sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Edifício Rolé


Edifício Rolé

Por José Calvino


Projetado para ser um prédio de veraneio no Farol nos anos 50, o Edifício Rolé  nos anos 60 era tido como um antro de prostituição e, até hoje, ainda tem uma freqüência  duvidosa. Muitos proprietários eram casados e usavam-no só para encontros amorosos. Alguns de seus moradores eram homossexuais e quando estes morriam as famílias não tomavam conhecimento e, por acaso, quando algum parente  descobria o suposto síndico dizia que o mesmo possuía uma dívida enorme para com isso, é claro, as famílias desistirem do imóvel. Aí, o suposto síndico tomava posse indevidamente do apartamento ou kitchenette.

Alguns moradores no térreo do edifício Rolé comentavam entre si:

- Residir em imóvel com problemas é revoltante. 
- Foram vinte e cinco arrombamentos de apartamentos registrados na delegacia de polícia?
- A suspeita da população do prédio é de que os arrombamentos estão sendo feitos por pessoas que moram no próprio residencial, já que nele não há um controle de entrada e saída.
- Não existe!
- E o pior é que existe, porque sempre que ocorre um arrombamento com furto ninguém da portaria flagra a saída dos objetos roubados. Se não saem é porque são levados para algum apartamento daqui, o que acham?
- Muitos (capangas) nem pagam o condomínio. O síndico, Oliveira,  já foi preso pela polícia civil  como estelionatário e um dos capangas já foi envolvido com o tráfego de drogas.
- Por isso que o seu Oliveira não quer que o prédio melhore. Ele usa seus serviços para intimidar a gente que paga impostos e leva uma vida com um salário de fome, como cidadão, com sacrifício estudo e trabalho. Enquanto isso, os ladrões de gravata, quando são presos, conseguem empregos com bons salários. É isso que o povo está protestando nas ruas.
- Desde agosto de 2010, a justiça mandou o condomínio consertar vazamento no teto do meu imóvel no prazo de quinze dias, sob pena de pagar multa diária em caso de descumprimento. O problema permanece e o Oliveira é cheio de direito...
- E todo errado! O prédio era pra ter extintores de incêndio nos andares, são três elevadores, mas só um funciona e, mesmo assim, precariamente. Já houve denúncias, mas até agora, nada! O Ministério Público deveria pedir a intervenção na administração.
- Concordo em número, gênero e grau.
- Quem sabe me dizer por que o nome desse edifício é Rolé?
- No meu tempo a gente dizia: “Vamos dar um rolé? Justamente era dar uma volta, um passeio... Hoje em dia, os jovens promovem  manifestações públicas com a finalidade de protestar contra as injustiças sociais. E eu concordo em número, gênero e grau. É mais do que um ato legítimo.    
- Vamos fazer um “rolézinho” para tirar esse porra desse síndico do condomínio?
- Mas, promover badernas em ambientes fechados é inadimissível. Não concordo. As mazelas do Rolé são um caso isolado. E, como eu estava dizendo antes, as manifestações públicas são boas porque despertam reações que levantam questionamentos sobre suas motivações e, principalmente, o  tipo de respostas que precisam ser dadas pelas autoridades constituídas. Na minha opinião, não deixa de ser um fenômeno de  forte caráter político.



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Poder maluco



Poder maluco

Por José Calvino

“Se o mundo enlouqueceu,
  torne-se louco
  para ser sensato”

Akira Kurosawa


É preciso que estejamos preparados de conhecimentos que resolvam questões, pautados em observações e experiências vividas. Quando eu li uma crônica que fala de uma clínica psiquiátrica do Recife: “(...) que funcionava  mantendo em suas dependências como doentes mentais e moradores de rua...”, resolvi então registrar aqui alguns casos que aconteceram no Estado Novo e  na Ditadura Militar, que ofereciam leitos para indigentes e pensionistas a partir de convênios diversos assinados com os Institutos de Aposentadoria de então, e também com as esferas municipal e estadual de governo (O problema persiste até hoje, com propagandas enganosas, já que todos nós sabemos que o governo nunca investiu na educação, saúde e emprego digno).

