terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Ensaio com "Caboclo de Lança"
O autor na ladeira do Morro da Conceição, prestigiando o "Caboclo de Lança".
Domingo, 25/01/2015 - Foto: Janayna Barbosa.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
João preguiça
João preguiça
Por José Calvino
João Belarmino
Brasileiro da Silva, mais conhecido por “João Preguiça”, era o tipo de pessoa
que não tinha nada de preguiçoso. Não raro para os que se acordam às cinco da
matina era encontrá-lo tirando areia com uma pá de um riachinho próximo à Rua
da Harmonia, bairro de Casa Amarela-Recife. Quando terminava aquela tarefa ia
para casa tomar banho e tomar o seu café da manhã.
Um ser humano que
não deveria ter esse apelido, porque ao contrário do que parecia,sempre foi um
exemplo de um homem trabalhador. A areia ele tirava para a construção de sua
pequena casa. Tirava logo cedo para evitar proibições e, mesmo assim, ele
organizava os livros para em seguida orientar os divulgadores, que na realidade
eram vendedores de livros. Não deveriam era catalogá-lo no rol dos malandros.
Seu corpo forte e atraente para as mulheres, era um modelo de beleza. Os
invejosos diziam:
- Esse João
Preguiça é um negro pernóstico.
Só tem a pose, mas
antes de conhecê-lo pessoalmente todos ficavam admirados com seu modo de vida.
Era “João Preguiça” que liderava uma turma de rapazes para a venda de livros.
Diziam os semianalfabetos:
- Esse João
Preguiça só faz comandar a equipe de
vender livros de comunistas.
- Na ditadura
militar ele já foi preso vendendo livros marxistas. Levou um pau danado na
delegacia de polícia.
- Ele tá brincando
com a polícia, só vai no pau mesmo. É por isso que esse Brasil não vai pra
frente!
- No Brasil devia
ter pena de morte! – disse um militar da reserva do Exército. Esse militar
nunca leu do filósofo Albert Camus: “A execução da pena de morte é o mais
premeditado dos assassinatos.”
- E não é que ele
já tentou entrar na polícia? Um vagabundo daquele querendo entrar como falso
solteiro. Mas, a gente disse logo ao capitão sindicante que ele era casado e
subversivo. O capitão, conversando com os vizinhos dele, ouviu: “João Preguiça
entrar na polícia?”
Bem, o que vocês
acham do João Brasileiro (era como eu lhe tratava), ele era preguiçoso? Acho
que não. A meu ver, a culpa é dos governos Federal, Estadual e Municipal. Estão sem moral. Por
que? Nunca investiram na educação, saúde e emprego dignos!!! No tocante ao
mesmo querer entrar para a polícia, era justamente pela falta de emprego. E ele
achou, por uma parte, até bom e fez ver ao capitão como o nosso povo gosta de
ver o próximo prejudicado. Se na Polícia Militar só entrasse casado, esse mesmo
povo iria dizer então, com certeza, que ele era amasiado. João tinha
experiências em vendas de livros, mas continuando no mesmo ofício, esquecer ? Ficava
difícil. Só se fosse um demente. Pessimista? Ele não era, nem nas conversas
informais. Apenas era sincero. Foi num bar no bairro do Recife, numa tarde, que
ele foi vender o meu livro “O pai do Chupa”, a um casal de magistrados (sic), quando
o suposto juiz perguntou: “Chupa o quê?” João explicou que se tratava de um cais que hoje se chama
Cais José Estelita. O dito casal, rindo a valer, repetia: “Mas chupa o quê?”, e
João calmamente continuava explicando que era uma draga de sucção para aumentar
o calado do cais. Aquilo foi
irritando-o, de tanto explicar. Então, pausadamente:
- Ele chupava
laranja, picolé, manga... - entrecortou novamente o dito cujo – E mais o quê?
- Boceta, chupavam
o pênis, que hoje vocês chamam de “caralho”!
As duas ficaram
histéricas, chamaram a polícia e afirmaram estarem surpresos com a violência
que campeia pelo Grande Recife.
- Prendam esse
individuo, ele está desrespeitando a sociedade com esse livro imoral!
