sexta-feira, 25 de abril de 2014

O desembargador



O desembargador

Por José Calvino


- A diferença entre um homem e o seu reverso é simples:
o primeiro é um homem de consciência, o segundo  um
homem que vai na onda.
                                             (C. Wagner)



Um amigo juiz de direito, nomeado desembargador pelo Ministro do Tribunal de Justiça, relendo “ O maior xexeiro no País do futebol”, me contou alguns problemas que existem e que sempre existiram:  são em geral reivindicações dos trabalhadores de modo geral.  O nosso povo não está preparado para revolucionar, até porque uma boa parte dos nossos intelectuais vivem politicamente e culturalmente em cima dos muros, esperando uma oportunidade para mamar nas tetas do governo. Os brasileiros já se preparam para receber o maior evento do futebol mundial. Gastamos involuntariamente (nós, cidadãos que pagamos a fatura) milhões com estádios de Primeiro Mundo. No entanto, o governo não cumpre as decisões judiciais e, simplesmente, as despreza ou menospreza. Vergonhosamente já houve caso, em 2003, de desconsiderarem a decisão do Tribunal de Justiça, inclusive com o amparo no dispositivo aplicável da atual Carta Magna. Votaram com Desembargador, Relator e desembargadores...

Estou preocupadíssimo com que uma pessoa idosa, alto de cabelos brancos, me contou revoltado que, desde criança, sabe que esses governos com conivência da justiça,  falam mais alto que a lei. Um país que vive de miséria, prostituição, jogos de azar..., as autoridades sendo subornadas pelos poderosos, nada mais podemos esperar! O pior: em março deste ano, o juiz homologou a sentença que diz que o depósito judicial será realizado com uma importância de fazer vergonha pela pouca vergonha dos excessos que continuam  falando mais alto que a lei. Sai governo, entra governo e cadê a lei que se deve cumprir?



- Dá vontade de colocar umas bombas nos Palácios... - disse bruscamente com voz possante: “me prendam, seus filhos das putas...”
- Porra, Azambujanra, como você é doido!
- Foda-se, respondeu.

Finalizando, é sempre bom lembrar com poesia os problemas que existem:

Primeiro é uma consideração
(eu respeito)
as massas precisam aprender.

Vamos pra frente
(eu entendo)
que se alastra, que será resolvido
as idéias claras a respeito.

Será ignorância?
(eu tenho pena)
calma que silencia.

Minha arma é a caneta
minha tranquilidade permanece
sem obrigação...
a uma ação, ou comportamento.

Não é de hoje
não cabia.
Deveria.



terça-feira, 22 de abril de 2014

Paulo Matricó




Paulo Matricó (acróstico em linha vertical)

Por José Calvino




P aulo Matricó
A utor de Luiz Lua Alegria
U m cordel ilustrado
L i de um só fôlego
O menestrel de forma poética

M ostrou sertão, folclore e cordel
A gradeço emocionado, senti a poesia
T ítulo que honra a tradição poética Nordestina
R esgatando a trajetória do mestre Lua
I rmãs e irmãos lavradores
C D Lavradores, ouvi o “Canto Cigarra”
Ó Deus da poesia: o som da cigarra..., é poesia!

Parabéns, poetamigo!


                   




Lembrete: SHOW DE LANÇAMENTO DO CD LAVRADORES
                   Teatro de Santa Isabel – 24 de abril 2014 – 20h





quinta-feira, 17 de abril de 2014

"A generosidade do sucesso"


“A generosidade do sucesso”

Por José Calvino


“O maior prazer de um homem
inteligente é bancar o idiota diante
do idiota que quer bancar o inteligente”

                   (Confúcio)