Lembrei-me do que mamãe me contou  sobre um grande chalé que pertenceu à família Andrade Lima, por sinal localizado na Avenida Conde da Boa Vista, no Recife. O meu pai dizia sempre que os Andrade Lima eram primos de Francisco do Rego Barros, o Conde da Boa Vista (Vide “Os Andrade Lima”). Bom, para animar a leitura vamos para dois casos inusitados: a) “Numa tarde de verão, chegou um matuto amigo da família,  com uma maleta, de paletó com um cachecol vermelho (contrastando com o clima) em volta do pescoço. Os parentes mostraram o Recife  que o visitante não conhecia: as praias, as pontes, etc. Ao dormir no referido casarão, já tarde da noite, ele teve vontade de defecar, sem saber onde ficava a privada e, para não incomodar  o pessoal, fez a necessidade no próprio cachecol, vendo a claridade da lua, jogando os detritos pela janela e deixando o cachecol com fezes agarrado na vidraça. Envergonhado, saiu sem se despedir dos anfitriões. A casa ficou com um odor insuportável. As empregadas, para amenizar o mau cheiro, trabalharam na limpeza com lenços próximos aos narizes.” b)“A polícia ia prender um trabalhador sem flagrante delito e sem ordem judicial. Uma senhora política, parente dos Andrade Lima, não deixou os meganhas entrarem no engenho de sua propriedade e, energicamente, lhes disse: ‘Diga ao governador Agamenon, que ele venha prendê-lo.’ Resultado, os dois policiais foram presos.” Mas, essa é outra história.

Nos anos 70, uns aspirantes   a oficiais da Polícia Militar estagiavam nos quartéis e dois deles foram para o Batalhão de Radiopatrulha, que ficava próximo ao Instituto de Psiquiatria Dr. Luiz Inácio de Andrade Lima (Hospital Psiquiátrico do Recife). Um deles era conhecido como “Mordida de Porco”, apelido dado por ser ruim e porque quando estava como Oficial de Dia acionava o alarme a qualquer hora da noite, mais das vezes de madrugada, perturbando a vizinhança  e os pacientes do Hospital, até mesmo os componentes da guarda que ficavam nos seus postos atentos a um possível “ataque”. Muitos foram vítimas daquela zoada, ficando com problemas psíquicos e neurológicos, consequentemente alguns policiais militares foram reformados. Eu sou testemunha quando um neto (suponho) do doutor Luiz Ignácio foi até o quartel reclamar do tal procedimento que vinha prejudicando o quadro de saúde dos internos. O governo nunca tomou as providências em prol aos doentes mentais. Hoje o imóvel do hospital se encontra abandonado, rodeado de tapumes. 

Finalmente, registro com pesar o falecimento do Dr. Luiz Ignácio de Andrade Lima, aos 99 anos de idade. Era o médico mais antigo vivo da Faculdade de Medicina do Recife, como também era o último remanescente do grupo de professores docentes livres que fundou a Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco.

Estamos numa situação em que devemos ter o prazer pela leitura, como uma arma que promova a cidadania e dignidade para milhões de brasileiros.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Menino Jesus



Menino Jesus

Por José Calvino



O poeta, que há anos se encontra na prática do Espiritismo, pegou um livro que alguém havia deixado na igreja do Bom Jesus. Lendo-o fervorosamente se viu logo curado de uma grande angústia espiritual e, a partir de então, passou a refletir se aquilo realmente não funcionaria mesmo. Enquanto folheava suas páginas  encontrou uma história que contava que em Praga foram tantos os prodígios realizados pelo Menino Deus, que daí se originou a devoção sob o título de “Menino Jesus de Praga”. O poeta conhecia a lenda que se tornou tão grandemente maravilhosa, e não acreditava tanto assim no poder da oração. E também porque não sentia certa admiração pelas religiões, principalmente quando muitos nas suas alienações pregam o evangelho...

Mas, não era por isso que o poeta não iria acreditar que o Menino Jesus tinha por hábito pregar o evangelho entre os doutores, que ouviam-no perturbados, diante de tanta sabedoria e presença de espírito.

