quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Será o fim do mundo?
Será o fim do mundo?
Por José Calvino
Estando com umas amigas, uma delas lendo Feriadão em Olinda ( “Fiteiro Cultural”, p. 119): Praia de Olinda/Encontrei com as meninas/ Elas disseram:/ ‘Finalmente nos encontramos’/ Elas me reconheceram/ Eu que já havia quase desistido/ Com elas pude mostrar ainda.../ (unidas)/ Mas ao que pude até recordar/ (amando)/ Na praia de Olinda. Fomos ao Marola Bar, na Beira Mar de Olinda. Lá, ouvimos o famoso frevo do mestre Capiba, Trombone de prata, na voz de Expedito Baracho (sua primeira gravação na voz do próprio Expedito, na década de 60): “Ouvi dizer que o mundo vai-se acabar,/ Que tudo vai pra cucuia,/ O sol não mais brilhará./ Mas se me derem/ Um bombo e uma mulata,/ E um trombone de prata,/ O frevo bom viverá....”
As lembranças me fazem transportar no tempo e fazer vir à memória que, em dezembro de 2009, fiz um comentário sobre “ O fim do mundo em 2012”, escrito por Bráulio Tavares. A referida crônica foi publicada no jornal da Paraíba e postada num blog... (Por motivos óbvios não citarei o nome) e deve ter sido retirada por causa de uma polêmica sobre o poema pornográfico: “POEMA DA BUCETA CABELUDA”, escrito pelo mesmo poeta..., mas essa é outra história.
As afirmações para o fim do mundo, previsto para 2012, segundo os religiosos parece não ser em vão. O suposto médico e estudioso de alquimia e astrologia, Michel de Nostredame (Nostradamus), relatou em suas centúrias o fim do mundo para essa data . Juízo Final, Apocalipse. Para muitas pessoas, é uma verdadeira lenda. Mas, na crônica o poeta cita John Kappenman, da empresa Meta Tech: “Grandes correntes elétricas circulam em nossa rede, vindo da Terra através de conexões-terra em grandes transformadores. Precisamos disso por razões de segurança, mas as conexões-terra proporcionam entradas para cargas que podem danificar a rede”. Eu concordo mais com o que o poeta Bráulio Tavares diz: “ O fim do mundo, entretanto, pode ocorrer de uma maneira mais indireta, sem custar uma vida humana sequer. Pode ser apenas uma catástrofe tecnológica, que faça nossas comunicações entrarem em colapso. E a economia. E a governabilidade das nações. E a produção de alimentos, que, ao fim e ao cabo, é quem define o limite entre a vida e a morte para bilhões de pessoas.”
Finalizando esta crônica, até porque não sou cientista, estou ainda curtindo Trombone de prata:
Ouvi dizer que o mundo vai-se acabar,
(...)Pode acabar a vergonha,
Pode acabar o petróleo,
Pode acabar tudo enfim,
Mas deixem o frevo pra mim.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Preto & Branco
Preto & Branco*
Por José Calvino
Eu disse:
de endireitar,
de adequar,
bela mesmice.
Que viveu,
de esquerda,
de direita,
prescreveu.
Nossa vida perturbou
Quando tudo acabou.
Uma vida,
vida dramática,
muito sofrida.
Em preto & branco
há muito sorriso aberto
e um poema franco.
* Extraído dos livros: "Fiteiro Cultural", p. 226 - ed. 2011.
"Miscelânea Recife II", p. 67 - ed. 2012.
Poesia sem título
Poesia sem título*
Por José Calvino
Habitar no Areal
O sol durante o dia
A lua durante a noite
Amanhã será outro dia?
Areia na praia
O sol causticante
Queima os nossos pés
É a mesma areia da terra
E quando chove
É a mesma terra molhada
Que esfria os nossos pés
Não mata a fome
Mas é tudo cravado no calcar
E vamos entoar
Dançando à beira-mar
* Extraído dos livros: “O Pai do Chupa”, p. 71 ed. 1995 e "Miscelânea Recife II", p.49 ed. 2012.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
"João Pé no Chão"
“João Pé no Chão”
Por José Calvino
“...Não à esmola,
é o sim ao emprego digno.
Não à violência,
é o sim da paz.
Não à ignorância,
é o sim da educação.”
João Calvino era um homem revoltado. Foi muito prejudicado, até mesmo pelos professores carolas, que entravam na sala de aula e se benziam. Principalmente o de história, quando dava aula sobre A Reforma Religiosa: “Foi o movimento que, dividindo os cristãos do Ocidente no século XVI, originou diversas novas igrejas chamadas protestantes, as quais não mais seguiriam o comando e a orientação do papa de Roma...”.