Realmente,
divulgar livros ou vender é muito humilhante. Principalmente sendo do próprio
autor. Eu digo isto porque já saí pelo Brasil afora e vendi todos os meus
livros. Infelizmente, o nosso povo não tem o hábito de ler e quando você os
cumprimenta, a maioria faz sinal negativo com o dedo indicador ou vem com graça, como se o autor estivesse
mendigando. Foi o caso que aconteceu com
o João Brasileiro com o casal de imbecis. Eu não iria mais bancar os meus
livros, mas como havia começado a escrever “Jesus”, sem pretensão de ser uma
obra teológica ou mesmo tomar partido em conflitos religiosos... mesmo sabendo
que praticamente quase ou ninguém prestigia o autor independente. A Prefeitura
do Recife decidiu por acabar com o Sistema de Incentivo à Cultura, que para mim
era uma piada, incentivo sim para os apadrinhados. A Fundação de Cultura é um verdadeiro
cabide de emprego. Então, este ano resolvi bancar mais uma vez a edição do
referido livro. O carnaval da capital pernambucana já começou com a secretária
de Cultura dizendo: “Tenho pena de quem
não gosta de carnaval.” Eu por exemplo gosto. Mas, é a violência que o casal de
magistrados disse na ocasião que chamaram a polícia para João Brasileiro que
revela que mesmo os formados podem ser mal informados pela falta de leitura. O
interesse do poder público agora é com a
decoração inspirada nas raízes da folia recifense. Pernambuco ainda é um Estado
de “ Sabe com quem está falando?”
Bem, se contar tudo nesta crônica dará um
livro. Este ano não pretendo assistir o povão alegre, acompanhando o Galo,
registrado no “Guinness Book” há 20 anos como a maior agremiação carnavalesca
do planeta. O Galo da Madrugada reúne cerca de 1,5 milhão de pessoas (sic),
saindo do Forte das Cinco Pontas pelas ruas do Recife.
Será que neste ano o carnaval será tranqüilo?
No ano passado, quase 600 ônibus foram depredados por vândalos durante os
festejos de momo. Assisti algumas vítimas da violência sem o chamado “Socorro
de Urgência”.
Uma moça levou uma cotovelada no rosto e pararam uma viatura da Polícia, que não prestou socorro sob alegação de que este é um serviço do SAMU! E a lei que trata da perturbação sonora, que estabelece o limite de não superior a 80 decibéis?, os mal educados acham que sendo Carnaval, pode!!! Cadê as autoridades?
A marcha, em Paris, em defesa dos históricos
valores republicanos, e particularmente pela Liberdade...
Acordei com um sonho, era João divulgando o
meu livro “Jesus” no Recife e em Paris. Uma jornalista linda, competente,
irresistível com aqueles olhos lindos, comunicativa e que, antes de me
entrevistar com o celular na mão, eu lhe disse:
- Estou com preguiça, não consigo resistir.
domingo, 18 de janeiro de 2015
Cidade de sonhos
Cidade de sonhos
Por José Calvino
Parece troça, mas
o saudoso fotógrafo ferroviário Alcindo de Souza, nos anos 80, me contou que um
velho amigo correspondia-se mensalmente trocando fotos de locomotivas,
principalmente as “Marias Fumaças”e outros assuntos sobre as ferrovias
brasileiras, sobretudo as do Nordeste.
Fomos à cidade de Petrolina, no sertão do Estado de Pernambuco, comprar duas miniaturas da “Maria Fumaça” com o artesão Artur Valdevino. Uma, foi presenteada pelo próprio artesão e entregue ao Museu do Trem (que hoje leva o nome de Capiba, que nunca foi ferroviário), e que hoje não se encontra mais lá e nem as fotografias do engenheiro Genaro Campello, do sociólogo Gilberto Freyre, do ex-colaborador do Jornal do Commercio José Alcindo de Souza, doado pelo então jornalista do JC, José do Patrocínio.
Bom, a minha se encontra junto aos livros, DVD’s, CD’s..., na minha estante de mármore e que ilustra essa crônica. O amigo de Alcindo nunca foi ferroviário, mas se dedicava exclusivamente ao ferroviarismo.O seu nome Sérgio Gomes Pinho, aposentado da Caixa Econômica Federal de Niterói, cidade do Estado do Rio de Janeiro. O mesmo construiu (sic) uma cidade ferroviária em miniatura dentro de sua própria casa em Fonseca, Niterói. São trinta metros quadrados de cidade construída, com tudo funcionando com ajuda dos conhecimentos de Sérgio Pinho em eletrônica.