- Por que uma criança podia saber tanto? – perguntou a si mesmo.

Por fim, sabia que existe um trecho que é fundamental aos católicos: o poder da fé como a única salvação: “Espero com confiança alcançar Vossa santa graça. Amo-vos com todo meu coração e com todas as forças da minha alma. Pesa-me de Vos ter ofendido e proponho nunca mais tornar a Vos ofender. De agora em diante, quero Vos servir com toda fidelidade e por amor de Vós, amar ao meu próximo como a mim mesmo”.

Eis a questão que penaliza a humanidade “amar ao próximo como a si mesmo”, desde a sua criação. Jesus soube amar até mesmo os seus inimigos. A humanidade deveria ser uma grande e harmoniosa família. Na igreja da Harmonia, cantavam a oração de São Francisco de Assis:

“(...) consolar, que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive para a vida eterna!”



quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sucesso no exterior II


Sucesso no exterior II

Por José Calvino


Domingo em Olinda, eu conversando com alguns colegas compositores, cantores, sobretudo escritores e poetas pernambucanos. O principal assunto: música e a literatura brasileira. Lembramos de vários brasileiros que são anônimos no Brasil, mas que fazem muito sucesso no exterior, pelo menos os pernambucanos que seguem:

a) Pernambuco cantando para o mundo. A partir da década de 80 a produção musical pernambucana passou a figurar, cada vez mais, no cenário nacional e internacional. As apresentações de nossos músicos estenderam-se, em sua maioria, pela Europa e Estados Unidos. Comadre Florzinha, Chão e Chinelo, Maracatu Nação Pernambuco, Maracatu Estrela Brilhante, Selma do Coco, Lia de Itamaracá, Mestre Ambrósio e Mestre Salustiano, Naná Vasconcelos e Antúlio Madureira foram alguns dos artistas que levaram sua sonoridade a outros povos.

b) Julho de 1994, texto do escritor Gilvan Lemos publicado na França pela “La Serpent a Plumes”, revista de cultura francesa conhecida em toda a Europa, publicou um conto do referido escritor. GL é então o primeiro autor de língua portuguesa a figurar na lista dos editados por “La Serpent...”. Ficaram de publicar muito em breve, o seu romance “O Anjo do Quarto Dia. Mas, até hoje Gilvan Lemos ainda espera!!! Segundo informações do próprio autor.

c) Fevereiro de 1998, Gilvan Lemos novamente é editado na França, desta vez pela revista “Caravanes”, de Paris, que publicou em sua edição de número 6, um conto do referido autor.

d) Junho de 2000, foi a vez do cantor e compositor pernambucano Nenzinho do Violão mostrar a nossa cultura (frevo, baião, forró, samba e chorinho). No roteiro ele esteve em Portugal, Nova Iorque, França, Japão e Índia. Hoje o referido se encontra entregue ao mundo do alcoolismo (Recife e Olinda).

e) O escritor paraibano Ariano Suassuna, que é membro da Academia Brasileira de Letras, foi um dos concorrentes ao Prêmio Nobel de Literatura 2012, da Academia Sueca. Pois, há traduções de algumas obras em francês, italiano, alemão, holandês, polonês e inglês. Mesmo após 110 anos de existência do Prêmio Nobel de Literatura, um escritor brasileiro nunca ganhou. Mas, na próxima, quem sabe?

f) Finalmente, o escritor Raimundo Carrero, sendo incluído no Programa de Apoio à Tradução, da Biblioteca Nacional, que objetiva publicar escritores brasileiros no exterior (em inglês, francês e espanhol). Em março deste ano, lança, na França:    
 A História de Bernada Soledade - A Tigre do Sertão, livro de 1975.





quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Trem da Vida (Poesia)


                                                   Trem da Vida 

                                                   Por José Calvino            




                           Escrever o trem da vida,
                           registrar a própria experiência,
                           como se fosse uma viagem de trem,
                           uma vida que vai por trilhos.

