terça-feira, 29 de julho de 2014

A revolta


A revolta

Por José Calvino

Sempre há um tipo de revolta a nos rodear
e elas aparecem: nas atitudes injustas,
mesmo quando estamos procurando
se é que há, a justiça, esta que é difícil.
Dizendo sempre: a luta continua.
É conseguir o que o povo precisa:
educação, saúde e emprego digno;
Mas, o que aparece agora é revoltante
esses discursos hipócritas
de gente da mesma laia
se ainda resta alguma honestidade
pra quem será essa enorme vaia?  


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Mercado de Casa Amarela


                     Foto – O autor na frente do Mercado de Sítio Novo (2014).



Mercado de Casa Amarela

Por José Calvino


A maioria dos meus leitores (que eu conheço) são de Casa Amarela e muitos deles dizem que leram os meus livros. Sábado, 12 do corrente mês, tive o bel prazer de tomar conhecimento através do blog Recanto das Letras de um comentário de Rinaldo Ramos, sobre “Reminiscências de minha Casa Amarela”, e aproveito para agradecer, na certeza de que não faltará oportunidade de nos encontrarmos pessoalmente. Transcrevo então, na íntegra, o referido comentário :  

“Parabéns pela brilhante crônica. Como Casamarelense, hoje com 65 anos, vivi grande parte desses momentos mágicos que você relata e, como peladeiro do Alto Santa Isabel (Nado), conheci quase todas as figuras citadas por você. O Lenildo, o Brivaldo, o Paulinho e o Guabera (meu técnico nos Jogos Colegiais pelo Colégio Don Vital) foram figuras que marcaram minha mocidade no campinho do Canto da Vila, cuja maior arma da turma da Vila do Trabalho era os buracos, o terreno acidentado e, também, d pau que cantava quando o placar se tornava adverso. Enfrentei o Canto da Vila por diversas vezes, algumas vezes do lado do Confiança do Alto da Favela, do Catedráticos do Alto Santa Isabel, do Centro do Monteiro, etc; e vencer o abarrancado Canto da Vila era um tormento. Relembro, ainda, que no passado, passando na Vila do Trabalho tive o prazer de bater uma caixa com o Silvino, outro grande jogador do Canto da Vila e um dos meus melhores marcadores. Duro, seguro, porém leal...um craque !! Bem, a história do cinema, minha grande paixão, vai ficar para o próximo contato, talvez para uma crônica neste blog ou mesmo para o livro da minha vida, se porventura, eu crie coragem em escrever no futuro. Afinal, este comentário é para parabenizar o José Calvino. Assim sendo, "PARABÉNS CALVINO" e muito obrigado por acrescentar momentos de nostalgia e, por que não dizer, momentos de alegria com as lembranças de um passado feliz. Rinaldo Ramos de Araújo”
No mesmo sábado, que surpresa agradável, o meu amigo Azambujanra pela manhã chegou  de visita à minha casa, contando que leu a recente crônica “Corredor da Morte”, parabenizando e retificando, como sempre (e agradeço muitíssimo) que o nome do vigia  autor do crime que matou a golpes de faca-peixeira foi Israel, irmão do Elias, citado na referida crônica. Sugeri então visitar alguns Mercados Públicos. O primeiro foi o de Sítio Novo em Olinda (foto), mais novo do que eu 13 anos. Foi inaugurado em 1954.
- Nós somos mais velhos do que o prédio dos Correios da Guararapes, que é de 1950, sabia? – disse Azambujanra. Até aí estava tudo muito bem, mas uns intrusos  que estavam nos ouvindo intrometeram-se na conversa.
- Não fala disso, que me faz lembrar o goleiro Barbosa, aquele que morreu sem o perdão de ter levado um gol do uruguaio Ghiggia, na Copa de 1950. Embora que com essa derrota de 7x1, o Barbosa já pode descansar em paz.
- Pra mim, somando perdeu de 10x1 e ainda deixaram fazer o gol de honra.
- De honra ou de consolação?
- No dia, um torcedor fantasiado, carregando pendurada ao pescoço uma corrente de prata com uma figa e uma miniatura da taça da Copa do Mundo junto a uma mini garrafinha da Coca-Fifa, quebrou uma televisão com raiva da maior derrota sofrida pela Seleção Brasileira...
Esse papo foi nas imediações do Mercado Público da Encruzilhada e  achamos por bem nos retirarmos indo para Casa Amarela e lá conversamos  sobre o Mercado Público daquele bairro, um dos principais da cidade do Recife. Foi inaugurado em 9 de novembro de 1930. Como Casa Amarela nos anos 50 era considerado o maior bairro do Brasil, é bom e de interesse histórico registrar alguns dados: o Mercado fica localizado no início da Feira livre, a maior do Recife e que começa na esquina da Rua Padre Lemos, onde hoje é uma farmácia pintada de amarelo. Segundo a história, antigamente era de propriedade do português Joaquim dos Santos, que ali se mudara a conselho médico e uma vez se curando (sic) da tuberculose resolveu pintar a casa de ocre, ficando assim conhecido o final da linha do bonde como Casa Amarela, surgindo dessa forma o nome do bairro. Pesquisando, encontrei registros mostrando que o Mercado foi construído com estrutura totalmente metálica ou de ferro, com cobertura de telhas francesas. O material para sua construção foi remanescente do antigo Mercado da Caxangá, quando  demolido, e foi trazido de bonde pela Empresa Borrione,  em 1928.
Finalmente, no domingo 13 do corrente, tranquilamente  resolvemos assistir à final da Copa, próximo ao Mercado de Casa Amarela. A Alemanhã é campeã da Copa do Mundo de 2014!



