Edifício Rolé
Por José Calvino
Projetado para ser um prédio de veraneio no Farol nos
anos 50, o Edifício Rolé nos anos 60 era
tido como um antro de prostituição e, até hoje, ainda tem uma freqüência duvidosa. Muitos proprietários eram casados e
usavam-no só para encontros amorosos. Alguns de seus moradores eram
homossexuais e quando estes morriam as famílias não tomavam conhecimento e, por
acaso, quando algum parente descobria o
suposto síndico dizia que o mesmo possuía uma dívida enorme para com isso, é
claro, as famílias desistirem do imóvel. Aí, o suposto síndico tomava posse
indevidamente do apartamento ou kitchenette.
Alguns moradores no térreo do edifício Rolé comentavam
entre si:
- Residir em imóvel com problemas é revoltante.
- Foram vinte e cinco arrombamentos de apartamentos
registrados na delegacia de polícia?
- A suspeita da população do prédio é de que os
arrombamentos estão sendo feitos por pessoas que moram no próprio residencial,
já que nele não há um controle de entrada e saída.
- Não existe!
- E o pior é que existe, porque sempre que ocorre um
arrombamento com furto ninguém da portaria flagra a saída dos objetos roubados.
Se não saem é porque são levados para algum apartamento daqui, o que acham?
- Muitos (capangas) nem pagam o condomínio. O síndico,
Oliveira, já foi preso pela polícia
civil como estelionatário e um dos
capangas já foi envolvido com o tráfego de drogas.
- Por isso que o seu Oliveira não quer que o prédio melhore.
Ele usa seus serviços para intimidar a gente que paga impostos e leva uma vida
com um salário de fome, como cidadão, com sacrifício estudo e trabalho.
Enquanto isso, os ladrões de gravata, quando são presos, conseguem empregos com
bons salários. É isso que o povo está protestando nas ruas.
- Desde agosto de 2010, a justiça mandou o condomínio
consertar vazamento no teto do meu imóvel no prazo de quinze dias, sob pena de
pagar multa diária em caso de descumprimento. O problema permanece e o Oliveira
é cheio de direito...
- E todo errado! O prédio era pra ter extintores de
incêndio nos andares, são três elevadores, mas só um funciona e, mesmo assim,
precariamente. Já houve denúncias, mas até agora, nada! O Ministério Público
deveria pedir a intervenção na administração.
- Concordo em número, gênero e grau.
- Quem sabe me dizer por que o nome desse edifício é
Rolé?
- No meu tempo a gente dizia: “Vamos dar um rolé?
Justamente era dar uma volta, um passeio... Hoje em dia, os jovens
promovem manifestações públicas com a
finalidade de protestar contra as injustiças sociais. E eu concordo em número,
gênero e grau. É mais do que um ato legítimo.
- Vamos fazer um “rolézinho” para tirar esse porra
desse síndico do condomínio?
- Mas, promover badernas em ambientes fechados é
inadimissível. Não concordo. As mazelas do Rolé são um caso isolado. E, como eu
estava dizendo antes, as manifestações públicas são boas porque despertam
reações que levantam questionamentos sobre suas motivações e, principalmente, o
tipo de respostas que precisam ser dadas
pelas autoridades constituídas. Na minha opinião, não deixa de ser um fenômeno de
forte caráter político.