E quando chegava na parte “O Calvinismo”, todos alunos olhavam pra João e se benziam copiando o professor.
Aos treze anos de idade, era praticante de telegrafia da antiga Great Western. Devido à sua vocação aprendera telegrafia com facilidade, continuando como praticante de estação por causa da idade, mas já era um telegrafista autêntico e benquisto por todos. Aos dezoito anos, servira ao Exército Brasileiro. Observava bem os dizeres que têm na barreira capinada em frente ao quartel: AQUI SE APRENDE A DEFENDER A PÁTRIA, e pretendia fazer a sua carreira militar, um de seus sonhos de criança que estava se realizando. De uma virtude extraordinária, não se deixava vencer pelos colegas “irmãos de arma”, muitos deles analfabetos, achavam que o Exército os recebeu para ensinar a ler e a escrever com profissões diversas, e tinham que serem úteis à sociedade. Servir ao Exército, ao Povo, ao Brasil, com integração de todas as Forças Armadas de todas as Nações.
- Acerta o passo, filho da puta! – disse o sargento.
- É assim que se aprende a defender a Pátria?
Foi licenciado e desempregado por dois anos, desenhava com infantilidade trens puxados por “Maria Fumaça”, subindo e descendo serras, duas composições no mesmo sentido em linha dupla; eram pinturas inexperientes do imaginário quadro ferroviário de João, com seu lirismo, o qual servia poeticamente à índia, sua namorada. João conseguiu entrar na Rede Ferroviária como telegrafista, mas por “economia” a carteira profissional rezava natureza do cargo: Servente Provisório! Com cinco anos de ferrovia, não ganhava como telegrafista e por isso começou a reivindicar seus direitos junto aos ferroviários, através de abaixo-assinados,o que mais tarde, serviria para agravar sua situação, com diversas perseguições. Foi demitido da Refesa e, logo em seguida,entrou na gloriosa Polícia Militar. Lá, continuou escrevendo, desta feita para jornais, em cartas à redação, chegando a responder por isso a um IPM (Inquérito Policial Militar), sendo enquadrado por ser contumaz transgressor das regras básicas da boa educação e da disciplina, pois, em pouco tempo, causou transtorno em dois ambientes de trabalho no âmbito militar, tratando de forma desrespeitosa superiores hierárquicos...
Foi submetido a um Exame de Sanidade Mental no HCTP (Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico), em Itamaracá. Os médicos peritos responderam que “João Calvino apresenta traços de personalidade que freqüentemente o colocam em conflito com pessoas ou Instituições (uma constante ao longo de sua vida). Foi, e sempre será reivindicador, querelante e impulsivo (Um padrão permanente de comportamento)”.
Com mais um IPM arquivado, João pediu licenciamento. Naquele regime militar João viveu os piores momentos daquela época. Colocou a sua vida em risco, hoje um septuagenário, conhecido por João Pé no Chão (slogan nas suas campanhas políticas). Sempre foi contra as aposentadorias dos políticos... Eles deveriam participar dos benefícios dentro do regime do INSS como todos brasileiros. Ainda tem gente dizendo que não sabe como não botaram João Pé no Chão no Mensalão, dele tanto falar que multar o governo é uma piada sem graça. Os processos arrastam-se por anos sem que o governo do Estado pague a multa diária de um mandado judicial. Estamos praticamente no final do ano e até agora João Pé no Chão não recebeu. Com o governo é assim, mas, se fosse um trabalhador multado, a Justiça não agiria com essa morosidade. Cadê a lei que se deve obedecer, a fim de que se mantenha a ordem e se alcancem os fins desejados?
Finalizo com a frase criada por Charles De Gaulle: “Le Brésil n’est pás um pays sérieux” (O Brasil não é um país sério).
Nota – Alguns trechos extraídos dos livros: “O ferroviário” e “O grande comandante”.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Morro da Conceição
Morro da Conceição
Por José Calvino
No século XVII, durante as invasões
holandesas em Pernambuco, o local passou a ser conhecido como “Monte Bagnuolo”, por ter sido
ocupado pelo general italiano a serviço dos donatários da Capitania Duartina. O
Conde Francisco de Bagnuolo, substituto de Matias de Albuquerque, no
primeiro período batavo, idealizou uma fortificação próxima ao antigo Arraial
Velho do Bom Jesus, que não chegou a ser construída.
Posteriormente, já no início do século vinte,
a localidade foi chamada de “Morro da Bela Vista”, passando a pertencer à
Freguesia do Poço da Panela, depois do Arraial e, posteriormente, à de Casa
Amarela, de quem se desligou após a nova modificação urbana em 1988, que
dividiu a cidade em 94 bairros.
