quinta-feira, 27 de abril de 2017

O desembargador


O desembargador

Por José Calvino


- A diferença entre um homem e o seu reverso é simples:
o primeiro é um homem de consciência, o segundo  um
homem que vai na onda.
                                             (C. Wagner)



Um amigo juiz de direito, nomeado desembargador pelo Ministro do Tribunal de Justiça, relendo “ O maior xexeiro no País do futebol”, me contou alguns problemas que existem e que sempre existiram:  são em geral reivindicações dos trabalhadores de modo geral.  O nosso povo não está preparado para revolucionar, até porque uma boa parte dos nossos intelectuais vivem politicamente e culturalmente em cima dos muros, esperando uma oportunidade para mamar nas tetas do governo. Os brasileiros já se preparam para receber o maior evento do futebol mundialGastamos involuntariamente (nós, cidadãos que pagamos a fatura) milhões com estádios de Primeiro Mundo. No entanto, o governo não cumpre as decisões judiciais e, simplesmente, as despreza ou menospreza. Vergonhosamente já houve caso, em 2003, de desconsiderarem a decisão do Tribunal de Justiça, inclusive com o amparo no dispositivo aplicável da atual Carta Magna. Votaram com Desembargador, Relator e desembargadores...

Estou preocupadíssimo com que uma pessoa idosa, alto de cabelos brancos, me contou revoltado que, desde criança, sabe que esses governos com conivência da justiça,  falam mais alto que a lei. Um país que  vive de miséria, prostituição, jogos de azar..., as autoridades sendo subornadas pelos poderosos, nada mais podemos esperar! O pior: em março deste ano, o juiz homologou a sentença que diz que o depósito judicial será realizado com uma importância de fazer vergonha pela pouca vergonha dos excessos que continuam  falando mais alto que a lei. Sai governo, entra governo e cadê a lei que se deve cumprir?



- Dá vontade de colocar umas bombas nos Palácios... - disse bruscamente com voz possante: “me prendam, seus filhos das putas...”
- Porra, Azambujanra, como você é doido!
- Foda-se, respondeu.

Finalizando, é sempre bom lembrar com poesia os problemas que existem:

Primeiro é uma consideração
(eu respeito)
as massas precisam aprender.

Vamos pra frente
(eu entendo)
que se alastra, que será resolvido
as idéias claras a respeito.

Será ignorância?
(eu tenho pena)
calma que silencia.

Minha arma é a caneta
minha tranquilidade permanece
sem obrigação...
a uma ação, ou comportamento.

Não é de hoje
não cabia.
Deveria.

terça-feira, 18 de abril de 2017

De professor a policial

De professor a policial*

Por José Calvino

Povo educado, polícia educada
Povo ignorante, polícia ignorante
(Extraído do livro “O ferroviário, p.76 – ed. 1980)

Baseado nos censos penitenciários, que mostram serem os presos brasileiros, em sua maioria, pobres, pretos e analfabetos lembro que perante a lei, ao menos, todos nós somos iguais, mas será que é mesmo assim na prática? Não acredito que no nosso Brasil se tenha uma educação básica que nos prepare para vivermos felizes da vida. Observo sempre que a maioria dos que nascem neste país não tem preparo para viver dignamente, e não tem sequer o nível escolar primário! Eu continuo afirmando que a culpa é dos maus governantes por que, do contrário, será então que os meninos e meninas é que teriam culpa? Atualmente assistimos policiais militares praticarem arbitrariedades e truculências, até mesmo em festas religiosas. Então, cadê o respeito à Declaração Universal de Direitos Humanos? Sinceramente, eu sou a favor da desmilitarização da Polícia Militar, evitando assim a perpetuação do sistema ditatorial no Brasil. Lembrei-me do Curso Internacional de Policia (anos 70) quando então recebi aulas sobre o artigo de George L. Kirkham, ilustre Professor da Escola de Criminologia da Universidade da Flórida, Estados Unidos da América, intitulado" De Professor a Policial". Creio que tomar conhecimento do seu conteúdo seja muito importante para toda a sociedade que gosta de ler, sobretudo, para a formação policial brasileiro. Aproveito o ensejo e transcrevo o referido artigo, com todo prazer, em resumo:

Como professor de criminologia, tive problemas durante algum tempo, devido ao fato de que, como a maioria daqueles que escrevem livros sobre assuntos policiais, eu nunca fui policial. Contudo, alguns elementos da comunidade acadêmica norte-americana, tal como eu, foram muitas vezes demasiado precipitados ao apontar erros da nossa política. Dos incidentes que lemos nos jornais, formamos imagens estereotipadas, como as do policial violento, venal ou incorreto... Muitos dos meus alunos tinham sido policiais, e eles várias vezes opunham às minhas críticas o argumento de que uma pessoa só poderia compreender o que um agente da polícia tem de suportar quando também experimentasse ser policial. Por fim, me decidi a aceitar o repto. Entraria para a polícia e assim iria testar a exatidão daquilo que vinha ensinando. Um dos meus alunos (um jovem agente de polícia de Jacksonville, Flórida) me incitou a entrar em contato com os xerifes comandantes e vice-comandante e explicar-lhes minha pretensão...

LUTANDO POR UM DISTINTIVO
Jacksonville me parecia ser o lugar ideal. Era um porto de mar e um centro industrial em crescimento acelerado. Ali ocorriam também manifestações dos maiores problemas sociais que afligem nossos tempos: crime, delinquência, conflitos raciais, miséria e doenças mentais. Tinha igualmente a habitual favela e o bairro reservado aos negros. Sua força policial era tida como uma das mais evoluídas dos Estados Unidos... Pretendia um lugar não como observador, mas como patrulheiro uniformizado, trabalhando em expediente integral durante um período de quatro a seis meses. O comando concordou, mas puseram também a condição de que eu deveria primeiro preencher os mesmos requisitos exigidos a qualquer outro candidato a policial: uma investigação completa ao caráter, exame físico, e os mesmos programas de treinamento. Havia outra condição com a qual concordei prontamente: em nome da moral, todos os outros agentes deviam saber quem eu era e o que estava fazendo ali. Fora disso, em nada eu me distinguiria de qualquer agente, desde o meu revólver Smith Wesson calibre 38 até o distintivo e uniforme...Concluído o curso, eu aprendia como utilizar uma arma, como interrogar suspeitos, investigar acidentes de trânsito, treinamento de luta de defesa pessoal, com os músculos cansados, pensava que estava precisando era de um exame de sanidade mental por ter-me metido naquilo...
PATRULHANDO A RUA
Ao escrever este artigo, já completei mais de 100 rondas como policial iniciado, e tantas coisas aconteceram no espaço de seis meses jamais voltarei a ser a mesma pessoa. Nunca mais esquecerei também o primeiro dia em que montei guarda à porta da delegacia. Sentia-me no mesmo tempo estúpido e orgulhoso no meu novo uniforme azul e com a cartucheira de couro. A primeira experiência daquilo que eu chamo de minhas ‘lições de rua’ aconteceu logo de imediato. Com meu colega de patrulha, fui destacado para um bar, onde havia distúrbios, no centro da zona comercial da cidade. Lá chegando, encontramos um bêbado robusto e turbulento que, aos gritos, se recusava a sair. Tendo adquirido certa experiência em admoestação correcional, apresentei-me a tomar conta do caso. ‘Desculpe, amigo’, disse eu sorridente, ‘não quer dar uma chegadinha aqui fora para bater um papo comigo?’. O homem me encarou esgazeado e incrédulo, , com os olhos raiados de sangue. Cambaleou para mim e me deu um empurrão no ombro. Antes que eu tivesse tempo de me recuperar, chocou-se de novo comigo - e desta vez fazendo saltar da dragona a corrente que prendia meu apito. Após breve escaramuça, conseguimos levá-lo para a radiopatrulha. Como professor universitário, eu estava habituado a ser tratado com respeito e deferência e, de certo modo, presumia que iria continuar assim em minhas novas funções. Agora, porém, estava aprendendo que meu distintivo e uniforme, longe de me protegerem do desrespeito, muitas vezes atuavam como um ‘imã’ atraindo indivíduos que odiavam o que eu representava. Confuso, olhei para meu colega, que apenas sorriu.
