terça-feira, 30 de abril de 2013
Paisagem do Pina
Paisagem do Pina
Por José Calvino
O mar do Pina
batendo nos arrecifes
parece com Havana
na moda praiana
Buena Vista
à vista de todos
plantada em ilha
paisagens marinhas
Brasília Formosa
a canoa virou
na praia do Pina
o poeta assistiu
aqueles vôos das gaivotas
sobre as ondas do mar.
Antigas estações esquecidas com o tempo
Antigas estações esquecidas com o tempo
Por José Calvino
Pesquisando sobre as antigas estações de estradas de ferro, a antiga Great Western, sobretudo a de Casa Amarela, que tinha o nome de Arrayal, senti dificuldades. Os museus e bibliotecas dispõem de pouco material informativo e ainda mal catalogado e sem identificação, em nada facilitando o trabalho de quem pesquisa.
As fotos estão guardadas em caixas, como verifiquei em alguns museus. É de dar dó. A histórica e esquecida estação do Arrayal, (que fora chefiada pelo meu pai, Euclides de Andrade Lima), foi desativada em 1952. Encontra-se descaracterizada e sem tombamento. Retiraram o nome Arrayal gravado na parede em relevo. O prédio da estação hoje serve de abrigo para uma família, quando deveria ser preservado. É a nossa história. Resgatando a nossa cultura, é bom lembrar que a Estação do Arrayal fica próxima ao Largo Dom Luiz, o mais conhecido do bairro de Casa Amarela-Recife.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Mulata baiana
Mulata baiana
Por José Calvino
Seu corpo molhado
Saindo da chuva
Segredado, és um poema
Neste filme sem cinema.
Apenas.
Salvador, abril de 2009.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Ladrão de livros
Ladrão de livros
Por José Calvino
Esta é mais uma história interessante que eu vou contar de Azambujanra. Nos anos 80, havia uma grande livraria em Recife. Os furtos de livros eram grandes, praticamente todos os dias úteis, a qualquer hora havia o flagrante delito. Os livros furtados eram de autores diversos, geralmente os clássicos. Duas décadas depois, já com a referida livraria fechada, no centro do Recife fora montado um Fiteiro Cultural, onde tentei em vão ilustrar com literatura os freqüentadores dos bares próximos. Numa sexta-feira à noite, por esquecimento, deixei alguns livros dependurados no lado de fora. No sábado pela manhã, preocupado, fui à toda pensando em não mais encontrá-los. E não é que estavam lá todos a salvo? Aos malandros e bêbados não interessara aquela riqueza de livros expostos, alguns até raros. Esse ano, no recital “Pulsações Poéticas da Cidade”,terça-feira (09/04), no qual eu havia confirmado a minha presença, com o “Ói eu, lá, sem declamar!!!” Para a minha alegria, não é que encontrei o poeta Azambujanra acompanhado de sua musa? Me convidaram para quarta-feira eu conhecer a sua nova colossal biblioteca. Lá chegando, Azambujanra então me mostrou um manuscrito do ladrão quando foi apreendido na então livraria com o clássico Crime e Castigo, de Dostoiévski. Observamos que o ladrão gostava muito de ler, extraindo trechos dos livros: “Se um viajante numa noite de inverno”, de Italo Calvino que cita na página 215:
“(...) Hoje vou tentar copiar as primeiras frases de um romance célebre, para ver se a carga de energia contida neste início se comunica à minha mão; após ter recebido o impulso certo, ela deveria se tornar capaz de avançar por sua conta.
Numa noite extremamente quente em princípios de julho, um jovem saiu do minúsculo quarto que alugava na ruela S... e se dirigiu, o passo indeciso e lento, para a ponte K...
Copio ainda o segundo parágrafo; é indispensável para que se apodere de mim o fluxo da narração: ‘Teve a sorte de não encontrar na escada a proprietária dos quartos. Sua mansarda situava-se sob o telhado de um grande edifício de cinco andares e mais parecida um armário do que um quarto. E assim seguidamente até: Devia muito dinheiro à proprietária e temia encontrá-la.'”
Comparando com o Capítulo um do livro “Crime e Castigo”, de Dostoiévski – página 9:
“Nos começos de julho, por um tempo extremamente quente, saía um rapaz de um cubículo alugado, na travessa de S... e, caminhando devagar, dirigia-se à ponte de K...
