Ir...
*Por José Calvino
- Agora o governo vai revitalizar as praças
para devolver-lhes o aspecto interiorano. Para isso, já começou a retirada das
prostitutas, ladrões, jogadores e cheira-colas destes locais!
- Eu venho à praça e à praia porque estou cansado de descansar em casa.
- Parodiando Castro Alves:
“A praia! A praia é do povo
Como o mar é do tubarão...”.
- Mas, a praça não é do povo, como dizia o
poeta Castro Alves? Então, por que ficam cercando as praças?, e os meninos de
rua, vão pra onde?
- Ontem mesmo no ônibus subiu um desses
meninos cantando desentoadamente. Percebi que no princípio os passageiros não
gostaram, mas para surpresa dos incomodados o menino pára de cantar e procura
comover ludicamente a todos, dizendo:
- Nem roubo, nem fumo e não cheiro cola!, é
melhor pedir do que roubar, agora meus senhores, minhas senhoras e jovens
estudantes, agora é a hora da cobrança! Senhores passageiros, quem não tem
dinheiro eu também aceito passe de estudante, vale transporte, até mesmo de
polícia! Aceito também cartão de crédito, tick restaurante, quem não tem aceito
cheque até pré datado! Quem não tem cheque aceito dólar...
Com isto a maioria dos passageiros já estavam
sorrindo, só retirando os seus trocados de cem, duzentos e mais das vezes
quinhentos a mil! É a fome. Do jeito que vai, eles mesmos (a elite) vão brigar,
e tenho certeza que será a maior
decepção para o povo quando os governos brigarem entre si! E quando acontecer
com o Chefe da Nação, será que não vai repercutir lá fora?, porque para os
pobres: roubar, assaltar... o ‘escambau’ já não é mais novidade, porque eles,
coitados já são envolvidos por natureza! Pois moram onde as elites têm até nojo
de ir! Com exceção dos politiqueiros. Em época de campanha política, catando
votos dos incautos, que inocentemente ficam esperançosos com as falsas promessas
de emprego, saneamento básico, calçamento... o ‘escambau’! ( O escambau está
sendo repetido porque era muito usado nos anos 60/70. Recordação do autor).
- Você falou ainda agorinha nesse menino que
vive cantando nos ônibus, não foi? E tem os que ficam nos abordando nos
semáforos, oferecendo flores quando o sinal fecha: ‘ Tio, me dê um trocado,
essa rosa é de vocês’ – ‘tia, tem mil?’ – e o nosso povo, como é muito cristão,
haja esmolas! Esquecendo que a responsabilidade são dos governantes e ninguém
sabe melhor disso do que os políticos. Agora, quando estão como você disse, na
cata de votos, eles são bons! Principalmente para as crianças que vivem na
miséria numa pátria traída por eles mesmos! Um político daqui, disse os jornais
e revistas, que tirou uma foto com uma criança mendigando lá pela Suíça ou foi
na França, não sei bem qual país, eu sei que eu tenho até nojo ao ler estas
notícias mentirosas, eu tenho vergonha da pouca vergonha deles! Agora eu
pergunto por quê ele, este politiqueiro, não tira uma foto junto aos
cheira-cola? Com os meninos de rua? Como é triste ver crianças desnutridas
pedindo esmolas e sendo assassinadas no nosso Brasil! Então este politiqueiro
quer dizer que o problema não é só nosso, é universal! Avalie.
(Capítulo 15 do livro “Aonde iremos nós?” –
PP. 86-8 – Ed. do autor, 1983).
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