Bundas de Fora
Por José Calvino
Ano Novo, problemas antigos. O Rio de Janeiro,
por exemplo, vive atualmente num
intenso calor, e o que não falta é a lembrança de Leila Diniz “A Mulher de
Ipanema”, defensora do amor livre e do prazer sexual, eterno símbolo da
revolução feminina, que rompeu conceitos e tabus por meio de suas ideias e
atitudes. Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o
Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia, e chocou o
país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite.
O
humorista Jaguar, pseudônimo de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, um dos
fundadores do velho “Pasquim”, no seu livro “Confesso que bebi”, que estou
relendo, conta que: “Foi Leila Diniz, eterna rainha da Banda de Ipanema, quem
imortalizou, nos anos 60, o obscuro Bar Capelinha da Gávea, um pé-sujo (...).
Sempre que ela ia pra TV Globo, dava uma meia trava lá pra tomar uma batidinha
de maracujá. É possivelmente o menor boteco da cidade; só cabem cinco fregueses
em pé. Leila, que não tinha papas na língua, desfechou: ‘Porra, quando a gente
bebe aqui, fica com a bunda de fora!’ A frase pegou, tanto que Brandão, o dono,
mandou botar no letreiro. Acontece que os milicos – estávamos em plena ditadura
militar – não gostaram. No dia seguinte, em nome da tradição, família e
propriedade, mandaram mudar o nome.
O português botou ‘B. de Fora’. Os milicos
acharam pouco e finalmente ficou ‘...de Fora’. (...) Depois do Bunda de Fora original, outros proliferaram pela
cidade...”
Os
leitores mais velhos devem se lembrar de que qualquer ditadura é perversa, seja
a militar, seja a do caudilho gaúcho Getúlio Vargas. Na época da repressão as autoridades se
preocupavam muito mais com coisas banais e quase nada com a educação, saúde e emprego dignos. E o
pior é que tem gente que faz apologia ao regime ditatorial e ainda quer a volta
dos militares. Só mesmo quem não lê e não conhece a história!
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