Os trens, dos mais variados modelos, circulam em oito linhas diferentes, passando por vários túneis e pontes. Dentro da cidade constam: Estação Central, Circo, o Globo da Morte, Roda Gigante, Cinema, Hospital, Banco, Porto, Hotel, Casas, Edifícios, Corpo de Bombeiros, Igreja, Prefeitura, Jardins, Árvores, etc. Pelo que Alcindo contou, ele era um homem aficcionado por ferromodelismo, erguendo a maquete da cidade de seus sonhos. Pelo que entendo, Sérgio era ou é, se vivo for, um batalhador pelo avanço das ferrovias brasileiras, a exemplo dos países europeus, onde os trens transportam muito mais e também são mais econômicos do que os transportes rodoviários.
Fomos à cidade de Petrolina, no sertão do Estado de Pernambuco, comprar duas miniaturas da “Maria Fumaça” com o artesão Artur Valdevino. Uma, foi presenteada pelo próprio artesão e entregue ao Museu do Trem (que hoje leva o nome de Capiba, que nunca foi ferroviário), e que hoje não se encontra mais lá e nem as fotografias do engenheiro Genaro Campello, do sociólogo Gilberto Freyre, do ex-colaborador do Jornal do Commercio José Alcindo de Souza, doado pelo então jornalista do JC, José do Patrocínio.
Bom, a minha se encontra junto aos livros, DVD’s, CD’s..., na minha estante de mármore e que ilustra essa crônica. O amigo de Alcindo nunca foi ferroviário, mas se dedicava exclusivamente ao ferroviarismo.O seu nome Sérgio Gomes Pinho, aposentado da Caixa Econômica Federal de Niterói, cidade do Estado do Rio de Janeiro. O mesmo construiu (sic) uma cidade ferroviária em miniatura dentro de sua própria casa em Fonseca, Niterói. São trinta metros quadrados de cidade construída, com tudo funcionando com ajuda dos conhecimentos de Sérgio Pinho em eletrônica.
Os trens, dos mais variados modelos, circulam em oito linhas diferentes, passando por vários túneis e pontes. Dentro da cidade constam: Estação Central, Circo, o Globo da Morte, Roda Gigante, Cinema, Hospital, Banco, Porto, Hotel, Casas, Edifícios, Corpo de Bombeiros, Igreja, Prefeitura, Jardins, Árvores, etc. Pelo que Alcindo contou, ele era um homem aficcionado por ferromodelismo, erguendo a maquete da cidade de seus sonhos. Pelo que entendo, Sérgio era ou é, se vivo for, um batalhador pelo avanço das ferrovias brasileiras, a exemplo dos países europeus, onde os trens transportam muito mais e também são mais econômicos do que os transportes rodoviários.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
Negro Gato
Negro Gato
Por José Calvino
"Negro Gato"
Roberto Carlos
MIAAAAAAAAAUUUUU!
Eu sou um negro gato de arrepiar
E essa minha vida
É mesmo de amargar
Só mesmo de um telhado
Aos outros desacato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Eu sou um negro gato de arrepiar
E essa minha vida
É mesmo de amargar
Só mesmo de um telhado
Aos outros desacato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Minha triste história
Vou lhes contar
E depois de ouví-la
Sei que vão chorar
Há tempos eu não sei
O que é um bom prato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Vou lhes contar
E depois de ouví-la
Sei que vão chorar
Há tempos eu não sei
O que é um bom prato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Sete vidas tenho para viver
Sete chances tenho para vencer
Mas se não comer
Acabo num buraco
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Sete chances tenho para vencer
Mas se não comer
Acabo num buraco
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Um dia lá no morro pobre de mim
Queriam minha pele para tamborim
Apavorado desapareci no mato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Queriam minha pele para tamborim
Apavorado desapareci no mato
Eu sou um Negro Gato!
Eu sou um Negro Gato!...
Auuuuuuuuuuuuu!
Oh! Oh! Oh!
MIAU! MIAU!...
Oh! Oh! Oh!
MIAU! MIAU!...
Os meus leitores, acostumados às minhas observações de
sempre, talvez estranhem em princípio o título e a letra acima da música de
Roberto Carlos, tema que por hora abordo. Guduguinho era meu gato de estimação
e que ao que tudo indica, morreu em 31
de dezembro de 2011, às 20:00 hs. Parece que o vejo, comendo ração
com o seu colega Branco (desaparecido) seu vizinho. Lembro que, como era
véspera de ano novo, logo cedo, isto é, 19:00 hs mais ou menos, as pessoas
começaram a soltar fogos diversos de artifícios e bombas de grande porte e
zoadas da meninada (agora é assim!). A causa mortis, não procurei saber, mas os
bichanos sempre são vítimas de algum veneno colocado pelos que não gostam de
gatos ou cachorros, mas que certamente não gostam de si mesmos. Um crime onde é
difícil de flagrar os envenenadores, quase sempre comerciantes ou moradores,
que alegam ter tido a intenção de matar os ratos (esse último, uma peste,
tudo bem).