Em 08 de dezembro de 1904, há portanto mais
de um século, por iniciativa do
Arcebispo Dom Luiz (Vide Largo Dom Luiz) Raimundo Brito, mandou erigir um
monumento à imagem da Imaculada Conceição, construída na França. A obra é de
autoria do engenheiro Lafayette Bandeira e mede cinco metros e meio de altura, pesando 1806 Kg, com coroamento, todo em
estilo gótico.
Uma outra curiosidade é que a imagem de Nossa Senhora da Conceição procede
da Europa e veio do cais do porto para o sopé do então Morro da Bela Vista em
um vagão de trem pela linha férrea Norte (hoje Av. Norte, Miguel Arraes de Alencar).
A mesma foi conduzida, festivamente, até o alto do Morro nos ombros dos
marinheiros e estivadores das Docas, acompanhada pelo povo e autoridades.
A partir dos anos 30 do século 20, os morros
passaram a serem vistos como áreas propícias para a ocupação por pessoas de
baixa renda, que estavam sendo expulsas do centro da cidade.Entre as décadas de
30 e 40, o governo promoveu a remoção de mocambos que ocupavam os mangues do
centro da cidade e, conseqüentemente, essa população foi transferida para os morros da zona norte, até
então subocupados.
Um fator importante para a ocupação dos
arredores da Av. Norte foi a Feira de Casa Amarela. Muitos feirantes vieram do
interior do Estado e passaram a morar nos morros, sobretudo no Morro da
Conceição, como também a Fábrica de Tecidos Othon, mais conhecida por Fábrica
da Macaxeira. Esta instalou-se no início do século 20 às margens da Estrada de
Ferro do Limoeiro devido à facilidade de transportes de mercadorias e
matéria-prima.
As ruas e ladeiras do Morro foram calçadas em
1960. A água era fornecida por um chafariz e bombeada da Rua Palmitos (Antiga
Rua do Motor). Lembro que o pessoal do Morro ia buscar água num cacimbão da Great Western que havia
perto da casa onde eu nasci e do campo do Ipiranga. A água era salobra e hoje o
abastecimento é regular e próprio para o
consumo humano.
As lembranças me fazem transportar no tempo e
recordar com saudade dos clubes dançantes que haviam no Morro da Conceição e
que eram mantidos pelos vereadores “Rui Alves” (hoje Escola de Samba Cultural
Galeria do Ritmo), “Roberval Lins” e “Romildo Gomes”. Existiram outras escolas
de samba como a Leão do Norte e Unidos do Dendê (ambas extintas). Atualmente, o
Morro só tem dois clubes: Acadêmico e Galeria do Ritmo, que divertem a
comunidade e visitantes.
Sou testemunha ocular de que em 1959
aconteceu uma tragédia na comemoração da festa da Padroeira do Morro. Às 4
horas da manhã, quando se iniciava a celebração da missa pelo então pároco da
paróquia do Bom Jesus do Arraial, Monsenhor Teobaldo de Souza Rocha, houve um
curto-circuito nas gambiarras das barracas e nos brinquedos da quermesse,
provocando uma correria entre as pessoas, que pensavam tratar-se de tiros de arma
de fogo, o que resultou em inúmeras pessoas acidentadas e falecimento de 12
fiéis. Depois da tragédia, o Arcebispo de Olinda e Recife empenhou-se junto às
autoridades para a festa profana ser transferida para os campos do Ipiranga e
Canto da Vila. Hoje, ela se estende para a Praça do Trabalho e Largo D. Luiz.
Até 1974 o Morro da Conceição pertencia ao
bairro de Casa Amarela. Em 1988, com a reestruturação dos bairros do Recife,
foi elevado à categoria de bairro.
terça-feira, 6 de novembro de 2012
RELANÇAMENTO: "Miscelânea Recife II"
RELANÇAMENTO:
Estou relançando meu livro “Miscelânea Recife II”. Conto com o seu prestígio e divulgação. O relançamento será no próximo dia 15 de novembro, no Recife.
Recifensizado
Recifensizado*
Por José Calvino
Quando atravesso as pontes,
sinto saudades do Recife antigo,
das prostitutas de antigamente.
Elas sabiam se comunicar,
tanto quanto as inteligentes de hoje.
Rapaz!
Por que essa saudade?
Já estou velho!
- Será essa verdade? –
(Só pode ser)!
Não vejo mais, rapaz!
Porra, farei novas amizades...
* Extraído dos livros "Fiteiro Cultural" / "Miscelânea Recife" - pp. 77 (MR) - 242 (FC).
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