sexta-feira, 31 de maio de 2013

Saúde e assistência



Saúde e assistência



Por José Calvino



Constituição reza que: “É da competência do Estado e dos Municípios cuidar da saúde e assistência públicas, bem como da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiências físicas, sensoriais, mentais, como também aos idosos é garantida (...) Segurança econômica, condições de habitação e convívio familiar e comunitário que evitem o isolamento ou marginalização social, conforme dispõe Lei Federal...”

Essa contratação de 6.000 médicos cubanos para o Brasil é uma piada de mau gosto. O governo nunca deu condições para os médicos brasileiros atenderem bem à população. Com esse círculo vicioso eu tenho certeza que os médicos cubanos não conseguirão, a começar pelo tratamento eficiente, a exemplo da limpeza (um item importante para saúde) e da marcação de consulta médica: péssima, arcaica e desrespeitosa. O atendimento hospitalar é ainda pior, realmente não estão cuidando da saúde do nosso povo. Um absurdo!

Muitos médicos ainda reclamam ou reclamaram (época da ditadura militar) do sistema integrado de saúde. Sempre denunciei alguns Planos de Saúde. Pois bem, alguns médicos civis e oficiais da polícia são contratados para atenderem em suas clínicas particulares os associados e já aconteceu de doutores oficiais encaminharem de suas clínicas para o Centro Hospitalar da Polícia pacientes pertencentes a diversos planos de saúde, desta feita prejudicando os próprios componentes da PM no tocante à marcação de consultas. E quando se trata de algum dos associados, de pertencer ao quadro da PM, são solicitados mais uma vez os mesmos exames requisitados nas suas clínicas, para com isso receberem os honorários das conveniadas e do Estado. Como são corriqueiras entre os médicos, dentistas, etc. essas falcatruas, já fui vítima de alguns sob alegação de que o Estado ou os Planos de Saúde passam meses sem pagar! Alguns nomes dos médicos denunciei nos anos 70/80 (regime militar) Fiz outras denuncias nos anos 90 (regime democrático!)

Atualmente escrevi para os jornais que não existe nada mais inútil do que os “disque-qualquer coisa” do serviço público. Exemplos: Fale Conosco (Estado) e Alô Saúde (Prefeitura do Recife). Fui informado mais uma vez que o Estado e a Prefeitura não pagam as clínicas conveniadas, então será que irão pagar aos médicos cubanos?



No mundo



No mundo *


Por José Calvino 


Mundo!
Imundo, moribundo.
Vivo no mundo retro
que eu tenho de viver
da literatura,
do cinema e do teatro.

Mundo!
- E essa gente, o que faz?
- Está de luto!
Os vivos
estão mais mortos
que vivos! Eu luto...

Um mundo à parte
A luta continua...



* Recitado no Cemitério de Casa Amarela, 02/11/2005.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Folia




Folia

Por José Calvino


Era um dia alegre para os torcedores do futebol. O estádio estava superlotado. Ouvia-se o rufo e a gritaria dos torcedores. Grupos vibravam com o: Casar! Casar!.../ A turma é mesmo boa/É mesmo da fuzarca...
Os jogadores, animados, procuravam dominar a pelota de couro e levar à meta do adversário. Alguns torcedores irritavam-se com facilidade, jogavam cascas de laranja, pedras. Ouvia-se:

- Juiz ladrão, filho-da-puta, fresco...
- Um, dois, três, quatro cinco mil eu quero que o juiz vá pra puta que o pariu.

Na calçada da Avenida Guararapes, próximo ao Nicola e Bar Savoy, discutia-se qual o time bom, time ruim, jogador bom, jogador ruim; gols e perde gols, gol da vitória, gol do empate. Apostas e mais apostas, revoltas e mais revoltas.

- Foi uma partida bem disputada, mas entregaram o ouro ao bandido já na etapa complementar. Aquele goleiro frangueiro...
- E a renda? Eu esperava ser R$...
- Dê o fim à renda e vamos tomar um chopp.

“... Por isso no bar Savoy/ o refrão tem sido assim:/ são trinta copos de chope/ são trinta homens sentados/ trezentos desejos presos,/ trinta mil sonhos frustrados.” (Do Poeta do Azul – Carlos Pena Filho)
                                  
                                        ----xxx----

Aproveitem logo, o que é bom dura pouco, é preço de oferta. Vamos, entrem. – dizia um locutor de uma casa comercial.