                           Dormentes que já não seguram,
                           os trens sobre trilhos,
                           nós sabemos que o trem vai chegar,
                           nessa longa viagem...

                           Talvez já tenha visto coisas demais,
                           até restos de locomotivas e trilhos,
                           espalhados pelas matas dos macacos,
                           a humanidade deve ter muito cuidado.

                           A lógica dos sonhos,
                           parece que se cumpre,
                           para a vida e o óbvio,
                           da vida invadira as imagens.

                           São sonhos diferentes,
                           coloridos e em preto & branco,
                           que vinham enquanto dormia,
                           pensem nisso, e boa viagem!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Trem da Vida (Teatro)


                                   Estrada de Ferro Norte (anos 30).
                         Foto: Euclides de Andrade Lima (Pai do autor).


Trem da Vida (Teatro)

Por José Calvino



Personagens:


Luiz Carlos,Jane, Berenice, Miguel Rodrigo, Jovens...


Inicia-se a peça com uma poesia musicada: “O trem”, com o eco do apito tradicional da “Maria Fumaça” e o seu rugido, os quais eram imitados pelas crianças da época. Ainda em completa escuridão:

VOZ  FEMININA - Escrever o trem da vida,
                           registrar a própria experiência,
                           como se fosse uma viagem de trem,
                           uma vida que vai por trilhos.

                          Dormentes que já não seguram,
                          os trens sobre trilhos,
                          nós sabemos que o trem vai chegar,
                          nessa longa viagem...

                          Talvez já tenha visto coisas demais,
                          até restos de locomotivas e trilhos,
                          espalhados pelas matas dos macacos,
                          a humanidade deve ter muito cuidado.

                          A lógica dos sonhos,
                          parece que se cumpre,
                          para a vida e o óbvio,
                          da vida invadira as imagens.

                          São sonhos diferentes,
                          coloridos e em preto & branco,
                          que vinham enquanto dormia,
                          pensem nisso, e boa viagem!

Acendem-se os refletores em resistência, iluminando o ambiente.

Cenário:

Algumas pessoas sentadas conversando.


LUIZ CARLOS (Voz trêmula) – Meu nome é Luiz Carlos de Lima, nasci em 1940, em Recife. Este final de ano foi tudo completamente, diferentemente de  anos anteriores, quando entrava na cachaça “misturada” com cerveja, conhaque...o escambau (Era muito usado nos anos 60/70), na medida em que andava de bar em bar, ou mesmo  em barracas, de preferência as cobertas com zinco, porque se chovesse fazia aquela zoadinha muito agradável para ficar em plena “viagem”. Me transformava num trem, que saía de estação em estação, assistindo cenas diferentes a cada parada.

MIGUEL RODRIGO (Rindo de soslaio) – Eu nasci também em agosto do mesmo ano, sou virgem, e você?

LUIZ CARLOS (Enérgico) – Sou leão! (Com a voz mais branda, relembrando o saudoso dançarino Luiz Sarafim) - Nas danças de gafieira eu era um simples espectador, que assistia a um espetáculo de samba gingado. Nem eu, nem ninguém, estava feliz. Eu, ao menos desfrutava de todo o prazer que o sexo proporciona. Agora, não vivo mais a minha sexualidade, regada a bebida alcoólica como antigamente (Rindo), que me fazia demorar a gozar, agora demora é a subir... (Risos). Virava noites, e mais noites desafiando os boêmios da Veneza Brasileira. O que, para mim, era uma vitória.

JOVEM 1 (Curioso) – Os senhores ainda tiveram a sorte de não entrarem no mundo das drogas. 2013 foi considerado o ano mais violento...

JOVEM 2 (Corta, relembrando) – Bem que o escritor disse que as festividades de final de ano, são as mais hipócritas de todas. Eis que chega o ano novo, as grandes cidades fazem shows pirotécnicos com o colorido no céu, pessoas literalmente embriagadas confraternizam-se com falsos abraços e beijos. No dia seguinte, vamos computar as vítimas de violência, brigas e acidentes. Demonstrando assim, que é um dia atrás do outro com uma noite no meio, sem mudanças e esperanças. Assim a humanidade edificou os seus desígnios, cultivando a intolerância na falta de amor ao próximo, sendo medíocres e literalmente hipócritas, elegendo estas festividades no pseudo intuito de uma melhor relação entre os seres humanos, tendo o disparate do desejo de um Feliz Ano Novo!!!