Discretamente, evitou encontrar-se com a dona da casa na escada. O tugúrio em que vivia ficava precisamente debaixo do telhado de uma alta casa de cinco andares e parecia mais um armário do que um quarto. A mulher que lho alugara... vivia no andar logo abaixo, e, por isso, quando o rapaz saía tinha de passar fatalmente diante da porta da cozinha, quase sempre aberta... E todas as vezes que procedia assim sentia uma mórbida impressão de covardia, que o envergonhava e fazia franzir o sobrolho. Estava zangado com a dona da casa e tinha medo de encontrá-la.”
Finalmente, concordamos que o único ladrão que gosta de ler é o de livro!
terça-feira, 16 de abril de 2013
Ilha de Deus
Ilha de Deus
Por José Calvino
"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar
a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e
inexpugnavelmente nosso." Fernando Pessoa
“(...) Resolvera pescar na maré,
embaixo da ponte velha do Pina. Lá encontrava diversos colegas, filhos de
pescadores. Com uns arames na mão na maior agilidade pegando unha de véio,
mariscos, tiravam ostras, cortavam os pés na ribeira marinha, mas saravam de
imediato por causa da água salgada. Homens, mulheres, meninos e meninas pobres,
se encontravam embaixo da Ponte Velha do Pina, a pescarem nos cânticos de
alegria...”.
Saíram-se beijando. Alvo juntava
um pouco de areia no pé direito com ajuda do pé esquerdo e jogava-a no ar e
pegava-a com a mão direita. Cabocla o copiava, como duas crianças a brincarem
na praia. Os raios solares, na Ribeira Marinha dos Arrecifes, penetravam no
casal que se divertia esquecido da miséria do mundo, convivendo com a natureza.
Vez por outra desciam para tomar banho, e andavam sobre a areia, brincando do
“jogo da areia”; tudo respirava a poesia e a momentos de alegria e conforto à
matéria e ao espírito...
Branco, tio de Alvo, ofereceu
para que este fosse morar em Casa Forte com ele, e ter ‘aquela educação’ que
deu aos seus primos, todos bem formados, inclusive um deles era padre. Tinha
vocação e digno para a vida sacerdotal, bem como as qualidades morais e
intelectuais exigidas pela Igreja Católica. O seu tio Branco elogiava o seu
filho ad maiorem Dei gloriam:
- Não há na terra autoridade
maior, nem missão mais sublime do que a do padre...
Alvo agradeceu a oferta da Casa
Forte do tio e disse:
- Tio, irei morar na Ilha, até quando
Deus consentir, embora o apelido desta Ilha, sabe qual é?
- Não.
- Chamam-na, apropriadamente, de
Ilha sem Deus, neste aristocrático bairro da Zona Sul...
Enérgico, através de um bote,
chega à Ilha dos Pescadores, mais conhecida por “Ilha sem Deus”. Ao descerem,
do bote... ‘Chocolate’, preocupado porque quando estava na ressaca da bebedeira,
aquela Ilha era um céu para ele... ali era o seu esconderijo quando a polícia
estava em seu encalço, quando das suas aventuras no tráfico de maconha, na Zona
do Pina e do Recife.” ( O grande comandante, 1981, pp. 21-42).
A Ilha de Deus está situada no
Bairro da Imbiribeira, Recife-PE, não dispondo de infra estrutura urbana básica
de urbanização, o sustento era prioritariamente tirado da pesca. Atualmente, o
mais significativo exemplar deste ecossistema é o grande Manguezal do Pina,
área estuarina ilhada pela densa malha
urbana da cidade do Recife. A comunidade da Ilha de Deus localiza-se nesta
grande área verde. Morar na Ilha de Deus é, sobretudo morar no mangue.
Em 1981, lancei o meu segundo
livro “O grande comandante”, através do qual iniciei esta crônica com alguns
trechos salteados.
Falando com alguns moradores da
Ilha, ligados ao continente por uma ponte sobre o Rio Jordão, eles foram quase
unânimes em afirmar que os políticos só aparecem em época de eleição à caça de
votos. Em 1983, um deles chegou dizendo que até então não conhecia a ilha, e
pediu ao povo que não chamasse mais o lugar de Ilha sem Deus. Um secretário de
Estado preocupou-se apenas com ações assistencialistas como fez, por exemplo,
entregando R$ 10 a um ilhéu.
Em 1992 lancei a 2ª edição do
referido livro, a Ilha ainda era linda,
mas o ambiente continuava insalubre e malcheiroso. Gente e ratos
dividiam o mesmo espaço.