A
fiscalização pelos órgãos públicos no Brasil é muito deficiente. Cadê
o Programa de Proteção aos Animais Domésticos? Antes que me perguntem se
Gudugo era perturbador eu respondo negativo, eu digo que não, que ele não
incomodava ninguém, que não sei como foi isso, e que é revoltante, num
país sem leis!
Me fez
sofrer muito. A minha esposa contando o acontecido a uma sua amiga, logo, logo
providenciaram outro. No princípio, pensávamos ser um gatinho por ser todinho
Gudugo. Com o tempo notamos ser uma gata e que com seis meses teve cria de
quatro gatos, dois morreram e ficaram dois, um da cor dela, isto é, mariscado e
o outro negro. Mas, é que por se tratar agora de um negro gato de estimação,
muito diferente do da canção do Roberto, damos carinho e somos retribuídos por
todos e o neguinho é o mais carinhoso, fica olhando eu trabalhar e se acomoda
pertinho de mim como se estivesse lendo. Isso para mim é uma felicidade e para
terminar esta crônica é bom lembrar que existe um Programa Estadual de
Desburocratização do Governo Federal do Estado. Quando se lê: “Vamos agilizar e
simplificar o atendimento ao cidadão”, se vê que, na prática, alguns setores
não tratam, principalmente os pobres, como pessoas cívicas. É inexistente o
tratamento digno aos cidadãos, quiçá aos animais!
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Projeto "Museu do Trem", no YOUTUBE
FOTO DO AUTOR / 2007
Constam também licenças de trem, passes livres de serviço
(ida e volta), gabinete do telegrafista com aparelho
telegráfico e o alfabeto com Código Morse, desenhos de
lápis cera/papel de Gilberto Freyre e de Marly Motta, óleos
sobre tela (1970) e de Anneliese Tulliola, óleo/eucatex.
Além de muitas peças e instrumentos históricos com mais
de cem anos.
Livros diversos, inclusive alguns de minha autoria, como "O
ferroviário", "Trem Fantasma", "Trem & Trens" (teatro). Há
um prato de ágata de 1872, adquirido em antiquário em
Londres, onde nasceu a idéia da estrada de ferro Great
Western para transporte do açúcar em Pernambuco.
Vejam a propaganda enganosa sobre o projeto do Banco do
Brasil!
PROJETO "MUSEU DO TREM"
POSTADO NO YOUTUBE
RECIFE, JAN/2015.
O nome do saudoso compositor Capiba seria uma
homenagem do Banco do Brasil, porque ele trabalhou lá. Ele
nunca foi ferroviário, nem tão pouco ligado à ferrovia. Para
mim foi grande decepção! Não houve o bom senso na
escolha do nome para o Museu do Trem. É bom lembrar que
tinha fotografias do engenheiro Genaro Campello, do
sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, do ex-colaborador
do JC e ex- repórter fotográfico ferroviário José Alcindo de
Souza, doado pelo então jornalista do JC,José do Patrocínio.
homenagem do Banco do Brasil, porque ele trabalhou lá. Ele
nunca foi ferroviário, nem tão pouco ligado à ferrovia. Para
mim foi grande decepção! Não houve o bom senso na
escolha do nome para o Museu do Trem. É bom lembrar que
tinha fotografias do engenheiro Genaro Campello, do
sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, do ex-colaborador
do JC e ex- repórter fotográfico ferroviário José Alcindo de
Souza, doado pelo então jornalista do JC,José do Patrocínio.
Constam também licenças de trem, passes livres de serviço
(ida e volta), gabinete do telegrafista com aparelho
telegráfico e o alfabeto com Código Morse, desenhos de
lápis cera/papel de Gilberto Freyre e de Marly Motta, óleos
sobre tela (1970) e de Anneliese Tulliola, óleo/eucatex.
Além de muitas peças e instrumentos históricos com mais
de cem anos.
