimo do meu sogro e que eram Kardecistas convictos (ambos falecidos). Dialogávamos sempre na estação ferroviária de Floriano Socorro-Jaboatão e em suas respectivas residências. Cita ainda Paulo Cavalcanti que, ao ser transferido para o alojamento dos oficiais, teve longo convívio com o ex-comandante da Polícia Militar de Pernambuco Hangho Trench,  que se encontrava também preso naquele regimento. Com razão, o escritor deixou de generalizar certos preconceitos contra os militares.
E hoje, o que estamos assistindo? 
       


 Foto – Quartel da Polícia do Exército, Cabanga-Recife, 1960. Na foto,aparecem soldados  da PE e, ao centro em pé, com capacete (assinalado), o soldado apelidado por “Barruada”, abatido pela Polícia do Exército, no golpe militar de 1964. Próximo, aparece o autor, o terceiro da direita para a esquerda, idem de capacete. Os demais estão de gorros de pala.

Nota do autor: No Recife, o regime fez as suas primeiras vítimas: os estudantes Ivan Rocha Aguiar e Jonas José de Albuquerque Barros (mortos) e um ferido, não identificado!




Nenhum comentário:

Postar um comentário