Este ano, tive o bel-prazer de rever
a Ilha com outro aspecto e conhecer Berenice Vitorino da Silva, 75 anos de
idade, popularmente conhecida como Dona Beró, que contou muita história da
comunidade. Uma delas relembramos do que sempre dizia o ex-governador Agamenon
Magalhães: “Pobre de Macacos prá lá”! “Quem não pode viver, morre”! Beró
continuou: “ No governo de Agamenon
Magalhães nós fomos expulsos daqui. Eu era muito pequena, mas lembro do
desespero da minha mãe que não sabia como iríamos sobreviver longe do mangue.
Daqui tirávamos todo o nosso sustento, como é até hoje. Nunca nos desligamos
daqui. Conseguimos voltar depois de 30 anos... E, vibrando, disse: “Só saio
daqui morta”. Observei o seu amor e o sentimento de felicidade por ver um sonho
quase realizado. Ela é autora da canção: “Quem te viu, quem te vê, quem te
verá...”:
“Hoje eu vejo a Ilha
prosperar... De barco, de remo e até ponte de pau, hoje eu vejo uma ponte
colossal//Quem te viu, quem te vê, quem te verá. Hoje eu vejo a ilha
prosperar.../ Palafita que um dia aqui reinou, hoje ta dando adeus ao seu
senhor//Quem te viu, quem te vê, quem te verá. Hoje eu vejo a ilha
prosperar.../Quem não acreditava e duvidou, hoje vê o lugar que Deus mudou”.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
O trem da saudade
O trem da saudade
Por José Calvino
“Apitando pela linha férrea,
os meus olhos se aproximavam da estação.
Na passagem de Nível,
o piuí-piuí, era atenção.”
os meus olhos se aproximavam da estação.
Na passagem de Nível,
o piuí-piuí, era atenção.”
O trem partiu de Camaragibe, a Maria Fumaça arrotava faíscas de sua fornalha, caindo nos olhos dos que se atrevessem a pôr a cabeça do lado de fora, geralmente as crianças. O apito da loco ao passar antes dos cruzamentos de automóveis soltava fumaça em desenhos, através de sua chaminé, deixando pela linha à fora um cheiro saudoso do carvão-de-pedra.
Desfilavam os postes com os seus fios telegráficos e as placas em vermelho, que com letras brancas, advertiam: P.N. APITE E PARE/OLHE-ESCUTE.
Quando o trem parava nas estações, via-se o chefe da estação engravatado. Lembro que sempre o de Carpina retirava da algibeira um espelhinho redondo com uma estampa de uma mulher nua no verso. Mirava-se, ajeitava o quepe e a gravata. Próximo à estação e na plataforma casais desfilavam, a maioria dos homens de chapéu-côco palhinha. Alguns rapazes e moças com chapéus de massa/feltro. Uns dois ou três com chapéu-do-chile, panamá e os matutos de chapéu-de-palha. Algumas moças com guarda sóis; praticantes (telegrafia) de estação, vendedores(as), meninos(as) oferecendo aos passageiros do trem os seus produtos... Enfim, era festa nas estações, principalmente nas grandes cidades. Ouvia-se os vendedores e seus pregões: “olha o araçá”, “rolete, o-o-liá o ro-ro- leeete”, “tapioca”, “olha a laranja, docinha, docinha”, “olha a cocadinha de côco, uma é dez tostões. Barato que só bolo-de-goma (não faltava a água na quartinha de barro)”. “Olha a bolinha-de-cambará, dois pacotes é um vintém,,,”, “macaíba...”.
O chefe do trem, todo uniformizado, de quepe ornado com listras douradas com jugular da mesma cor ao redor, apitava e acenava uma bandeirinha verde anexada ao apito a Maria Fumaça. Ouvia-se o eco do seu apito tradicional e “O trem”(som musical do apito e do rugido da Maria Fumaça e o movimento dos vagões puxados por ela mesma. Intercalando o som dos sinais telegráficos e o da sineta.)
Hoje, só restam as lembranças, o drama da nossa ferrovia, estações abandonadas, os prédios das históricas e esquecidas estações encontram-se sem preservação. Infelizmente, até agora nada foi feito pelas autoridades governamentais. Uma vez o meu amigo Azambujanra, que é mestre em fazer trocadilhos, fez um referente à situação da ferrovia no Brasil. Escrevi uma peça de teatro na qual no fim do terceiro e último ato, vê-se uma faixa : “O Brasil trem solução!?”
Termino esta crônica com a última estrofe do poema “Trem & Trens”:
“Trem & Trens (Piuí)
Café com não
Bolacha não
Com não, com não, com não...
