quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Vida Militar



 Vida Militar
                                      
                                      Por José Calvino





“Estamos assistindo esse filme
Chamado Brasil!
Todos nós, sempre temos dito:
‘Esse filme já passou’
Já dizia Machado de Assis:
‘A hipocrisia é a solda que une a sociedade’.
Quem nos ensinou viver assim?”




  


Nossa história estabelece que se diga a verdade sobre a conduta humana. Na vida militar já evitei duas chacinas, uma em 1959, durante a greve dos ferroviários. Eu servia na então 7ª Cia de Polícia do Exército (PE). A outra, em 1972, em plena ditadura militar no Presídio Professor Barreto Campêlo (Ilha de Itamaracá-PE), quando os presos políticos começaram a esculhambar com a polícia (Guarda do Presídio). Prefiro não entrar nos pormenores, até porque os comandantes já faleceram. Mas, como iniciei esta crônica para que se diga a verdade, sugiro que leiam “O caso eu conto como o caso foi”, do saudoso escritor Paulo Cavalcanti, que foi vítima da ditadura militar (1964-85), quando foi preso e conduzido de quartel em quartel, assistindo à troca de prisioneiros até chegar ao então 14º Regimento de Infantaria (14 RI) em Socorro-Jaboatão, sendo trancafiado num xadrez do Corpo da Guarda, a noite toda. No outro dia pela manhã recebeu a visita do comandante coronel Ruy Vidal de Araújo,  elogiado no referido livro como uma pessoa muito educada quando cumprimentou-o pedindo desculpas por ter passado a noite naquele cubículo, pois Paulo Cavalcanti sendo advogado tinha direito à prisão especial, ficando sete meses no cassino dos oficiais com a alimentação sendo a mesma dos oficiais. Realmente, o coronel Ruy era um homem educado, amissíssimo do meu sogro e que eram Kardecistas convictos (ambos falecidos). Dialogávamos sempre na estação ferroviária de Floriano Socorro-Jaboatão e em suas respectivas residências. Cita ainda Paulo Cavalcanti que, ao ser transferido para o alojamento dos oficiais, teve longo convívio com o ex-comandante da Polícia Militar de Pernambuco Hangho Trench,  que se encontrava também preso naquele regimento. Com razão, o escritor deixou de generalizar certos preconceitos contra os militares.
E hoje, o que estamos assistindo? 
       


 Foto – Quartel da Polícia do Exército, Cabanga-Recife, 1960. Na foto,aparecem soldados  da PE e, ao centro em pé, com capacete (assinalado), o soldado apelidado por “Barruada”, abatido pela Polícia do Exército, no golpe militar de 1964. Próximo, aparece o autor, o terceiro da direita para a esquerda, idem de capacete. Os demais estão de gorros de pala.

Nota do autor: No Recife, o regime fez as suas primeiras vítimas: os estudantes Ivan Rocha Aguiar e Jonas José de Albuquerque Barros (mortos) e um ferido, não identificado!




terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Turvo




Turvo 

Por José Calvino

Esta mancha
na minha visão,
me assombra
e turva!

Nos meus reflexos
da luz do amor
que vem de você
volta a brilhar...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Olhos



Olhos 

Por José Calvino 


Eu vi o meu amor
Ela toda nua
Eu ensaboado
Enxaguava o seu corpo

Vagarosamente...
Cada detalhe
Eu acompanhava
Tão lentamente

Eu a via com prazer
Aquele corpo
Ela também
Com os olhos brilhando:
Queria tocar
Queria cantar
Queria dançar
Queria amar
Viver de amar
Olhos nos olhos
Comer com os olhos.

Na parada de ônibus




Na parada de ônibus 

Por José Calvino 


Na parada do ônibus
Um débil mental
Como sempre são seres
Imperfeitos!
Começou a falar alto:
“O mundo não para,
Vocês preocupados com a demora 
Dos ônibus,
Mais das vezes se esquecem
De algo...”

Eu, automaticamente lembrei
De meu aparelho auditivo
Que havia esquecido.

Em silêncio:

Vejam como são as coisas
Eles mostram que podemos errar
Ignoramos as verdades
Que não queremos ouvir
Entretanto, se perdemos eles mostram
Muitos caminhos...

É a vida.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Quando a paciência se esgota





Quando a paciência se esgota


Por José Calvino 



Essa aconteceu nos anos 50, no Recife. Havia, na subida do Alto José do Pinho, bairro de Casa Amarela, uma horta, cujo dono era apelidado de “Seu Cu”. Não gostava, é claro, de ser chamado de “Seu...”, mas desde menino, os moleques dos Morros e adjacências, onde quer que o encontrassem, chamavam:

- “Seu Cu”, tem alface?

- “Seu Cu”, tem quiabo?

O dito cujo já estava com seus quarenta e poucos anos de idade e os meninos continuavam zombando dele...

Um dia, não mais aguentando meteu bala num dos zombeteiros e matou-o na hora. A família da vítima era rica; a do “Seu..., pobre.

Não houve jeito de encontrar um advogado para defendê-lo, pois o crime contava com muitas testemunhas.

Depois de apelarem para advogados, sem sucesso algum, resolveram procurar um tal de 'Zé Cachaça', advogado que há muito tempo deixara a profissão, pois, como o próprio apelido indicava, vivia de porre.

Pois não é que o 'Zé Cachaça' aceitou o caso? Passou a semana anterior ao julgamento sem botar uma gota de pinga na boca!

Na hora de defender o seu constituinte, ele começou a sua peroração assim:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri.

Quando todo mundo pensou que ele ia continuar a defesa, ele repetiu:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri

Repetiu a frase mais uma vez e foi advertido pelo juiz:

- Peço ao advogado que, por favor, inicie a defesa.

Zé Cachaça, porém, fingiu que não ouviu e:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri.

E o promotor:

- A defesa está tentando ridicularizar esta corte!

O juiz:

- Advirto ao advogado de defesa que se não apresentar imediatamente os seus argumentos...

Foi cortado por Zé Cachaça, que repetiu:

- Meritíssimo juiz, honrado promotor, dignos membros do júri.

O juiz não agüentou

- Seu bêbado irresponsável, está pensando que a justiça é motivo de zombaria? Ponha-se daqui para fora antes que eu mande prendê-lo.

Foi então que o Zé Cachaça disse:

-Senhoras e Senhores jurados, esta Corte chegou ao ponto em que eu queria chegar...

Vejam que: se apenas por repetir algumas vezes que o juiz é meritíssimo, que o promotor é honrado e que os membros do júri são dignos, todos perderam a paciência, consideraram-se ofendidos e me ameaçaram de prisão, pensem então na situação deste pobre homem, que durante quarenta anos, todos os dias da sua vida, foi chamado... tenho até vergonha de... (dramatizando, começou a chorar) !

Moral da história, o réu foi absolvido.


Obs: São relatos verídicos, mas o apelido do advogado é ficcional.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Viagem



Viagem

Por José Calvino 



Foste comigo à estação
quando o trem chegou eu fui
e tu ficaste
pela janela te dei adeus.

Na plataforma me abanaste a mão
eu chorei...
Com o lenço enxugaste as lágrimas.

Quando cheguei na estação do destino
lá estavas me esperando de contente
e nós amamos novamente...

Telegrafia e os erros de português




Telegrafia e os erros de português

Por José Calvino



Ultimamente estive em Gravatá, no centro da cidade, e percebi que o equívoco a respeito da grafia da palavra "ruças" é grande. A confusão começou há muito tempo, na época em que os telegrafistas das Estações de Gravatá e de Vitória de Santo Antão eram semi-analfabetos. Então quando o profissional da Estação de Vitória indagava sobre o tempo nas serras, seu colega de Gravatá informava, em Código Morse, que "as serras estão russas", isto é, "nevoentas", "ruças".

Com o tempo, surgiram comentários que o Código Morse, invento do século 19, foi o responsável pelo troca-troca, porque teria sido criado para ser usado em inglês. O telegrafista de Gravatá, não encontrando o cedilha, usou o "s" dobrado! Pura invencionice, dando surgimento a mais um barbarismo gramatical. Será que eles transmitiam "Estassão de Gravata" (o "ç" e o "á" acentuado constam naquele Código)?

A verdade é que muitos ferroviários não sabiam direito o alfabeto Morse. Aprenderam somente a licenciar trens através de números e prefixos. Quem foi profissional da arte da comunicação da velha telegrafia, particularmente do aparelho Morse, sabe disso... e sentiu com a despedida do invento que ocorreu através da televisão. Foi um adeus pobre, frio e mais que breve. O incrível computador disse ao Morse: "Vai-te embora, ninguém mais precisa de ti. Fizeram-me tomar o teu lugar. Sou eu, agora, o mágico da comunicação. Adeus e boa viagem". Isso aconteceu à noite de 31 de dezembro de 1997, numa cena rápida (sic).

Nos anos 50, eu era praticante de telegrafia na então estação do Arrayal (Casa Amarela). Aprendi telegrafia com o meu pai, que era chefe da referida Estação. Para um estudo mais detalhado, o alfabeto Morse consta no livro de minha autoria, Trem Fantasma.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Irã & Irá e O Inquérito

Irã & Irá e O Inquérito* 

Por José Calvino



Capítulo 13 - Irã & Irá




No terceiro andar do edifício Léa a polícia intima diversos hóspedes a depor sobre as mortes de Rômulo e Miguel Toriano, vítimas de leviandade e escândalos, assassinados no mesmo dia e hora e em locais diferentes. Delegados de polícia das cidades de Vitória e Olinda, em conjunto, procuravam elucidar os crimes.

Na tarde desse mesmo dia foi localizado pela polícia dois soldados do Exército à paisana, que freqüentavam sempre o apartamento de Rômulo, os quais perturbavam no cinema São Luiz, no qual passava um filme sério. Foi chamada a Polícia do Exército (PE), que os conduziu para o QG do IV Exército. No dia seguinte, através de ofício, foram encaminhados para a delegacia de homicídios para esclarecer fatos que os envolvia em assassinatos. Lá, não obtiveram êxito, só constatando haver os ditos militares dados ao vício do tóxico e habituados a praticar desordens nos cinemas do Recife, como fumar na hora da projeção, gritos estéricos com exceção aos filmes pornô, que assistiam com a maior atenção, pés nas cadeiras da frente..., tudo isso foi o suficiente para os anarquistas serem excluídos do Exército. Eram filhos de criação de Rômulo e Miguel (esse com o coração cheio de pontes safenas, igual ao Recife “cheio de pontes”), chamavam-se Irã e Irá por serem muito parecidos e da mesma idade, mas muito mal educados em lugares que exigem respeito ao próximo, ficando desta feita na mira da polícia.

Capítulo 14 - O Inquérito

Ao passar dos anos foi assassinado o ex-soldado Irã, no baixo-meretrício.

João de Deus e Irá viajaram para o sul do país, pois não constavam no processo criminal. João de Deus havia pago, bem pago, para que o inquérito policial não envolvesse a ambos. Bastava o vexame que o Irá passou na morte de Rômulo e Miguel Toriano.

João de Deus desde o princípio, se defendera com o delegado de Vitória, incluindo-o só como informante, inocentando, e nada mais. Obtivera experiência com os amigos doutores, principalmente com o médico que indicou um seu amigo para a tão esperada operação, em que a dose de cocaína e hormônio feminino fora maior, dando o terceiro sexo desejado e, conseqüentemente, a mudança do nome para Andréa. O médico e Andréa dialogavam muito, mas o que precisamente os preocupava era o envolvimento da polícia no caso. Principalmente o seu Irá, que era jovem e recém excluído das forças armadas e não tinha ainda experiência. Ficara louco com a morte trágica do seu pai verdadeiro, Elias. Andréa notava que iria, aos poucos, perder o seu dinheiro no vício. Ela já havia conseguido um internamento numa clínica psiquiátrica, para Irá, mas nada resolveu. Também estava notando que precisava se cuidar, só se acalmava quando usava as drogas passadas pelo médico-amigo. Sabia que o seu Irá não resistiria pela quantidade de medicamentos, pois sofria do coração.

Era junho e chovia muito no Recife. Do terceiro andar do edifício Léa via prédios úmidos, as poucas árvores contentes. Ria o rio Capibaribe, arrastando os bálsamos das algas baronesas por baixo das pontes. Recife estava triste devido às chuvas.

João de Deus atravessou, depressa, a praça Joaquim Nabuco e entrou no hotel, notando o porteiro encorujado. Ofereceu um cigarro, sendo aceito com café a dois, tirado de uma garrafa térmica e entregue um telegrama da Estação Central, destinado ao mesmo com a triste notícia da morte dos seus amigos Rômulo e Mic, em Vitória de Santo Antão e Olinda. Nervosamente fumava cigarros, um em cima do outro. O porteiro o ajudou a subir as escadas por haver faltado energia. Os elevadores estavam parados, parecia que o mundo estava parado. Também um protestante, hóspede do Léa Hotel, vendo o rapazola nervoso disse com precisão:
- Tenha Jesus no coração, fé em Deus, irmão!

Por fim, o rapaz conseguiu deixar o hotel e resolveu se confessar a um padre. Em seguida, vai até a Estação Rodoviária providenciar a passagem de ônibus com destino a Vitória. Ia pensando, olhando a paisagem pela janela do ônibus. Na estrada esburacada o ônibus dava constantes “catabis”.
- Como aquilo poderia ser a realidade? Talvez fosse um sonho. – temeroso – o que é que o doutor delegado de polícia quer de mim? Fui dar o meu endereço, tudo por causa de Rômulo.

Chorava, e ao mesmo tempo pensava em fugir de tudo, suicidar-se. Acreditava ser o único meio de se livrar de tudo o que o atormentava desde criança. A operação que já estava para ser confirmada, o dia, a hora, tudo. Tudo pago pela transação dos amigos de Rômulo e Mic. Ao mesmo instante em que pensava em suicídios, vinha a esperança da operação ser realizada na França e conhecer Paris, o seu sonho.
- Minha Nossa Senhora, ele era tudo para mim! Ele não usava isso, não senhor. Ah, acho que me lembro quando uma vez ele disse para mim: “É a moda, estamos no progresso, só não vou marchar. Qualquer dia eu deixo a ferrovia e vou gozar a vida.”

O delegado levantou as sobrancelhas:
- O pobre morreu. A tempo que nós desconfiávamos dele, você não usa?
- Deus me livre, somente bebida e assim mesmo com moderação. Sei que é o mesmo veneno lento mas, pelo menos, não há proibição.
- Ele dizia sempre: “eu vou marchar?” Como muda os costumes, os jovens de hoje não entendem, mas se disser “dançar”, logo entendem como ir na malandragem de alguém. Você faz um favor pra mim?, lembra-se do nome do filho de um Agente de Estação que chefiou Farol, há três anos passados?
- Estação de trem?
- Sim.

João de Deus passou a mão na cabeça e em seu rosto. O delegado observou que ele estava ocultando alguma coisa.
- É um nome que você procure se lembrar e envie pelo correio endereçado a mim, como também o seu destino, que nada acontecerá com você. O inquérito, farei sem lhe comprometer, só quero que ajude a polícia, procure concentrar-se, que você se lembra.

O delegado já sabia o nome, só faltava prender em flagrante. Sabia por informações, que era um grande traficante de tóxicos e super viciado em jogos de azar, só não sabia o destino e mesmo assim não estava agindo no seu distrito.
- Não adianta, tome um cafezinho e escreva. Você é um rapaz educado, como Rômulo era, mas a vida é assim mesmo. Deve ter tido uma infância muito perturbada. Pelo menos na minha jurisdição você está limpo.


* 13 / 14 (Capítulos do livro “Aonde iremos nós?” – pp. 54-8 – ed. 1983).

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

SOMBRAS DE UMA PROFECIA




SOMBRAS DE UMA PROFECIA*
Por José Calvino




Estou relendo o livro de Lucelena Maia neste final de semana, “Sombras de uma Profecia”, no qual a escritora e poetisa paulista  criou uma história de mão cheia, com um título que teve por inspiração o misticismo na enigmática Índia. Trata-se de um romance bem distribuído com a característica de um espírito agudo, penetrante, que capta inteligentemente os mistérios daquele país. Sem contudo nunca a autora ter visitado aquele país, antes e nem depois (até junho de 2009) de “Sombras de uma Profecia”. Numa seqüência agradável, de fácil leitura, sem ser “à la” submissão. A obra desenvolve-se em uma trama saborosa, com a colocação de choques, concepções e decepções abertos ou resguardados como segredos..., a enfrentar gerações e centrados nos relacionamentos amorosos. O romance “Sombras...” poderia ser elevado à categoria de estudo sociológico, para empregar o amor como um todo, com uma riqueza humana que, as poesias de Dante Milano, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Laurindo Rabelo, fizeram parte da história da personagem central, poemas que a conduziu com muita energia para enfrentar tempestades pessoais. E com o final de sua autoria: “Cata-Vento”, que formam enriquecendo a sua real contribuição à Literatura Brasileira.

Permita-me:


Cata-Vento ( Primeiro livro de poemas de Lucelena Maia – pp. 26-7 –
“Põe-te de pé, poeta!”)


 


Leva-me pro vento,/ Memória, me leva.../ Pra linha do tempo,/ Lá, eu tenho história,/ Reservas da vida/ Que não se traduzem,/ Acervo somado/ A tanta emoção:/ Escrita co’os olhos,/ Firmada co’a alma,/ Vivida a dois,// Leva-me pro vento,/ Memória, me leva.../ ao túnel do tempo,/ Urgência que eu tenho,/ De ver meu enredo,/ Mudar os mistérios,/ Os vícios inglórios,/ Alegre avental,/ Fechado no peito,/ aberto ao despeito,/ Velado no armário,/ Leva-me pro vento,/ Memória, me leva.../ Cruzando o silêncio,/ Gritando meus medos,/ Soprando-os à sorte,/ E pondo-me inteira,/ Segura e fecunda,/ No leito da estrada,/ Ousando pegadas/ Escritas co’os olhos,/ Firmadas co’a alma.



*Excelente, para o que se propõe, o romance “Sombras de uma Profecia” e “Põe-te de pé, poeta!”, de Lucelena Maia - (Scortecci Editora).
(Do livro “Fiteiro Cultural I”, pp. 11-2 – ed. 2011)




terça-feira, 15 de janeiro de 2013

HAI-KAI


                                                       Calend. Cal
HAI-KAI
 

Por José Calvino 


Coloriu o ambiente
  a linda borboleta
no planeta da gente.


Extraído do livro "Fiteiro Cultural" - p.43 - ed.2011
 


Imbecil*




Imbecil* 

Por José Calvino



Ébrios, desempregados,
prostitutas...
Gente sofrida
sem ter escolhido
aquela vida.

Imbecil!

Tua língua ferina
discriminando-os, por quê?
Com o tempo ninguém
te dará atenção.

Imbecil!

Agora diz: Oh, Cristo!
Onde estás
que não me vês?
Ou todos nós, juntos,
somos vós?


* Extraído do livro Fiteiro Cultural, pp. 44-5 - Edição independente.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Jesus





Jesus 

 Por José Calvino 



Não pretendo escrever uma obra teológica ou tomar partido em conflitos religiosos. Como exemplo de vida, já fui perseguido por ter o nome do reformador de espírito universal. Professores carolas diziam, principalmente um de história: “Foi o movimento que, dividindo os cristãos do Ocidente no século XVI, originou diversas novas igrejas chamadas protestantes, as quais não mais seguiriam o comando e a orientação do papa de Roma...”. Mas, jamais poderei ser privado de minha liberdade, pois estou escrevendo universalmente com ousadia “Jesus”. Sem medo, sempre denunciei as injustiças sociais. Além disso, sempre respeitei a fé cristã , até porque sempre convivi com pessoas simples e religiosas (pobres do nosso Brasil).

Com mais de 2000 anos da vinda de Jesus Cristo (Vide Hipocrisias, pp.), inicio este trabalho literário com trechos salteados do livro inédito, “Jesus” (Vide Fisionomia de Jesus – p.) , que Veio ao mundo sem ter Caído do céu, nem Vindo de outro planeta. Jesus teve como pai adotivo José...(Vide O nascimento de Jesus Cristo, Mt 1:18-25 e Lc 2:1-7).

De acordo com as Escrituras, tanto judias quanto cristãs, Jesus teria que ter nascido em outubro na Succah (Cabana), durante as festividades da Festa dos Tabernáculos (Sucott), quando os pastores ainda podiam estar apascentando nos campos com as ovelhas. Argumentam com fundamento, que em dezembro é época de inverno no Oriente Médio e que nem mesmo o pastor mais lunático estaria fora à noite gélida, em campos cobertos de neve (Vide Carta de uma judia a um pastor, de Dalva Agne Lynch. Idem, editorial Literário, 24/dez/2012). Acredito que é preciso conhecer bem a terra onde ele nasceu, e o povo com quem ele viveu.

Dizendo-se ser filho de Deus (Vide Quem é Deus? – p.), não ficou alheio à vida da humanidade do seu tempo. Jesus era um homem inteligente, que aplicava muito bem as palavras de amor e bondade, era um ser humano igual aos outros, nascido de relação entre um homem e uma mulher. Ele nasceu pobre, viveu no meio do povo, ele propôs aos homens se amarem como irmãos e paz para todas as pessoas (No Brasil, enquanto o governo não investir em saúde e educação, não haverá paz.). Como assim? Para entenderem melhor, Ele disse: “Por serem todos filhos do mesmo pai.” Alguns seguiram-no, muitos se colocaram contra e foram a favor do império romano, levando-o a ser crucificado. Mas, a igreja convenceu milhões de pessoas a acreditarem que ele ressuscitou. Pra mim isso é conversa pra boi dormir (Vide Mt 10:8).

Até hoje muitos religiosos acreditam que Jesus está vivo (Vide Será o Fim do Mundo? – p.). Tenho certeza que alguns leitores estão perguntando: “Como vivia o povo?”; “Quem se relacionava com ele?”; “Quem estava no poder?”; “Havia religião?”,et cétera, (Vide Sobre cristologia, p.).

(...)

A Palestina era um país essencialmente agrícola e sua economia, sobretudo era mais voltada à agricultura (Vide Mc 2: 23 – 4: 1-19 – 4: 30-32. Ah, e Jesus Cristo, que fez a água virar vinho (Vide João 2: 9) , na pecuária (Vide Mt 9:35-38 – 25:31-32), na pesca (O peixe era alimentação popular), no artesanato (Vide João 12:3), barcas e redes. Não havia indústrias como hoje, mas sim muitos artesãos (Vide Mc 1: 16-20 – Mt 13:47 – Lc 5:1-7 – Lc 9:62) e tanques para espremer uvas ou azeite (Vide Mt 9:37).

(...)

Circulavam os produtos com muitas dificuldades para o comércio. A Palestina não era região diretamente marítima e as demais eram montanhosas. Apesar disso, nas aldeias eles trocavam um produto por outro. Existiam feiras livres nas cidades, principalmente nas grandes cidades como a Galiléia, onde se desenvolvia um certo comércio internacional; para isso se usavam várias moedas de diversos países (Vide Lc 15: 8 – 20: 24).

Nos povoados os impostos eram de diversos tipos. Para os romanos se cobrava ¼ das colheitas, logo vendidas e trocadas em moeda. O pedágio era sobre transporte de mercadorias, taxas de alfândega... Grandes somas partiam de Jerusalém para Roma. Em Roma, uma categoria se beneficiava às custas das províncias coloniais com a Palestina. O povo tinha apenas o suficiente para sobreviver e com tantos impostos a pagar, a miséria se tornava ainda mais pesada para muitos sem condições de satisfazer suas necessidades mais vitais. A cobrança se fazia através de funcionários chamados Publicanos que atuavam em todos os níveis (Vide Mt 9: 9-13 – Lc 18: 11).

Os responsáveis pelas cobranças ficavam com suas comissões e os furtos eram freqüentes, principalmente em altos escalões e praticamente sem controle. A corrupção era grande e isso tudo levou o povo a desprezar e marginalizar toda a categoria dos publicanos (Vide Lc 16: 6-7).

O Templo era o centro do poder econômico e onde todos os impostos eram centralizados. Lá era uma fonte de empregos: vendedores de bois, ovelhas e pombas, diversos cambistas explorando o público ( Vide João 2: 13-20).Então, quando Jesus falava do templo a ser destruído, ameaçava a estrutura econômica na sua base e esse foi um dos motivos da sua condenação ( Vide Mt 26:61).

A situação econômica de Jesus era igualmente à do povo da Galiléia, por fazer parte da vida econômica dos camponeses, pescadores e das donas de casa. A situação dos desempregados mostra como se relacionam os ricos proprietários. Assim Jesus mostra que conhece perfeitamente a situação econômica da classe trabalhadora explorada (Vide Mt 18: 23-34 – 13: 54-55).

(...)

Jesus sempre manifestou seu afeto para com as crianças (Vide Mt 11: 16-17 – Mc 10: 14).

Mulheres e crianças eram excluídas da vida social, igualmente os deficientes visual, auditivo, mentais e escravos (Vide Lc 17: 14).Ele ficava aborrecido de ver o povo disperso, perdido, explorado e desorganizado ( Mt 17: 24-27).

(...)

Jesus quebra os tabus: Fala a sós com uma mulher Samaritana (Vide João 4: 27).

Jesus se faz acompanhar por um grupo de mulheres junto com os discípulos (Vide Lc 8:1-3). Elas, sozinhas, estão presentes em Seu Calvário (Vide Mc 15: 40-41) e serão as primeiras testemunhas da ressurreição (Vide Lc 24: 1-11).

(...)

Peço licença agora aos leitores para esse lembrete: História do dinheiro da então República dos Estados Unidos do Brasil. Em 1942 foi lançada no Brasil a nota de Cr$ 10,00 (dez cruzeiros), que trazia em destaque a imagem do caudilho gaúcho Getúlio Vargas.

-> Dinheiro do Brasil: várias mudanças de nomes e valores no decorrer da história. .

Jesus reconhece que os impostos exigidos por estrangeiros são abuso e injustiça (Vide Mt 17: 24-27)!

Devemos pagar imposto a César ou não? Os Fariseus fizeram essa pergunta a Jesus, com intenção de provocá-lo. Claro, as vozes da administração estrangeira seguem pressionando por todos os meios. Para isso Jesus muito vivo pediu aos Fariseus uma moeda e perguntou: “De quem é a imagem e a inscrição da moeda?”- “de César”, responderam-lhe. Era uma imagem proibida aos judeus. Um deles, retirando do seu bolso uma tal moeda, estava em contradição com a Lei que pretendia defender.

Jesus então, com certa ironia disse: “Pois bem, devolvam a César o que é de César.” (Vide Lc 20: 20-26). Será que não poderia Jesus dizer também: “Devolvam ao povo o que é dele?”

Jesus adotou uma atitude crítica em relação aos abusos do poder pela classe dominante (Mc 12: 1-12). A critica de Jesus se dirige então aos responsáveis da nação judia: “O dono da plantação destruirá os vinhateiros e dará a vinha a outros.”

A autoridade de Jesus como um ser social era baseada na confiança que o povo lhe tinha, a classe dominante tinha medo de mexer com ele. Jesus fez com que esse povo, com seus líderes, se organizassem e resolvessem o seu problema (Vide Mc 15: 6-15 – Mc 6: 33-44).

Jesus morreu por dois motivos:

1 – Religioso: Foi acusado de blasfêmia porque, sendo homem, se fez igual a Deus, e assim tirava dos Sacerdotes a última palavra sobre a Religião;

2 – Político: Jesus caiu numa armadilha. O sinédrio queria acabar com ele, porque se sentia ameaçado em sua autoridade. Por outro lado, os zelotes queriam uma mudança política imediata. Apesar de não concordar com os zelotes, o sinédrio conseguiu jogar o povo contra Jesus na hora da Paixão. Pode ser que por isso Barrabás, o zelote, preso por sua ação terrorista, apareceu ao povo como tendo mais condições que Jesus para encabeçar uma libertação nacionalista (Vide Mc 15: 6-15. Idem, Sobre cristologia, p.).

Termino este trabalho com a primeira Epístola de João 4: 20-21:

“Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.

Ora, temos da parte dele este mandamento, que aquele que ama a Deus, ame também a seu irmão.”

  1. Nota – O livro será editado. Está faltando patrocínio. Quem se habilita?