Foto 1 – Estação
Arrayal
Foto 2 – O autor
na frente do “Super Bar do Brega” (2015).
Foto 3 – Foto do autor (2015)
Foto 4 -
Anos 30, do trecho da Linha Norte entre as “Matas dos Macacos” e
Camaragibe.
Nem trem nem estação
Por José Calvino
O sono me levou para a saudosa estação do
Arrayal. Lembranças dos comboios da Great Western, o meu pai ensinando
telegrafia na estação. “ A Maria Fumaça arrotando faíscas de sua fornalha. A
locomotiva apitava ao passar antes dos cruzamentos, soltando fumaça em
desenhos, pela sua chaminé...” (O ferroviário, 1980).
Logo depois da estação a estrada de ferro
seguia pela Macaxeira e, pelas matas dos macacos, para Camaragibe. Vi como o local mudou daquela época para cá, os
trilhos enferrujavam nos dormentes porque por lá não passavam mais trens. A
estação havia fechado para construção de uma avenida. Era o progresso. Ficara
só na lembrança aquele movimento de trens de carga, tropa do Exército,
manobras, manutenção e limpeza de vagões e reabastecimento das
locos-escoteiras. Os meninos sentiam saudades das “morcegadas” (pulos que davam
para pegar o trem, troles ou nos limpa-trilhos das locomotivas-escoteiras em
movimento) e das viagens de trem da antiga Floresta dos Leões (Carpina) para o
Recife.
Bom, sábado, 10 do corrente mês, me acordei
com a visita do meu amigo Azambujanra pela manhã, como sempre, em minha casa,
contando que “não temos que ficar calado”. Apesar do que já sofri, considero
–me recompensado porque estou cumprindo um dever profetizado pelo meu querido
pai, quando vivo. Fico revoltado com a falta da preservação histórica com o
patrimônio público. Já denunciei sobre as antigas estações das estradas de
ferro, a antiga Great Western, sobretudo a de Casa Amarela, que tinha o nome de
Arrayal. “ É de dar dó. A histórica e esquecida estação do Arrayal (que fora
chefiada pelo meu pai, Euclides de Andrade Lima), foi desativada em 1952.
Encontra-se descaracterizada e sem tombamento. Retiraram o nome Arrayal gravado
na parede e em relevo. O prédio da estação hoje serve de abrigo para uma
família, quando deveria ser preservado. É a nossa hitória.” ( Crônica sob o
título “Antigas estações esquecidas com o tempo”).
Mas, agora cabe às autoridades constituídas
tomarem as devidas providências, que já deveriam ter sido feitas há anos
passados!
- Tem ido ver como está agora o prédio da
estação? – perguntou Azambujanra.
- O ano passado passei por lá e notei a
parte que era o armazém para bagagens e os sanitários, demolida.
- Estive lá e conferi isto que você está me
dizendo. Sabe o que existe agora na parte que era a sala telegráfica? Um “Super
Bar do Brega”. E quando falei que tenho um amigo escritor, e que na maioria de
seus livros o tema é sempre sobre ferrovia, sabe o que um negão mecânico me disse sorrindo? - Eu tenho um
livro que cita todas estações
ferroviárias, inclusive essa do Arraial... – Foi entrecortado por Azambujanra:
- Qual é o título do livro?
-
Dkuproar – respondeu rindo.
- É
francês o autor?- perguntou Azambujanra.
- Subaimin,
é africano – continuando rindo.
Azambujanra, percebeu que ele o estava levando ao ridículo. Então, resolveu levar
na esportiva, até porque a princípio pensou que o título do suposto livro era em francês.
E achou por bem me contar essa conversa, sobre a qual tinha certeza que eu iria
escrever mais uma crônica bem humorada. E, para encerrar aquela conversa, disse
ao homem:
- Eu tenho também um livro cujo o tema é
ferrovia e o autor se chama Takuku Nakara. Ele escreveu sobre o assunto e o
título do mesmo é ”Trem Bala”.
Bem, fomos lá tirar algumas fotos que
ilustram a referida crônica. No domingo, subimos ao Morro da Conceição e bebemoramos mais
uma vez a nossa arte literária.
Enfim,
termino esta crônica com a poesia intitulada “Trem Fantasma”:
Trem fantasma(1)
Sonhei com o trem da Gretueste
Passava na então estrada de
Ferro Norte
Hoje Avenida Norte.
Com o apito saudoso da
“Maria Fumaça” (partiste)
Soltava fumaça em desenho
Deixando pela linha afora
Um cheiro saudoso do
carvão-de-pedra
Desfilavam os postes com
seus fios telegráficos
Placas em vermelho com
letras brancas:
P.N. apite e pare, olhe-escute.
Na passagem de nível
Os maquinistas são
obrigados a apitar
Pois o símbolo antecede um
cruzamento:
Estrada rodoviária com a de
ferro, no mesmo plano (chegaste)
Hoje o trem não passa
O trem que não esqueço
Do Brum ao Arraial,
Nas paisagens verdejantes da
Zona da Mata (passaste)
Quando em 52
Foi desativada a linha férrea
Ficou a estação do Arraial
Esquecida e abandonada
Fantasmagórica
Eu vejo o trem fantasma
A Maria Fumaça arrotando
faíscas de sua fornalha...
É a partida do último trem...
(1)Folha de Pernambuco – 01/09/2004.
Extraído do livro: “Trem Fantasma"- p.49 - Ed. 2005.
Extraído do livro: “Trem Fantasma"- p.49 - Ed. 2005.
A ESTAÇÃO DA MATA DOS MACACOS AINDA EXISTE E MERECIA UMA FOTOGRAFIA EM SEUS RELATOS.
ResponderExcluirA ESTAÇÃO DA MATA DOS MACACOS AINDA EXISTE E MERECIA UMA FOTOGRAFIA EM SEUS RELATOS.
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