Piuí-piuí...”
Nota – Alguns trechos extraídos do livro“Trem fantasma”. Edição esgotada.
terça-feira, 9 de abril de 2013
Tráfego
Tráfego
*Por José Calvino
Mais uma vez Azambujanra com o estudo das questões literárias na sua casa em Olinda. Sempre às quartas-feiras o poeta se reúne com os amigos e, numa dessas reuniões comentamos sobre o Corredor Norte-Sul, que será construído sem os quatro polêmicos viadutos na Avenida Agamenon Magalhães. Nesse cenário de engavetamento dos projetos de monotrilho, etc, Azambujanra lembrou o sonho do protagonista do livro de minha autoria “O ferroviário”:
“(...) quando Luiz Carlos dormia, sonhando sendo preso como comunista...
Em seu segundo sonho, o trem entrava em um túnel subterrâneo e não mais saía, mergulhando na lama do Coque. Depois, avistava as pessoas entrarem e saírem de um buraco, pelo chão a dentro.
- Será que, no futuro, será assim nas metrópoles?
Ora o trem mergulhava num túnel totalmente escuro (Intervalo) e depois já se encontrava em plena liberdade num trem, sem nuvem de fumaça, nos corredores com pistas altas e baixas: uma para o trem e bonde, outras para ônibus e carros (Intervalo). Em segundo plano via-se, beirando, rios e o mar de Olinda.”
Nos asteriscos sugeri futuro metrô de superfície ou plano elevado por monotrilho: Brum/Casa Amarela – Recife/Olinda ( “O ferroviário –Cap. IV, p. 41 – Ed. 1980).
Sempre tenho sugestões para a Prefeitura Cidade do Recife e Governo do Estado analisarem o tráfego, algumas delas já foram publicadas nos jornais da cidade: A – construir plataformas para embarque e desembarque de passageiros nas paradas dos ônibus, principalmente nas de grande risco de atropelamento. B – Dois planos verão e inverno. Paradas de ônibus geralmente são muito próximas uma das outras (Plano Inverno). Paradas longe uma das outras (Plano Verão). Para melhorar o trânsito no centro do Recife melhoraria com o retorno dos coletivos se as linhas Norte e Centro retornassem pelo Parque 13 de Maio e Rua da Aurora. A linha Sul retornaria pelo Cais de Santa Rita. No centro ficariam apenas viaturas das polícias, forças armadas, imprensa, ambulâncias, bombeiros, taxis e automóveis particulares.
Eu procuro mostrar aos leitores que é impossível termos em Recife um metrô subterrâneo, porque na escavação na altura de uns três metros de profundidade, acredito que se encontra água e essa é a característica da cidade, praticamente construída por sobre mangues aterrados.
O monotrilho evitaria tudo isto, como também as desapropriações, por exemplo. A ligação da estação Joana Bezerra à cidade de Olinda poderia também ser feita por sobre os canais da Avenida Agamenon Magalhães. Já a Avenida Norte (hoje Av. Norte, Miguel Arraes de Alencar), principal via de ligação entre o Brum e a Zona Norte do Recife, poderia ser desapropriada, no entanto a comunidade deveria receber o valor realmente de direito por seus imóveis. O monotrilho causaria mais benefícios do que impactos negativos, pois haverá mais espaço para o tráfego.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Esses políticos são engraçados
Esses
políticos são engraçados
Por José Calvino
Numa roda de conversa entre alguns políticos
evangélicos, comentava-se sobre um certo
secretário de Estado, flagrado dirigindo embriagado seu carro e desrespeitando o Código
de Trânsito e que não se saiu mal do
processo por razões religiosas, as quais relato.
A primeira, você conhece esta
velha mentira do diabo, um pouco não faz mal? Ele sempre começa com um pouco:
um pouco de bebida alcoólica, um pouco de drogas...
A segunda, não se prevaleceu de seu cargo de secretário por ter confessado aos componentes da blitz da PM que havia ingerido bebida alcoólica, por este motivo não faria o “bafômetro”. A própria bíblia disse em Salmos: “ O vinho alegra o coração do homem. Ah, e Jesus Cristo, que fez a água virar vinho.”
E a terceira, por ter procurado o governador para relatar-lhe o ocorrido e colocar o cargo à disposição e divulgado uma nota à imprensa pedindo desculpas. A sua postura de réu confesso diante do fato levou o governador a fazer uma declaração sobre o episódio:
“Não pode ser discriminado porque é secretário”!
Esses políticos
são mesmo muito engraçados...
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