sexta-feira, 11 de julho de 2014

Corredor da Morte



Corredor da Morte

Por José Calvino


Corredor da Morte. Como o próprio nome já diz, era conhecido por ser um lugar perigoso. Para ir até lá era preciso ser disposto. Sempre havia desavenças entre os jovens dos bairros de Casa Forte e Casa Amarela. Ficava localizado no oitão do Mercado Público de Casa Amarela.
O  meu amigo poeta-escritor em suas qualidades sempre gostou de freqüentar esses lugares, simples,  e  sempre foi respeitado. Mas o poeta escritor e cônsul dos Poetas Del Mundo (Zona Norte do Recife), ficou como se tivesse esperando todos estes anos para poder contar por escrito, sem estar sob a trava na língua relatando os pequenos acontecimentos com precisão e deixando por conta  do leitor o humor. Sempre cheio de otimismo o poeta vem conquistando diversos leitores, embora revela aos amigos que foi um leitor retardatário, lia mais gibis, revistas em quadrinhos... os do seu tope que viviam em casa proibidos pelos pais de brincarem de jogar bola, pião, empinar papagaio, etc e eram conhecidos, aliás, como afrescalhados. O poeta desde menino, durante o dia era o maior peladeiro da “paróquia”. À noite, quando jovem assistia muitos filmes. Após a saída do cinema entrava na boemia casamarelense e nos Bairros do Recife Antigo e Rua do Jaú no Pina (Zonas de baixo meretrício). Mas, com tudo isso, vem conseguindo fazer com que os que tiveram ou têm a sorte de ler e ouvir com muita atenção as suas crônicas, suas poesias, os seus livros que se lêem num instante, como se diz de um só fôlego.

E continuamos a refletir e a pensar como o poeta ainda continua escrevendo e se comunicando com o povão. Contando algumas lembranças, ele relembra que havia no então Corredor da Morte, um guarda apelidado de “44”, que ficava sempre no balcão do boteco de dona Augusta, armado com dois revólveres, um municiado com cinco cartuchos na cintura, próximo ao umbigo e o outro sem munição, na cartucheira no bolso de trás. Os frequentadores sabiam que era malícia do “44”, deixar o “trintoitão” aparecer. Mas, sobretudo, o que fez o local ficar mais temido e famoso, foram as   duas mortes (anos 50), uma foi a golpes de faca-peixeira, pelo vigia Elias e a outra por disparos de arma de fogo pelo guarda Civil “Estrela”. O guarda “44”, que já estava sendo visado pelos desordeiros do local, deixou de freqüentar o local, o motivo não foi nada mais nada menos do que uma vingança.  Quando o mesmo ao subir no ônibus, colocando o pé (44) direito no estribo,  Nivaldo, mais conhecido por “Cara de Coelho”, incontinenti, com toda energia, deu-lhe uma rasteira na perna esquerda deixando  o mesmo  para o resto da vida sem forças para andar, quiçá fazer pose no boteco do Corredor. Quem também frequentava muito o local  era o famoso chefe de gang do Rio de Janeiro, Ramirez. Quando ele vinha a Pernambuco se escondia no Morro da Conceição, Casa Amarela que era o seu reduto preferido. Bem quisto com a comunidade, muito carola, na hora da oferenda distribuía dinheiro na Paróquia e, para se garantir a sua permanência no Morro, a propina à polícia (Delegacia de Casa Amarela e ao Comissariado do Morro). Se fazia valer, como se dizia, dando o que era de “lei”! Pagou os honorários advocatícios decorrentes do ato cometido pelo cantor “Cara de Coelho”. Ramirez era um poliglota, conquistou popularidade, conhecedor da vida social do assalariado, não enganava aquela gente humilde. Um exemplo de honestidade. Em 1959 aconteceu uma tragédia na comemoração da festa da Padroeira do Morro. Houve um curto circuito nas gambiarras das barracas e nos brinquedos da quermesse, provocando uma correria entre as pessoas, que pensavam tratar-se de tiros de arma de fogo, o que resultou em inúmeras pessoas acidentadas. Ramirez, por sua vez (sou testemunha ocular), socorreu diversas pessoas, conhecidas ou não. As vítimas, se vivas forem, certamente não sabem quem as socorreu.