TEORIA E PRÁTICA
Nos dias e semanas seguintes, eu iria aprender mais coisas. Como professor, sempre procurara transmitir aos meus alunos a idéia de que era errado exagerar o exercício da autoridade, tomar decisões por outras pessoas ou nos basearmos em ordens e mandatos para executar qualquer tarefa. Como agente de polícia, porém, fui muitas vezes forçado a fazer exatamente isso. Encontrei indivíduos que confundiam gentileza com fraqueza – o que se tornava um convite à violência. Também encontrei homens, mulheres e crianças que, com medo ou em situação de desespero, procuravam auxílio e conselhos no homem uniformizado. Cheguei à conclusão de que existe um abismo entre a forma como eu, sentado calmamente no meu gabinete com ar condicionado, conversava com o ladrão ou o assaltante a mão armada, e a maneira como os patrulheiros encontram homens – quando eles estão violentos, histéricos ou desesperados. Esses agressores, que anteriormente me pareciam tão inocentes, inofensivos e arrependidos depois do crime cometido, agora, como agente da polícia, eu os encarava pela primeira vez como uma ameaça à minha segurança pessoal e à da nossa própria sociedade.
APRENDENDO COM MEDO
Tal como o crime, o medo deixou de ser um conceito abstrato para mim, e se tornou algo bem real, que por várias vezes senti: era a estranha impressão em meu estômago, que experimentava ao me aproximar de uma loja onde o sinal de alarme fora acionado; era uma sensação de boca seca quando, com as lâmpadas azuis acesas e a sirene do carro ligada, corríamos para atender a uma perigosa chamada onde poderia haver tiros. Recordo especialmente uma dramática lição no capítulo do medo. Num sábado à noite, patrulhava com meu colega uma zona de bares mal freqüentados e casas de bilhares, quando vimos um jovem estacionar o carro em fila dupla. Dirigimo-nos pra o local, e eu lhe pedi que arrumasse devidamente o automóvel, ou então que fosse embora – ao que ele respondeu inopinadamente com insultos. Ao sairmos do carro de radiopatrulha e nos aproximarmos do homem, a multidão exaltada começou a nos rodear. Ele continuava a nos insultar e se recusando a retirar o carro. Então, tivemos que prendê-lo. Quando o trouxemos para a viatura da polícia, a turma nos cercou completamente. Na confusão que se seguiu, uma mulher histérica me abriu o coldre e tentou sacar meu revólver. De súbito, eu estava lutando pra salvar minha vida. Recordo a sensação de verdadeiro terror que senti ao premir o botão do armeiro onde se encontravam nossas armas. Até então, eu sempre tinha defendido a opinião de que não devia ser permitido aos policiais o uso de armas, pelo aspecto agressivo que denotavam, mas as circunstâncias daquele momento fizeram mudar meu ponto de vista, porque agora era minha vida que estava em perigo. Senti certo amargor quando, logo na noite seguinte, voltei a ver já em liberdade o indivíduo que tinha provocado aquele quase motim – e mais amargurado fiquei quando ele foi julgado e, confessando-se culpado, condenaram-no a uma pena leve por ‘violação da ordem’.
VÍTIMAS SILENCIOSAS