                                        ----xxx----

- Há mais de um século vendendo fortuna (Casa de jogos de azar), anúncio em casa de jogos para atrair fortunas como uma verdadeira folia nos prêmios R$... líquido R$... Imposto de Renda retido na fonte R$... Fundos e Programas Sociais R$... Campeonato Brasileiro e Mundial R$... Administração R$... Despesas Operacionais R$... Agentes lotéricos e Caixa R$... Comissão dos Revendedores R$... Comissão da Caixa Econômica Federal R$... ET Cetera foliátera. O governo é o primeiro contraventor! Isto tudo era para fins filantrópicos, vender ilusão só sendo Brasil! Brasil, sil, sil, sil...

- O arcebispo de Olinda e Recife agora é garoto-propaganda da raspadinha. Avalie!
- Disseram que o dinheiro da raspadinha destinado para o Hospital do Câncer, foi desviado para pagar o 13º da Polícia Militar!

                                      ----xxx----

- Eu cumpro a lei! Graças a  Deus pago aos meus empregados o salário mínimo. Tristes dos ricos se não fossem os pobres.

“RIFA – OXENTE! QUI CESTÃO É SÓ PRA EU

Sabe, Zé, esse biête é bem baratinho, todo mundo pode comprá. Sabe, é pra gente fazer a nossa noite no Arraiá do Bom Jesus. Concorra a uma cesta de arromba. Vê só o que tem dentro dela: 1 mão de milho – 1 bolo pé-de-moleque – 1 queijo do reino – 1 caixa de biscoito – salgados – 1 lata de amendoim – 1 litro de rum – 1 garrafão de vinho – 1 litro de batida.
Será sorteado na hora da quadrilha. Sabe, Zé, pague antes de corrê, sinão cestão tu não vai vê.”


Nota – Alguns trechos extraídos do livro “O Cristo Mulato”, ed. do autor.


terça-feira, 21 de maio de 2013

Filme chamado Brasil




Filme chamado Brasil

*Por José Calvino



Sabendo que existem pessoas que gostam de ler, faço cá as minhas escritas com observações sobre o comportamento do nosso povo. Perante a lei, ao menos, todos nós somos iguais, mas será? Não acredito que no nosso Brasil se tenha uma educação básica que nos prepare para vivermos felizes da vida. Observo sempre que a maioria dos que nascem neste país não tem preparo para viver dignamente, e não tem sequer o primário. Continuo dizendo que a culpa é do governo. Por que, do contrário, será que os meninos e meninas têm culpa? Claro que não.

Pergunto a mim mesmo até quando assistiremos a esse filme chamado Brasil? Será que tenho esta percepção mais extraordinária do que a maioria da população? Penso que não devo deixar de escrever denunciando as injustiças sociais e responsabilizar os governos federal, estadual e municipal. Com esses embaraços não venham me dizer que não foram eles que ensinaram o povo a mania de freqüentar as igrejas com confissões, esmolas pelo amor de Deus, com orações dirigidas a Deus ou a um santo, pedindo ajuda ou auxílio para as pessoas necessitadas, embora até hoje isso não tenha adiantado nada. Os políticos, por sua vez, nunca mostraram interesse para sanar, por exemplo, o sofrimento dos sertanejos e o que eu vejo é muita politicagem para tirar proveito da situação critica em que encontram esses povos. Digo o mesmo com relação à importância que se aprendeu a dar ao futebol. A Copa do Mundo vem aí, mas será que o povo não ficará eufórico demais ao ponto de esquecer do mundo? Quem não se lembra quando os militares estavam no poder nos anos 70 e ganhamos a Copa do Mundo e eles pintaram o sete sem que o povo, em festa, nada percebesse?

Enfim, termino esta crônica com a poesia intitulada “Filme chamado Brasil”:


Estamos assistindo esse filme
Chamado Brasil!
Todos nós sempre temos dito:
“Esse filme já passou”
Já dizia Machado de Assis:
“A hipocrisia é a solda que une a sociedade”.
Quem nos ensinou viver assim?
No despertar de um novo horizonte...
Qual de nós sentirá recordação?
Será difícil reverter esse quadro!!!
Como diz Chico Buarque:
“De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser da outra”.
Fora à mediocridade
Viva o Brasil!

