Sons do Recife de antigamente*
Por José Calvino
Antigamente, se conseguia identificar os vendedores ambulantes pelos seus sons.
O verdureiro carregando os balaios: "verdureiro oi eu eiro, eiro-eiro...". O gazeteiro: "Olha a Folha do Povo, olha o Coméucio, olha a Noite, Noi... vai querer? Noite... No-oi-oite...?". O vendedor de cuscuz com seu apito saudoso.
Uma corneta anunciava que o picolé estava passando. Com uma pesada caixa de metal, com gelo e sal (não existia isopor). O homem do miúdo ia na frente gritando " Olha, o miúdo" e atrás ia o seu auxiliar segurando o balaio e a balança de dedo (nada confiável). O amolador de facas, alicates e tesouras com seu esmeril de pedal (que barulhinho, hem?). O barulho de caçarolas batendo indicava que o consertador de panelas estava ali. O tocador de realejo trazia doces conhecidos como o japonês.
Estes e outros sons, tão característicos de uma época, me fizeram gravar um CD que traz coisas do Recife bom... de antigamente.
* Folha de Pernambuco, 23/09/2005.
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