Um pouco repetitivo, pois já foi publicado aqui, numa das minha crônicas, o problema do autor independente e a  situação sócio-econômico e financeira do(a) escritor(a) - poeta. No meu caso, por exemplo, saí  pelo Brasil afora e vendi todos os meus livros. Infelizmente, o difícil é encontrá-los nas livrarias. Eu já comprei o meu próprio livro no Sebo do Recife por dois reais. Para a nossa decepção, uma delas: “Quem aqui compraria meu livro? Porque se ninguém vai comprar, nem vou me dar ao trabalho...” “Por favor votem nos meus ...” E por aí vai, e eu mesmo tive que sair vendendo o meu peixe. Lembrei-me  do Belizário Bezerra, personagem do livro Assassinatos na Academia Brasileira de Letras – Jô Soares, a diferença é que com muito humor, Jô conta que, por duas vezes, os acadêmicos   negaram-lhe aqueles tão cobiçados votos que o aclamariam como “Imortal”. Belizário, em sua fortuna, tinha  o sucesso de vendas dos livros creditado, em grande parte, ao próprio autor, que comprava várias edições por intermédio dos secretários e os mandava distribuir entre os empregados das suas herdades e usinas. Noventa por cento dos peões eram analfabetos...” É triste, mas é necessário que se diga o que vem acontecendo no meio cultural do nosso Brasil, sobretudo de nossa região, com grupinhos  futricando... Aconteceu com um homenageado, numa reunião de escritores e poetas. Um,  recebendo do orador - que faria a saudação - elogios incontáveis.

- Sentiram como ele foi generoso comigo?
- Ele foi apenas sincero – disse Azambujanra.

Recentemente, divulgando Jesus, fui mal interpretado por alguns religiosos e irreligiosos...
Bem, a humildade de saber ouvir, para mim, é uma das maiores virtudes de um artista (escritor). Mas, é bom salientar que me refiro às críticas construtivas e não certas picuinhas e disputas literárias, que vêm acontecendo em alguns grupos (já sai de três), com vergonha da pouca vergonha de pedir ajuda financeira, até pra comprar remédios caríssimos, quando  os governos federal, estadual e municipal não estão nem aí... E haja “generosidade”, nos pedidos para obter o sucesso almejado!!!



terça-feira, 8 de abril de 2014

Arrayal (acróstico em linha oblíqua)


Arrayal

Por José Calvino


A  EstAção do Arrayal
  encontRa-se esquecida
  e   sempRe a vemos abandonada.
               ElA fica no bairro de Casa Amarela,
o           ArraYal gravado na parede em relevo
  foi          retirAdo, ficando ela descaracterizada.
 É bom          reLembrar que não houve tombamento.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O ferroviário



O ferroviário
Por José Calvino

Um ferroviário de Jaboatão
 te coloca na ferrovia
como telegrafista
para isso é necessário vocação

E com isso vem a subversão
revoltar-se contra a chefia
por um salário digno
de um agente de estação

Nesta ferrovia não existe mais reivindicação.
Sem greve, sem moral...
Entrevistas?
Fodam-se, não quero papo.

- Qual é o seu lado?
- Brasil!

Floriano, 01/04/1964.



Foto  1 -  Estação Floriano - Socorro/Jaboatão, 1962. Na foto aparecem, da esquerda para a direita, um praticante de Estação não identificado, telegrafista Silva, assassinado na Estação Arlindo Luz, 1963, José Araújo Chefe da estação, Santino Guarda-Chaves e o autor de gravata de listra, sem o quepe e o paletó; mangas da camisa arregaçadas.
Foto 2 - O autor, no Museu do Trem do Recife – 1985 –


sábado, 5 de abril de 2014

Beco da Fome II




Beco da Fome II

Por José Calvino



Miguel Rodrigo estava bêbado no “Beco da Fome”, sentado à mesa do botequim ainda aberto, eram seis e meia da manhã, um reflexo da luz do sol batia no seu rosto. Um pirralho apanhou uma cédula de dez mil-réis que caíra do seu bolso, e falou:

- Meu velho, olha o seu dinheiro, caiu!
- ...