Nota – “Filme chamado Brasil”, extraído do livro:“Miscelânea Recife II”, p.33- ed. esgotada.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

O reformador João Calvino



O reformador João Calvino


Por José Calvino 



Está havendo grande polêmica sobre João Calvino – o reformador de Genebra (1509/1564). Tenho em fac-símile a reprodução da edição 1597 de “Juan Calvin Instituição da religião cristã (Reforma)”. Aos que censuram Calvino por haver alcançado, tão moço ainda, encargos eclesiásticos, é conveniente lembrar que tal era a praxe da igreja naquela época. Devido à posição que ocupou, não faltaram adversários que procurassem, em seus livros, deturpar a memória de Calvino e muitas das calúnias então formuladas ainda são hoje invocadas pelos partidários de credos contrários.

Lendo Bolsec: “Historie de la vie, moeurs, actes, doctrine, constance et mort de Jean Calvin”. O erudito historiador eclesiástico, Schaff, no seu livro “The Swiss Reformation” - 1º vol. p. 303, observa não haver Bolsec produzido nenhum documento comprobatório sobre a mocidade de Calvino. Ainda sobre as intrigas de Bolsec: Schaff cita: "A história ou é uma vil calúnia ou se originou de confundir-se o reformador com um jovem de igual nome, Jean Cauvin - Capelão da mesma igreja de Noyon, condenado a prisão por ter introduzido em sua paróquia uma mulher de maus costumes”.
..
A interferência de Calvino se fez sentir em toda organização de Genebra. A cidade progrediu debaixo de seus conselhos. Cuidou-se da higiene e do asseio das habitações, das ruas e dos mercados. Foi proibida a mendicância etc. A ociosidade foi reprimida e providenciou-se para que todos tivessem trabalho digno. Houve, também, as disputas doutrinárias, cartas e acusações anônimas no livro “Castellio contra Calvino”, de Stefan Zweig.

Em Genebra, começou a discórdia, Castellio não concordava com aquela severidade na disciplina nem com certas opiniões teológicas do reformador. Apareceu um livro contra Calvino, sob o pseudônimo de Martinus Bellius, que se supôs ser o próprio Castélio... No caso do médico Miguel Serveto, em Genebra, condenado às chamas, o reformador Calvino e seus colegas pleitearam pela mitigação do suplício: a espada em lugar da fogueira. "A morte de Serveto não era culpa especialmente de Calvino, mas a baixeza comum do Cristianismo europeu!", afirma Coleridge. Schaff, no seu 2º vol. obra citada p. 839, adianta que Calvino não se deixava absorver pelos bens materiais. Rejeitou até aumento de estipêndio, recusava presentes e vivia com muita sobriedade...

domingo, 19 de maio de 2013

Morro musical




Morro musical


 Por José Calvino 



No último domingo (29 de maio), subi o Morro da Conceição e conversei com o cantor e compositor, João do Morro, que foi acusado de homofobia por haver composto a música “Papa frango”, considerada ofensiva à comunidade gay. Na verdade, está se tornando abrangente esse tipo de produção musical de uma cultura de baixo nível, que causa uma perturbação na sociedade brasileira pela forma violenta e ofensiva como é apresentada, demonstrando claramente seu apelo comercial.
O São João se aproxima e, em vez do autêntico forró nordestino, ouvimos músicas de péssima qualidade num possante carro de som na praça do Morro, desqualificando a mulher e embrutecendo o homem. Mas, o pior é que elas (as mulheres) também cantam e dançam ao som de letras que estimula à violência sexual: “ Vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço de puta pra todo lado...”, “dinheiro na mão e calcinha no chão...”. Isso tudo reproduzido pelos meios de comunicação e patrocinado pelo empresariado, num clímax em que se atinge multidões de braços levantados (mulheres rebolam de maneira orgástica).
O Morro pertencia ao bairro de Casa Amarela e alguns leitores que não aceitam a música “Papa frango” e outras, sugeriram para o próprio João do Morro não mudar assim tão de repente o seu estilo. Segundo eles, o ideal seria melodiar e cantar o “Morro”, “Balas perdidas” e “Casa Amarela”. Como algo assim:



Viver morro

Moro no Morro
Não tem quem me faça
Não morar no Morro

Nasci no Morro
Gosto do Morro
Morrerei no Morro...



Balas perdidas

(anos 50)

Cada um desce o Morro
indo trabalhar de manhã

Nada somos que seja considerado
uma pessoa digna de respeito.