Ramirez, com seu ar de superioridade, sempre se mostrava numa foto na qual se via  mantendo relações sexuais com ambos os sexos. Dizia orgulhosamente: “Eu sou completo, ladrão, poliglota, homossexual e assassino. O que vocês querem mais?

- Dá um grande golpe nos grandes comerciantes de Casa Amarela. – disse um desempregado, já no rol da malandragem. Casa Amarela (anos 50) era considerado o maior bairro do Brasil.
- Sugestão interessante! – respondeu Ramirez dando uma risada das que ele gostava.

Risos

Então, foi no Corredor da Morte, que Ramirez arquitetou um plano fraudulento que lhe rendeu uma “bolada”. O gráfico Amaro Branco, que tinha um gráfica clandestina no Alto da Foice (hoje Alto Nossa Senhora de Fátima, que levava o mesmo nome da gráfica) foi quem confeccionou uns dez blocos de pedidos de gillettes TEK, através dos quais comprou umas caixinhas da dita gilete e reuniu uns oito rapazes de boa aparência (naquele tempo era difícil encontrar moças para  trabalhar sem permissão dos pais, que geralmente não as autorizavam). Os jovens foram instruídos pelo malandro carioca, que veio do Rio pessoalmente  para dirigir a equipe. Cada um dos “representantes” ofertava umas três caixinhas de gilete e incentivava os comerciantes a fazerem  pedidos grandes,  por se tratar de uma só semana de “promoção”. Sugeriam que, adiantando uma bagatela de cem mil réis em cada pedido realizado, receberiam logo a encomenda. A entrega seria numa quarta-feira às 10:h, em frente ao Armazem 14, no Porto do Recife. Faziam cientes aos compradores a presença do desconhecido por eles (os comerciantes) Ramirez, amigo do conhecido comerciante João Arruda. E no dito dia, foi combinado ir no luxuoso Galaxy, na frente com João Arruda. A presença de Ramirez junto com o considerado maior comerciante do bairro, deixou os demais comerciantes eufóricos aguardando as mercadorias solicitadas na frente do Armazem 14. Sorridente, Ramirez entrou no dito Armazem com o malandro carioca e um dos filhos de um pequeno comerciante, apelidado de “Lula-lá”, que estava sentindo os seus sonhos serem realizados, conhecer a Cidade Maravilhosa. Andando tranquilamente pelo Cais do Porto, já próximo ao Armazem 1, embarcaram no Lloyd Brasileiro com destino ao Rio de Janeiro, deixando os comerciantes na saudade...

- Vocês ouviram o navio apitar?
- É bem as giletes que estão chegando.       

Após uma semana deu no jornal da Cidade:

“Ladrão fuzilado no ‘Corredor da Morte’, em Casa Amarela, e quatro foram presos no mesmo local.Segundo informações da polícia o crime e as prisões estariam relacionados ao grande golpe  por terem praticado  o “conto da gilete”. Os detidos foram conduzidos para a delegacia de polícia para posteriormente serem encaminhados para a Casa de Detenção do Recife. O chefe da quadrilha se encontra foragido. Quem souber do seu paradeiro só é informar na delegacia de Casa Amarela. Um dos participantes do golpe foi encontrado morto hoje pela manhã no bairro da Encruzilhada. A polícia continua investigando o caso.”



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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Copas do Mundo



                                                      No alto, rua sem asfalto, sem saneamento básico...
Embaixo, à noite, a tristeza antes e após a maior derrota da história de cem anos da “Seleção Canarinha”
                                                                       (Fotos do autor, ano/2014)



Copas do Mundo

Por José Calvino


“ Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” (Nelson Biasol). A tradicional música cantada pela torcida brasileira durante jogos da seleção na Copa do Mundo.



Em 2006, com a derrota do Brasil para a França por 1x0, escrevi para alguns jornais sob o título “Seleção Calabar”, dizendo: “(...). Os torcedores brasileiros deveriam comemorar porque a Seleção Brasileira é composta por verdadeiros 'Calabar'. Aliás, piores, porque o então desertor alagoano não traiu o Brasil já que, vendo-se diante de uma dupla ação: continuar o seu país a ser colônia portuguesa ou tornar-se colônia holandesa, optou pelos holandeses. A primeira Copa do Mundo foi realizada em Montevidéu em 1930. A vitória final foi da seleção uruguaia, a maioria das equipes eram sul-americanas. Segundo consta, a derrota do Brasil foi comemorada em São Paulo, pois o time brasileiro era conhecido como 'seleção carioca'. Pasmem, agora a maioria dos jogadores jogam na Europa. 'Seleção Calabar'"!