Dentre todas as trágicas vítimas do crime que vi durante seis meses, uma se destaca. No centro da cidade, num edifício de apartamento, vivia um homem idoso que tinha um cão. Era motorista de ônibus, aposentado. Encontrava-o quase sempre na mesma esquina, quando me dirigia para o serviço, e por vezes me acompanhava durante alguns quarteirões. Certa noite, fomos chamados por causa de um tiroteio numa rua perto do edifício. Quando chegamos, o velho estava estendido de costas no meio de uma grande poça de sangue. Fora atingido no peito por uma bala e, em agonia, me sussurrou que três adolescentes o tinham interceptado e lhe pediram dinheiro. Quando viram que tinha tão pouco, dispararam e o abandonaram na rua. Em breve, comecei a sentir os efeitos daquela tensão diária a que estava sujeito. Fiquei doente e cansado de ser ofendido e atacado por criminosos que depois seriam quase sempre julgados por juízes benevolentes e por jurados dispostos a concederem aos delinqüentes uma ‘nova oportunidade’. Como professor de criminologia, eu disponha do tempo que queria para tomar decisões difíceis. Como policial, no entanto, era forçado a fazer escolhas críticas em questão de segundos (prender ou não prender, perseguir ou não perseguir), sempre com a incômoda certeza de que outros, aqueles que tinham tempo para analisar e pensar, estariam prontos para julgar e condenar aquilo que eu fizera ou aquilo que não tinha feito.
Como policial, muitas vezes fui forçado a resolver problemas humanos incomparavelmente mais difíceis do que aqueles que enfrentara para solucionar assuntos correcionais ou de sanidade mental: rixas familiares, neuroses, reações coletivas perigosas de grandes multidões, criminosos. Até então, estivera afastado de toda espécie de miséria humana que faz parte do dia-a-dia da vida de um policial.
BONDADE EM UNIFORME
Freqüentemente, fiquei espantado com os sentimentos de humanidade e compaixão que pareciam caracterizar muitos dos meus colegas agentes da polícia. Conceitos que eu considerava estereotipados eram, muitas vezes, desmantidos por atos de bondade: um jovem policial fazendo respiração boca a boca num imundo mendigo, um veterano grisalho levando sacos de doces para as crianças dos guetos, um agente oferecendo à uma família abandonada dinheiro que provavelmente não voltaria a reaver.
Em consequencia de tudo isso, cheguei à humilhante conclusão de que tinha uma capacidade bastante limitada para suportar toda a tensão a que estava sujeito. Recordo em particular, certa noite em que o longo e difícil turno terminaria com uma perseguição a um carro roubado. Quando largamos o serviço, eu me sentia cansado e nervoso. Com meu colega, estava me dirigindo para um restaurante a fim de comer qualquer coisa, quando ouvimos o som de vidros se quebrando, proveniente de uma igreja próxima, vimos dois adolescentes cabeludos fugindo do local. Conseguimos interceptá-los e pedi a um deles que se identificasse. Ele me olhou com desprezo, xingou e me virou as costas com intenção de se afastar. Não me lembro do que senti. Só sei que eu agarrei pela camisa, colei seu nariz bem no meu e rosnei: ‘Estou falando com você, seu cretino!’
Então, meu colega me tocou no ombro, e ouvi sua reconfortante voz me chamando à razão: ‘Calma, companheiro!’ larguei o adolescente e fiquei em silêncio durante alguns segundos. Depois, me recordei de uma das minhas lições, na qual dissera aos alunos: ‘O sujeito que não é capaz de manter completo domínio sobre suas emoções em todas as circunstâncias não serve para policial’.
DESAFIO COMPLICADO
Muitas vezes perguntara a mim próprio: ‘Por que um homem quer ser policial?’ Ninguém está interessado em dar conselhos a uma família com problemas às três da madrugada de um domingo, ou entrar às escuras num edifício que foi assaltado, ou em presenciar dia após dia a pobreza, os desequilíbrios mentais, as tragédias humanas.