Não se pode andar à vontade,
a lei se deve obedecer.


(1970)

Bala perdida,
Polícia ou Favela?

A maioria das vítimas
é gente humilde e trabalhadora.

Só posso dizer que isso
me revolta também.

Devemos no máximo
encontrar um novo caminho

O destino do país depende
da inteligência das autoridades.

Tenho certeza disso, afinal,
lá vamos nós resolver...

Tudo o que for humanamente possível!
Casa AmarelaI
Recife cidade linda
De uma natureza infinda
Do nordeste do meu Brasil
Tens um subúrbio afastado
Por Deus belo abençoado
Com tantas belezas mil:


II
Casa Amarela, ô,
Casa Amarela
Terra das morenas belas
Onde nasceu a minha ilusão

Casa Amarela
Não é por ser onde moro
É o lugar que eu adoro
Com todo o meu coração.


III
Tem na subida da ladeira
Uma santa padroeira
A virgem Santa Isabel
Onde o sambista apaixonado
Faz seu samba ritmado
A saudação a Noel.

Onde o sambista ritmado,/ com seu pinho acompanhado,/ faz sua oração fiel.
(de minha autoria anos 60).

Obs. Morro - homenagem aos moradores dos morros do Brasil.
Extraído do livro: “Trem Fantasma”, p. 59 – Edição 2005.
Balas perdidas – Rio de Janeiro, 2007/2009. Idem publicado no Literário em, 30/01/2010.
Casa Amarela - I estrofe de minha autoria, acrescentado anos 60. Outras estrofes eram de domínio público (anos 50), em Casa Amarela p. 112 do livro: “Miscelânea Recife”, ed. 2001.

sábado, 18 de maio de 2013

Pernambuco mostra como se luta pela terra



Pernambuco mostra como se luta pela terra


Por José Calvino


São muitos os movimentos de luta pela terra que surgiram pelo país afora nos últimos anos. E é bom que seja assim, porque os países que mais se desenvolveram na história das civilizações foram aqueles que implementaram suas respectivas reformas agrárias. Dividida com justiça, com fins de produção, a reforma agrária é o instrumento para alimentação de todo o planeta, porque através dela os agricultores familiares poderão plantar os alimentos que irão às mesas de milhões de famílias.

Os governos não podem fechar seus olhos, permitindo a existência de grandes latifúndios improdutivos de famílias abastadas, principalmente quando o tema surge como a grande ameaça do século: o mundo pode vir a passar fome. Que então se distribua a terra para quem a honra e nela quer semear.

No Brasil, Pernambuco é onde as lutas são mais intensas. Isso em muito nos orgulha. Desde o tempo das Ligas Camponesas, apoiadas pelo então governo de Miguel Arraes, nosso Estado é palco de honrosas batalhas. Com a ditadura militar dos anos 60, durante 20 anos muito foi abafado, quando não destruído. Mas, esse tempo passou, estamos em plena democracia.

A história não perdoará se neste momento essa situação não for regulamentada pela legislação brasileira. Se a bancada ruralista, que defende os interesses dos grandes latifúndios, inviabiliza qualquer ação nessa direção, que então a sociedade civil organizada eleja seus representantes para que estes assumam no congresso nacional a luta pela reforma agrária.

Destaca-se, nesse contexto, a atuação das federações de trabalhadores rurais de todo o país, representadas por sua Confederação Nacional, a CONTAG. Em Pernambuco, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape) vem atuando além da simples luta pela terra e exigindo que os governos dêem infra-estrutura, assistência técnica, crédito, educação e saúde aos agricultores que conseguiram seu pedaço de chão. Isso é muito mais que lutar pela posse de um local. É garantir qualidade de vida para o homem e a mulher que vivem no campo.