Amigos, em Copas do Mundo (um evento que sempre é custeado com dinheiro público), a maioria do nosso povo entusiasma-se com a Seleção Brasileira de Futebol. Muitos pernambucanos até citam com desenvoltura os nomes dos campeões mundiais pernambucanos, tudo muito bem. Por que esse mesmo povo não se esforça com a mesma emoção em lutar para mudar para melhor o nosso país? Desculpem a minha franqueza, estou torcendo para que esse mesmo povo saiba que patriotismo não é perturbação com foguetório anárquico de quatro em quatro anos. Enquanto isso quantas outras necessidades, como seja, saúde, educação e emprego digno são esquecidos.  Além do gasto colossal de dinheiro que traz benefícios,  mas para os empresários em geral, autoridades e políticos envolvidos. Como já ia esquecendo, e as tais celebridades?, alguns fazendo papel até de garotos(as) propagandas. Uma verdadeira “lavagem cerebral” realizada em todas  Copas do Mundo. Neymar, por exemplo, quando assumiu que vestiria a camisa 10 na Copa,  procurou mostrar uma forte personalidade. É lamentável e como é difícil coordenar um conjunto de pessoas com características que diferenciam uma pessoa de outra no pensar, no agir, etc.

A abertura da Copa do Mundo, este ano foi aqui no Brasil e  o primeiro jogo foi em 12 de junho, provocando  protestos em sete capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife Salvador e Porto Alegre. As manifestações repercutiram  internacionalmente pelo fato de profissionais da imprensa estarem entre os detidos e feridos. A Anistia Internacional também criticou a ação da Polícia Militar no protesto em São Paulo por fazer uso de força desproporcional para reprimir uma manifestação pacífica. Indignei-me quando assisti pela TV a atitude de um policial militar para com um manifestante, já imobilizado, ficar friamente pondo bem próximo dos olhos do detido jatos de spray (não sei de que), um absurdo!  Já aqui no bairro de Campo Grande-Recife, os analfabetos e bajuladores do prefeito e vereadores enfeitaram uma rua com bandeiras e fitas com as cores do Brasil . Armaram umas tendas próximas a um esgoto transbordando detritos e exalando um forte mal cheiro. Com toda inércia do governo Municipal,  assistiram  todos os jogos cantando (com voz forte) no início das partidas o  Hino Nacional: “Oviram dos piranga... “/ “Do que a terra Margarida” / “Mas, se ergue da justiça a Casa Forte...”/ “Dos filho Deus só é mãe... pratamada   Brasil”.

Sinceramente, por causa de tanta anarquia dos torcedores mal educados e afrescalhados, fico satisfeitíssimo  quando o time do Brasil perde e num instante todos ficam quietinhos. Fiquei com esse desânimo  desde quando o time do Brasil perdeu a Copa para a França de Zidane,  para mim  um dos melhores jogadores do mundo, incluindo é claro, Garrincha e Guaberinha (falecidos),  Pelé e outros. A anarquia foi praticamente igual a esta. Finalizando, pra mim essa Copa ainda foi pior. Coincidiu ser realizada nos festejos juninos (São João e São Pedro),  misturando-se toques das cornetas Vuvuzelas, criadas pelos africanos na Copa de 2010, fogos com fogueiras e haja fumaça e fedentina!!!  Para um bom entendedor, isso é patriotismo? Como o poeta falou: o Brasil coloriu! Perdeu a voz e recolheu a fantasia.

E,  para relembrar a famosa seleção “Cacareco”, estou relendo o livro 85 Anos de Bola Rolando, de Givanildo Alves. A elaboração do projeto gráfico e capa foram feitas pelo meu filho Euclides de Andrade Lima.





sábado, 5 de julho de 2014

Colorido

Tela da artista plástica Vildete Pessutto

Colorido

Por José Calvino
   

Há uma lembrança para nós,
tanta vontade de viver...
Igualmente quando jovem.
Imaginava, que iria resolver,
porque a achava “ordem e progresso”
educação, saúde, salários dignos...
Militares de alta patente furtavam descaradamente!...

Porra!
Muito ao contrário do que aí está!
Para enfrentar revolução?
Fiquei muito revoltado,
não estava preparado de então
na pátria das chuteiras
deu no que deu,
puta que o pariu!
O Brasil ficou Colorido!