 JOVEM 1 - Começa a recitar “Questão de Valores”:

 Fumar, beber, sexo fácil.../ tem gente desavisado/ censurando quem lê jornal,/ olhando com desdém para o livro,/ é o preconceito contra a cultura./ Faço um apelo aos que governam/ vamos investir na educação,/ vamos cultuar o nosso povo,/ vamos comparar essa falsa cultura/ com a Questão de Valores de muita gente./ Vamos ver o nível cultural de nossa televisão/ com alguns programas medíocres./ Todos nós temos consciência/ ou não,/ Questão de Valores.

(Este poema faz parte do livro “Trem Fantasma”).

Ouve-se o apito do trem, distante. Idem  música “O trem”:

Café com não
Bolacha não
Café com não
Com não
Com não

Brincando de equilíbrio
Nós vamos de mãos dadas
Como duas crianças
Recordando o bom viver

Piuí-piuí, este eco
Está na lembrança
Saíamos da linha
Para ver o trem passar...

Trem do norte
Trem do centro
Trem do sul
Café com pão
Bolacha não, com não, com não...

Trem & Trens
Trem & Trens (Piuí)
Trem da Asa Branca (Fortaleza)
Trem da Festa da Pitomba (Prazeres)
Trem do Forró (Caruaru)
Trem do Arraial (Casa Amarela)
Trem da Alegria
Trem da Dívida
Trem dos Puxa-sacos
Trem dos Corruptos
Trem dos Crocodilos...

Trem & Trens (Piuí)
Café com não
Bolacha não
Com não, com não, com não...
Piuí-piuí...



(Baseado do livro “Trem & Trens”).

JANE  (Otimista, aos jovens) – Estou gostando muito da peça ser poética e musical.
BERENICE ( Admirada) – Sinceramente, essa experiência de poesia e música em teatro, para mim está sendo novidade.
JANE  (Carinhosamente) - É antiga, Beré! Nós estamos viajando no trem da vida.

Vozearia
Silêncio

Ouve-se voz masculina:

Os trilhos  enferrujavam nos dormentes porque por lá não passavam mais trens. A estação havia fechado para construção de uma avenida. Era o progresso. Ficara só na lembrança aquele movimento de trens de passageiro, carga, tropa do Exército, manobras, manutenção e limpeza de vagões e reabastecimento das locos-escoteiras. 
Os meninos sentiam saudades das “morcegadas” (pulos que davam para pegar o trem, troles, ou nos limpa-trilhos das locomotivas-escoteiras em movimento). Luiz Carlos começou a reivindicar, junto aos ferroviários, através de abaixo-assinados, o que mais tarde serviria para agravar sua situação, com diversas perseguições...

(Trecho extraído do livro “O ferroviário”).


Ouve-se voz feminina:

EU QUERO DAR UM CONSELHO
A QUEM QUISER TOMAR:
QUEM QUISER VIVER NO MUNDO
HÁ DE OUVIR, VER E CALAR

(Do folclore brasileiro)

Falta energia e a cena fica às escuras. Pequena pausa. Chega energia.

JOVEM 3 – Já estou até gostando desta interferência. Para o meu curso é importante.

Levantam-se e saem rindo, conversando em segredo.

Vozes inaudíveis.

Musica “O trem”.

JANE - Luiz Carlos chegava em casa sempre embriagado. Já trêmulo, vocês não viram? Não tinha mais forças. Sua morte caminhava lenta.E o futuro carnaval que pensava em brincar à sua maneira, foi a do “suicídio lento”, sufocando-se na bebida e no fumo.

BERENICE ( Comovida) – Ele sofreu muito, chegou a hora de desembarcar. Jovens e idosos prosseguem nesse trem da vida e em alguma estação desceremos.

CORRE O PANO