Enquanto outros movimentos invadem terras produtivas, a exemplo dos últimos atos do MST, a Fetape apenas reivindica a terra improdutiva, sem nela entrar, ficando acampados às margens dos limites legais que as cercas impõem, exigindo que se cumpra a lei a qual determina que toda terra improdutiva será destinada à reforma agrária. É civilizado que se faça política sindical dessa maneira. É legal que se lute pelo que se tem direito. Sem badernas. Mais uma vez, Pernambuco dá o exemplo.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

The Platters



The Platters


Por José Calvino



Não faz muito tempo, escrevi na 2ª edição do livro “Miscelânea Recife II”, pp. 189-90, sob o título “Mais de 50.000 pessoas estiveram no estádio do Arruda para ouvir o ex-beatle...”. Houve mudança do roteiro do trânsito antes, durante e depois da apresentação do cantor Paul McCartney. Sinceramente, não fui ao show, nem para O The Platters que se apresentou sexta-feira (03/05), no Teatro Guararapes (Centro de Convenções, às 21h). O The Platters foi formado na década de 50, eu deveria ter uns 15 anos de idade. O povão não lhes dava valor, até porque não sabia inglês, com exceção os que estudavam, assim mesmo o básico. De repente o saudosismo me veio à memória e comecei a pensar naquele tempo de juventude, das canções românticas Only You, My prayer e (You’ve got) the Magic touch. Ah! Como estariam os amigos daquele tempo agora? Azambujanra foi ao show, mas não encontrou ninguém do seu tempo. Mas, tudo isso era privilégio dos jovens. Havia muitas discussões e brigas, que eram fatos corriqueiros como a que aconteceu entre os jovens dos bairros de Casa Forte e de Casa Amarela, quando os farristas de Casa Forte colocavam fichas na radiola para ouvir rock’n’roll e dançavam fazendo muganga, imitando as danças dos filmes americanos. Comprei por pirraça umas vinte fichas para reproduzir incessantemente “Balanceiro...”, na voz de Marinês, a Rainha do Xaxado. Aí a briga começou ao som de: “Olê Laurindo, eu vou tirar uma laranja/Olê Laurindo, uma laranja eu vou tirar...”.

O tempo passa, deixando reminiscências em nossos corações. Encerro com o meu amigo Azambujanra cantando “Only You”, de (Buck Ram / A. Rand):

Only you, can make this world seem right
Only you, can make the darkness bright
Only you, and you alone can thrill me like you do
And fill my heart with love for only you...


terça-feira, 7 de maio de 2013

Menino de rua





Menino de rua


Por José Calvino 



Menino de rua
Menino carente
Filho da rua
Destino ausente

Dorme nas calçadas
Seu cobertor é o jornal
Dos batentes, faz almofadas
Durante a noite, dorme afinal

Acorda de manhã
Sem rezas, ainda de madrugada
Vai à procura do amanhã

Amanhã é outro dia
Diz a beata:
“Virgem Maria!”.


A poesia acima foi publicada na 2ª edição do livro “Miscelânea Recife II”, p. 22 – Ed. Esgotada. O objetivo desta crônica é mostrar que até os dias de hoje, os poderosos, aproveitando-se de nossa incultura, fizeram as cabeças para aceitar tudo que é favorável às classes dominantes, e para não aceitar idéias novas que não venham por vias oficiais. Aceitar, sim, tudo que venha de cima, sem contudo analisar. O que eu quero é que vocês leitores percebam que eles vem prejudicando o povo brasileiro há muito tempo e releiam, por exemplo, “Capitães da areia”, de Jorge Amado, cuja primeira  edição foi queimada em praça pública pelo Estado Novo em 1937. Aliás, o livro começa com “Cartas à Redação”, contando a vida e as aventuras de um grupo de meninos de rua de Salvador-Bahia.

Transcrevo algumas “Cartas à Redação” que escrevi para os jornais: “(...) Zona livre para consumo de drogas... muitos adultos, jovens e crianças consomem drogas na Praça da Encruzilhada. Recife e Olinda estão entregues às baratas. Os bandidos assaltam, matam, roubam e fica por isso mesmo. Por exemplo, em Campo Grande, Recife, os ladrões levaram quase todas as grades de ferro das galerias. No final da semana passada mataram mais uma pessoa e assim vamos nós vivendo na insegurança. Aqui já se tornou rotina, os moradores de Campo Grande estão amedrontados com os assíduos assaltos à mão armada, a qualquer hora, até mesmo em plena luz do dia... Os bandidos são tão descarados que assaltam na frente de todos, pois sabem que há impunidade e polícia não existe. É a banalização do crime elevada ao extremo.

