O endereço
Por José Calvino
Aos colegas que me apóiam e compreendem a nossa missão, comunico
que me encontro psicologicamente abalado... pois, perdi dois gatos de estimação
(guduga e guduguinho). Esta crônica com o título acima foi concebida praticamente agorinha (com certeza vocês
entendem). Lamentações não irão adiantar muito..., então, sigo em meu ofício e
publico o texto que segue.
- Seu endereço? – perguntou a médica do Sistema Único de Saúde.
- Eu moro com Saúde – respondeu Naná.
- O seu endereço... – perguntou novamente a médica.
Naná estava com sete meses de gravidez e era analfabeta. Através
do fichário do Posto de Saúde, foi encontrado o seu endereço, isto é, de sua
comadre Saúde: Favela Saramandaia, bairro de Campo Grande, Recife. A médica solicitou
os exames de praxe (pré-natal). Como todos nós sabemos, nem sempre a
assistência necessária às mulheres é realizada. No Posto, a médica do pré-natal
pediu ultra-sonografia mas, a máquina estava quebrada e a direção do hospital
encaminhou as pacientes para uma clínica particular pagando, por conta própria,
R$ 50,00 (cinquenta reais) para realizar o ultra-som.
As autoridades da medicina do Brasil deveriam exigir do governo programas,
até mesmo como este “Mais Médicos”, mas, com condições para que eles e elas
trabalhem sem tirar-lhes a dignidade, através de projetos administrados sem
desmandos e com mais eficiência. Ao contrário disso, quem padece é a sociedade,
que vive constantemente prejudicada até pra marcar uma simples consulta.
Publicidades mentirosas, é o que mais a
gente vê na TV, uma vergonha! Falam
tanto dos médicos estrangeiros para o Brasil, mas com nossos hospitais
tradicionais sucateados e sem aparelhamento, enfim, o tratamento sempre foi mesmo
péssimo e desrespeitoso.
Segue o endereço atual de Naná, com o seu “Povo Sem Voz”:
“Favela do Entra A Pulso”