terça-feira, 17 de abril de 2012

Vestidos com pontas

                                                   imagem google




Vestidos com pontas

Num sábado desses, resolvi curtir a noite num dos mais badalados points de Recife em Casa Forte. Solitário em uma mesa de bar, comecei a observar os comportamentos dos meus vizinhos de mesa: um casal de estilistas (Ele barbudo, aparentando ter uns 70 anos de idade. Ela, bem mais nova, de vestido godê azul com pontas nos lados) e duas moças na mesma mesa do lado direito. À esquerda, uma parede grafitada com um grande poster de uma mulher vestida de vermelho com pontas. Em dado momento, chegam uns rapazes de trajes elegantes à moda masculina, acompanhados com quatro garotas, sendo uma delas de vestido com pontas, duas usando saia/bermuda e boinas e, a outra, com botas de cano acima do joelho. A maioria das mulheres estava usando vestidos com pontas. Os jovens ficaram comentando os grafitos e pôsteres na parede. De repente, um dos rapazes disse em voz alta:

- Segundo Freud, somos divididos pelo Ego, Superego e ID.

E, dirigindo-se para uma das moças que depois eu soube ser netas do barbudo, completou:

- Bajule as elites e os poderosos de plantão.

O barbudo, depois eu soube ser colunista social de uma revista de grande porte e, descontrolando-se, exaltou:

- Estou ouvindo vocês conversarem sobre vestido-de-ponta (pôster na parede) e agora você, rapaz, não estuda, não trabalha e vem com essa onda de psicologia? Nos anos 50 era fora de moda, sim!

- A atitude destes jovens é um escândalo! – disse a estilista ( que, segundo dizem, foi recentemente demitida de uma fábrica de confecções).

A discussão esquentou de tal maneira que todos partiram para baixaria. O colunista fez ver à sua esposa que deveriam era ter ido assistir à pré-estréia do longa-metragem “Um Método Perigoso” (A dangerous method, 2011), do cineasta canadense David Cronenberg.

- O embate entre Jung e Freud, deve ser interessante.

A de vestido longuete azul, plissado tendo na saia uma ponta em formato de V bem na frente, puxa o seu suposto namorado e, num impulso repentino, fez um desabafo, pondo para fora toda a sua raiva:


- Manda tua mulher procurar uma trouxa de roupa suja pra lavar.

Naquele descontrole emocional, procurei acalmar os ânimos exaltados. Relembrei ao colunista que realmente na década de 50 vestido de ponta não era moda e que, geralmente quando a costureira errava no corte, as moças ricas não os usavam. E era apenas nesses casos que as pobrezinhas usavam vestidos de ponta. Eram estes, junto com os usados, que o povo logo dizia:

- Foi usado e dado!



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