Esta semana um senhor estava comentando que PMs, a partir da zero hora, dormem com as viaturas nas garagens de ônibus, e que o Exército deveria comandar as polícias! É bom lembrar que esta prática de alguns policiais é antiga, principalmente na época da ditadura militar, quando a PMPE era comandada por um oficial superior do Exército. No regime militar a escala de serviço da PM era perversa: 24h por 24h. No Batalhão de Polícia da Radiopatrulha, por exemplo, o comando reunia no auditório todos os graduados alertando para que o público não tivesse conhecimento do empenho das guarnições e da abominável escala de serviços. Alguém ainda quer a volta dos militares. Só mesmo quem não lê e não conhece a história.”
Termino esta crônica com a poesia “Condição para viver”


Na terra que tem bandido
a vida humana não tem valor
no fantasma real da fome
vem o defasado real valor

Sem investir em educação,
emprego digno e saúde,
nunca haverá paz entre nós
assistimos alarmados
os seqüestros, assaltos,
tráfico de drogas... o escambau

Enquanto nada muda
ficamos vendo todos os dias
principalmente nas grandes metrópoles
os trombadinhas e trombadões da vida
agitar nossos caminhos,
aonde iremos nós?

Nota -  “Condição para viver” - Publicado: Folha de Pernambuco - Caderno Programa, p.3 em 01/04/2005.
Do livro: Fiteiro Cultural, p.109 - ed. 2011.






sexta-feira, 3 de maio de 2013

"Amparo Social ao Deficiente"



“Amparo Social ao Deficiente”




Por José Calvino


Azambujanra chegou de visita à minha casa (dia do trabalhador- 01/05), contando que o seu irmão e a sua cunhada estão em depressão por causa do filho caçula. Nós sabemos que a depressão é uma enfermidade grave que pode fazer o enfermo perder o gosto pela vida e até mesmo causar isolamento e tentativa de suicídio. Ainda bem que até agora, em momento nenhum um fato grave aconteceu na vida de ambos. Tudo bem. Com uns documentos à mão Azambujanra contou, lendo, o que vem ocorrendo e relatou observações por razões de saúde de seu sobrinho. Resumidamente, a situação não é tão grave para o desgoverno que aí está, até porque as autoridades nunca investiram em educação, emprego digno e saúde. Vejam que não é filho de favelado, estes que geralmente não têm nenhuma oportunidade, sendo marginalizado. Se trata de um rapaz de 35 anos de idade, com inclinação para o teatro (homossexualismo para alguns). Não entrarei no mérito da questão, até porque o homossexualismo masculino é um tema muito polêmico na sociedade e geralmente tratado de forma preconceituosa. O sobrinho de Azambujanra ficou quatro ou mais anos no Rio, recebendo o dinheiro do pai para custear os cursos de teatro, etc. Após completar o curso teatral, foi figurante em novelas de TV, representação teatral e também como modelo, desfilando nas passarelas com roupas, sapatos, penteados exóticos... Mas, o que vem ocorrendo com a família de meu amigo, e que, na verdade, acontece direto aqui no Brasil é o benefício que quando é solicitado aposentadoria por invalidez é concedido apenas às pessoas miseráveis, com família incapaz de prover sua manutenção, aquela cuja renda per capita não supere ¼ do salário-mínimo. Perguntado se o seu sobrinho já contribuiu para a Previdência Social, Azambujanra respondeu negativamente.

A história clínica refere-se ao periciando (sobrinho), que adoeceu após rompimento de um relacionamento, em 2005, e foi internado... Diz que, desde então, faz tratamento psiquiátrico e só dorme com remédio (sic). A genitora diz que o periciando tem “crises” em que fica agitado e agressivo. “Ele se descontrola com muita facilidade”, azucrinando a vida do casal de idosos. Diz que o mesmo já esteve internado... O exame psíquico do periciando evidenciou comprometimento da afetividade, da vontade e do juízo crítico. É portador de Transtorno Afetivo Bipolar, episódio atual hipomaníaco, associado a Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável, do tipo impulsivo. Apresenta significativo prejuízo da sua vida social e profissional, devido ao transtorno mental e aos aspectos da sua personalidade, particularmente a instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos. Portanto, podemos concluir que o periciando em lide é portador de um transtorno mental que o incapacita definitivamente para o exercício de atividade laborativa. Examinando a miserabilidade, reza na sentença:

“... No presente caso, de acordo com o laudo social..., verifico que o autor reside sozinho em apartamento localizado em área nobre. Apurou-se ainda que seus genitores são os responsáveis por suas despesas, não vivendo com ele no mesmo imóvel devido aos seus problemas psiquiátricos e sua opção sexual, conforme informações prestadas pela advogada... Ainda que o autor não resida com seus genitores, estes têm a obrigação legal de prover-lhe o sustento...”