O que faz um policial suportar o desrespeito, as restrições legais, as longas horas de serviço com baixo salário, o risco de ser assassinado ou ferido?
A única resposta que posso dar é baseada apenas na minha curta experiência como policial. Todas as coisas eu voltava para casa com um sentimento de satisfação e ter contribuído com algo para a sociedade - coisa que nenhuma outra tarefa me tinha dado até então. Todo agente da polícia deve compreender que sua aptidão para fazer cumprir a lei, com a autoridade que ele representa, é a única ‘ponte’ entre a civilização e o submundo dos fora da lei. De certo modo, essa convicção faz com que todo o resto (o desrespeito, o perigo, os aborrecimentos) mereça que se façam quaisquer sacrifícios.”

* O artigo “De professor a policial”, foi publicado na página 84 de seleções do Reader’s Digest do mês de março de 1975. Tomo VIII, nº 46.

Foto – Quartel da Polícia do Exército, Cabanga-Recife, 1960. Na foto, aparecem soldados da PE e, ao centro em pé, com capacete (assinalado), o soldado apelidado por “Barruada”, abatido pela Polícia do Exército, no golpe militar de 1964. Próximo, aparece o autor, o terceiro da direita para a esquerda, idem de capacete. Os demais estão de gorros de pala.

Nota do autor: No Recife, o regime fez as suas primeiras vítimas: os estudantes Ivan Rocha Aguiar e Jonas José de Albuquerque Barros (mortos) e um ferido, não identificado!



Carnaval & Literatura


Carnaval & Literatura

Por José Calvino

Os carnavalescos brincam
No Carnaval sambando e frevando.

Há três anos que não brinco
Da solidão me aproveito:
Lendo e escrevendo.



