Prefácio do livro:
Ir...
* Por José Calvino
Existem aquelas
noites em que você sai, talvez para se distrair, mas na realidade é em busca de
algo que te faça sentir melhor que o rotineiro. Foi quando fui a Olinda, em
busca deste “algo” e, quem sabe, uma mesa de bar não foi o que me deixou um
pouco melhor? Estava curtindo a noite com uns amigos, coisa que geralmente faço
quando vou a Olinda: subo à Sé e passo a noite entre viradas de copos e de
conversas.
Foi lá pelas tantas
que me chegou às mãos o livro “IR...”,
cujo nome do autor não me soava estranho. Na tentativa de analisar o livro
comecei, como quase todos o fazem, por ver sua forma verificando o conteúdo de
sua capa. Revirando-o, percebi que este possuía uma “sugestão turística”.
Imediatamente retornei à lembrança de que, numa noite chuvosa de maio, na
Galeria Lautreamont (no largo da misericórdia – Alto da Sé – Olinda) alguém
havia distribuído naquele local o seu recado, através de uma sugestão turística,
e que este alguém era consequentemente o autor daquele livro que agora se
encontrava em minhas mãos. Foi espontânea a sensação de carinho que passou a me
acompanhar enquanto eu folheava o livro. Dificilmente alguém se empenha a
valorizar coisas tão nossas, quanto a cidade em que habitamos, ou mesmo
freqüentamos. E “IR...” não fugiu ao que eu supus, e percebi que esta
preocupação constante, esta necessidade de projetar em letras toda uma
problemática social que nos é imposta, enfim toda uma sensibilidade exposta das
letras ao público, era uma grande marca do autor de forma notável. Agora
converso com gente que expõe críticas, mas que, na realidade, não busca
entender o valor que possui alguém que luta por um ideal próprio e, mais que
isto, que não se limita aos quatro cantos de uma sala, com a cabeça cheia de
teorias ultrapassadas e caducas. Não! Trata-se de uma punhalada nos pés de quem
se encontra sentado; e é isto o que a verdadeira leitura deve proporcionar: Impacto.
Dizer simplesmente que “gostaram” não é o suficiente, tem-se é que viver o
drama da realidade exposta naquelas páginas. Senti que isto tinha que ser
escrito agora, nesta mesma mesa, e que haveria de ser enviado a este autor como
demonstração do que achei que deveria ser dito a todos quantos se prestassem a
ler o livro “IR...”. Espero que, se ele comporta em sua capa duas letras tão
significativas: IR, ao menos que todos tentem sentir aonde o autor quis “ir”
com suas palavras.
Boletim da Banca
Nacional de Literatura Independente,
ano II, nº 04, Rio de
Janeiro/dez/84.
1ª edição, Recife/Olinda, 1983
2ª edição, Recife, 1993
3ª edição, Recife, com novo título: Aonde iremos nós?”, 2001.
Obs.: Muitos
confundiam o verbo IR com declaração de Imposto de Renda!!!
* Escritor, poeta e
teatrólogo. Blog Fiteiro Cultural: http://josecalvino.blogspot.com/
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