O irmão de Azambujanra não é homem luxuoso, mas vive em situação melhor, isto é, em melhores condições de que a dos seus familiares e amigos (não é homem de muitos “amigos”). Se preocupa com o futuro da família, e este o motivo que achei por bem transmitir esclarecendo o que vem acontecendo com os deficientes do nosso País, com propagandas enganosas por parte dos governos Federal, Estadual e Municipal.


Perdão de Deus



Perdão de Deus



 Por José Calvino



Houve esta semana aqui no bairro de Campo Grande-Recife, um assalto à residência de um senhor muito religioso. Levaram reais, dólares, objetos de valores, etc. Me lembrei do personagem do livro “O Pai do Chupa”, Miguel Rodrigo Carrasquero, que sempre dizia: “Tem o Deus da bondade e o Deus da maldade, este último está tomando conta do mundo...”

Quando era vivo, o frade capuchinho Damião de Bozzano também, sofreu um assalto à sua residência. Levaram do Convento do Pina reais, dólares, jóias, máquinas fotográficas e um revólver trintoitão pertencente ao frei Fernando Rossi (sic) que ganhou quando abençoou, juntamente com frei Damião, armas amaldiçoadas por Deus.

Lá pediram proteção e felicidade que os cubram por toda a vida! Ora, as grandes armas para vencer são a paciência e o amor. O frei Fernando e o carola deveriam pedir perdão ao Deus da bondade porque devemos lembrar que cai no pecado aquele que se afasta de Deus para adorar outros deuses. O perdão em nome do Deus da bondade pelos pecados cometidos por eles (os religiosos e os assaltantes, pois é difícil encontrar ateus e atéias) possibilita voltar para Deus, recomeçar de novo e mudar as relações humanas exclusivamente para melhor.



Blog Fiteiro Cultural -http://josecalvino.blogspot.com/

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Maria Fumaça e a besta-fera


Maria Fumaça e a besta-fera

Por José Calvino


Padre Cícero do Juazeiro, quando ia inaugurar uma estrada de ferro numa cidade qualquer do interior, sempre dizia aos sertanejos, agrestinos e matutos: “Vem por aí uma besta-fera correndo, apitando, soltando fogo e fumaça sobre trilhos...” A Maria-Fumaça arrotando faíscas de sua fornalha. A locomotiva apitava ao passar antes dos cruzamentos, soltando fumaça em desenhos, pela sua chaminé...” (O ferroviário,1980). Lendo ultimamente “A besta humana”, de Émile Zola, lembrei-me do Padre Cícero, (será que ele leu?) quando nas p.p. 163 e 164, “(...) A locomotiva abandonada continuava a rodar, a rodar, como potro bravio galopando em campo raso... O trem voava... A máquina rodava, rodava, sem cessar, como se a desnorteasse mais e mais o estertor da sua respiração... A estação em peso gelou de espanto, ao ver chispar numa nuvem de vapor e de fumaça, o trem-fantasma...”

O escritor Francisco Foot Hardman, em seu livro “Trem fantasma”, fez referência a várias obras que têm a ferrovia como tema, inclusive “O ferroviário”, de minha autoria. Lamentavelmente, Foot Hardman parece ter esquecido na 1ª edição de mencionar o nome de Émile Zola com a sua obra-prima “A besta humana”, na qual o romancista refere-se sempre aos trens, ligado que foi, desde a sua infância, à ferrovia.

Procurando nas livrarias a 2ª edição do “Trem fantasma”, Foot Hardman, desta vez, mencionou o nome de Émile Zola e sua obra.

Balas perdidas




Balas perdidas


Por José Calvino 

(anos 50)
Cada um desce o Morro
indo trabalhar de manhã

Nada somos que seja considerado
uma pessoa digna de respeito.

Não se pode andar à vontade,
a lei se deve obedecer.
(1970)
Bala perdida,
Polícia ou Favela?

A maioria das vítimas
é gente humilde e trabalhadora.

Só posso dizer que isso
me revolta também.

Devemos no máximo
encontrar um novo caminho

O destino do país depende
da inteligência das autoridades.

Tenho certeza disso, afinal,
lá vamos nós resolver...

Tudo o que for humanamente possível!

Rio de Janeiro, 2007/2009.