domingo, 16 de abril de 2017

Pontos de encontro do Recife de antigamente


Pontos de encontro do Recife de antigamente

 Por José Calvino
 

Os pontos de encontro da cidade do Recife tinham muito a ver com a vida noturna do bairro do Recife, área popularmente conhecida como Zona (baixo meretrício), assim chamada por se tratar de uma zona portuária (Vide p. 27 do livro de minha autoria: “Miscelânea Recife”- ed. 2001 e Boemia do Recife de antigamente, publicado no Literário na coluna “Observações e reminiscências”, 01/06/2010).
Era no Recife onde se viam cadeiras nas calçadas e as famílias a conversarem até tarde da noite. Recife do “Quem me quer?”, onde os jovens iam namorar, a Festa da Mocidade, freqüentada pela nata da sociedade. O Tobogã funcionava como grande atração, destinada à recreação das crianças, o Parque Xangai, com auto-pista, Tira Prosa, Roda Gigante, Trem Fantasma, Stands de Tiro ao Alvo, etc. O alto-falante rodando antigos sucessos como: “Conceição”, na voz de Cauby e “De Cigarro em Cigarro”, na voz de Nora Ney, também nos cabarés e nos parques de diversões eram cantadas por Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Silvio Caldas, Dalva de Oliveira, Bienvenido Granda “El Bigote que Canta”, este último cantando “Señora”, eram os mais favoritos da época. Nos bairros periféricos o então tradicional “de alguém para alguém”, o qual transcrevo um trecho da cena do diálogo teatral, p. 56 do teatro Trem & Trens: “ GLÓRIA (Calçada, recordativa) – Meu velho, eu não me esqueço quando você mandava anunciar ‘na festa’, para mim, aquela poesia, que o locutor (com sua linguagem própria) dizia (rindo) ‘pétlas’, em vez de pétalas e ‘ovário’, no lugar de orvalho.
CARLOS (Calçada, imitando o locutor) – “Atenção, atenção, Glorinha. Abra o seu coração, como as pétlas de rosa para receber as gotas de ovário, que caem nesta noite linda, em que nos amamos para sempre, e escuta esta página musical...”
A FECIM no Parque da Jaqueira, trazia as novidades internacionais e nacionais na área do Comércio e das Indústrias.
Na Zona e alhures do grande Recife, a boemia tinha outros locais, outros pontos de encontro, alguns bares no centro da cidade fizeram a história, destacavam-se: Savoy, Botijinha e Uirapuru, na Matias de Albuquerque; Cabana e Torre de Londres, no Parque 13 de Maio; Star, na Conde da Boa Vista; o Lero-Lero ao lado direito do Diário de Pernambuco; Brahma Chope, O Flutuante, O Buraco de Otília, funcionava num casebre na Rua da Aurora, o casebre foi demolido, o Restaurante/Bar ficou funcionando na mesma rua numa casa que já foi residência de um espanhol.
Nos bairros do Pina e Boa Viagem da orla marítima, tinha o Maximes, o Pra Vocês, o Cassino Americano (anos 40), viveu os seus melhores momentos no auge da II Guerra Mundial, era freqüentado por militares norte-americanos. Quando terminou o conflito, continuou com o jogo proibido e alugava quartos as prostitutas da Rua do Jaú (então baixo meretrício do Pina). No Hotel Boa Viagem, o seu restaurante era freqüentado por altas figuras da sociedade. Existia o bar e restaurante Veleiro, um point na época, situado no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Casa Navio, construída pelo empresário Adelmar da Costa Carvalho, em 1940. Era cartão postal, motivo de ter sido filmado pela Metro Golden Meyer de Hollywood para figurar em um filme. Pois com toda pompa na história do Recife, em nome da especulação imobiliária e do descaso com o passado histórico, foi demolida em 1981 para dar lugar a mais um espigão da Avenida Boa Viagem. Boa Viagem nos anos 50/60 deu o seu primeiro impulso com a construção dos edifícios Califórnia, Acaiaca e do famoso Holliday.
Nos bairros distantes da orla marítima tinha também alguns que ficaram na história:
O Caldinho de Água Fria, que ficava no bairro do mesmo nome cujo dono era seu João (falecido). Ele colava nas paredes inúmeros cartões de visita dos freqüentadores e servia pessoalmente a cana e o caldinho (Ele & Ela) colocando no caldinho de feijão o que ele chamava o barro da transamazônica
(Patê de galinha), Pirauira (raiz que tira o cheiro da aguardente ingerida) e sangue da mulher amada (Ketchup).
Existia também o Baependi, um boteco de madeira, localizado na rua da Harmonia em Casa Amarela. O nome muitos acreditavam que era em homenagem ao Marquês de Baependi. Outros achavam que se originou do navio Baependi, que segundo a história foi torpedeado por submarinos alemães em 18 de agosto de 1942. Era no “Baependi”, onde os falecidos poetas Godoy e Adalto recitavam “A Flor do Maracujá”. Godoy declamava dramatizando a lenda sertaneja. Adalto também recitava a de Fagundes Varela.
O Cantinho da Dalva, esse foi muito freqüentado por jovens no início da década de 70. Ficava na Avenida Beberibe. O dono era Mário, fã da cantora Dalva de Oliveira e lá havia tudo que lembrasse a cantora (fotos, recortes de jornais das reportagens, etc). O travesti conhecido como Elza Show, travestido de Elza Soares, cantava músicas com uma voz bem feminina. Hoje Elza Show sempre é convidado a cantar nas festas patrocinado não sei por quem!
É bom lembrar que existiam outros pontos de encontro, os cafés como a Sertã, localizada na esquina da Rua da Palma com a Av. Guararapes, no térreo do edifício do mesmo nome, onde era o Cinema Trianon. Lá se discutia mais política, com opiniões diversas nos debates políticos de fins de tarde. O Nicola, este último próximo ao bar Savoy, lá discutia-se qual o time bom, time ruim, jogador bom, jogador ruim; gols e perde gols, gol da vitória, gol do empate. Apostas e mais apostas, revoltas e mais revoltas... A Galeria do Maltado, fundada em 1928 pelo imigrante cubano Edélio Lago, pai de Antônio Gomes, que administrou-a até fechar. Era o leite maltado mais famoso do Recife. A Galeria não tinha portas e era aberta 24 horas. Nos anos 50/60, após uma bebedeira, tirava-se a ressaca com gasosa conhecida por “Koch” e, finalmente, as Sorveterias ( Vide “Recife das sorveterias”, publicado no Literário em, 01/05/2010).
O Recife sempre é retratado nos meus livros, os leitores encontrarão com mais detalhes sobre a cidade, lendo-os, principalmente o “Miscelânea Recife” (Mistura do que existe para presente e futuro). Muito obrigado.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Historieta