Livros diversos, inclusive alguns de minha autoria, como "O
ferroviário", "Trem Fantasma", "Trem & Trens" (teatro). Há
um prato de ágata de 1872, adquirido em antiquário em
Londres, onde nasceu a idéia da estrada de ferro Great
Western para transporte do açúcar em Pernambuco.
Vejam a propaganda enganosa sobre o projeto do Banco do
Brasil!
PROJETO "MUSEU DO TREM"
POSTADO NO YOUTUBE
RECIFE, JAN/2015.
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Nem trem nem estação
Foto 1 – Estação
Arrayal
Foto 2 – O autor
na frente do “Super Bar do Brega” (2015).
Foto 3 – Foto do autor (2015)
Foto 4 -
Anos 30, do trecho da Linha Norte entre as “Matas dos Macacos” e
Camaragibe.
Nem trem nem estação
Por José Calvino
O sono me levou para a saudosa estação do
Arrayal. Lembranças dos comboios da Great Western, o meu pai ensinando
telegrafia na estação. “ A Maria Fumaça arrotando faíscas de sua fornalha. A
locomotiva apitava ao passar antes dos cruzamentos, soltando fumaça em
desenhos, pela sua chaminé...” (O ferroviário, 1980).
Logo depois da estação a estrada de ferro
seguia pela Macaxeira e, pelas matas dos macacos, para Camaragibe. Vi como o local mudou daquela época para cá, os
trilhos enferrujavam nos dormentes porque por lá não passavam mais trens. A
estação havia fechado para construção de uma avenida. Era o progresso. Ficara
só na lembrança aquele movimento de trens de carga, tropa do Exército,
manobras, manutenção e limpeza de vagões e reabastecimento das
locos-escoteiras. Os meninos sentiam saudades das “morcegadas” (pulos que davam
para pegar o trem, troles ou nos limpa-trilhos das locomotivas-escoteiras em
movimento) e das viagens de trem da antiga Floresta dos Leões (Carpina) para o
Recife.
Bom, sábado, 10 do corrente mês, me acordei
com a visita do meu amigo Azambujanra pela manhã, como sempre, em minha casa,
contando que “não temos que ficar calado”. Apesar do que já sofri, considero
–me recompensado porque estou cumprindo um dever profetizado pelo meu querido
pai, quando vivo. Fico revoltado com a falta da preservação histórica com o
patrimônio público. Já denunciei sobre as antigas estações das estradas de
ferro, a antiga Great Western, sobretudo a de Casa Amarela, que tinha o nome de
Arrayal. “ É de dar dó. A histórica e esquecida estação do Arrayal (que fora
chefiada pelo meu pai, Euclides de Andrade Lima), foi desativada em 1952.
Encontra-se descaracterizada e sem tombamento. Retiraram o nome Arrayal gravado
na parede e em relevo. O prédio da estação hoje serve de abrigo para uma
família, quando deveria ser preservado. É a nossa hitória.” ( Crônica sob o
título “Antigas estações esquecidas com o tempo”).
Mas, agora cabe às autoridades constituídas
tomarem as devidas providências, que já deveriam ter sido feitas há anos
passados!
- Tem ido ver como está agora o prédio da
estação? – perguntou Azambujanra.
- O ano passado passei por lá e notei a
parte que era o armazém para bagagens e os sanitários, demolida.
- Estive lá e conferi isto que você está me
dizendo. Sabe o que existe agora na parte que era a sala telegráfica? Um “Super
Bar do Brega”. E quando falei que tenho um amigo escritor, e que na maioria de
seus livros o tema é sempre sobre ferrovia, sabe o que um negão mecânico me disse sorrindo? - Eu tenho um
livro que cita todas estações
ferroviárias, inclusive essa do Arraial... – Foi entrecortado por Azambujanra:
- Qual é o título do livro?
-
Dkuproar – respondeu rindo.
- É
francês o autor?- perguntou Azambujanra.
- Subaimin,
é africano – continuando rindo.
Azambujanra, percebeu que ele o estava levando ao ridículo. Então, resolveu levar
na esportiva, até porque a princípio pensou que o título do suposto livro era em francês.
E achou por bem me contar essa conversa, sobre a qual tinha certeza que eu iria
escrever mais uma crônica bem humorada. E, para encerrar aquela conversa, disse
ao homem:
- Eu tenho também um livro cujo o tema é
ferrovia e o autor se chama Takuku Nakara. Ele escreveu sobre o assunto e o
título do mesmo é ”Trem Bala”.