Miguel Rodrigo agradece com gesto de cabeça e faz menção com o dedo indicador da mão direita na palma da mão esquerda pedindo tempo.
Dois policiais fardados que passavam pelo beco, um deles deu um cascudo no pirralho, que revoltado disse:
- Não sou ladrão, tá pensando o quê?
- Esse filme já passou! – disse um dos policiais militares.

(...)

Nas proximidades do Beco da Fome, na 7 de Setembro, Azambujanra, com o seu amigo, foram à Livro Sete. Estudantes, intelectuais... conversavam sentados num dos bancos de madeira. A poetisa Poeta levanta-se do banco e abraça Azambujanra demoradamente. Eles se beijam à la... E o Vento Levou, e se retiram da frente da livraria. Já eram sete e meia da noite a livraria estava fechando as suas portas, quando um grupo de ‘crentes’ chegaram pregando o evangelho.
O seu amigo ficou ouvindo as pregações dos evangélicos. Enquanto isso, o casal de poetas decidiu tomar uns drinques no Beco da Fome.
Ouvia-se Aquarela do Recife:

Recife das pontes e dos arranha-céus
Cortados de rios à beira mar
És uma planície com teus palmeirais
E tuas igrejas tradicionais

Recife da praia de Boa Viagem
Os teus jangadeiros, lá fora, a pescar
O vento soprando os teus coqueirais
Divina paisagem em noites de luar

Vê é bom se vê
Recife não pára, somente a crescer
Vê como é bom se vê
Milhões de habitantes no Recife a correr
Nosso Recife tão querido
Teu carnaval não tem igual
Sejam bem-vindos ao Recife
Para conhecer  a beleza natural

Vê tem bumba-meu-boi
Vê aqui tem xangô...
Vê a terra do frevo,
Tem caboclinhos
Tem maracatu
São coisas deste teu folclore
E alguns pregões vou cantar:
Chora, menino, pra comprar pitomba
Mangaba, caju e araçá
Pirulito de “mé de abeia”
Mel novo de engenho e munguzá
Caranguejo, uçá de maré do areal
Tudo isto é Recife
A terceira capital.

Numa verdadeira miscelânea, ouvia-se baião, xote, samba-rock, forró-pé-de-serra, poesia...


Nota – Extraído do livro "Trem Fantasma"
(Contos poéticos & humorísticos), pp.15-20 –
ed. 2005.






quinta-feira, 3 de abril de 2014

""Herege graças a Deus"


“Herege graças a Deus”*

Por José Calvino


- Achas que sou herege?
O padre na igreja me disse:
O seu nome é de herege;
O nome não tem nada a ver!

No outro dia,
Logo bem cedo,
A calma somente;
E pediu: Deus me livre!

Eu tinha só dez anos,
Não disse nada a papai,
Só disse a mamãe:
Por que o padre não gosta de mim?

Hoje tenho sessenta e seis anos,
Já vi gente com nomes diversos,
Gente da pior espécie:
Mentirosos, ladrões e assassinos.

Qual a sua religião?
- Sou herege graças a Deus!


Recife, 02/08/2008


*Do livro: “Fiteiro Cultural”, ed. 2011- pp.277-8.






terça-feira, 1 de abril de 2014

Há 50 anos


Há 50 anos

*Por José Calvino


“Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razão”

(Geraldo Vandré)


Quem vive
no mundo da música
e da literatura
tem relação com a luta patriótica,
como nos versos da canção de Vandré.

Escutar uma música histórica
sensibiliza quem viveu as dores
do golpe militar
lutando e denunciando
as injustiças sociais

Somos todos vítimas
cada qual contando
suas  experiências vividas
nas diversas áreas de atuação.

Cinquenta anos!

Fico perplexo quando escuto
dos jovens o  querer a volta dos militares.
Só mesmo quem não lê
e não conhece a história.

Revolto.
Lamento.

Jaboatão dos Guararapes, 31/03/2014.