Historieta*

Paixão de Cristo


Era Semana Santa. Antigamente todos os anos no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, era armado o circo Tomara que não chova (por não ter empanada). O proprietário do circo havia dado, uns dias antes do espetáculo, uma pisa num rapaz, em razão do mesmo haver dado uma cantada em sua amante.
Mas o que aconteceu? O referido rapaz é contratado pelo diretor do espetáculo, junto aos demais desocupados para fazer o papel de soldado (os algozes de Jesus). Jesus carregava a cruz ao calvário, após colocarem a coroa de espinhos (feita de palha) na cabeça. Na hora em que os soldados chegavam a ele diziam: "Salve, rei dos judeus!; e davam-lhe falsas bofetadas, açoitando-o com sacos de estopa.
O rapaz inimigo, premeditadamente, colocou um "quiri" (pau) dentro do saco e danou pelo lombo do Cristo. Ao reconhecer o dito cujo, Jesus soltou a cruz e foi em cima do inimigo. Foi aí que começou a inesperada comédia. Brigando, Jesus leva desvantagem... e outras cacetadas foram dadas. Cristo então
corre, para alegria da platéia, que gritava: "Jesus frouxo!", "Jesus frouxo!".

* Gravado em disco – fev/2003.
Extraído dos livros “Miscelânea Recife”/“Trem Fantasma"

quinta-feira, 13 de abril de 2017

O que eu quero lhe informar

O que eu quero lhe informar



Sai de casa para beber e fumar.
É melhor sempre olhar pro mar,
Também é bom amar,
Fazer o bem e chamar
E à risca do povo aclamar
Que ao de tudo de bom provar
Algumas coisas só fazem é prejudicar.
Eu quero apenas lhes informar:
A bebida faz embebedar,
O fumo faz poluir o ar
E ambos só fazem drogar
Ou morrer mais depressa, continuar...

terça-feira, 11 de abril de 2017

Casa Amarela



 Casa Amarela

Por José Calvino




No passado,  Casa Amarela era considerada o bairro mais populoso do Recife, mas, lembro-me bem como a minha Casa Amarela era tranquila e animada! Com a reestruturação política, em 1988, o saudoso bairro perdeu toda sua área de morros..., exceto o Alto de Santa Isabel, acredito ser por  sua padroeira (vide (1)* “Casa Amarela”- III estrofe), enquanto os demais foram elevados à categoria de bairros. Sobretudo, destaco o Morro da Conceição e Alto José do Pinho, que sempre eclodiram em efervescência cultural. São movimentos independentes, verdadeiras riquezas culturais, com a participação de alguns de seus habitantes. Sem apoio dos órgãos competentes aos eventos locais, como consta nas crônicas, livros (livretes), CD’s, etc. Em 2015 surgiu  um projeto da Prefeitura do Recife em parceria com a Fundação Gilberto Freyre, que iria contemplar a Zona Norte no mapa turístico do Recife. Mas, até agora isto não saiu do papel. E, sem pessimismo, ao meu ver estão querendo é aparecer, pois a realidade deve ser dita face a qualquer propaganda enganosa. É o meu papel de escritor e de cronista social, defendendo a liberdade de opinião. Cadê os planos de escadas rolantes, pontilhões e outras obras? Pois estamos cansados de tantas promessas dos governos municipal, estadual e federal.

Enfim, termino esta crônica com a música Casa Amarela:

Casa Amarela
 I
Recife cidade linda
De uma natureza infinda
Do nordeste do meu Brasil
Tens um subúrbio afastado
Por Deus belo abençoado
Com tantas belezas mil:
II
Casa Amarela, ô,
Casa Amarela
Terra das morenas belas
Onde nasceu a minha ilusão

Casa Amarela
Não é por ser onde moro
É o lugar que eu adoro
Com todo o meu coração.
III
Tem na subida da ladeira
Uma santa padroeira
A virgem Santa Isabel  (1)*
Onde o sambista apaixonado
Faz seu samba ritmado
A saudação a Noel.

Onde o sambista ritmado,/ com seu pinho acompanhado,/ faz sua oração fiel.
(de minha autoria anos 60).