terça-feira, 26 de agosto de 2014

Morro & Alto



Morro & Alto


Por José Calvino



 Morro da Conceição & Alto José do Pinho. Dia dos Pais, o menino interrogou ao pai:
-O Morro é alto?
-Baixo é que não é! A nossa casa foi construída no alto do Morro. Alto José do Pinho é um lugar elevado, igual o Morro da Conceição.

Houve tempo (da ignorância) de muitas desavenças, no sentido metafórico: ‘A vida é cheia de altos e baixos’. Sei que, no Alto, no Morro, me sinto pertinho da lua e das estrelas e meus olhos poeticamente contemplam.

O Morro e o Alto têm artistas e poetas, oriundos de diversas culturas e, nesse aspecto, se igualam. Sempre muito poética a nossa conversa sobre o Morro e o Alto. Dia dos Pais, vocês foram o melhor presente!”

Recife, 10 de agosto 2014.


Obs.: Publicado no Literário: Um blog que pensa - http://pbondaczuk.blogspot.com/
São Paulo, 26 de agosto 2014.


domingo, 24 de agosto de 2014

Fatos que acontecem



Fatos que acontecem

Por José Calvino


Fatos que acontecem no Brasil
que passam ilesos pela censura;
uma investigação para um poema;
uma resma de papel não foi preciso.

Fatos que acontecem sem notícia
que matam e se roubam;
um silêncio sem qualquer declaração;
por que escrevemos poemas?

Fatos que acontecem sem razão,
milhares já foram presos nos quartéis;
lutamos e lutaremos do lado da razão.

Fatos que acontecem para ser dito
sem medo de denunciar as injustiças sociais,
um mapa do Brasil.

Recife, dez/1983





quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Morro & Alto



Morro & Alto

Por José Calvino


Morro da Conceição & Alto José do Pinho.
Dia dos Pais, o menino interrogou ao pai:
“O Morro é alto?”
“Baixo é que não é!
A nossa casa foi construída no alto do Morro,
Alto José do Pinho é um lugar elevado
igual o Morro da Conceição.
Houve tempo (da ignorância)
de muitas desavenças,
no sentido metafórico:
‘A vida é cheia de altos e baixos.’

Sei que, no Alto, no Morro,
Me sinto pertinho da lua e das estrelas
e meus olhos poeticamente contemplam.
O Morro e o Alto têm artistas e poetas,
oriundos de diversas culturas
e, nesse aspecto, se igualam.
Sempre muito poética a nossa conversa
sobre o Morro e o Alto.
Dia dos Pais, vocês foram o melhor presente!”

Recife, 10 de agosto 2014.



   



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Na estação II



Na estação II

Por José Calvino


Na sala telegráfica da estação!
Lembranças me atropelam,
aqui me nascem poesias...

Na sala telegráfica da estação!
Fico manipulando o telégrafo e datilografando,
quem olha vê o meu objetivo...

Na sala telegráfica da estação!
Com os meus dez dedos plantados,
datilografando sem olhar pro teclado...

Na sala telegráfica da estação!
Eis o meu poema,
mais uma vez a difusão:

Divulgo os textos para que façam um escambo.




Gil e Ariano



Gil e Ariano

Por José Calvino


Em conversa com o artista plástico Laerte Estevão, mais conhecido como “Profeta 2000”, que depôs no velório do escritor Ariano Suassuna, no Palácio do Campo das Princesas: “Cala-se a voz, permanece a pessoa, seu espírito", relembramos quando o escritor paraibano (que era membro da Academia Brasileira de Letras), foi um dos concorrentes ao Prêmio Nobel de Literatura 2012, promovido pela Academia Sueca. Ele merecia, pois há traduções de algumas de suas obras em francês, italiano, alemão, holandês, polonês e inglês. Mas, mesmo após 110 anos de existência do Prêmio Nobel, um escritor brasileiro nunca foi ganhador. Mo Yan é o segundo chinês a receber o referido Prêmio; o primeiro, no ano 2000, foi atribuído a Gao Xingjian, um escritor chinês exilado na França e naturalizado francês em 1997. Pesquisando, descobri que Mo Yan, na verdade, se chama Guan Moye. "Escolhi esse pseudônimo, que significa não fale, em homenagem aos anos em que não podíamos dirigir a palavra a ninguém", contou, em entrevista ao jornal El País.

Bem, caros leitores, vamos falar, em resumo, nos dramaturgos que são o título desta crônica.

Ariano Suassuna era uma personalidade importante no País no campo da literatura, e isso não podemos negar, mas como secretário de Estado, nunca se manifestou em prol das realizações locais, baseadas nos livros dos autores nordestinos. Ele preocupava-se apenas com os seriados da TV Globo e com as encenações de suas peças teatrais (Armorial/Aula-espetáculo). Já foi vaiado e fortemente criticado (1998) pelos especialistas locais e do Sul do País, durante abertura do 1º Festival Recife do Teatro Nacional. Na minha opinião, como escritor ele foi nota "10", porém como secretário minha nota é "0"! De formação calvinista e posteriormente agnóstico, Ariano converteu-se ao catolicismo e, desde então, subia todos os anos (8 de dezembro) o Morro da Conceição para homenagear a Santa. Sobre o Auto da Compadecida, ele dizia que a obra se baseava nos romances e histórias populares das feiras livres do Nordeste, sobretudo a de Taperoá, onde morou nos anos 30. Trago à tona aqui o que se comentava, que em “A Compadecida” se notava um parentesco com as tradicionais peças da Alta Idade Média, geralmente estabelecidas como “Os Milagres de Nossa Senhora”, no mais das vezes muito profanas, quando o herói em situação árdua apela para Nossa Senhora, que aparece e o salva. Muitos leitores acham que Ariano plagiou a obra dos autos de Gil Vicente e que se relaciona como teatro espanhol do século XVII, como também algo em comum com os personagens da comédia dell’arte, destacando-se na figura de João Grilo, que lembra as características do “arlequim”. Do meu ponto de vista, não houve cópia, até porque quando João Grilo fica admirado ao ver o Cristo negro, este responde que veio assim para mostrar que para ele tanto faz ser branco ou negro, uma vez que não é “americano para ter preconceito de cor”. Lembrei-me do personagem do meu livro “O Cristo Mulato”, nazareno porque nasceu em Nazaré da Mata, interior de Pernambuco. Em Gil Vicente, na peça “Auto da Barca do Inferno”, encontramos a intenção do autor em expor de forma satírica os grandes vícios humanos nos seus personagens, que se apresentam no porto em busca do transporte para o outro lado, dentro da visão católica e platônica de céu e inferno. Gil Vicente foi considerado um autor de transição entre a Idade Média e o Renascimento. A estrutura das suas peças e muitos dos temas tratados foram desenvolvidos a partir do teatro medieval, defendendo, por exemplo, valores religiosos. No entanto, alguns apontam já para uma concepção humanista, assumindo posições críticas.

Gil Vicente e Ariano Suassuna eram católicos fervorosos.