“Entregue a Deus”
Por José Calvino
Eu vou dizer
Muitos usam o nome de
Deus em vão.
Quem já não leu
Aqueles adesivos nos vidros
Traseiros dos carros?
“Deus me deu de presente”,
“Esse carro é propriedade de Jesus”,
“Esse veículo é guiado por Deus”,
“Deus é fiel...”
Um bem ou mal:
“Deus tá vendo!”
Não paga o que deve:
“Deus lhe pague!”
Pedindo esmola:
“Deus te abençoe!”
Fazer um pedido:
“Se Deus quiser!”
Pedido alcançado:
“Graças a Deus!”
De um perigo eminente:
“Deus me salvou!”
Correndo tudo às mil maravilhas:
“Deus é pai...”
A frase que dá o título a esta crônica é
óbvia, até porque combina com a poesia acima: O nome de Deus em
vão!
O objetivo desta crônica é mostrar que até os
dias de hoje os poderosos, aproveitando-se de nossa incultura, fizeram as
cabeças do povo para aceitar tudo que é favorável às classes dominantes, e para
não aceitar idéias novas que não venham por vias oficiais. Aceitar, sim, tudo
que venha de cima, sem contudo analisar. Sábado, em minha residência,
conversando como sempre faço com meu amigo da velha guarda, Azambujanra,
comentava sobre as injustiças que assolam o nosso país. Começamos sobre uma
senhora aposentada da Prefeitura da Cidade do Recife, que saiu com os proventos
proporcionais a 25 anos (ditadura militar). Quando requereu a
aposentadoria provando em juízo que, de fato, antes
de entrar na Prefeitura trabalhou por um período de cinco anos na Fábrica da Macaxeira, o juiz de direito
julgou procedente o pedido para pagamento dos proventos dela de forma integral.
Mas, decisão essa sujeita à apreciação do Tribunal de Justiça do Estado, que
parcialmente negou e fez com que a autora passasse a ser ré! Fazendo cair por
terra mais de cinco anos de serviços efetivamente prestados. Infelizmente, a
dita senhora não mais confia na Justiça.
Peço licença
agora aos leitores religiosos, irreligiosos ou ateus, para citar uma das bem
conhecidas parábolas de Jesus: “Então Jesus contou aos seus discípulos que havia um juiz em
certa cidade que não temia a Deus nem respeitava ninguém...” (Vide LC 18:1-8) .
- São coniventes, como Deus é Justiça? – disse ironicamente
Azambujanra, e me perguntou: - E os direitos da pessoa idosa?
Respondi que essa é uma piada das
grandes. Um cidadão idoso deu entrada no Ministério Público conforme a Lei nº 10.741/2003
(Estatuto do idoso), art. 71 “(...), que são parte em processos, têm prioridade
na tramitação em qualquer instância ou órgão público.” Contudo até agora não
pagaram o atrasado e nem mesmo uma multa impetrada pelo Juiz de Direito.
Sinceramente, não justifica o descaso para com uma pessoa idosa, cuja ação
tramita desde o ano de 1998 e há uma recusa deliberada em dar cumprimento à
decisão judicial.Mas, os xexeiros (vide
“O maior xexeiro no País do Futebol”), principalmente o Governo, contam com, conivência da Justiça. Sobre o caso, segue, em
resumo, uma publicação de minha autoria num dos jornais da cidade e em diversos
sites:
"(...) Uma funcionária da Justiça chamou a polícia para um cidadão que vem ouvindo a mesma informação referente a uma dívida que o governo estadual vem devendo há anos. Ela irritou-se somente porque o cidadão falou alto a verdade. O famigerado aviso 'Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela'. Deveriam saber que tanto o servidor pode ser injuriado pelo cidadão, quanto o cidadão pode ser injuriado pelo servidor. Todos nós sabemos que tem muitos funcionários folgados e preguiçosos transmitindo mentiras sobre morosidade da justiça, que age com conivência com o governo. Na minha opinião, todos nós devemos praticar o respeito mútuo, não importa qual a função."
Enfim,
para o caso que vem há anos sem
resolução alguns religiosos aconselharam ao dito senhor para não ficar se
contrariando e, para ficar mais feliz, que ele: “Entregue a Deus.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário