segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FELIZ ANO NOVO



O FITEIRO CULTURAL DESEJA A TODAOS LEITORES UM ANO NOVO CHEIO DE PAZ E AMOR.

JOSÉ CALVINO
RECIFEOLINDA 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sobre cristologia




Sobre cristologia*

 Por José Calvino 



Entendendo cristologia como a reflexão que, partindo da realidade de Jesus Cristo e de fé, nos remete para a nossa realidade, digo que a cristologia da sublime abstração, que é ver o Cristo Sublime, como também Espiritual, não se compromete com os pobres e se torna muito alienante, pois Jesus Cristo tomou partido pelos pobres; como também a conferência Latino-Americana em Puebla.
Essa cristologia, que é representada pelos grupos carismáticos, pentecostais, folcolares etc, esquece-se do Jesus histórico e lembra o Jesus amor. Isto se torna abstração, porque esquece a realidade do povo de hoje e porque não se compromete com o pobre. Esta cristologia é comparada ainda quando dita assim: Cristo é o poder, seria de socializar o poder temporal. Dizer que o poder dos políticos vem de Deus, isto é alienante.
O que mais me chama a atenção é a pluralidade da Igreja (dos grupos) na época de Jesus, assim como também o sinédrio. Os grupos que eram os fariseus (judeus que seguiam as leis de Moisés e se achavam puros. Povo de moral perfeita e por isso eram admirados); os saduceus (eram a aristocracia. Deste grupo saíam muitos sacerdotes que faziam parte do sinédrio. Eles faziam o jogo do Império Romano e acabavam com os movimentos contra o Império, não acreditavam na ressurreição); os essênios (eram os monges radicais que viviam fora da sociedade. Eles viviam uma vida perfeita na comunidade); os herodianos (seguiam a política de Herodes); os zelotes (vinham das camadas mais baixa da sociedade, eram guerrilheiros contrários radicalmente ao Império Romano).
Analisando o ontem e o hoje, dizemos que esta pluralidade na Igreja é representada, atualmente, pelos grupos: jovens, vicentinos, carismáticos, folcolares, que tinham as tendências diferentes em relação ao trabalho na Igreja de hoje. No que concerne ao sinédrio (notamos esse, tribunal de judeus), sendo manipulado pelo Império Romano em conjunto com algumas pessoas de um grupo, como os saduceus.Jesus, ensinando a alguns saduceus, disse: "Tomai cuidado com os mestres da lei que gostam de circular por aí com roupas vistosas, de receber saudações nas praças, de ocupar as primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes, e devoram os bens das viúvas encobrindo tudo isso com longas orações: serão julgados com o maior rigor!" MC 12:38, 39 et 40.Analisando este texto, dizemos que os mestres da lei na antiguidade da Igreja eram os escribas, que hoje na nossa sociedade política (e não religiosa) são os políticos (os deputados, os senadores, os vereadores e os políticos indiretos). Com estes escribas, politiqueiros de hoje devem tomar cuidados: são demagogos, andam elegantes, usam a religião para ganhar votos do povo e jamais beneficiá-los. Essas viúvas do texto para nós são os pobres, são os índios, que são roubados e expulsos das terras pela lei dos escribas-políticos, que os grande tubarões - usam contra esses pobres coitados. Fugindo um pouco do texto, mas estando nele de maneira crítica, concluo com a parte do Sermão da Montanha, que diz: "Felizes os famintos e sedentos de justiça porque serão saciados."



* Trabalhos no Instituto de Teologia do Recife - extinto em setembro de 1989, por decisão do Vaticano! O ITER foi acusado, pelos setores mais conservadores da igreja, de adotar a linha marxista. O então Instituto foi criado em 1968.

Fisionomia de Jesus



Fisionomia de Jesus 

Por José Calvino 



Tenho recebido vários telefonemas dos leitores pedindo que fale sobre Jesus Cristo. Então resolvi transcrever, em resumo, um depoimento sobre a expressão fisionômica de Jesus através de uma carta escrita pelo senador Públio Lentulus na Judéia ao César romano, Tibério César, imperador de 14 a 37, que se refere a Jesus Cristo, que naquela época nas terras da Palestina, principiava as suas prédicas.
“Soube, ó César, que desejavas ter conhecimento do que passo a dizer-te: há aqui um homem chamado Jesus Cristo, a quem o povo chama profeta e os seus discípulos afirmam ser o filho de Deus, Criador do céu e da terra. Realmente, ó César, todos os dias chegam notícias das maravilhas deste Cristo. Para dizer-te em poucas palavras, Ele ressuscita os mortos, cura doentes e surpreende toda Jerusalém. Belo e de aspecto insinuante, é uma figura tão majestosa, que todos o amam irresistivelmente. Sua fisionomia, de uma beleza incomparável, revela meiguice e ao mesmo tempo tal dignidade que ao olhar-se para Ele cada qual se sente obrigado a amá-lo e a temê-lo ao mesmo tempo. O cabelo dele, até a altura das orelhas, é da cor das searas quando maduras, e daí até aos ombros é loiro muito claro e brilhante. É apartado ao meio por uma risca ao uso dos nazarenos. A barba é da cor do cabelo e não muito larga e também dividida ao meio. O olhar é profundo e grave; as pupilas parecem os raios do sol. Ninguém pode fitar-lhe o rosto deslumbrante. Ele é o mais belo homem que imaginar se pode e muito semelhante à sua mãe, a mais formosa figura de mulher que até hoje apareceu nesta terra. As mãos e os braços são duma grande beleza. Faz-se amigo de todos e mostra-se alegre. Quando repreende, apavora. Quando adverte, chora. Toda a gente acha a conversação dele muito agradável e sedutora (...). Nunca estudou, mas é senhor de todas as ciências. Anda com a cabeça descoberta e quase descalço (...) Muitos judeus o têm por divino e crêem nele. Também muitos o acusam a mim, dizendo, ó César, que Ele é contra tua Majestade, porque afirma que reis e vassalos são todos iguais diante de Deus...”.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Todos Os Natais Que Não Passei



Todos Os Natais Que Não Passei

* Por Delasnieve Daspet


Gostaria de voltar ao tempo
Em que o Natal era o melhor dia do ano.
Criança, feliz com qualquer bala,
Que encontrasse debaixo da cama,
Onde Papai Noel tinha deixado...
.
O Natal, de hoje, não tem a menor graça,
Tudo tão mecânico e sofisticado,
Já não vejo os burburinhos,
As esperas, nas janelas, sem pressa,
Com sorrisos de felicidade estampado ,
E o vestido de chita cheirando guardado.
.
Perfume de alfazema e
Flores para enfeitar a saudade
Espiando minhas lembranças, me emociono,
Fico olhando as pessoas irem e virem,
Entrando e saindo, procurando, procurando..
.
O que buscam, realmente?!
Panetone, tender, rabanadas,
Ou acabar com a falta de afeto,
E a solidão anunciada ?
.
Buscam... eu sei o que buscam...
Buscam um último raio de sol antes do anoitecer,
Uma nota, um compasso, a composição...
Procuram os caminhos dos vales,
Quando o que se busca esta na montanha...
.
Sinto saudades de todos os Natais que não passei,
Sinto saudades das alegrias que não vivemos,
Sinto falta das coisas que não fizemos,
Sinto falta da Tua Luz pois agora sei
Que sempre é mais escuro ao amanhecer! 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Será o Fim do Mundo?


                                                     
                                  imagem  google






Será o Fim do Mundo? 

 
Por José Calvino 


Disseram que o mundo ia se acabar, então, lembrei do famoso frevo de Capiba: “Ouvi dizer que o mundo vai-se acabar...”

Tudo não passa de uma interpretação equivocada por profecia dos Maia. Cada um tem o seu mundo,
como eles deram o nome.

É preciso entender a concepção de mundo de cada civilização.

“Jesus vem aí”.  Se anunciar o dia Jesus não chegará, igualmente ao suposto apocalipse, o fim do mundo não chegará.


Morro da Conceição/Recife, 22/dez/2012.



Nota: Estou escrevendo universalmente com ousadia “Jesus”.





As paisagens do Morro da Conceição





As paisagens do Morro da Conceição 

Por José Calvino 


Domingo (16 de dezembro), no Morro da Conceição, houve uma discussão com alguns colegas jovens sobre o rio Capibaribe. Segundo disseram, eles foram informados de que antigamente se avistava do Morro o referido rio. Procurei explicar que, geograficamente, não tem lógica avistar o rio Capibaribe do Morro, porque ele fica muito distante e escondido pelos verdes manguezais. Com certeza não dava pra ver, nem naquele tempo, nem tampouco agora, com a derrubada das árvores, que são protetoras naturais e com essas construções de “espigões” desordenados.

Com base nesses comentários, achei por bem escrever em forma de crônica, servindo bem a duas memórias, acredito eu: a do Morro e a de uma geração de jovens estudantes, que vivem uma realidade completamente diferente dos da velha guarda contemporâneos.

Terça-feira (18 de dezembro), no Morro da Conceição, conversei com alguns antigos moradores da redondeza e do Morro. Todos foram unânimes em concordar comigo: – Antônio Beltrão, conhecido por seu Toinho (94 anos) – dona Blandina (92 anos) parteira, eu nasci pelas suas mãos – Leônidas (82 anos) - Marcelo e Teotônio Filho, amigos de infância (72/73 anos, respectivamente) e Severina Paiva, mais conhecida como dona Sevi, é moradora do Morro há 75 anos foi homenageada na 108ª festa de Nossa Senhora da Conceição, escreveu um livro “Aos pés da santa: a história de um povo”, edição 2012, que conta a história da localidade. Muitos relatos são de pessoas do Morro da Conceição.

Agora, quando leio dona Sevi falando do Morro, seus habitantes, etc, me sinto novamente um menino do Morro e lembro bem do tempo de minha infância, um tempo que não volta mais. Brincadeiras de bola de gude, empinar ‘papagaios’, pega, jogar pião, de bodoque, de índio, bola de meia... pastoris e mamulengos.

O pastoril foi, para mim, o melhor do mundo. O cordão azul era comandado por Almir e o vermelho, por Zé Bicuda (falecido). A Diana: “Sou a Diana, não tenho partido/ O meu partido são os dois cordões...”, todos filhos de Zé Talhador (falecido). As pastoras eram de outras famílias. Dona Cosma era uma das rezadeiras do Morro, benzia olhado, espinhela caída, peito aberto...

Por coincidência comentei que, antigamente, contemplava a paisagem e os contrastes da Zona Norte, os bairros, seus morros e córregos. O mar, concordado por dona Sevi (“Aos pés da santa...”, p.50), quando se viam as embarcações passarem no mar, navios atracados, os trens e os aviões aterrissarem no Ibura (Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes), sem contudo ver as pistas de pouso. Alguns confundem com a cheia do rio Capibaribe, que atingiu seriamente a cidade em 1975!

Termino esta crônica com a primeira estrofe do poema de João Cabral de Melo Neto, “Discurso do Capibaribe”:

“Aquele rio
está na memória
como um cão vivo
dentro de uma sala.
Como um cão vivo
dentro de um bolso.
Como um cão vivo
debaixo dos lençóis,
debaixo da camisa,
da pele”.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mais uma do Mauro Mota




Mais uma do Mauro Mota 



Por José Calvino 



boemia sempre está associada a um bar. Aqui no Recife existiu um bar chamado Savoy. Pelo Bar Savoy, passaram quase todos intelectuais e figuras proeminentes da região, conforme o excelente livro chamado Bar Savoy, de autoria de Ediberto Coutinho. Os poetas Carlos Pena Filho e Mauro Mota o freqüentavam quase diariamente. O livro contém muitas quadrinhas de Mauro Mota, chistosas e engraçadas, endereçadas aos colegas, nem sempre de natureza muito amena. Mauro Mota bacharelou-se em Direito, mas dedicou-se mesmo ao jornalismo e ao magistério. Era catedrático de Geografia, na então Escola Normal. Grandes mestres passaram por lá e um deles foi Waldemar Valente, professor, médico (se orgulhava de ter sido o primeiro médico pernambucano a aplicar a penicilina), antropólogo e escritor. Mauro e Waldemar eram muito amigos, mesmo assim Waldemar não estava imune às brincadeiras do amigo, como esta que EC conta: Consta que chegou ao porto do Recife um navio de guerra da Marinha britânica. Um grande acontecimento para época. As rádios e jornais se engalanaram com o atracamento.

Um belo dia, Waldemar Valente recebe um estranho telefonema na Escola Normal, logo após uma aula. A pessoa que telefonava, num português macarrônico era o Capitão Felipe Graham, pertencente ao comando da nave da Marinha Real inglesa.

Esse Capitão se disse logo neto de Maria Graham, inglesa notável que vivera no Recife por ocasião da Revolução Republicana de 1817 e sobre a qual Waldemar havia publicado um livro muito louvado pela melhor crítica. O Capitão foi duro: “O senhor escreveu um livro infamante sobre minha avó, Maria Graham. Quero aproveitar o momento em que me encontro no Recife para uma desforra pessoal. O senhor não é valente? Proponho um duelo.”

Waldemar mal podia respirar e teve duas saídas geniais: disse que o Capitão não conhecia a língua portuguesa e por isso julgava mal o livro; e em segundo lugar alegou que as leis brasileiras proibiam o duelo. O Capitão não aceitou a explicação. Estava decidido a tudo. Era uma questão de honra.

Com o sobrenome Valente, não teve outro jeito, a não ser marcar o duelo. Seria próximo ao Savoy e à banca “O Globo”, do jornalista José do Patrocínio. O professor Sylvio Rabello disse logo que era um trote. E, ao que dizem, bom número de professores lá se encontrava.

Final da estória, o Capitão não compareceu. A pontualidade britânica estava desmoralizada. Passados dez, vinte minutos, nada do árdego oficial.

Waldemar, exuberantemente, disse:
- O Capitão teve medo de mim.

Do Bar Savoy surge então Mauro Mota, risonho, logo dizendo:
- Waldemar, o Capitão sou eu.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Querendo

 

Querendo* 


Por José Calvino 


Quero amar
Sentir amor todos os dias
Como é bom amar

Quero te beijar
Tocar com os lábios todos os dias
Como é bom amar

Quero te encontrar
Entrar em contato todos os dias
Como é bom amar

Quero ter paz
Estado de calma todos os dias
Como é bom amar

Quero solidariedade humana
Identificar com os outros todos os dias
Como é bom amar.


* Do livro: "Miscelânea Recife II" - p. 36 - ed. 2012.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Hipocrisia


 

Hipocrisia*

 Por José Calvino 


Com mais de 2000 anos da vinda de Jesus Cristo a este planeta, nos passando a mensagem de dias melhores. Alicerçado através dos seus ensinamentos de amor e bondade, todavia conseguimos eleger o dia do seu aniversário, como o dia universal da hipocrisia . A humanidade desvirtuou todos os ensinamentos cristãos com as suas angústias e conseqüentemente suas ambições e intolerâncias, independentemente de raças, credos e etnias. A nação mais rica e protestante do planeta, edifica as suas vontades e verdades, alheia à miserabilidade de bilhões de seres humanos do planeta terra. Fazendo com que o livro sagrado e suas palavras, tornassem utópicas e irreais. Em nenhum momento os Estados Unidos demonstraram interesses que não fossem de sua valia e serventia. Com a chegada do Natal, este mesmo gigante consegue fazer um festival de hipocrisia, aos quatro cantos do planeta, com festividades gigantescas como decorações luxuosas, filmes invocando a presença do bom velhinho (Papai Noel), resgatando e incentivando sonhos de consumo e prevalecendo a vitória do bem sobre o mal. Assim, aprendemos através de sua presença massiva a considerá-los como perfeccionístas e com senso de justiça, imbuídos na pseudo dignidade de seus atos, mesmo que isso demonstre uma total hipocrisia (...)
A sociedade, como um todo, absorve toda essa hipocrisia com a distribuição de presentes e sorrisos hipócritas no rosto das pessoas. São mensagens falsas de carinho e incentivos! Deseja-se aquilo que não são condizentes à raça humana, tão destruída pelas mazelas que povoam nossas personalidades egoístas e falsas. Latente ao comportamento das pessoas em relação às outras, tão longe e infinitamente irreversível dos ensinamentos bíblicos . Podemos assim, eleger as festividades de final de ano, como o dia mais hipócrita de todos os tempos. Eis que chega o ano novo, as grandes cidades fazem shows pirotécnicos com o colorido no céu, pessoas literalmente embriagadas confraternizam-se com falsos abraços e beijos. No dia seguinte, vamos computar as vítimas de violência, brigas e acidentes. Demonstrando assim, que é um dia atrás do outro com uma noite no meio, sem mudanças e esperanças. Do lado da natureza, vamos deslumbrar terremotos, furacões, tufões e enchentes. Assim a humanidade edificou os seus desígnios, cultivando a intolerância na falta de amor ao próximo, sendo medíocres e literalmente hipócritas, elegendo estas festividades no pseudo intuito de uma melhor relação entre os seres humanos, tendo o disparate do desejo de um Feliz Ano Novo!!!



* Texto extraído (em resumo) do livro: "Miscelânea Recife II"-
Ed. 2012 - pp. 196-7.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Patrícia Poeta

 


Patrícia Poeta*

Patrícia poeta,
queres que sonhe?!
Tu és poeta,
até no nome!

* Extraído do livro "Fiteiro Cultural", p. 39 - ed. 2011.

Historietas




Historietas 



Por José Calvino 



Clodoaldo de Freitas era um frequentador assíduo do então famoso Bar Savoy. Aos 80 anos, gosta de contar algumas historietas em torno do poeta Carlos Pena Filho. Seguem algumas delas:

Mentir ou morrer

Carlos Pena Filho chega ao então Bar Savoy e já encontra o professor Samuel McDowell, mestre em Direito Internacional. Mas, no Savoy suas aulas eram sobre Shakespeare ou Baudelaire.

Carlos, preocupado, diz que se saiu mal numa prova oral. Arnóbio Graça, catedrático de Economia Política, não era brincadeira.

“Enrolei na resposta, ele perguntou onde ouvira tal coisa. Eu disse que estava no tratado do famoso scholar de Harvard, o Frederick Zinneman”

Havia estreado no cinema São Luís o western clássico de Fred Zinneman, Matar ou morrer.

Dia seguinte, McDowell diz a Carlos (os dois se encontravam diariamente na calçada do Savoy, raramente na Faculdade de Direito onde teoricamente um estudava, e o outro, ensinava): “Olha, rapaz, o Arnóbio me disse que também vai a cinema. Mas, te deu nota suficiente para passar de ano.”


***

Duas cores

Carlos Pena era afilhado do general Cordeiro de Farias. Eleito governador de Pernambuco, o general fez o poeta ser nomeado para alto cargo, Procurador do Serviço de Obras Contra as Secas. Carlos, na verdade, nunca soube onde ficava a repartição. O garçom Careca, como era chamado por todos, já trazendo o chope caprichado, bem tirado, como os mais velhos contam: “Freqüentador do Savoy que se preza, vai mesmo é de chope.” Quando chega o Alecrim (nome fictício), senta-se e começa a falar mal, dizer horrores do general Cordeiro. Que, governador do Rio Grande do Sul, ficara conhecido como general Lustre. Carlos pergunta: “Ilustre?” O outro repetiu: “Lus-tre! Porque levou para casa os lustres de cristal do Palácio do Governo.”

O dito cujo afinal foi embora. Carlos Pena Filho pediu outro chope e disse:

“Não é por nada, mas de fato acho que costeleta, oposição e sapato de duas cores só ficam bonitos nos outros.”


***

Toda a poesia

Tudo é motivo para poesia. Estavam à mesa do Savoy, Carlos, Clodoaldo, Maviael (meu irmão), Otávio de Freitas e Fernando Jorge de Lima. Carlos Pena faz um comentário rigoroso sobre os oradores do Parque 13 de Maio: “Uns totais ignorantes. Nem sabem que não sabem coisa alguma. Mas, se consideram gênios. Cada um crê que tem o borbulhar do gênio.”

“Deve ser ameba mal tratada”, diagnosticou Otávio, médico e escritor.

Carlos Pena Filho incorpora a boutade ao poema em que ridiculariza aquele grupo:

“Cada qual sente um gênio
dentro de si borbulhar.
E, coitadinhos, nem sabem
que o que borbulha é a ameba
que não puderam tratar.”

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O Sonho




O Sonho*

Por José Calvino


Luiz Carlos ao regressar do trem da tarde, durante o percurso de Recife à sua cidade natal, sentado num dos bancos de encosto-móvel-de-vime, observava pela janela o velho gasômetro, o parque do Exército e a favela do Coque. Assistia o telegrafista da estação de “Fernandinho” entregar, no arco, a licença concedida de um trem de carga, que cruzava com o do Cabo, destino à estação de Cinco Pontas.
O guarda-freios equilibrava-se no passeio por sobre os vagões, como um verdadeiro malabarista. Lembrava-se de que, na maioria das vezes, dava as licenças ao maquinista e ao chefe do trem, sem ser preciso o uso do arco. Era uma prática invejável! E mesmo já não se dava ao trabalho do servente ter que ir buscar os arcos, quando jogados pelos recebedores da licença, além do que muitos meninos escondiam os arcos pelo simples prazer de se divertirem, principalmente por se tratar da estação de Fernandinho (Koch), o triângulo da Rede Ferroviária, entroncamento ferroviário, para passagem de todos os tipos de trem, obrigatoriamente, com destino a Recife. O movimento era superior ao de qualquer outro da ferrovia, mas seus funcionários eram em número inferior, em função da economia do material humano. A “Maria Fumaça” arrotava faíscas de sua fornalha, caindo nos olhos dos que se atrevessem a por a cabeça do lado de fora, geralmente as crianças. A loco apitava sucessivamente ao passar antes dos cruzamentos de automóveis, soltando fumaça em desenhos, através de sua chaminé, deixando pela linha à fora um cheiro saudoso do carvão-de-pedra. Desfilavam os postes com os seus fios telegráficos e as placas em vermelho, com letras brancas, advertindo: P.N. APITE PARE OLHE-ESCUTE.

Chovia! Luiz desce o vidro de sua janela de guilhotina, quando repentinamente, uma brita e cascalhos atingem o vidro, quebrando-o, quase acertando em sua cabeça. Era a meninada faminta do Coque, que tinha como única distração ver os trens passarem. Um de seus dois conterrâneos disse-lhe:

- Cuidado, Luiz, aqui a gente tem que passar com o lado da veneziana fechada, chova ou que faça sol, a educação do povo daqui é diferente da do povo do interior, pois no interior os meninos e os adultos apenas nos dão adeus.

Luiz ouvia, via e calava. Aquilo era uma realidade. Pensava em seu tempo de criança, talvez se houvesse nascido naquele ambiente fosse como aqueles pobres miseráveis comedores de siris.
Um de seus colegas, a fim de fazer hora durante a viagem, contava anedotas como Chico Anísio. Uma delas até que fez com que Luiz sorrisse a valer, sobre um matuto que foi a um programa de calouro na Rádio...(Historietas do livro “Miscelânea Recife”, ed. 2001).

O trem já passava da estação de Lacerda. Luiz dormia. Inicialmente, sonhou sendo preso como comunista, por ter participado de um comício de Prestes, conhecido como “O Cavaleiro da Esperança”. Este sonho era como um aviso profético, que futuramente haveria de se realizar. O local esquisito era como o “Buque” da Chefatura de Polícia. Ora parecia com um quartel da Meganha, onde fora humilhado, colocado na solitária. Aquele sonho parecia real! No isolamento via elementos, da própria polícia, presos sendo maltratados e marginalizados pelos próprios companheiros. Ouvia dizerem aos policiais-presos:

- Vão ser excluídos e entregues à Polícia Civil, transferidos para a Casa de Detenção junto com esse civil safado!

A promiscuidade com os presos de diferentes classes era ridícula. À proporção em que sonhava já se sentia na Casa de Detenção do Recife com seu companheiro José, taxado como pivô das greves e passeatas dos ferroviários, preso como comunista por contrariar as leis, cadavérico, ficando imóvel e tremendo como uma “toyota em ponto morto”. Os meganhas, com as baionetas armadas, afligia-se:

- Meu Deus! Onde fui me meter.
- Isto é uma loucura, eles só sabem fazer leis e não dão os nossos direitos. Me matem!

As baionetas caladas apontavam em sua direção, como num pacto da morte, numa cena torturante. Os presos comentavam:

- O doutor morreu?
- Não quero saber da vida de seu ninguém, quanto mais de morte. Todo mundo depois que morre é bom. Quem quiser gostar de mim, que goste enquanto estou vivo.

Houve cheia e o Presídio parecia uma Arca de Noé. Os presos gritavam:

- Abram aqui!
- É o fim do mundo! – Um dos guardas gritou:
- Félas  das putas! Vão na onda do capelão do catorze pra botar a Bandeira Nacional na linha do trem! Morram, pestes!

Em seu segundo sonho, o trem entrava em um túnel subterrâneo e não mais saía, mergulhando na lama do Coque. Depois, avistava as pessoas entrarem e saírem de um buraco, pelo chão a dentro.

- Será que, no futuro, será assim nas metrópoles?

Ora o trem mergulhava num túnel totalmente escuro (Intervalo). Já se encontrava em plena liberdade num trem, sem nuvem de fumaça, nos corredores com pistas altas e baixas: uma para o trem e bonde, outras para ônibus e carros (Intervalo). Em segundo plano via-se, beirando, rios e o mar de Olinda.

- Luiz! – era o condutor apontando – olha a estação!

Acordou-se, descendo do trem em movimento. Aproveitando o comboio que passava lentamente, saltou do estribo bem próximo ao banco de madeira da plataforma da estação. Lá, encontravam-se alguns religiosos discutindo sobre religião. Luiz Carlos, como leigo no assunto, mas muito curioso, analisava aquela conversa, que sempre terminava em aborrecimentos. Pesava mais ainda para o velho Jeová-barbeiro, seu padrinho. Sua derrota, e tantas perseguições que sofrera, eram devidas às profanações que fizera, sempre com o seu panamá na cabeça e os dedos polegares às alças do suspensório. Quando falava na pessoa do Senhor Jesus Cristo, como um homem inteligente, que aplicava muito bem as palavras de amor e bondade, julgando-o como um ser humano igual aos outros, nascido de relação entre um homem e uma mulher, era um “Deus nos acuda”.
Pensava Luiz, consigo mesmo: “Não é que o meu padrinho tem muita sabedoria?” Mas, na verdade Luiz tinha mesmo era medo de sofrer como o padrinho, que já fora um grande barbeiro e aprendera no Rio de Janeiro a cortar todo o tipo de cabelo: de Jack Dempsey (chamado popularmente pela corruptela de Jaqui Demes) a Cornel Wilde. No Recife, instalou uma barbearia ambulante no Mercado São José. Ali, todos lhe davam a preferência, por ser competente na arte de cortar. Os fregueses mais exigentes preferiam Cornel Wilde ou Dick Farney. Para as prostitutas, penteava com pastinhas na testa (pega rapaz) sobre o corte “a la homem”, como se fosse um cabeleireiro e, com a pose de quem estivesse num grande salão de beleza, penteava as grandes damas do “Café Society”. Sem condições de abrir um salão na capital, resolveu voltar para a sua cidade natal, sendo lá os cortes referenciados uma grande novidade. Até mesmo as mulheres do Chefe da Estação e do Delegado de polícia aderiram à nova moda, deixando de lado suas tranças e cocós, ficando no toilette embelezadas com o seu “a la homem”. Apenas a índia Luzinete permanecia em sua simplicidade, com seus cabelos longos; e, na lembrança de Luiz, apenas ficava a imagem que seus lindos cabelos reproduziam ao esvoaçarem-se ao som do vento, quando da estação a via correr. O velho Jeová agora vivia dos ganhos da lavagem de roupa de dona Zefinha, sua esposa e madrinha de Luiz e da esmola dos ferroviários. Luiz ajudava-o, por vezes, com os trabalhadores nas linhas ferroviária (chamados popularmente de cassacos de linha), na hora do almoço, achando que todas as profissões brasileiras deveriam ter seus direitos igualmente respeitados, o que não acontecia com algumas, quando via alguns manobreiros, guarda-freios... com alguns de seus membros mutilados, mas sem terem sido cobertos pela lei que os deveria amparar, ou mesmo com um de seus sentidos totalmente inutilizados, passando sobre os olhos de todos, permanecendo em suas ocupações, totalmente entregues àquela situação, julgados ainda "aptos" ao serviço.

Seu padrinho, para Luiz, só falava coisas interessantes, mas que prejudicavam a ele mesmo. Enfim, seu prejuízo fora tão grande que falecera em um banco de estação, envolvido com seu capote baeta. Dormira e não mais acordara.

*Extraído (em resumo) do livro “O ferroviário – Cap. IV, pp. 39-43. Ed. 1980.