Recordações sobre preconceitos
Por José Calvino
Domingo
de Carnaval, em minha residência, conversando como sempre faço com meu
amigo da velha guarda, Azambujanra. O assunto era sobre o preconceito racial,
que se expressa em cada região do Brasil de diversas maneiras. Inclusive, conheço
muitos pernambucanos que têm preconceito de cor. Independentemente disso
relembramos alguns casos, o primeiro aqui no Recife, quando segundo um amigo
ex-combatente disse que certa vez um capitão do Exército por ser negro, não foi
atendido...(Publicado sob o título “Restaurante Leite”, no RL. Literário,
Fiteiro Cultural...). Lembrei-me então de quando estive pela primeira vez em
Salvador-Bahia e chamei um balconista negro de um boteco de moreno e não fui
atendido. Só aconteceu quando um colega de farda, disse: “Vamos tomar uma
cerveja, Pernambuco?”. Prontamente eu falei que o tratei de moreno, o colega
riu e em voz alta disse: “Negão, uma cerveja e dois copos”. O negro disse então,
sorrindo: “Agora! Sarará”. Sorrimos a valer quando o “Negão” retrucou: “Sarará,
galego é da Galíza”.
E em outro bar aqui no Recife, frequentado
com assiduidade por figuras proeminentes da região.O dono era metido a rico e
preconceituoso. Um belo dia, o mesmo chamou atenção a Azambujanra sobre o
desaparecimento de dois rolos de papal higiênico e um sabonete Phebo, julgando
o mesmo que as duas amigas negras de Azambujanra o havia furtado
- E por serem negras, são ladras? –
revoltado, continuou – Você pode ser processado.
Sendo apoiado pela esposa de um juiz de direito que estava sentada à mesa ao
lado direito - dizendo em voz alta - O cidadão está certo, “Pescador”, você por
acaso, tem provas de que foram as “morenas”?
- E o sabonete era Lifebuoy, sabonete
pra cachorro. (Risos)
A esposa do suposto juiz só não
gostou quando o meu amigo extrapolou dizendo em alta voz:
- Todo rico é ladrão! Aqui no Brasil
ninguém fica rico honestamente, porra! – Já amenizando, continuou - Os
sabonetes Phebo e Lifebuoy, até um tempo desse, eram parecidos, só que o Phebo era mais usado
pela classe média e os metidos a ricos, já o Lifebuoy era para dar banho em
cachorros. Os pobres usavam mais sabão amarelo e o português. que era verde com
manchas marrons (este para os metidos a ricos).
Praticamente este bar acabou, desde quando
levamos uma das amigas negra bem retinta pra lá. Relembramos tudo isso e também
que nas sextas-feiras havia lá música ao
vivo, quando de uma dessas vezes ela
topou a parada e foi dançar comigo a “Falsa Baiana”, de Geraldo Pereira.
Finalizo, festejando o primeiro dia
de carnaval, este acontecimento, com meus amigos e amigas:
“Baiana que entra no samba e só fica
parada
Não samba, não dança, não bole nem
nada
Não sabe deixar a mocidade louca
Baiana é aquela que entra no samba de
qualquer maneira
Que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras
Deixando a moçada com água na boca
A falsa baiana quando entra no samba
Ninguém se incomoda, ninguém bate
palma
Ninguém abre a roda, ninguém grita
ôba
Salve a bahia, senhor
Mas a gente gosta quando uma baiana
Samba direitinho, de cima embaixo
Revira os olhinhos dizendo
Eu sou filha de são salvador”
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