Bem, fomos lá tirar algumas fotos que
ilustram a referida crônica. No domingo, subimos ao Morro da Conceição e bebemoramos mais
uma vez a nossa arte literária.
Enfim,
termino esta crônica com a poesia intitulada “Trem Fantasma”:
Trem fantasma(1)
Sonhei com o trem da Gretueste
Passava na então estrada de
Ferro Norte
Hoje Avenida Norte.
Com o apito saudoso da
“Maria Fumaça” (partiste)
Soltava fumaça em desenho
Deixando pela linha afora
Um cheiro saudoso do
carvão-de-pedra
Desfilavam os postes com
seus fios telegráficos
Placas em vermelho com
letras brancas:
P.N. apite e pare, olhe-escute.
Na passagem de nível
Os maquinistas são
obrigados a apitar
Pois o símbolo antecede um
cruzamento:
Estrada rodoviária com a de
ferro, no mesmo plano (chegaste)
Hoje o trem não passa
O trem que não esqueço
Do Brum ao Arraial,
Nas paisagens verdejantes da
Zona da Mata (passaste)
Quando em 52
Foi desativada a linha férrea
Ficou a estação do Arraial
Esquecida e abandonada
Fantasmagórica
Eu vejo o trem fantasma
A Maria Fumaça arrotando
faíscas de sua fornalha...
É a partida do último trem...
(1)Folha de Pernambuco – 01/09/2004.
Extraído do livro: “Trem Fantasma"- p.49 - Ed. 2005.
Extraído do livro: “Trem Fantasma"- p.49 - Ed. 2005.
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
Bundas de Fora
Bundas de Fora
Por José Calvino
Ano Novo, problemas antigos. O Rio de Janeiro,
por exemplo, vive atualmente num
intenso calor, e o que não falta é a lembrança de Leila Diniz “A Mulher de
Ipanema”, defensora do amor livre e do prazer sexual, eterno símbolo da
revolução feminina, que rompeu conceitos e tabus por meio de suas ideias e
atitudes. Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o
Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia, e chocou o
país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite.
O
humorista Jaguar, pseudônimo de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, um dos
fundadores do velho “Pasquim”, no seu livro “Confesso que bebi”, que estou
relendo, conta que: “Foi Leila Diniz, eterna rainha da Banda de Ipanema, quem
imortalizou, nos anos 60, o obscuro Bar Capelinha da Gávea, um pé-sujo (...).
Sempre que ela ia pra TV Globo, dava uma meia trava lá pra tomar uma batidinha
de maracujá. É possivelmente o menor boteco da cidade; só cabem cinco fregueses
em pé. Leila, que não tinha papas na língua, desfechou: ‘Porra, quando a gente
bebe aqui, fica com a bunda de fora!’ A frase pegou, tanto que Brandão, o dono,
mandou botar no letreiro. Acontece que os milicos – estávamos em plena ditadura
militar – não gostaram. No dia seguinte, em nome da tradição, família e
propriedade, mandaram mudar o nome.
O português botou ‘B. de Fora’. Os milicos
acharam pouco e finalmente ficou ‘...de Fora’. (...) Depois do Bunda de Fora original, outros proliferaram pela
cidade...”
Os
leitores mais velhos devem se lembrar de que qualquer ditadura é perversa, seja
a militar, seja a do caudilho gaúcho Getúlio Vargas. Na época da repressão as autoridades se
preocupavam muito mais com coisas banais e quase nada com a educação, saúde e emprego dignos. E o
pior é que tem gente que faz apologia ao regime ditatorial e ainda quer a volta
dos militares. Só mesmo quem não lê e não conhece a história!
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
Verdade & Mentira
Verdade
& Mentira*
Por
José Calvino
Sofre,
como todo mundo sofre!
Cabe-nos
estar organizados para viver bem
Aproveitando
a vida como pudermos
Para
melhorar a nosssa performance.
Bem
ou mal, vamos levando a vida
No
entanto, sem prejudicar o próximo
Por
isso Jesus, por querer o bem da humanidade,
Agiu
com verdades e mentiras.
O
tempo passa, os poderosos vivem da mentira
(Descaradamente)
Em
nome de Jesus, que dizia ser filho de Deus.
Sem
saber nada da Mãe Natureza,
Estaria
falando a verdade ou a mentira?
-Ah,
pobres de nós, religiosos, irreligiosos e ateus!
Recife,
31 de dezembro/2014.
* Poema extraído do livro inédito:
"Jesus".
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